TUDO SOBRE ESFINGES
Diante dos olhos de Virginie Vermont, Harry Potter, por muitos anos chamado "o menino que sobreviveu", franziu o cenho pensativo e ponderou considerando as possibilidades: Muitas vezes acreditara que o futuro do mundo bruxo dependia de seu sucesso e fracasso, principalmente nos anos de luta contra Lord Voldemort, mas era sempre uma idéia abstrata e de fato ele não sabia ao certo o que isso significava, era entorpecido no grau de sua grande responsabilidade... algumas vezes sem perceber tivera em suas mãos a sobrevivência de alguém, salvara Rony, Gina, Hermione... e fora salvo algumas vezes por eles e por outros, inclusive por Caius Black... mas eram outros tempos, e pessoas que ele conhecia bem. Mas agora parecia tudo muito diferente...
Nunca uma existência, ou melhor uma alma dependera tão única e exclusivamente dele e de seu desempenho... era assustador, mais que o demônio de terceira classe que ele enfrentara ainda na escola de aurors, mais que a pior face de Voldemort, que ele vira, era a idéia de fracassar e fazer com que a moça perdesse de vez a alma.
Mas bom ou ruim fosse isso, Harry Potter nascera com coração de herói. E heróis não tem outra saída numa situação como essa senão aceitar o desafio, não importando muito o que seja mais fácil ou cômodo. O fato é que a partir do momento em que aceitara ouvir a história de Virginie Vermont, Harry se comprometera com ela, e agora era impossível voltar atrás, e como ele ainda fosse o menino que sobrevivera, agora sua única saída era vencer o duelo de qualquer forma, mesmo nunca tendo jogado o tal jogo louco que lhe era proposto. E foi por isso que ele olhou para Caius e dele para Virginie antes de dizer:
‒ Está bem, eu topo.
Meia hora depois andava pela rua com os pés pesando meia tonelada cada, imaginando a responsabilidade que tinha diante de si. Caius Black sumira na neblina pouco antes do nascer do sol e Virginie proibida de desaparatar mais que um quarteirão e simplesmente medrosa demais para se locomover em qualquer meio de transporte coletivo ou individual, seguira a pé para seu pequeno apartamento perto da Broadway. Ele agora estava só com seus pensamentos sombrios, e tinha que se preparar para um duelo de esfinges.
Harry olhou o sol nascendo preguiçosamente no horizonte, estendendo os raios confiantes para a agora perpetuamente amedrontada cidade dos vampiros, que agora ainda por cima tinham que aguentar um povo meio paranóico que achava que a qualquer momento outros terroristas atacariam. Era possível se andar tranquilamente por Nova Iorque, desde que você não morasse lá. Não morando lá você não se preocuparia quando um avião cruzasse o céu, e não sendo um bruxo ou um Van Helsing você andaria tranquilamente na rua sem desconfiar de cada sujeito que passasse por você ou mesmo da nevoazinha suspeita que rodeava seus pés.
Deu um suspiro e desaparatou para o hotel. O primeiro impulso foi se atirar na cama e dormir longas horas sem pensar em nada, mas então lembrou-se que tinha que imediatamente começar a estudar duelos de esfinge, e com uma expressão um pouco aborrecida, buscou no fundo da capa o "Grande Livro de Perguntas e Respostas dos Aurores", que consistia num pequeno livro fino de capa de couro impresso com letras tão miúdas que era impossível enxergá-las. Abrindo-o Harry disse:
‒ Quero saber tudo sobre duelos de esfinges.
O livro no mesmo instante começou a folhear-se sozinho como que soprado por um vento invisível, para depois crescer até se tornar um livro grande e bem pesado aberto num capítulo que tinha a ilustração de uma esfinge ao lado de um homem.
DUELOS DE ESFINGES
Jogo não maligno, porém em desuso desde o século XIX quando as esfinges começaram a tornar-se animais fora de moda. Muito comum entre os extintos bruxos ciganos. Foi inventado no Egito Antigo pelo sacerdote Amum-pep-hator, bruxo residente a serviço do sexto faraó da décima segunda dinastia, Amenemhat III, o grande, que queria algo para distraí-lo nos longos anos de fartura.
Sua primeira edição era um tanto mais violenta e acabava com uma esfinge devorando a esfinge derrotada, mas depois de protestos do sindicato das esfinges que diziam que era muito humilhante ter que devorar alguém da mesma espécie, foi adaptado para que se devorasse o jogador derrotado. Então, como se em pouco tempo uma redução muito drástica no número de participantes tivesse sido sentida, trocou-se a prática da devora pela aposta de uma grande soma de ouro. Há quem credite a Amun-pep-hator também a inveção dos dados de jogar e dos jogos de tabuleiro.
Das Regras:
As Regras são simples: Joga-se o dado e decide-se o primeiro participante. Aquele que obtiver o maior número será o primeiro a rolar o dado novamente. O número que cair, de um a seis, mostra o número de casas que a esfinge deve se deslocar. Então, a esfinge propõe um enigma para o adversário, e caso este acerte, conquista o direito de rolar o dado e assim por diante. Quando o adversário erra, o outro joga novamente.
Isso significava que se ele quisesse ganhar o jogo, teria que acertar o máximo de enigmas possíveis e rezar para que o adversário errasse o máximo. O primeiro jogador a atingir a casa doze...
Daí em diante Harry entendera tudo, mas foi bom saber a informação suplementar que o giro de uma ampuleta revelava o tempo que ele teria para responder as perguntas, o que dependendo da ampulheta, podia ser algo entre dez e trinta segundos. Fascinante.
Harry olhou desanimado para o livro antes de dar uma olhada no espelho comuicante, onde Willy o olhava intrigada. Deu um pulo antes de dizer:
‒ Porque você não disse que estava aí?
‒ Porque você parecia ocupado. A propósito, bom dia para você também... ‒ ela riu e ele relaxou, antes de relatar tudo que acontecera e o que arrumara para aquela noite
‒ Eu acho ‒ ela ponderou ‒ que o que você deveria fazer era se acalmar. Você sempre teve uma ótima cabeça para essas coisas, não tanto quanto Hermione, mas uma boa cabeça de qualquer forma... ‒ eles se encararam em silêncio então ele disse:
‒ Eu te amo.
‒ Kakaka! Eu sei ‒ ela disse arrogantemente antes de completar: ‒ Quando você volta?
‒ Não sei, espero que logo... dê um beijo em Abel por mim.
‒ Claro, agora vá estudar esfinges. ‒ ela saiu da frente do espelho e ele olhou novamente para o livro perguntando:
‒ E o que devo saber sobre esfinges para ganhar este jogo?
Rapidamente, o livro abriu-se num capítulo que dizia:
ESFINGES ‒ AS DETENTORAS DA SABEDORIA
Na verdade as primeiras esfinges foram criadas por bruxos do alto nilo a partir do cruzamento entre pedras,animessência de leões e humanessência. Infelizmente os bruxos do alto nilo não deixaram nada anotado sobre a humanessência nem sobre a animessência, que é o segredo da vida e das espécies (os trouxas chamam de algo como genomia) e nem sobre como conseguiram os primeiros cruzamentos, portanto, a origem delas é hoje muito obscura até porque elas se recusam a contar como foram feitas porque prometeram isso aos seus criadores, e esfinges são acima de tudo muito fiéis.
Por terem almas de pedra são extremamente longevas, tanto que sua vida não é contada em anos ou mesmo séculos e sim em eras, acredita-se que uma esfinge viva entre seis e nove eras, o que na prática resulta em mais ou menos 20 mil anos. Sua infância dura cerca de mil anos, e a adolescência, a fase mais problemática mais mil e quinhentos anos. Então, quando completa sua primeira era, ela atinge a maturidade e pode ser usada para responder e tecer enigmas.
Enquanto seu dono vive, a esfinge lhe é totalmente fiel, e pode compartilhar com ele, e com todo aquele que assim seu dono permite, seus pensamentos e sabedoria, que jamais a abandonam. Normalmente a esfinge tem o rosto de seu primeiro dono.
As esfinges tem hábitos de acasalamento estranho. Sabe-se que as fêmeas entram no cio a cada 1200 anos (1/2 era aproximadamente) quando se encontram um macho que lhes agrade, dão à luz a um filhote que cuidam por aproximadamente 500 anos. Sabe-se que normalmente após o acasalamento o macho torna-se estéril (algo relacionado a imperfeição na combinação entre a animessência e a humanêssencia) , portanto, as esfinges são cada vez mais raras devido a falta de machos disponíveis para acasalamento e ao estranho fato de que (novamente creditamos isso aos erros na manipulação anímica) nascem muito mais fêmeas que machos da espécie. Também parece contar o fato de que muitas esfinges fêmeas rejeitem alguns machos dizendo que eles são muito feios.
Outra curiosidade acerca das esfinges é que quando o macho torna-se estéril automaticamente passa a se comportar de forma estranha, portanto é muito comum que os donos não permitam que suas esfinges macho cruzem.
A personalidade das esfinges é sempre forte, mas elas tendem a obedecer regras. Entre as coisas que uma esfinge não consegue fazer é entrar no pensamento alheio sem a devida permissão
Aqui por algum motivo Harry franziu a testa. Se pudesse olhar para o lado, veria a mesma barata que encontrara no começo desta história balançando furiosamente as antenas, praguejando porque ele lera algo que ela não queria que ele soubesse... ao mesmo tempo, um pombro imaculadamente branco pousado na janela esticou e encolheu as asas por um imperceptivel instante como se comemorasse alguma coisa. A barata balançou as antenas ligeiramente como que a tentar perceber algo no ar, mas o pombo, disfarçando, novamente começou a se comportar como um pombo comum.
A barata sentiu que aquilo podia atrapalhar seus planos para aquela noite, e antes que Harry soubesse como, suas pálpebras estavam mais pesadas, e ele sentia um sono devastador, que posteriormente ele creditaria à noite mal dormida. Então, devagar, sua cabeça pendeu e ele caiu com a cara dentro do livro ressonando. A barata acreditava que quando ele acordasse provavelmente não se lembraria de mais nada do que lera sobre esfinges. Mas o pombo silenciosamente pôs um sonho com uma esfinge na sua cabeça, um sonho mesmo, não um pesadelo.
Mesmo no meio do sono Harry deu um sorriso.
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O duelo havia sido marcado para a meia noite, na Catedral de St Paul, mas Virginie queria apresentar com alguma antecedência Harry para Adrian, sua esfinge.
Na verdade o nome verdadeiro de Adrian era Hapt-at-asim, mas um dono há uns bons quinhentos anos, um inglês meio burro que não conseguia de forma alguma chamá-la de Hapt-at-asim, dera-lhe o apelido de Adrian, que era a filha do dono de uma Taverna com quem ele achava a esfinge bastante parecida, embora isso fosse apenas uma desculpa para por o nome dela na esfinge, uma vez que ele era apaixonado pela menina que não lhe dava a mínima bola.
Adrian tinha 3200 anos, ou seja, estava quase no meio de sua segunda era de vida, era inteligente (pois era uma esfinge)mas depois de tanto tempo convivendo com bruxos loucos, que eram os únicos que se tornavam amigos de Virginie, era meio doida também.
Harry chegou ao apartamento de Virginie com muito atraso, encontrando Caius com a cara ligeiramente amarrada e Virginie absolutamente preocupada. Quando Caius o encarou, disse:
‒ Você deve ter dormido um bocado, hein?
‒ Eu não sei o que aconteceu, estava estudando sobre esfinges e então, peguei no sono. Acordei quase nove da noite, me sentindo muito bem... a cabeça fresca. Tive bons sonhos.
‒ Você não deve ser normal mesmo, qualquer um que fosse enfrentar um demônio teria pesadelos.
‒ Caius, dava para pularmos esta parte e irmos direto ao assunto? Boa noite, Virginie... onde está sua esfinge?
‒ Atrás de você ‒ disse uma voz suave e meio rouca, mas decididamente feminina. Harry virou-se e viu uma esfinge de pedra bem atrás dele começando lentamente a ganhar cor e tornar-se cada vez mais viva até que espreguiçar-se e dizer:
‒ Olá... você deve ser o Harry... meu nome é Hapt-at-asim... mas pode me chamar de Adrian, porque é assim que eu sou conhecida desde o século XV...
Harry encarou a esfinge. Ela tinha o rosto de uma mulher morena e exótica, mas bem bonita, algo na casa dos 20 ou 30 anos mais ou menos. Era simpática também, pois não parava de sorrir, e era também muito menor que a esfinge que enfrentara há uns anos em Hogwarts, no torneio tribruxo, ah, claro, aquela havia sido providenciada por Hagrid.
‒ O que houve, Bast comeu sua língua, Harry? ‒ a Esfinge disse animada.
‒ Bast?
‒ Uma das Deusas do meu tempo... cabeça de gato, corpo de mulher, mais ou menos o inverso de nossa raça. Eu tenho o rosto e o nome de uma sacerdotisa muito, mas muito desconhecida mesmo, coitada, tanto que ao invés de acabar esperando transformada em pedra por 2200 anos dentro de uma pirâmide como muitos dos meus parentes eu acabei a primeira dinastia num saldão de esculturas... depois passei de dono em dono, até que na grécia uma família de bruxos me adquiriu em... não lembro se foi em 23 ou 32 dC... eu me embolo nos primeiros anos da era Cristã, eu nunca sei direito qual o ano zero realmente.
‒ Acho que isso não é muito importante ‒ disse Harry ‒ eu sei que precisamos nos conhecer, mas, não era melhor nós falarmos do jogo?
‒ Jogo? Ah. Não se preocupe, está tudo aqui ‒ ela apontou a pata para a cabeça e continuou tagarelando ‒ de qualquer forma eu dei mais sorte que minha tia Emmun-arat-arat que além de ter a cara de uma sacerdotisa de Hator que realmente parecia um crocodilo, ainda passou os mil primeiros anos da era cristã com um bando de Reis malucos cujo passatempo era jogar os pobres cristãozinhos (eu gostava deles, os cristãozinhos, embora eles achassem naquela época que eu era coisa de gente...hum, pagã) bem, eles jogavam os pobres cristãozinhos numa arena e você sabe, por mais que leões sejam assim meio que nossos parentes, os homens também são e... do que eu estava falando mesmo?
‒ Você estava falando da sua vida...
‒ Ah, sim, depois de muito tempo, e aquele dono idiota que me deu esse nome, eu fui trocada numa aposta por uma esfinge meio doente e esfalfada , acho que o nome dela era El-ain-net (também, ela tinha mais duas eras que eu, se bobeasse) por Vittorio, e dele eu tive mais dois donos e então Virginie... Virginie, você contou a ele como conseguimos aquele violino para você?
‒ Não Adrian ‒ Disse Virginie tapando o começo de uma risada ‒ conte você.
‒ Bom, o nome dele... bem, o nome do sujeito não era tão importante quanto o sobrenome, Paganini, acho que já ouviu falar nele.
‒ Razoavelmente...
‒ Bem, ele era legal, mas maníaco, extremamente maníaco, ele era assim, padre, mas os colegas dele tinham sérias, mas séria desconfianças que ele era possuído quando tocava... e ele ficou apaixonado por ela ‒ a esfinge apontou para Virginie rindo‒ e bem, ela além de não querer nada com ele, que tinha a cara de uma coruja que ficou teeeempo demais na chuva, estava na época meio pobre, sabe, tinha vendido o seu último violino para pagar meu almoço.Coelhos, adoro coelhos, mas deixei de comê-los sem cozimento há uns bons dois séculos porque agora não sou mais tão selvagem... bem, resumidadente, eu e ela, hum, nós, fizemos a única coisa censurável nestes últimos... 150 anos, creio.
‒ Nós roubamos o violino de Niccòlo Paganini. ‒ Harry olhou para Virginie incrédulo.
‒ Não que isso seja importante, mas... como?
‒ Bem, ele achava que eu era cigana e bruxa, não necessariamente nesta mesma ordem, e eu prometi a ele que se ele compusesse uma música bem interessante eu ... eu...
‒ Ela dançaria para ele ‒ riu a esfinge.
‒ E você dançou? ‒ Harry olhou para a moça que sacudiu a cabeça positivamente.
‒ E o que ela fez nesta história?
‒ Não muita coisa ‒ disse Adrian ‒ ele tinha três ou quatro violinos, um não ia fazer tanta falta, não é mesmo? Enquanto ele mostrava a música para Virginie com os olhos nela, dançando, eu fui devagarzinho e silenciosamente e roubei um dos violinos dele, que estava atrás numa bancada... ele tinha a mania de tocar a música com os olhos fechados, e bem, quando os abriu...
‒ Eu e Adrian já estávamos bem longe... eu usei pó de flu na lareira dele ‒ disse Virginie com a cara mais inocente do mundo.
‒ Chega ‒ interrompeu Caius que estivera ouvindo quieto e extremamente contrariado por não ser o centro das atenções ‒ Se vocês contarem mais uma história como essa, Harry vai achar que Virginie merece ser levada por Azazel. Com mil diabos, não existe um único pecado que um sangue quente não possa cometer se tiver a oportunidade de viver duzentos anos...
Caius olhou sério para a esfinge que deu a ele um olhar derretido que o envolveu de alto a baixo, lânguidamente.
‒ E não me olhe desse jeito, conheço todos os seus truques, Hapt-at-asim, temos um duelo a vencer.
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