O OUTRO JOGO



A noite estava muito fria, mas Caius não ligava, porque não sentia frio, bem como não sentia calor, ou nenhuma outra sensação física. Essa era uma das vantagens de ser um morto vivo... e uma das grandes desvantagens também, porque grande parte da graça deste mundo está na capacidade de sentí-lo vivo. Ele estava parado à porta da igreja, para qual de vez em quando dava um olhar ligeiramente sombrio, ao lembrar-se da última vez que estivera naquela vizinhança, fazia muito tempo, dezesseis anos antes.
Chutou uma pedrinha caída da obra para um lado e para o outro várias vezes, mas mantinha-se irritantemente  calmo, como era típico dos vampiros... queria estar nervoso, mas não se podia ficar nervoso quando não se tinha nervos, mesmo quando se tratasse de sua melhor amiga... no fundo ele confiava mais no rapaz que gostaria... ele achara ótimo poder ganhar algo em troca da informação que chegara até ele de forma tão casual, a informação sobre o assassino de vampiros pacíficos, alguém que era doido para por suas mãos sobre o último dos Black que ainda era um vampiro.
E quando estava nestas divagações, viu que alguém apareceu ao seu lado, e este alguém era o anjo, que ele supunha estar lá dentro.
‒ O que você quer, Salathiel?
‒ Conversar com você.
‒ Não seria mais certo você estar lá dentro? Acho que você é necessario lá, e não aqui...
‒ Você nunca ouviu falar em ubiqüidade? Uma das coisas que os anjos podem fazer e outras criaturas não, incluindo aí a grande maioria dos demônios, é estar em mais de um lugar ao mesmo tempo.
‒ Então tem outro você lá dentro?
‒ Não. Eu estou lá dentro, e estou aqui, e estou também num campo de trigo na Eslovênia e numa praia da Itália e em alguns outros lugares...
‒ Hm, interessante... mas qual seu interesse em mim?
‒ Bem, saber algo... dentro de pouco tempo, muito pouco, o jogo vai terminar reparando 200 anos de injustiça...
‒ Como você sabe?
‒ Na verdade, nós temos alguma antevisão das coisas, é necessário no nosso trabalho... mas nunca sabemos como as coisas vão realmente terminar... o que eu quero te dizer, é que quando tudo lá dentro acabar você vai ser chamado...
‒ E?
‒ Vai ter que responder uma pergunta...
‒ E?
‒ Você quer sua alma de volta?
‒ Hein?
‒ Quer voltar a ter sangue quente e um corpo vivo, e terminar sua existência como homem?
‒ Porque está me fazendo esta pergunta?
‒ Porque vão te fazer esta pergunta, e eu quero ajudá-lo a responder.
Caius lembrou-se por um fugaz instante da sua última sensação como sangue quente... a sensação da morte. Dissessem o que fosse, morrer não era nada divertido. Ele não queria passar por aquilo de novo sem saber o que vinha depois. Mas também não queria rastejar eternamente entre os sangue-quente, protegendo a sua vida  como um bem precioso porque não queria morrer e virar escravo no inferno. E foi isso que fez lembrar-se de uma coisa.
Ele tinha amargura dentro de si, disfarçada sob aquela capa cínica de vampiro cool, porque não havia uma única noite que não pensasse em Jane, Lubna e Misty, as três vampiras que haviam sido muito importantes para ele, as três que ele sem querer levara à escravidão no fundo do inferno. E quando pensava nisso, a porta da igreja se abriu, e como se fosse sonho, Salathiel desapareceu, ou melhor, apareceu em outra forma, a qual ele não podia olhar muito, na porta da igreja. Percebendo isso, Salathiel educadamente recolheu as asas e se tornou um homem novamente.
‒ Então? Você tem uma decisão?
Caius entrou vagarosamente na igreja, enquanto Virginie matraqueava sobre como Harry conseguira sua alma de volta, e como Salathiel tinha negociado com o Demônio a devolução de sua alma, e que maravilha, agora ele podia tornar-se novamente um homem, e terminaria a maldição dos Black, e tudo seria lindo, e...
‒ Não quero. ‒ Caius olhou diretamente nos olhos dela, e viu a expressão perplexa que surgiu neles neste instante.
‒ Mas Caius...
‒ Eu não mereço, Virginie. Nunca fiz por merecer minha alma de volta. Sou uma droga de desgraçado... eu acho que outros merecem mais que eu... ‒ neste momento, Azazel, até então calado, viu uma oportunidade imperdível, e se esgueirou na forma hipócrita de um homem de terno até onde estavam.
‒ Meu jovem, tem alguém que você queira tirar do inferno em seu lugar? ‒ o demônio sabia a resposta. Ele conhecia muito sobre o inferno em cada um, e sabia que três almas amadas por Caius eram presas do inferno. Era hora de começar o outro jogo...
‒ Sim, mas não apenas uma, Demônio ‒ disse Caius com um olhar desafiador
‒ Eu posso libertar as três...
Harry, que se mantivera calado, trocou um olhar com o anjo e sentiu a tensão nos olhos dele, e viu que devia fazer alguma coisa, ou em vez de uma alma liberta, Caius cairia para sempre.
‒ O que você quer para libertá-las? ‒  Perguntou Caius, com uma centelha viva no fundo dos olhos azuis.
‒ Jogar o outro jogo ‒ disse Azazel ‒ O jogo do poder... se você ganhá-lo, elas serão libertas...
‒ Como posso saber se sua palavra é confiável? Eu tenho muito conhecimento do seu tipo de natureza...
‒ Muito simples... Existem regras que até mesmo eu sou obrigado a cumprir. ‒ O Demônio arrancou o próprio coração do peito, fazendo a esfinge cobrir os olhos com a pata e Virginie abrir a boca com espanto. Ele estendeu o coração para Salathiel e disse: ‒ Segure-o até que eu volte, anjo... você conhece as regras.
Harry sabia porque o demônio fizera aquilo, estava no livro de estudos sobre demônios, da escola de aurores.  Demônios sabiam que anjos não diziam mentiras, nem faziam o mal... quando queriam mediação de uma contenda, recorriam aos anjos. Na verdade, Azazel planejava desafiar Caius para tomar algo que para ele já pertencia ao inferno, ou seja, a alma do vampiro. E se o desafiava, é porque sabia que Caius não tinha condição de vencê-lo. Então, seguindo novamente seu instinto, Harry disse:
‒ Caius... não jogue com o demônio...você não pode ganhar.
‒ E daí, rapaz... o que importa? Pelo menos eu faria algo pelas três que quero libertar.
‒ Você não ajudaria perdendo o jogo e tornando-se um escravo também...
‒ Ajudaria minha consciência pesada, Harry.
Harry hesitou um instante... ele não queria ver Caius sumir-se para sempre, era chato admitir, mas gostava do vampiro. Também não queria que aquele demônio antipático saisse dali com o mínimo sorriso de satisfação. O coração do demônio estava nas mãos do anjo... portanto, era uma hora propícia para desafiá-lo, porque no fundo não engolira o fato de só ter vencido o jogo anterior por um grande golpe de sorte, porque do contrário teria perdido rápido e de forma vergonhosa. Ele encarou o demônio.
‒ Eu te desafio no lugar dele, Azazel...
‒ Ora ora ora... parece que você gosta de se meter na vida dos outros, hein?
‒ Não... eu sei que ele não tem chance...  você conhece a natureza dele a fundo e sabe que seria fácil vencê-lo em qualquer jogo
‒ Seria fácil vencer você também, jovem falcão vaidoso...
‒ Prove isso ‒ os olhos de Harry cintilaram de raiva.
‒ Se ele quiser trocar de lugar com você... por mim tudo bem. ‒ O Demônio sorriu, porque vira naquele lampejo de Harry a oportunidade única de vencê-lo. Havia um desafio para cada pessoa, e ele vislumbrara o que poderia derrotar Harry.
‒ Você não precisa fazer isso, Harry ‒ disse Caius, olhando Harry contrariado
‒ Você não entendeu... eu quero fazer isso ‒ Harry agora pensava nos livros de história, nos confrontos entre demônios e bruxos, na oportunidade de estar registrado lá... era um grande feito para um auror enfrentar um demônio real, nunca se derrotava um de vez, mas cada vez que um demônio sofria uma derrota, ficava anos sem poder voltar à superfície, e isso fazia o mundo ficar menos mau... um demônio com o poder de Azazel por uma centena de anos preso no inferno era algo de que um auror poderia se orgulhar para o resto da vida. Logicamente Harry nem se lembrou dos oitocentos e oito vebetes com o nome de um bruxo seguido por um "derrotado por um demônio no ano tal".
Salathiel se aproximou do demônio e disse:
‒ Eu não posso intervir se ele quiser te enfrentar, Azazel... mas seu coração está na minha mão agora... você sabe o que farei com ele se o rapaz vencê-lo e você for desonesto com ele...
O demônio apenas sorriu em resposta.
Harry convenceu Caius a deixá-lo ir em seu lugar e olhando com firmeza o demônio disse:
‒ Aceito seu desafio. O que vamos jogar?
‒ O Outro Jogo ‒ disse o demônio ‒ numa sala do inferno ‒ e dizendo isso direcionou-se para uma porta lateral da igreja e a abriu. Dava para uma sala qualquer. Com um gesto de mágico, abriu-a novamente e Harry viu que agora a porta dava para uma sala com uma lareira e um tabuleiro no centro, e duas poltronas altas. Parecia até que jogariam xadrez. Ele passou e o demônio disse:
‒ Só nós dois.  ‒ O anjo olhou para Hary uma última vez e disse uma frase intrigante:
‒ Seja esperto. ‒ a porta se fechou e Harry viu-se diante da figura que duzentos anos antes desafiara Vittorio Zaba, o mesmo homem alto de roupas escuras, que sentou-se numa poltrona diante dele e disse:
‒ Pronto?
‒ Pronto‒ disse Harry sentando-se. Quais são as regras? ‒ olhou o tabuleiro que tinha um intrincado jogo de desenhos que parecia abstrato à primeira vista, mas olhando-se bem, via-se que eram desenhos muito pequenos, de pessoas, animais, cidades, florestas, tudo muito junto e confuso para se entender. Só havia dois clarões no tabuleiro, um no canto superior esquerdo, e outro no canto inferior direito.
‒ Você vai começar o jogo com um pouco do meu poder. É a única maneira de poder competir comigo. Vai poder se transformar em coisas, animais, pessoas... no que quiser, e eu vou tentar te alcançar. Cada vez que você conseguir me afastar, lutando comigo, vai adquirir mais do meu poder, mas advirto a você que não é fácil, é preciso raciocínio... se eu te levar para este lugar ‒ o demônio apontou a figura de um lago escuro que lembrava um buraco negro, situado no canto superior esquerdo ‒ eu venço o jogo e sua alma será minha. Se você chegar aqui ‒ ele apontou uma árvore no centro de uma clareira, no canto inferior direito ‒ vence. Vamos começar aqui ‒ disse ele pondo no centro do tabuleiro uma pequena figura negra na forma de um peão de xadrez, fazendo que espantosamente os desenhos se afastassem abrindo um terceiro clarão no tabuleiro. ‒ Pronto? ‒ replicou estendendo a Harry uma figura semelhante, de cor vermelha
‒ Pronto. ‒ disse Harry. ‒ Posicionando seu peão junto ao do demônio.
O Demônio sorriu e num instante, a sala desapareceu. Harry sentiu uma atmosfera sufocante e viu-se em pé entre uma multidão que gritava feito loucos de um hospício, e sentiu-se segurar por um par de mãos fortes de algo ou alguém que começou a arrastá-lo entre a multidão. Imediatamente compreendeu que na verdade estavam dentro do tabuleiro, agora ele era o pequeno peão vermelho,  e o demônio já estava vencendo. Tentou lutar com ele, mas o demônio, na forma de um grande trasgo montanhês, grunhiu o que parecia uma risada e continuou arrastando-o. Harry então se lembrou que era um jogo de poder, e pensou em algo para se transformar, como o Demônio dissera que seria possível. Com um estalo, ele se transformou numa lebre e aproveitando a surpresa do trasgo com a súbita mudança de tamanho, correu agilmente entre a multidão, desviando-se aqui e lá dos pés enormes das criaturas grotescas.
Imediatamente Harry sentiu que algo realmente mudara, porque ele sentia-se como que eufórico: realmente podia sentir o poder aumentando, e isso era bom demais. Então suas orelhas de lebre captaram um som e sem se voltar, ele percebeu que havia um lobo enorme o perseguindo. Ele correu mais entre a multidão, sentindo que o lobo se aproximava rapidamente... era preciso desviar-se quando ele estivesse bem perto e mudar de forma rapidamente...
Quando as mandíbulas do lobo estavam já muito perto de sua forma de lebre, ele virou-se e subitamente, se transformou numa grande coruja negra, enfiando as garras no focinho do lobo que urrou de dor. Satisfeito, Harry sentiu uma onda de poder subir por seu corpo enquanto subia para o céu procurando com seus olhos de coruja o lugar onde estava a árvore. Era impressionantemente longe. Ele podia jurar que de onde estava o lago parecia mais próximo, embora ele não tivesse se sentido deslocar-se tanto do centro... começou a bater as asas inebriado pela ótima sensação de voar e pela primeira vez na vida se perguntou se não seria divertido ser um animago pássaro. Direcionou-se para a árvore, batendo mais vigorosamente as asas, sentindo a alegria de ver que pelo ar, seria tudo muito mais fácil.
Mas Azazel não estava nada disposto a colaborar, pois surgiu trasnformado em águia vindo diretamente  ao seu encontro, Harry imaginou o que no ar seria páreo para uma águia, e sua mente se surpreendeu quando se transformou exatamente no que imaginara... Harry era agora um balaço, que foi diretamente bater no bico da águia, derrubando-a com um guincho agudo. Harry achou graça naquilo, graça demais, ainda mais porque agora sentia fisicamente o aumento do poder, e rindo por dentro, animado pela lembrança que o balaço lhe trouxera, transformou-se em si mesmo adolescente, voando com sua firebolt, e poder voltar àquela época era muito gostoso, ter  novamente quinze anos e pensar em pegar um pomo de ouro...
Mas seu objetivo não era um pomo de ouro, era a árvore, que para sua surpresa, agora estava mais longe. Exasperado, o rapaz atirou-se à frente quase deitado na vassoura, voando na maior velocidade que era capaz, olhando fixamente na árvore como se ela mesma fosse um pomo de ouro. E foi quando descobriu que Azazel também tinha acesso à suas lembranças.
Enorme e negro, um dragão, um rabo córneo húngaro vinha em sua direção, ameaçador... Harry pensou em usar a mesma estratégia que o fizera vencer em Hogwarts, mas se lembrou do poder... e transformou-se em um dragão maior e mais forte que Azazel, e bramindo as mandíbulas, atirou-se em uma luta feroz e sangrenta contra o monstro. O fogo que soltavam queimava o ar, e os dois dragões se engalfinhavam no ar, fazendo tudo à volta tremer, até que Harry soltou fogo direto sobre os olhos do outro dragão, que começou a cair. Quando Harry olhou para baixo, consatou que estava a poucos metros do lago escuro.
"Droga" ‒ pensou ‒ de alguma forma ele me arrastou até aqui!" eu preciso ser muito rápido, eu quero atravessar este maldito tabuleiro... ele pensou que nada era mais rápido e mais difícil de se ver que um pomo de ouro, e foi nisso que se transformou, cortando veloz o ar, rindo novamente com a deliciosa sensação que o poder, cada vez maior proporcionava. Foi quando sentiu que o ar estava mais difícil de transpor.
Vento. Azazel transformara-se em vento, e para o pequeno pomo era cada vez mais difícil vencer a distância até a árvore, agora apenas um pequeno ponto verde naquela planície cheia de monstros, de cidades caóticas... Harry compreendeu que na verdade, aquilo era a tal sala do inferno. E pensou que antes de sair de lá, o que tinha certeza que conseguiria, ele precisava olhar para tudo... e só havia um jeito de fazer ambas as coisas ao mesmo tempo.
O vento era forte e veloz, mas havial algo contra o qual o vento não podia fazer nada... com um esforço mental, Harry transformou-se em luz, e mesmo sem olhos, pode de uma vez contemplar toda a desolação daquele mundo cheio de caos, pensando que aquilo era apenas uma das muitas salas do inferno... e entendeu porque Caius queria tirar alguém dali. Foi quando notou que havia iluminado toda a paisagem menos um ponto, um único ponto...
A árvore estava na sombra. E a sombra, a escuridão avançava, engolindo-o. E Harry sentiu-se um instante impotente... e percebeu que era isso: ele estivera tão inebriado por aquele poder, que não notara que na verdade, o poder o prendia a Azazel, porque o poder era de Azazel, que na verdade controlava tudo. Um instante Harry pensou enquanto a escuridão avançava, e a primeira coisa que lhe veio à mente foram as duas palavras de Salathiel: Seja esperto.
Foi um segundo apenas... Harry sabia que a única forma de usar o poder do demônio que avançava contra ele era livrar-se dele, e virando ele mesmo no ar, gritou enquanto caía:
‒ Azazel, eu não quero seu poder.
Zuuuuim! ‒ esse foi o som que Harry sentiu em seus ouvidos ao ser arremessado para fora do tabuleiro-sala do inferno. E olhando que estava de volta na poltrona, e Azazel não estava ainda ali, fez exatamente como o Demônio no início do jogo, e apenas deslocou seu peão de um ponto muito próximo ao lago até onde estava assinalada a árvore. Um suspiro de alívio escapou de sua garganta. O poder podia ter sido bom enquanto durara. Mas agora sentia uma espécie de ressaca dele, como se tivesse sido moído e remoído várias vezes.
‒ Droga! Droga! ‒ O demônio apareceu no instante seguinte na frente de Harry, novamente na figura do sujeito baixinho e mal humorado, só que agora ainda mais baixinho e mais mal humorado, e visivelmente menos poderoso‒ Nunca ninguém havia me ganho nesta droga de jogo! Como você conseguiu?
‒ Ele foi esperto ‒ disse Salathiel abrindo a porta. ‒ Saia, Harry ‒ ele falou sério ‒ Não gosto de ver mortais numa sala do inferno, não lhes faz nada bem. Azazel não pode mais sair daí... mas eu tenho algo para pegar com ele.
Harry deu alguns passos no interior da igreja e caiu de joelhos, vomitando tudo que nem sabia que tinha no estômago. Passou a mão pela testa suada, pensando que realmente fora por pouco. Sua cabeça doía, parecia pesar uma tonelada. Mas o ar fora da sala do inferno era muito mais respirável, e ele nem percebera isso. Virginie estava junto com Adrian olhando para ele. A esfinge pôs a pata carinhosamente sobre sua mão e disse num sussurro:
‒ Acabou... veja o que você conseguiu...
Harry voltou-se. Na porta que o levara à sala do inferno, Salathiel estava parado, ao lado de três vultos de mulher. Três almas. Elas lembravam os fantasmas de Hogwarts, mas sua aparência era bem mais desolada. De frente para as três e de costas para ele, estava Caius Black.
Harry levantou-se e foi até onde ele estava. Mas não lhe tocou. O vampiro olhava as três almas  sem saber o que dizer. Ou melhor, ele queria dizer uma palavra que lhe era um tabu. Queria pedir perdão às três.
Lubna Lee tinha a aparência de alguém que sofreu muito, assim como Jane Unha Longa e Misty. As três haviam morrido anos antes em combates, e Caius vira as três morrerem. Salathiel as olhava  silencioso e disse para Caius:
‒ Não toque nelas. Você não pode. Eu vou curá-las. ‒ O anjo abriu os braços e envolveu as três no mesmo abraço, brilhando intensamente por um segundo. Suas asas se fecharam sobre elas e então, quando abriram-se novamente, no lugar dos três fantasmas, havia três seres feitos de luz. Lubna sorriu e olhou para Caius.
‒ Lubna... ‒ ele disse com esforço, com raiva de não poder sentir de verdade toda a emoção daquele instante... e amaldiçoou mais que nunca a sua condição de vampiro. Lubna sorriu e disse:
‒ Eu ainda te amo, Caius... e te amarei para sempre.
Harry então compreendeu que eles não iam ficar juntos... olhou para Salathiel e este apenas confirmou o que ele já sabia com um gesto.
‒ Para onde vocês vão? ‒ Caius perguntou, olhando de uma para outra.
‒ Ele nos disse nosso destino antes de entrarmos aqui ‒ disse Jane ‒ Mas não podemos dizê-lo a você Caius.
‒ Eu... ‒ disse Caius ‒ eu quero que vocês me perdoem ‒ aquilo foi dito com uma dor imensa. Porque embora era o que Caius quisesse realmente, também era uma traição à sua natureza maligna.  ‒ Me diga onde elas vão, por favor...
‒ Não. ‒ disse Salathiel ‒ eu não posso. Mas elas ficarão bem, Caius Black... busque a saída... busque a sua cura e poderá vê-las de novo. ‒ O anjo abriu a porta, e Misty e Jane entraram, a sala agora parecia apenas uma sala comum. Antes de entrar, Lubna deu mais um longo olhar para Caius e disse:
‒ Adeus, meu amor. ‒ e desapareceu, atras das asas de Salathiel, que antes de fechar a porta ainda disse:
‒ Tenha uma boa vida, Virginie.
‒ Adeus Salathiel!
‒ Não se diz adeus a um anjo.‒  Ele soltou uma risada alegre e disse ‒ lembre-se que estarei sempre por aí.
A porta se fechou atrás dele. Caius ainda deu dois passos na direção da porta, mas não a abriu. Voltou-se, frio como uma rocha e disse, olhando para o chão.
‒ Às vezes é melhor  não olhar para trás... ‒ olhou direto para Harry e disse: você cumpriu sua parte... chegou minha vez de te ajudar.

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