Fantasmas do Passado
Prólogo – Fantasmas do Passado
Nuvens negras e espessas pairavam no céu. Avançando numa espécie de fúria, encobriam até a mais brilhante estrela, tornando a noite escura como breu. Trovões explodiam estrondosamente, mas as sólidas paredes de pedra da mansão, erguidas havia mais de cem anos, sequer estremeciam. Inúmeras vezes, já haviam suportado a violência da natureza; sobrevivido intactas ao teste do tempo.
Com um último estrondo ameaçador, o céu explodiu numa tempestade. A chuva começou a cair copiosamente, até que os galhos dos ciprestes se envergassem em rendição. As velhas paredes de pedra também suportavam a chuva. Suas janelas sombrias enfrentando a noite, encarando-a como se fossem os olhos resignados de um homem condenado. Tais paredes tinham sido construídas pelas mãos dos Malfoy, as histórias misteriosas que haviam testemunhado já tendo se transformado em lendas.
Em noites assim escuras, nenhum dos vizinhos se atrevia a olhar para a mansão de pedra no alto da colina. Ninguém queria ver as paredes cobertas de hera, nem os contornos sinuosos das torres, especialmente sob a luminosidade sinistra dos relâmpagos. Ninguém tampouco queria saber se ainda havia alguma luz acesa na janela da torre esquerda...
Os habitantes de Wiltshire sussurravam que ele trabalhava lá; um escravo da própria culpa, que varava a noite no mausoléu da sua riqueza, como se, em seu laboratório, pudesse redimir o seu crime. Como se, no alto da sua torre, não pudesse mais ouvir o som do seu nome ecoando dos lábios dela, enquanto o belo anjo louro que fora sua esposa se precipitara para a morte na torre oposta.
Sentado de frente para o fogo quase extinto da lareira, Malfoy não notava os estrondos dos trovões, tão próximos que faziam as janelas da biblioteca estremecerem. Há muito tempo, ele aprendera a se desligar de quase tudo, inclusive dos sussurros das pessoas que um dia havia chamado de amigas. Tanto as opiniões alheias quanto a fúria da noite lhe eram indiferentes. Era a escuridão em seu intimo que o atormentava...
Absorto, girava devagar seu copo de conhaque entre as mãos. Enfim, levou o cristal aos lábios para mais um gole, a bebida trouxa e forte, desceu ardendo em sua garganta.
Cinco anos. Cinco longos anos...E de repente a criança estava voltando para casa. A vitória de Fleur agora seria completa.
Contraiu o semblante, um brilho frio e amargurado passando por seus olhos acinzentados em meio a penumbra.
Incapaz de conter o turbilhão interior por mais tempo, levantou-se da poltrona de couro e começou a andar de um canto ao outro da biblioteca como uma fera enjaulada.
Odiava aquela maldita casa, pensou subitamente. Para o diabo com o fato de que pertencia à quarta geração dos Malfoy e que eles sempre haviam vivido ali! O que, afinal, importava que tivesse nascido, crescido ali e que aquele lugar fosse seu lar?
Na verdade, não havia o menor traço de aconchego de um lar naquele casarão enorme e sombrio. Não havia vestígios dos aromas convidativos de tortas de maçã, nem ecos de risos alegres nos corredores. Em vez disso, a construção era uma monstruosidade, repleta de revestimentos de madeira escura, quadros de aspecto severo e tapeçarias monótonas. As paredes altas estavam impregnadas do odor acre de lembranças deprimentes, enquanto dos tetos abobadados ainda pendiam os gritos amargos e irados do passado.
E mesmo após todos aqueles anos, ao virar por um dos longos e sinuosos corredores, ele ainda podia sentir resquícios do perfume dela. E na calada da noite, quando permanecia sentado em seu escritório ou no laboratório, jurava que ainda conseguia ouvir seu riso zombeteiro.
Deveria ter deixado aquela casa há muito tempo, refletiu com amargura. Saído dali enquanto podia. Mas não o fizera. E jamais o faria...compreendeu, abruptamente.
Porque ali, em algum lugar permaneciam os segredos de Fleur,.Em algum determinado ponto entre as longas escadarias em espiral e os cômodos sombrios, a resposta definitiva para todas as perguntas dele achava-se a espera. A casa propriamente dita nunca revelara seus segredos. Mas talvez as respostas estivessem enterradas no diário que sabia que ela havia mantido com tanto prazer perverso.
Até então, entretanto, embora vasculhando durante quase todas as noites mal-dormidas dos últimos cinco anos, jamais conseguira encontrar nenhuma pista para as perguntas que o atormentavam.
Fleur teria ficado orgulhosa.
Ele parou de repente, detendo-se diante de uma janela, seu rosto endurecendo.
Não queria a criança de volta, pensou, angustiado. Não queria a lembrança constante, noite e dia, de Fleur e de todos seus jogos torturantes. Além do mais, era um gênio, a décima mente mais brilhante do mundo mágico. Não sabia nada de crianças! Era um homem que se entendia melhor com poções, feitiços, seres mágicos. Sempre fora um dos melhores alunos de Hogwarts, apesar de seu comportamento sempre fora muito inteligente. Suas poções sempre foram perfeitas, havia criado novos feitiços, escrito livros, mas sobre crianças ele não sabia nada.
Ele nunca fora normal. Pertencia a quarta geração de uma família mais conhecida pelo seu dinheiro e poder e maldade, do que pela inteligência...mas de alguma forma, para horror de seu pai, nascera diferente, ele até tentou se mostrar como seu pai gostaria que ele fosse, mas não conseguiu se manter assim por muito tempo, apesar de ninguém do mundo bruxo acreditar nisso...
Seus pais haviam morrido um ano após sua saída de Hogwarts, na guerra final entre os comensais e aurores, logo após o odioso Potter ter vencido Voldermort, os comensais mais fieis para se vingar resolveram atacar mesmo assim, liderados por seu pai, quando um dos aurores lançou um feitiço sobre Lucio, Narcisa pulou na frente morrendo no lugar de seu pai, e Lucio foi também atigido logo depois.
Com a morte de seu pai, veio uma das maiores revelações de sua vida, ele possuía um irmão, que seu pai havia mantido escondido na França, e apesar de seu meio-irmão viver viajando, várias vezes Draco era obrigado a agüenta-lo em sua casa, já que seu “irmãozinho”, Blaine, gostava de fazer suas visitas, mas ele já havia se acostumado ao seu irmão e sua odiosa turma, que sempre vinha com ele, e além do mais Blaine era muito amigo de Fleur, haviam estudado juntos em Beauxbatons, e eram muito amigos lá, com sua turminha, que eles chamavam de a gangue dos cinco, que hoje possuía um integrante a menos.
Como seu meio-irmão sempre estava viajando com sua turma, ele era obrigado a cuidar de todos os negócios sozinho, algo que ele não ligava, já que não queria Blaine se metendo em seus negócios. No início ele odiou Blaine, o odiou por ele ser amigo de sua esposa, o odiou por ele ter aparecido sem ter sido chamado, o odiou por ele só saber gastar o dinheiro que ele administrava, o odiou por ele simplesmente existir, mas hoje ele já não sentia ódio, sentia simplesmente indiferença, a presença de Blaine para ele se tornou suportável e indiferente.
Mas ainda assim, os sussurros sempre haviam estado lá, sussurros que haviam rodeado desde pequeno.
As palavras de seu pai...”Esse menino é tão...diferente. Simplesmente não é normal”. Ele havia tentado ser como seu pai, mas não conseguiu, ele simplesmente não era como o resto dos Malfoys.
Estavam certos, pensou, sombriamente. Ele não era normal, nunca fora.
Fleur que o dissesse.
Tentava se lembrar agora, talvez porque já tivesse tomado dois copos de conhaque, o que vira nela no começo. Fora no torneio tribruxo, a treze anos em Hogwarts que haviam se conhecido.
Ela havia sido o anjo loiro, a mais bela jovem que ele já havia visto na comunidade bruxa, além de ser uma veela. Ela possuía traços perfeitos, com longos cabelos loiros prateados e brilhantes olhos azuis. Até seu riso fora leve e musical. Enfim, uma mulher tão etérea e linda, quase como se não pertencesse a esse mundo, do tipo que quando entrava num ambiente, as conversas cessavam e todos se viraram para observa-la. Sua beleza havia sido assim impressionante.
No instante que a vira, Draco a quisera, mas ela ainda morava na França na época, e ele tinha que terminar seus estudos em Hogwarts, quando ele terminou Hogwarts, ela havia se mudado para Londres, e por três meses, esquecera-se de seus negócios, da guerra, de tudo. Ele a cortejara com toda a paixão até então enterrada em seu coração solitário.
Ao final, conseguira conquista-la. Com o nome tradicional da família Malfoy e sua imensa fortuna, os Delacour concederam de bom grado a mão de sua primogênita. Estiveram mais do que ansiosos para aceita-lo.
Isso acontecera apenas na ocasião...
Do que os pais de Fleur o haviam chamado no funeral dela? Semente do demônio? Enviado das trevas? E haviam levado Andrew naquele mesmo dia, para que o menino “não fosse contaminado um minuto sequer com a presença maligna do pai”.
Haviam lhe dito também que jamais deixariam que o homem que matara sua filha ficasse com o único neto deles. E Draco permitira que levassem Andrew...porque soubera da verdade.
Mesmo agora, ainda se lembrava das tênues impressões do passado...a fragrância do talco de bebê, colocar o menino na cama à noite, ler histórias infantis até que os grandes olhos azuis de Andrew ficassem sonolentos...Quantas madrugadas, acalentando-o em seus braços, enquanto o menino chorasse por alguma indisposição.
Mas ele não era mais um bebê, droga. Estava com seis anos agora. E não fazia a menor idéia de como lidar com um menino dessa idade. Mas não havia outra escolha. O senhor e a senhora Delacour haviam morrido recentemente, cada um sucumbindo a um ataque cardíaco com duas semanas de diferença um do outro. Draco podia imaginar que até no leito de morte os dois ainda tinham amaldiçoado seu nome e o julgado culpado.
O fato de nunca terem encontrado provas para prende-lo pelo assassinato da filha teria sido, na certa, o último lamento dos sogros. Haviam sido obrigados a se conformar com uma declaração pública da inocência dele. Mas ainda hoje em dia, bastava que saísse de casa para ver rostos acusadores e ouvir os sussurros maledicentes às suas costas. “Assassino... Claro que o teriam prendido se não fosse tão rico”.
Draco afastou-se bruscamente da janela, odiando a inquietação que o consumia por dentro.
- Já basta! – ordenou a si mesmo.
Pegando o copo de conhaque largado na mesinha, sorveu o último gole. Atirou o cristal antigo na lareira e contraiu o semblante ao ouvi-lo se espatifando.
A criança estava retornando...Não havia nada que pudesse fazer a respeito. Andrew, o menino de seis anos... Com o rosto, os olhos e cabelos da mãe. Numa questão de dias, estaria ali.
Contrataria uma babá, ela cuidaria do garoto. A solução era simples. Ele ainda estaria livre para trabalhar em sua torre. Ainda poderia adentrar pela madrugada em seu laboratório, manter suas noites de insônia. Não teria que ver o menino, nem ficar por perto.
Seria melhor assim. Para ambos.
Mas, tão logo quanto chegara, a raiva passou, e Draco tornou a se afundar na poltrona, sozinho na biblioteca fria com um ar desolado em seus olhos cinzentos.
Depois de todos aqueles anos, gostaria tanto que as paredes de sua prisão pudessem falar...Queria poder prosseguir com sua vida. Mas Fleur morrera e, com isso, vencera o jogo vicioso em que estivera arrastando a ele, a todos. Agora jamais saberia a resposta para as duvidas que o atormentavam tanto. Nunca saberia a verdade.
Fleur caíra da torre direita da mansão havia cinco anos. Ou melhor, fôra empurrada. Não havia respostas para as perguntas que todos tinham... O Ministério jamais concluíra a investigação, e ele ficara livre por falta de provas concretas que o incriminassem. Nunca haviam tentado encontrar outros suspeitos, sendo o marido ciumento o alvo mais fácil de perseguir.
Assim, ela morrera e todos pensavam que ele a matara. Dessa forma ficara a situação e não havia nada a fazer para muda-la...
Com um profundo suspiro, Draco, enfim, levantou-se e deixou a biblioteca. Encaminhou-se para a longa e sinuosa escadaria que levava ao seu laboratório. Enquanto subia para torre da ala esquerda, ouvia o som da chuva copiosa tamborilando de encontro ao telhado de ardósia. Escutava o vento uivando implacavelmente por entre os galhos dos ciprestes.
Mas, mesmo assim, nos recantos escuros de sua mente, podia jurar que ouvia o derradeiro grito de morte dela.
N/A: Não me matem, a Gina aparece e muito no próximo capítulo. Ah, quero agradecer mais uma vez a Lina, minha beta fofuxa!!! (Nota da Lina: Eu tô morrendo de sono e nem betei o capítulo direito, mas tudo bem... A gente supera! A Ny quis mandar mesmo assim, então lá vamos nós! O que eu posso fazer? Eu sou uma pobre e sonolenta garota...) Ei... E mandem Rewiews...rs Me contatem por msn: [email protected]
Mandem sinais de fumaça, mas comentem, por favor!
Beijão!
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