NOSFERATU GRIMOIRE



    Um instante depois da bombástica revelação de Virginie, veio o ataque de fúria. Os únicos Van Helsings que não pareciam realmente prestes a estraçalhar alguém eram John, e supreendentemente, Steve. Todos os outros, inclusive Sue e os outros filhos de John pareciam prontos para acabar com a raça de Caius e Viginie. John tomou a frente e acabou com o tumulto:
‒ Silêncio, eu ainda comando esta droga! ‒ ele olhou aborrecido para Caius e disse ‒ Essa é uma acusação gravíssima... nunca um de nós foi pego matando algo ou alguém que não fosse realmente hostil... eu sei que você tem um dedo, ou melhor, as duas mãos nisso, Caius...
‒ Ela tem uma ponta de flecha, com um V e um H gravados nela... e eu só conheço um sujeito que usa esse tipo de arma por aqui...
‒ Isso não prova nada...  Podem estar querendo incriminá-lo!
‒ Eu tenho algo a dizer ‒ disse Steve Van Helsing, olhando diretamente para Caius ‒ todos sabem que eu e ele ‒ apontou Caius ‒ nunca nos entendemos, e a coisa vem piorando com o passar dos anos...
‒ Você matou minha mulher
‒ Estava fazendo o meu trabalho, Caius... você antes disso havia vampirizado minha noiva
‒ Eu não sabia que ela era sua noiva!
‒ Noiva? ‒ murmurou Harry olhando para Virginie que confirmou com a cabeça.
‒ Isso está virando uma briga pessoal ‒ interviu John, tomando a ponta de flecha das mãos de Virginie. ‒ Steve, isso é seu?
‒ É. ‒ Disse o homem examinando a ponteira ‒ Não tenho porque negar, é uma das minhas, eu mesmo faço a fundição, conheço meu trabalho.
‒ Pode me explicar como ela foi parar no corpo e Layla Lestat?
‒ Não.
‒ Você matou esta vampira, Steve? ‒ John encarou o irmão sério, e este devolveu o olhar.
‒ Não.
‒ Ele está mentindo, Virginie o viu atirar em Layla no dia em que ela morreu!
‒ E você realmente acha que um criminoso de verdade deixaria a única testemunha viva? ‒ a voz feminina que disse isso veio do lado de fora da janela, o que era muito estranho, levando-se em consideração que estavam no quarto andar. Todos viram uma mulher em pé na janela, e rapidamente concluíram que ela só podia ser uma vampira.
A mulher aparentava no máximo 24 anos, e tinha cabelos longos castanho claros e era magra e pálida demais. Seus olhos eram pequenos e inteligentes. Ela usava uma roupa toda preta, uma espécie de macacão com capuz, e o que era estranho se levasse em conta que estava a quatro andares do chão, uma bolsa. Passado o instante de perplexidade alguém se lembrou de perguntar.
‒ O que ela está fazendo aí?
‒ Na verdade eu estou aqui porque não fui convidada, senão estaria aí ‒ ela apontou para dentro do salão... eu sou muito interessada nesta investigação, fui contratada para resolver os crimes.
‒ Hein? ‒ disse John Van Helsing ‒ Eu não acredito nisso... em um dia consegui ver a completa desmoralização da irmandade, primeiro, Caius, e agora, Lyra Bluhm na minha janela, eu não preciso de mais nada... entre.
‒ Obrigada ‒ disse a vampira abrindo a janela e entrando facilmente. Na verdade ela só fora audível do lado de fora porque era uma vampira, pois estava muito frio e as janelas estavam todas fechadas. Ela sorriu para Caius e disse:
‒ Olá, há quanto tempo, Caius!
‒ Você andou nos seguindo?
‒ Só para resolver os crimes... temo que eu tenha avançado mais nas minhas investigações que vocês três... para sua informação, Steve Van Helsing É inocente ‒ disse ela enfatizando o "é" de forma bastante irritante.
‒ Ei, ei, ei ‒ disse John, já à beira de um ataque de nervos ‒ Lyra, eu sei que você é uma vampira completamente louca, mas podia falar algo que nós entendessemos?
‒ Claro, mas antes eu gostaria de apertar a mão dele ‒ ela apóntou Harry ‒ sabe, eu sempre quis conhecer um bruxo de verdade! Desde os tempos que eu era apenas uma sangue quente! E eu achei fantástica a forma que você derrotou aquele demônio... puxa, foi demais.
‒ Você... viu? ‒ Harry disse, ainda não acreditando muito na figura estranha
‒ Quer dizer, eu não entrei na sala do inferno, mas posso presumir como você agiu... sabe, vai ser ótimo colaborar com você.
‒ Ei, espere... desde quando você está nessa?
‒ Desde que seu padrinho me contratou!
‒ E quando foi isso?
‒ Hoje à tarde.
    Ninguém notou a improvável ocorrência de uma vampira dizendo que fizera um acordo durante a tarde, dada a perplexidade de todos.
‒ Você pode me explicar porque Diabos meu padrinho contrataria uma vampira para me seguir?
‒ Bem, na verdade eu o procurei...
‒ Continuo não entendendo...
‒ Eu soube que ele estava na cidade e...
‒ Ei, Sirius está em Nova Iorque?
‒ Bem, acho que não era para você saber disso mas... não importa. Na verdade estamos começando tudo errado...
‒ Muito comum, se tratando de você ‒ disse Caius, bastante aborrecido.
‒ Meu nome é Lyra Bluhm, pesquisadora.
‒ E vampira ‒ completou Caius
‒ Você quer parar com isso, Caius? Eu estou tentando ajudar...
‒ Você ajudaria bastante sumindo, Lyra!
‒ Sr Potter, não ligue para ele,  está aborrecido comigo desde que tivemos problemas.
‒ Não confie nela, Harry, ela é uma ladra, e profissional
‒ Na verdade, eu roubei o seu livro apenas por diversão...
‒ Chega ‒ disse Harry ‒ Eu não estou entendendo nada! Não sei qual é o problema de vocês, mas eu estou com um caso para resolver, tinha uma testemunha que prometeu me ajudar e me trouxe para um lugar onde eu estou sendo observado como se fosse ser servido frito no jantar... gostaria de resolver esse caso, mesmo que para isso tenha que aturar uma vampira aparentemente doida que nem esta aí...
‒ Obrigada, Senhor Potter... ‒ disse Lyra jovialmente ‒ na verdade eu vinha investigando este caso informalmente porque um dos mortos era muito meu amigo...
‒ Na verdade ‒ disse Caius acidamente ‒ se Bruce Weaberson não preferisse a companhia de vampiros imberbes, ela teria sido a companheira eterna dele...
‒ Caius, chega ‒ disse a vampira de um jeito que fez com que até mesmo Caius ficasse quieto. ‒ Bem, senhor Potter, a verdade é que Steve Van Helsing é inocente... no começo eu também desconfiei dele, as flechas de prata e tudo mais... mas não devemos confiar no óbvio... Bruce foi a segunda vítima, e era o vampiro mais pacífico que eu já conheci. Ele não tinha inimigos, assim como Layla e as outras vítimas... na verdade, quem está por trás disso queria destruir os Van Helsing, a Família, e, detesto dizer isso, Caius Black.
‒ Não estou entendendo...
‒ Quem está por trás disso tudo também é vampiro... ele queria destruir a família e os Van Helsing, para isso bastava fazer que a família acreditasse que o assassino era um Van Helsing. Há muita desconfiança por trás da relação destes dois grupos, a família é muito próxima dos Bruxos de Nova Iorque, se houvesse uma guerra, os bruxos não ficariam do lado dos Van Helsing.
‒ Faz sentido ‒ disse Harry ‒ Mas porque você tem tanta certeza assim que é um vampiro? E como você sabe que ele quer destruir Caius?
‒ Na verdade, eu não sei quem é exatamente o vampiro... e também sei, o que passou despercebido até para vocês, que ele vem fazendo vítimas também na aliança... no último ano nada menos que quatro líderes da aliança morreram de forma estranha, e não foram mortos por nenhum Van Helsing. Todos eles tinham diferenças com o último líder da Aliança, aquele que abandonou tudo quando perdeu seu grande amor...
‒ Caius...
‒ Exatamente.
‒ Mas eles sabem que nós não conseguimos matar uns aos outros, sabem que eu não posso ter matado nenhum...
‒ Eles não foram mortos de forma tradicional... ninguém usou prata, ou estacas, ou punhais... simplesmente desapareceram durante a caçada noturna, um foi trancado num alto forno de siderúrgica... você sabe que não somos imunes ao fogo. Os outros três foram mandados em caixas de cristal para seus irmãos... depois de um dia inteiro expostos ao sol
‒ Ugh! ‒ disse Caius
‒ E o melhor era o cartãozinho...
‒ Que cartãozinho?
‒ Com os cumprimentos do seu antigo líder.
‒ Então eles acham que fui eu?
‒ Não só acham, como planejam vingar-se... se eles pudessem empunhar estacas, você já estaria com uma enterrada no coração.
‒ Eles são burros ou o quê? Eu jamais mataria ex companheiros desta forma...
‒ Você preparou armadilhas para toda sua família... foi assim que chegou à liderança, admita, o sujeito imitou seu estilo...
‒ E como você sabe que eu não sou o sujeito, Lyra?
‒ Porque você não tem mais o mínimo interesse na aliança, o que qualquer um que use um pouco a cabeça pode concluir.
‒ Espere um instante ‒ disse Steve Van Helsing ‒ eu sei que sou inocente... mas como você sabe que há um vampiro por trás disso, e como você  sabe que eu não estou envolvido.
‒ Fácil ‒ disse a vampira abrindo a bolsa e pegando um pequeno objeto que pôs no chão. ‒ Harry Potter, preste atenção, você que é bruxo... a tecnologia também faz suas mágicas...
Ela apertou um pequeno controle remoto, e para surpresa de todos, uma esmaecida imagem  de Steve apareceu, atirando uma seta com sua besta, para logo depois se virar e sumir.
‒ Holografia ‒ disse Lyra ‒ foi essa a imagem que você viu, não foi,  Virginie?
‒ Sim, foi.
‒ Ninguém revisa a cena de um crime contra vampiros ‒ disse Lyra ‒ na verdade este projetor era para ter sido recuperado, mas o sujeito que matou um deles deixou caí-lo, e um dos meus amigos da família o pegou. Demorei alguns dias para descobrir como funcionava... o plano era simples, o verdadeiro assassino estava oculto nas sombras, e acionou o projetor na hora que atirou... quando se pôs em fuga, qualquer testemunha juraria que era Steve. Só que nenhuma das vezes em que o expediente foi usado funcionou, apenas quando você foi a testemunha, Virginie, e felizmente para a harmonia entre os Van Helsing e a família, você guardou segredo.
‒ E como você conseguiu descobrir isso tudo?
‒ Fácil ‒ a vampira sorriu com orgulho ‒ basta você parecer bastante insignificante, e ninguém presta atenção em você, essa foi minha tática durante as investigações, assim eu transitei entre a família e a aliança. Mas não foi o suficiente. Eu sei quem não é o responsável, mas não sei quem é o criminoso.
‒ Essa trama parece complexa demais para uma pessoa só ‒ disse Harry ‒ e além do mais, se é como você diz... um vampiro não pode matar outro vampiro... deve haver algum mortal envolvido.
‒ Eu acho que sei como isso pode acontecer ‒ disse Lyra ‒ mas não posso jurar se é essa a teoria correta. ‒ ela disse, abrindo a bolsa
‒ Meu livro! ‒ disse Caius quando ela tirou um volume grosso e manchado de capa de couro de dentro da bolsa, na capa, em letras douradas lia-se "NOSFERATU GRIMOIRE"
‒ Eu devolvo quando não precisar mais ‒ ela disse rindo ‒ além do mais, você não pode reclamar, sei que você o roubou de  Morpheus Black....
‒ Nosferatu Grimoire ‒ murmurou John ‒ a bíblia vampira, o livro lendário que contém a lei dos vampiros e sua história antiga...
‒ Sim, Mr Van Helsing, e nem por todo sangue do mundo o deixaria por as mãos nele... se o senhor tocá-lo com suas mãos de sangue imune ele se queimará e se perderá para sempre....
‒ Isso é magia?
‒ Não, é maldilção demoníaca mesmo ‒ disse Caius ‒ se um sangue quente tenta ler o grimoire ele simplesmente não se abre... nossos segredos supostamente deveriam ser os nossos segredos, mas sempre vazaram para os ouvidos mortais, na maioria das vezes deturpados... Lyra, o que diabos você está procurando no MEU grimoire?
‒ Aqui, veja ‒ Caius leu e um sorriso abriu-se em seu rosto.
‒ Você realmente estuda, garota... eu jamais pensaria nisso ‒ Virginie tentou olhar o livro por cima do ombro de Caius, mas a única coisa que viu foi um amontoado de caracteres incompreensíveis, o que a deixou tonta, deu um passo atrás e foi amparada por John Van Helsing, que sorriu satisfeito.
‒ O que tanto vocês lêem neste livro?
‒ Um precedente ‒ disse Caius ‒ realmente não pensaria nisso... aqui há um relato, de 1003 d.C., na Polônia, um vampiro chamado Valek colocou em sua volta muitos mortais, com a promessa de vida eterna. Ele os armou e fez com que matassem todos os vampiros mais poderosos da região, jogando-os um contra os outros. A promessa era bem simples: se eles o servissem, teriam vida eterna, assim que os outros vampiros estivessem mortos. Ele poderia começar uma nova geração...
‒ Apenas com escravos fiéis ‒ disse Lyra ‒ talvez seja isso que nosso assassino tenha em mente, e em breve, não haja mais vampiros da velha geração aqui em Nova Iorque.
‒ Sim... teríamos aqui então um novo Valek...
‒ O problema é ‒ disse Harry ‒ onde ele encontraria um bando suficientemente grande de seguidores dispostos a tudo por vida eterna?
‒ Bem ‒ disse John Van Helsing ‒ eu acho que sei onde podemos procurar por bandos... eu conheço os submundos desta cidade muito bem.
‒ Então ‒ disse Caius ‒ estamos juntos nessa?
‒ Claro... mas fique longe de nossa turma, vampiro ‒ disse Steve encarando Caius ‒ eu continuo não confiando em você.
‒ Ok, em algo concordamos ‒ disse Caius com ironia
‒ Ninguém vai a lugar nenhum sem mim ‒ disse um sujeito alto na porta do salão, e todas as cabeças se voltaram para ele.
‒ Sirius, patife ‒ disse John Van Helsing ‒ eu senti a sua falta.
‒ Eu sei, canalha... ‒ Sirius exibiu uma longa katana de prata que trazia embainhada à cintura ‒ vamos caçar, Van Helsing... espero poder ensinar alguma coisa a Harry.
‒ Mas antes ‒ disse Harry bastante contrariado ‒ alguém vai me arrumar uma destas também. ‒ disse apontando para a vistosa arma de prata.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.