MANHÃ NO DESERTO DE NEVADA



 Harry tentava pacientemente desenrolar um cacho do cabelo de Willy, que assim que ele largava se enrolava de novo, enquanto ela, debruçada sobre ele, brincava com seus óculos, que ele finalmente tirara. De vez em quando ele olhava o rosto embaçado dela e sorria, e ela lhe sorria de volta.  Estavam deitados numa cama estreita com lençóis meio amarelados de um hotel de beira de estrada, o único que haviam encontrado na noite anterior. O sol entrava preguiçosamente pela janela, era uma manhã de julho ensolarada, como não podia deixar de ser em um deserto. Passava das dez da manhã, mas eles não pareciam dispostos a levantar-se. Pondo os óculos dele, como faria uma criança levada por brincadeira, ela perguntou:
‒ E porque afinal de contas você se tornou amigo da lesma do Malfoy?
‒ Willy... será que você vai querer que eu conte tudo de novo? ‒ Ele tirou os óculos dela e enfiou de novo no rosto, estava cansado de vê-la embaçada.
‒ Por favor... eu adoro ouvir você contando... principalmente a parte do Dragão ‒ ela sorriu de forma irresistível, e ele sentiu novamente aquela onda de alegria que já esquecera que podia sentir quando ela sorria para ele. Pacientemente ele começou a recordar como fora seu último ano em Hogwarts:
‒ Bem, tudo começou nas férias, Sheeba me avisou que alguém estava fazendo um vodu para mim... mas eu na verdade não me importei muito, até o dia que eu me descuidei e apareceu a ferida no meu braço. Doeu muito ‒ ele sempre dizia isso para comovê-la, mas ela ficou quieta. ‒ Eu disse que doeu muito!
‒ Tadinho... ‒ ela disse ironicamente
‒ Bem, eu não sabia quem podia ter sido, parecia idiota o Voldemort me fazer um Vodu.
‒ E é mesmo, Vodu é coisa de bruxo patético!
‒ É, mas seu namoradinho sabia de tudo... depois o Malfoy me disse.
‒ Ah, Harry, quantas vezes eu tenho que dizer que eu não gostava do Troy? E você fala como se não tivesse ficado noivo daquela escocesa horrorosa... aquela Barbie falsificada made in Taiwan...
‒ Isso não vem ao caso, Willy... Bianca foi um erro.
‒ Um erro bem grande...cinco anos e uma aliança no dedo...
‒ Não vamos mais falar neles, ok?
‒ Você começou... mas voltando ao assunto, como você descobriu que o Malfoy fizera o Vodu?
‒ Ele voltou esquisito das férias, disse que queria ser meu amigo! Eu senti muita raiva dele, eu não sabia, mas no fundo o Vodu era coisa do Voldemort, ele sabia que a única forma de um vodu dar certo é se houver um elo de ódio entre as duas pessoas... E o sujeito que ensinou vodu para o Draco havia feito um feitiço para aumentar o ódio que já existia entre nós dois. Mas a verdade era que Draco não queria me fazer mal.
‒ Eu não acredito que ele fez isso tudo por causa de Sue.
‒ Ele fez mais. Eu fui realmente muito rude com ele, ele ficou com tanta raiva que decidiu usar o Vodu... mas na hora H ele lembrou que só fora a Nova Iorque para poder ficar com ela e acabara caindo numa armadilha, e depois de se sentir péssimo, resolveu confessar tudo.
‒ E aí?
‒ Foi horrível, Willy. O julgamento dele foi uma das coisas mais tristes que eu vi na minha vida... o vendido do Fudge fez um discurso hipócrita e o levou, depois que quebraram a varinha dele... eu nunca me esqueci como tudo pareceu injusto depois que ele realmente estava arrependido. Mais tarde, eu tinha destruído o boneco e desci para fazer algo, não lembro direito o que, no salão, quando dei de cara com ele e Sue... ele estava chorando.
‒ Não é para menos ‒ Willy estremeceu um pouco ‒ eu morreria se soubesse que meus pais viraram comida de errantes.
‒ Quando acabou tudo e os Aurores entraram na cripta, todos os corpos haviam sido devorados. Pelo menos a mãe dele morreu antes dos errantes pegarem-na...
‒ Que horror.
‒ Ele me disse tudo que havia acontecido, e me ajudou a pegar o Canino para o Hagrid. Bom cachorro, morreu de velhice no início do ano, Hagrid está criando um filhote de cão irlandês, eu te disse?
‒ Disse. Ele tem cuidado bem de Siegmund?
‒ Como se fosse um filho. Hagrid sempre limpa a plaquinha com seu nome na mesa da Sonserina. ‒ Willy sorriu ‒ Ele adora você, imagina quando voltarmos e ele te ver de novo.
‒ Pare de me enrolar e conte logo esta história, Harry Potter...
‒ Você que fica me interrompendo, Willy. Bem, depois, Dumbledore pegou o chapéu seletor e nos disse que deveríamos libertar a sentinela para que ela lutasse com os errantes. E o chapéu nos escolheu.
‒ Você, Mione, Rony (sempre os três, não tem jeito), Sirius, Neville (esse sim eu achei uma surpresa), Malfoy e meu pai ‒ Uma sombra passou pelo rosto de Willy, que Harry acariciou, tentando fazê-la sorrir novamente.
‒ Bem, Willy, eu não sei direito como Neville e Mione pegaram o escudo, mas teve a ver com sementes... só Sirius sabe contar como ele fez o guardião da espada rir a ponto de cuspi-la,  ele te conta quando voltarmos a Hogwarts... é engraçadíssimo.
‒ Ah, já sei disso, fale-me do Dragão.
‒ Ah, Fídias, o Dragão da Luz... bem, foi relativamente fácil descobrir o enigma que o cadeado mágico propôs, mas depois que entramos na caverna e descemos até o fundo, não conseguíamos enxergar um palmo na frente do nariz. E já estávamos quase brigando.
‒ Novidade.
‒ Fique quieta! Bem, eu achei uma inscrição na parede, e quando a li ele acordou... Willy, eu já vi muitos dragões depois que me formei, e tinha visto outros antes... mas nada se compara com um dragão da luz acordando... sabe quando a lua sai detrás de uma nuvem? É assim. É lindo demais, eu pus na minha penseira, eu te mostro quando nós formos pegar as minhas coisas na Alemanha, ainda não desfiz meu apartamento e ... ‒ ele queria desviar o assunto da morte do pai dela, mas não conseguiu
‒ Harry, eu quero que você conte tudo. ‒ ela disse séria, pensando em Atlantis
‒ Quando nós saímos da caverna e sobrevoamos Hogwarts e Hogsmeade eu cheguei a pensar que tudo estava perdido, que eles conseguiriam, Willy. Toda vegetação à volta de Hogwarts estava morta, e o escudo que a protegia não parecia forte o bastante... sobre Hogsmeade nevava, havia uma nuvem negra formada pelos dementadores. Quando eu desci do Dragão, soube que algo saíra errado... então, ele apareceu.
‒ Luccas Lux.
‒ O guerreiro da Luz, ele era completamente cego, mas isso não fazia a menor diferença, porque mesmo não nos enxergando, parecia poder ver através da gente. Ele disse o que aconteceu com seu pai.
‒ Ele morreu para libertá-lo ‒ os olhos de Willy começaram a  brilhar com as lágrimas que se formavam neles. Harry estendeu a mão e enxugou-as, aninhando a cabeça dela em seu peito por um tempo, até que ele pediu que ele continuasse contando.
‒ Nós guardamos corpo dele na capela onde o  guerreiro repousara. Sirius foi para Hogsmeade sondar o ambiente e acabou ajudando Silvia Spring e Lupin a prenderem os Dementadores no reino das fadasombras.
‒ Como Silvia e Lupin apareceram lá, Harry?
‒ Mario Murad os avisou, ainda bem, não acha? Bem, o fato é que desde então sobrou só um dementador
‒ Que acabou sugando a vida do tal do perebas... e depois sumiu.
‒ Isso. Bem, simplificando: os comensais da morte acabaram me pegando. E me levaram para Voldemort. Ele queria me convencer a me tornar seu "herdeiro", disse que o único herdeiro homem dele havia morrido.
‒ Isso que eu não entendi... será que ele tem alguma herdeira?
‒ Isso nós nunca vamos saber. Quando ele viu que não me compraria, decidiu que era a hora de me matar... mas antes quis trocar de lugar comigo, possuir meu corpo com 17 anos. Mas obviamente ele não ia trocar de corpo comigo tendo aquele corpo semi-humano cheio de poderes das trevas. E voltou a ser Tom Riddle novamente.
‒ Você chegou a ver a cara dele?
‒ Já disse que não, Willy. Ainda bem que Dumbledore me salvou, os outros estavam ocupados, Draco havia sido pego por aquela cobra horrível, estava morrendo, Rony tinha sido pego por sua tia
‒ Não acredito que Tia Artêmis virou vampira... incrível do que esse tal de Caius Black é capaz.
‒ Ele foi legal, mostrou aos outros onde era o pavilhão. Mas não era legal o suficiente para aderir ao lado do bem. Mas voltando ao assunto, Dumbledore desmemoriou Voldemort e levou-o para algum lugar incerto e insabido... mais tarde ele me disse que o deixara com alguém que tinha afeto por ele. A cobra também sumiu, parece que foi solta num lugar selvagem. Depois que tudo estava sob controle, ainda retornamos para o castelo e ajudamos a manter o escudo até a tarde, quando tudo finalmente acabou...
‒ E depois?
‒ Ah, eu já te disse que Luc ficou conosco no castelo por mais ou menos um mês, que estava apaixonado por Hermione, mas nem eu sabia disso, e que ele foi embora para cuidar de Azkaban porque ela disse "não" a ele.
‒ Incrível essa história dos cheiros ‒ ela cheirou o próprio braço ‒ a que será que ele diria que eu cheiro?
‒ Não sei nem quero saber, jamais a deixaria solta ao lado do charme do velho Luc... pode não parecer, mas eu sou bem ciumento, e não conheço sujeito mais mulherengo.
‒ Kakaka ‒ Willy riu e ele sentiu de novo a onda de alegria, a risada irritante dela era a melhor coisa para se ouvir naquela manhã.
‒ O meu único receio é que alguém um dia pode soltar aquilo que está sob o pavilhão da ruína dos Corvos. O Sombrio. Me assusta lembrar que Luc me disse que o Sombrio era muito mais velho e forte que ele. Se Luc matou sozinho vinte mil errantes, do que o Sombrio será capaz?
‒ Esqueça isso, Harry.
‒ Você disse a palavra mágica que vale um beijo. Me beije para que eu possa esquecer. ‒ ela debruçou mais sobre ele e eles se beijaram longamente.

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 Algum tempo depois, eles resolveram que era hora de levantar-se e comer alguma coisa. Eles saíam do quarto do hotel e encaminhavam-se para a lanchonete ao lado quando Harry viu uma coruja vindo na direção de onde estavam. Ela largou sobre ele uma carta e desapareceu. Ele olhou sério para o envelope e o abriu. Não havia nada escrito no pergaminho, apenas um símbolo desenhado: Um brasão com um cão negro e ameaçador pisando uma caveira. Atrás a silhueta de uma árvore com um enforcado, contra um fundo vermelho
‒ Credo, Harry! O que é isso?
‒ Isso ‒ Harry procurou parecer casual ‒ É o signo sinistro... simbologia antiga, estudei no curso na Alemanha.
‒ E o que isso significa?
‒ Que alguém está me ameaçando de morte. ‒ Ele disse, como se fosse a coisa mais banal do mundo.

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