VIRGINIE VERMONT
Existe uma diferença sutil entre ser desastrado e ser um desastre... desde que fui amaldiçoada, no ano de 1789, 0 sou um legítimo desastre. Sim, eu nasci exatamente no ano de 1771, numa família de bruxos franceses, e fui a única filha... pelo menos a única que sobreviveu à epidemia de varíola de 1780, e sem uma única marca... eu estudei em Beauxbattons, que era uma escola nova àquela época, tive uma formação clássica, aprendi os segredos do violino com Gitana Rozsa, uma espanhola que dava aulas de transfiguração em Beauxbattons, e achou que eu levava jeito com música.
Eu tenho 18 anos há quase duzentos e dezesseis anos, o que pode parecer a você muito estranho, mas é a pura verdade. Desde a maldição, eu não envelheci um único dia, continuo com a aparência e a mentalidade de uma pós adolescente, não consigo mudar isso, é uma das coisas que mais me aflige... eu posso aprender coisas, eu posso passar o tempo... mas eu não amadureço, continuo sendo por dentro alguém que nem é criança, nem é adulto de vez... e tudo por causa de uma escolha errada.
Quando eu acabei a escola, logo me meti entre os bruxos ciganos, que corriam a Europa fazendo magia e fascinando as pessoas... minha mãe e meu pai foram contra, mas nada podiam fazer, naquela época se acabava a escola com 16 anos, e eu era já considerada maior de idade pelas leis bruxas. Gitana Rosza ainda me advertiu que nem todos os bruxos ciganos (ela mesma era uma) eram assim confiáveis como ela. Mas eu estava fascinada demais para não seguí-la.
E como toda idiota que se preza... eu me apaixonei pelo homem errado. Seu nome era Vittorio Zaba, e ele era um dos bruxos ciganos jovens que estavam no grupo. Ele tinha muitas mulheres atrás dele, mas eu acreditei que ele me amava, e hoje sei que realmente ele me amou, mas menos que amou aquilo que foi nossa ruína... o gosto pelas apostas.
Hoje os bruxos não jogam mais desafios de esfinge. Não é fácil encontrar esfinges e mais difícil ainda é escondê-las dos trouxas, mas naquele tempo, era muito comum este jogo, que se joga numa arena em forma de tabuleiro com 25 casas, sendo 12 de cada lado e a casa mestra, de número 13. Os dois desafiantes se fazem acompanhar de duas esfinges, cada enigma solucionado representa o avanço de uma casa, até a casa mestra. Quando a esfinge chega à casa mestra, o jogador tem o direito de escolha: ou desafia o outro a responder uma pergunta final da sua esfinge, e leva o prêmio se este perde, ou desafia a própria esfinge do adversário e ganha em dobro... em ambos os casos, se o desafiante ganha leva o prêmio... mas é muito difícil perder quando se chega à casa mestra, muitos propõem enigmas impossíveis como "o que tenho no meu bolso?" ou "Qual a cor dos olhos de minha amada?". E Vittorio era famoso por ser imbatível no desafio das esfinges.
Eu amava demais Vittorio e aceitava-o independente da sua jogatina, achava que era algo que ele gostava de fazer... e Vittorio fazia por muitos galeões, por ouro, por diamantes... ele achava que era algo muito lucrativo e era realmente muito difícil frear a sua ambição. Mas eu sabia a verdade, Vittorio jogava porque não conseguia viver sem jogar... ele era viciado em jogo e fraco demais para abandonar o vício, e eu o amava daquele jeito, tanto que muitas vezes fiquei ao seu lado dias e dias enquanto ele jogava horas intermináveis.
Nós estávamos acampados no sul da Itália em outubo de 1789, quando um outro grupo de bruxos apareceu e desafiou Vittorio para um "Gambito" que era uma semana inteira de desafios de esfinge, e ele aceitou. Eu nunca havia visto bruxos tão estranhos, e que perdessem no jogo com tanta tranqüilidade, e todos eles pareciam... inumanos. Eu disse isso a Vittorio, mas ele parecia não acreditar. Ele havia vencido o último, quando um deles disse: "Se nos venceu a todos, deve então desafiar nosso chefe".
Eu achei que havia decididamente algo errado quando Vittorio concordou, porque nem bem ele disse sim e um vento frio soprou pela floresta atrás do acampamento e o tal líder apareceu. Ele não parecia um bruxo cigano, era alto e magro, todo vestido de preto, inclusive um chapéu de abas largas desabadas que escondiam parte do rosto e principalmente seus olhos. Ele vinha com uma esfinge negra de olhos vermelhos, das que eu sabia serem mais perigosas e ferozes, tanto quanto inteligentes. A peculiaridade desta esfinge eram suas feições masculinas, uma raridade... tanto que as esfinges hoje estão quase extintas por causa disso.
O que eu achei mais estranho, ninguém notou: logo atrás dele uma outra figura, que a todos passou desapercebida se aproximou do acampamento e se acercou da roda de jogo. Era um homem muito baixo e magro sumido em vestes cinzentas, com um cachecol a rodear-lhe o pescoço e também de chapéu. A única coisa que mais ou menos se via além de seu rosto sujo era uma mecha de cabelo louro escapando sob um dos lados do chapéu de feltro cinza que usava.
Eu sentia no ar um clima estranho quando o desafiante pediu a Vittorio que rolasse o dado, cedendo a vez à mesa da casa como é normal nos desafios de esfinge. Vittorio conduziu Adrian, sua esfinge de estimação, até a casa 2 do tabuleiro e perguntou o que valia o gambito. Foi quando o desafiante sacou de seu lado uma arca que pelo menos tinha dez vezes mais ouro, diamantes e pedras que tudo que Vittorio havia ganho naquela semana... eu me lembro da expressão dele ao contemplar aquela arca aberta, fascínio, cobiça, ambição... todos juntos no mesmo olhar. Mas Vittorio era esperto e depois de pedir a Reggiano, o especialista em jóias do grupo para verificar a autenticidade da arca, ele disse que não tinha ouro para competir com o homem de igual para igual, ao que ele disse: "Não importa o ouro que você tem... vamos jogar, se eu chegar à casa 13 faço a você uma proposta."
Eu assisti ao embate silencioso entre a vontade de ter o ouro e a prudência de cigano que Vittorio sempre tivera, e esta perdeu o jogo quando ele mandou que Adrian fizesse o enigma. Não vou reportar todo o jogo, embora eu me lembre todas as charadas feitas naquele tabuleiro aquele noite. É muito doloroso lembrar da noite em que me tornei uma amaldiçoada.
Ora parecia que Vittorio ganharia, ora o forasteiro e sua esfinge negra pareciam ter a vantagem... eu ficava me remoendo silenciosamente, porque sentia que de alguma forma a proposta do forasteiro envolvia a mim... ao mesmo tempo via que o pequeno intruso cinzento olhava o jogo com interesse, mas às vezes parecia me olhar disfarçadamente. Eu não sabia o que ele queria mas sabia que ele queria me dizer algo, sem sucesso, infelizmente para mim.
Então, inesperadamente, porque então estava em desvantagem, os dados rolaram a favor de Vittorio que chegou à casa 13. Ele sorriu de satisfação ao ver o ouro na arca, já acreditando que era dele... então o forasteiro falou sorrindo:
‒ Vittorio Zaba... antes do desafio eu digo o que desejo no caso da minha vitória... está preparado para ouvir a minha proposta?
‒ Perfeito ‒ disse Vittorio sem tirar os olhos do ouro na arca.
‒ Então, eu lhe digo que minha oferta depende da vontade de outras pessoas... basta que você peça a essa pessoa o que quero e ela aceite para que todo este ouro possa ser seu...
‒ Diga logo o que é ‒ Vittorio disse impaciente, ainda olhando para o ouro.
‒ Se eu vencer, quero levar sua noiva. ‒ Vittorio tirou os olhos da arca perplexo e pediu ao forasteiro que repetisse, e ele repetiu. Eu olhei para ele apreensiva, e disse que jamais aceitaria aquilo, e Vittorio indignado, ou parecendo estar indignado, fez menção de retirar-se do jogo... então o forasteiro começou a falar, numa voz que fazia realmente parecer tudo muito normal, dizendo que sabia que Vittorio nunca perdera um jogo tendo chegado à casa 13, que ele podia naquele momento ficar mais rico que jamais sonhara, e novamente eu vi o embate silencioso se formando no rosto dele. O rosto que eu amava mais que tudo no mundo. Foi quando o forasteiro repetiu:
‒ Mas claro que não farei nada sem o consentimento de sua noiva... ela não querendo, fica o jogo encerrado, parte a parte sem nada ganhar. ‒ Vittorio virou-se para mim e disse:
‒ Aceite, aceite... ‒ eu argumentei que aquilo não era certo, disse que eu não podia ser objeto de jogo, e ele argumentou que nunca havia perdido, que aquela noite estaríamos juntos, desfrutando de tanto ouro quanto jamais havíamos posto as mãos, e como se eu permanecia sem permitir o gambito com meu nome e minha vida ele disse que ou eu o aceitava, ou nunca mais o via, pois se eu o amava, devia a ele aquela prova...
Algo em mim morreu naquele exato instante... mesmo o amando profundamente, eu soube que o sentimento dele por mim tinha um preço, uma arca de ouro, muito ouro, mas ainda assim muito menos que o preço que deveria valer o amor verdadeiro. Se eu soubesse não o que sei hoje, mas o que soube apenas minutos depois, eu teria dito não e adeus, e teria vivido o resto de minha vida em paz... mas embora muito decepcionada, eu simplesmente consenti.
O que se seguiu passou como um pesadelo diante de meus olhos. Vittorio, ainda cego pela ambição, disse que queria desafiar a esfinge adversária... eu vi nos olhos de Adrian que aquilo não era prudente, mas para Vittorio a arca já não bastava... ele queria o dobro de tudo. E a esfinge negra sorriu malignamente quando ele perguntou:
‒ Sob o luar duas contas, sob o luar meu tesouro, me diga o que sob o luar vale mais que do mundo todo o ouro? ‒ ele escrevera como sempre a resposta sob a mesa e eu lera...
‒ Na verdade este enigma é um falso enigma, pois todo seu tesouro foi trocado por uma arca de ouro que nunca vai te pertencer ‒ disse a esfinge negra, que continuou rindo ‒ mas a resposta em versos, verso a verso diz: Mais vale para este que vos fala, que ouro, jóias ou qualquer espada o doce olhar de sua amada.
Um silêncio mortal desceu sob o acampamento. Eu vi nos olhos de Vittorio o pavor quando ele estendeu ao homem o papel com os versos que a esfinge acabara de recitar, letra por letra. E o mesmo silêncio foi substituído por uma série de gargalhadas altas e frias, a medida que cada desafiante que Vittorio vencera transformava-se em demônio, dos mais horripilantes que vi, e digo a você, meu jovem, que nestes duzentos últimos anos eu vi demônios de todas as sete classes conhecidas pelos homens. Mas então, eu inocente demais, não podia imaginar como seria então o rosto do demônio sob a face do forasteiro...
Diante de mim e do apavorado Vittorio, ele deixou cair a máscara que ocultava Azazel, o demônio de mil olhos, guardião das almas do inferno, que estendeu seus braços grandes e negros onde chamas frias dançavam, para meu pescoço, que estava apavorada e sem reação. Vittorio pôs se diante de mim e gritou:
‒ Não a leve, troco de lugar com ela... ‒ o demônio riu novamente sua risada gelada e disse:
‒ Não me faça rir, não cobiço o que cedo ou tarde, de um jeito ou de outro será meu... francamente, meu jovem... sua alma não vale um décimo da dela, que deixou-se ir por amor a alguém tão patético quanto você... ‒ eu fechei os olhos apavorada, imaginando o que aconteceria a seguir... quando o medo do inferno se instalava na minha alma, eu ouvi uma voz poderosa dizer, e vi que vinha do pequeno intruso:
‒ Você não acha realmente que pode levá-la desta forma, não é mesmo, Azazel?
‒ Quem pensa que vai me impedir? Você, querubim? ‒ o pequeno então rebateu, no mesmo tom:
‒ Eu estou neste mundo perseguindo a sua laia, embora só possa entrar em cena quando vocês manipulam o livre arbítrio dos homens de forma desonesta, como você fez, e uma destas formas é abusar do poder do amor. E eu não sou um querubim, Azazel... você sabe muito bem que meu nome é Salathiel, um dos sete filhos da face da ira de Deus... ‒ dizendo isso, o estranho cresceu e de sob as roupas surgiu um anjo enorme, maior aida que o imenso demônio que havia na minha frente... E eles começaram a debater sobre mim:
‒ Você viu que ela concordou, eu não tenho culpa se ela não sabe escolher um namorado que não a troque por qualquer ourinho que vê na frente.
‒ Você sabe que a sua raça está impedida de fazer alguém dispor da alma e da vontade alheia... é a lei, vocês podem tentar quem quiser, contanto que ele se perca sozinho...
‒ Mas qual era a graça de perder o que já está perdido? Concorda que ela é muito mais interessante que ele?
‒ Aos olhos do Senhor eles tem a mesma importância...
‒ Bravatas, Salathiel. Prove que ela não iria comigo se eu a tentasse diretamente...
‒ Prove que ela iria, seu demônio de quarta classe...
‒ Hum, eu não sabia que anjos eram chegados a ofender demônios que nada querem além de fazer seu trabalho honesto...
‒ Se você é honesto eu sou um duque do inferno...
‒ Acho que se você viesse para o nosso lado não chegava nem a conde...
‒ CHEEEGA‒ eu disse então ‒ É da minha alma que vocês estão tratando! ‒ eu disse irada, e ambos olharam para mim. O demônio meio perplexo, Salatiel rindo-se.
‒ Então, jovem ‒ disse o anjo, ainda sorrindo ‒ o que você sugere para resolver a contenda?
‒ Eu... eu quero uma nova chance! ‒ eu disse e isso fez o demônio ficar realmente muito zangado...
‒ Sem essa... nada de segundas chances ‒ ele sacou um livro preto e o mostrou a Salathiel ‒ estão aqui as regras, e essas regras seu chefe mesmo assinou quando o meu patrão e ele chegaram mais ou menos a um consenso sobre a administração lá do subsolo... está aqui: vendeu a alma, já era... é sem volta, não tem segunda chance, seja por muito ou pouco ouro, seja por um reino ou por um biscoito de chocolate... a alma não é moeda de troca, tá aqui, parágrafo primeiro do capítulo sobre almas e afins.. ela vendeu...
‒ Ela não vendeu... foi ele ‒ Salathiel apontou para Vittorio e continuou ‒ IDIOTA, perdeu a alma dela no jogo, dispondo de algo que a ele não pertencia...
‒ Ahá, mas ELA consentiu... está aqui no parágrafo primeiro do capítulo que fala do livre arbítrio...
‒ Azazel não seja ridículo, eu sei as regras de cor, e sei que de alguma forma você as infringiu, seja lá como for... eu acho que ela tem direito a uma segunda chance...
‒ Bah, sem essa... eu não aceito.
‒ Então, vamos para o alto da montanha lutar pela alma da moça...
‒ Ah, não da última vez que isso aconteceu eu apanhei durante noventa anos seguidos de seu irmãozinho mais velho, que no final ainda levou a alma do sujeito... eu até admito que não sou um modelo de honestidade, mas eu não saio por aí com espadas de fogo espalhando a ira de Deus no lombo de quem só quer, apenas e simplesmente fazer seu humilde trabalho...
‒ Azazel... se até você admite que não é honesto...
‒ Nada disso, eu ganhei a alma no jogo... se ela quiser a alma de volta tem que ganhá-la no jogo então, de mim...
‒ Então, se ela aceitar...‒ o anjo disse olhando-me apreensivo, parecia que ele sabia que eu não tinha condição nenhuma de ganhar a minha própria alma no jogo, e subitamente pareceu ter uma inspiração divina ‒ eu como autoridade e representante das autoridades celestiais digo que ela tem... quantos anos você tem, menina?
‒ Dezoito ‒ eu disse
‒ Então ela tem o direito de desafiar Azazel dentro de dezoito anos pela posse de sua alma...
‒ Protesto ‒ disse Azazel ‒ você está facilitando as coisas para ela. Ela vai ter dezoito anos para se preparar... e porque dezoito anos?
‒ Porque foi o tempo que ela levou para perder sua alma... é justo que ela tenha o mesmo tempo para conseguí-la de volta...
‒ Está bem... se é assim, eu vou evitar que ela seja ajudada por você... eu exijo que ela seja, dentro de dezoito anos, representada por outro, a ser escolhido na véspera...
‒ Tudo bem... Se ela não encontrar ninguém que aceite o desafio tem o direito de esperar mais dezoito anos...
‒ Ah, aí é demais, isso não é justo...
‒ Bem, sempre temos a montanha e a espada de fogo...
‒ Está bem... mas então... eu a amaldiçôo até que a contenda esteja resolvida, ‒ o demônio disse rapidamente e acrescentou‒ e que a cada passo uma desgraça a acompanhe para que ninguém queira sua companhia...
‒ E eu a abençôo, com o poder que me foi dado... enquanto ela não conseguir um desafiante para Azazel, nenhum dia se passará em seu corpo, fora as marcas da espera, que serão dadas por um fio de cabelo branco, como as marcas daqueles que eu abencôo... e Virginie Vermont não morrerá enquanto o embate sobre sua alma não for decidido.
‒ Ei, isso não é justo!
‒ É justo por acaso amaldiçoar a menina?
‒ Mas agora... e se eu esperar até o juízo final?
‒ Paciência, quem manda não ficar sentadinho na sua cadeira no inferno esperando que as almas desviadas caiam em seu colo, demônio? Garanto que você teria muitas para se distrair... assim como você pode distribuir maldições, eu posso usar minha vontade e distribuir bênçãos... acho até que você ainda está em vantagem! Imagina o inferno para ela ser alvo de sua maldição de azar... ela pode ficar uma eternidade assim...
‒ Inferno na terra ‒ disse Azazel ‒ é um pensamento que me consola ‒ ele riu enquanto desaparecia na nuvem de enxofre com todos os seus asseclas, deixando-me para trás, perplexa com meu triste destino. Antes de desaparecer igualmente, Salathiel me disse:
‒ Sempre que a desgraça for demais, me invoque, e eu estarei com você para ajudá-la... eu te protegerei até o juízo final, ou até a sua alma ser sua novamente, perdoôe-me se não pude fazer nada antes... ‒ e sumiu igualmente num facho de luz, deixando-me só, com Vittorio, para quem nunca mais olhei na vida, depois daquela noite, em que deixei o acampamento... eu fui para a França, novamente, tentando não lembrar que havia uma maldição sobre minha cabeça, mas as coisas sempre pareciam conspirar contra mim...
Eu sabia alguma coisa de artes divinatórias e estava fazendo alguma fama em Paris, tanto que a rainha me chamou para jogar o baralho de Mme Le Normand para ela... não gostei do que vi nas cartas, e menos ainda da multidão que se acumulava na porta do palácio quando saí... meu Deus, até hoje sinto-me culpada pelas cabeças dos Reis que rolaram... Resolvi mudar de lado, e me juntei aos revolucionários... Jean Paul Marat acabou logo logo na banheira de sua casa, esfaqueado... depois foi Danton, então Robespierre... ah, quando eles desconfiaram de mim eu me escondi numa floresta... saí no dia da coroação do tal novo imperador. Eu queria saber porque fui dizer que Napoleão era simpático! Deu no que deu... ainda bem que eu não fui para Waterloo quando percebi o imenso canalha que ele era, imagine se ele tivesse ganho.
Eu achei que já havia dado azar demais ao meu país de origem... foi quando eu reencontrei num leilão a esfinge de Vittorio, Adrian. Ela me disse que ele havia morrido tuberculoso, alguns anos antes, a essa altura meu prazo estava acabando e como eu fosse precisar de uma esfinge, e mal ou bem a maldição não trazia derrotas financeiras, eu pude comprar Adrian. Ela está comigo desde então, mas ninguém que conhece a minha fama se dispõe a aceitar o desafio... eu fui expulsa do mundo mágico em 1890 porque a minha presença num congresso mágico causou um grande incêndio, e por mais que há quase cento e vinte anos eu tente, não consigo ser aceita como bruxa... em 1912 resolvi mudar de ares, e embarquei para a América.
Precisei então pela primeira vez da ajuda de Salathiel para salvar Adrian! E eu que achei que o Titanic realmente era inafundável, cheguei à América em uma condução improvisada, nas asas de um anjo segurando uma pesada esfinge... e aqui estou, causando pequenas e grandes tragédias desde então, sinto que nunca deveria ter aconselhado um amigo em 1929 a apostar na bolsa, e em 1977 não deveria ter dito que a eletricidade era uma ótima invenção...
E esta tem sido minha vida, e amanhã pela décima segunda vez Azazel me espera para o desafio das esfinges... a onze eu compareci sem ninguém para me representar... espero que a despeito de minha péssima fama, você, Harry Potter, queira me ajudar.
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