TER ALGUÉM PARA CONVERSAR
Eu vivi muitas noites estranhas, terríveis, aterrorizantes. Falando sério, meu período escolar não foi muito normal. Um monstro no segundo ano, dementadores durante todo o terceiro ano (Diziam que eles tornavam a escola segura. Sinceramente, não sei como!), aquele papo no final do quarto ano que garantia que aquele que não deve ser nomeado havia voltado. Depois um ano INTEIRO com a Professora Umbridge por perto dizendo que isso não era verdade, um passeio nas costas de um trestálio e a constatação que não só ele havia voltado, mas estava disposto a matar. Eu ainda tinha na minha cabeça, por mais que quisesse esquecê-la, a risada horrível de Bellatrix Lestrange quando matara o padrinho do Harry. Pois bem, nada disso se compara à noite do desaparecimento de Harry, Mione, Rony e Draco.
O professor Snape me levou até o professor Dumbledore que me perguntou se eu tinha visto algo suspeito em relação a Mione, e eu disse que não, não com ela. O nosso professor novo de Defesa contra as artes das Trevas, Kingsley Shaclebolt, estava lá também. Depois eu disse que tinha visto o tal sujeito e ele trocou um olhar estranho com o Professor Snape e disse a Dumbledore que podia não ser algum comensal, mas ele achava isso muito pouco provável. Quando eles me disseram que eu estava livre para ir, fiquei aliviado. Mas esse alívio foi se tornando cada vez mais ralo quando notei a presença de alguns aurores, que estavam circulando pela escola.
Logo depois, eu vi a mãe de Draco chegar gritando que o diretor não passaria mais nem uma noite naquela escola se seu filho não aparecesse. Ela passou por mim e creio que ia direto à sala de Dumbledore. Isso me fez pensar: Lúcio Malfoy estava em Azkaban por causa do Vocês-sabem-quem. Será que Draco havia sequestrado os outros? Era estranho. Minha razão se recusava a acreditar que ele sozinho pudesse sequestrar Harry, Rony e Hermione, ainda mais depois das aulas de DA. Eles saberiam se defender muito bem sozinhos. Os pais da Mione, que passaram por mim, e os pais do Rony também apareceram, com um dos irmãos mais velhos dele. Pelo jeito, só não havia ninguém da família do Harry. Lembrei do fim do semestre passado, e me ocorreu que ele não tinha mais ninguém, só os tais parentes trouxas, que deviam estar doidos para se livrar dele. Isso não melhorou em nada meu estado de espírito.
Eu estava pensando nisso, quando pensei que os meus melhores amigos podiam estar mortos. Eu tinha mais amigos em Hogwarts, mas Mione, Harry e Rony sempre tinham estado por perto. Eu comecei a imaginar que eu podia nunca mais ver nenhum dos três. Pensar em nunca mais ter a Mione por perto era aterrorizador, e o que mais me assustava, era que parecia perfeitamente possível. E eu não tinha a coragem de Harry para chamar trestálios e pedir que voassem até onde eles estavam.
Tudo havia acontecido com eles, sempre. Por acaso, no ano anterior, tudo acabara mais ou menos bem, mas não era difícil pensar no pior. Eu fui me sentindo mal, e cada vez pior. Se pelo menos eu tivesse prestado atenção... podia ter ajudado, eu não era tão ruim assim nos feitiços de defesa. Eu não queria chorar, mas sabia que era o que ia acabar acontecendo. Corri na direção do salão comunal, precisava me esconder, não queria que ninguém me visse assim. Quando eu cheguei no retrato da mulher gorda, havia alguém sentado no chão em frente à entrada. Era Pansy. Eu havia me esquecido completamente dela. Tentei disfarçar e disse:
- Como você sabia que onde é a entrada para a Grifinória?
- O professor Snape me disse. Eu disse a ele que precisava saber como você estava... eu sinto muito.
Não sei o que me deu, mas eu comecei a chorar, ali, de pé, na frente de Pansy. Ela tinha razão, eu não tinha amor próprio mesmo. Aquilo era horrível, e eu não conseguia parar. Subitamente, eu me senti aliviado, e olhei para ela. Pansy estava jogando o meu pensamento ruim na penseira e eu fiquei atônito.
–Porque você fez isso?
– Porque estava te fazendo mal.
– Mas... mas... e o nosso projeto?
– Depois a gente dá um jeito, Neville. Agora você tem que descansar... seus amigos sumiram, e é comigo que você vai ter que se virar até eles aparecerem.
Eu não sabia o que dizer, então, fiquei quieto.
– Pansy, o Draco também sumiu.
– Eu sei. Vamos torcer para eles estarem bem, porque por aqui a coisa vai ficar feia.
– Hein?
– Enquanto você estava lá falando com o professor Dumbledore, aconteceu a maior confusão, as pessoas estavam escrevendo para suas casas, parece que todos agora resolveram entrar em pânico.
– Como assim?
– Pensa bem... Cedrico Diggori já morreu, e todos sabem que ele voltou E acho que o fato do Draco também ter sumido...
– Entendi tudo. Acham que eles podem estar... hum... recrutando estudantes? E o que você acha?
– Eu não vou embora. Se nem aqui estivermos seguros, imagine o que vai acontecer quando sairmos daqui? E eu sou da Sonserina, e ainda assim ninguém me disse: “jovem, você tem pela frente uma promissora carreira nos Comensais da Morte”. Isso para mim é mentira!
– Se você fica, eu fico – eu disse. – agora estou me sentindo melhor, obrigada. Pode tirar esse pensamento daí e jogar fora?
– Não, Nev. A gente nunca sabe se ele vai ser ou não útil. – ela se levantou, pegou a penseira que tinha deixado no chão. Te vejo depois. – ela chegou a dar as costas pra mim e então se voltou e disse – eles vão aparecer. Não pense no pior, tá?
– Tá.
Então, ela me deu um beijo no rosto e eu fiquei muito... bestificado. Nunca tinha ganho um beijo de uma menina, pelo menos que eu me lembrasse. Quer dizer, minha prima Anna sempre me dava um beijo no meu aniversário, mas porque a tia Rose a obrigava falando: “vamos, dê um beijo no seu primo, Anna”. Eu não soube muito bem o que isso queria dizer, mas lamentei que ela tivesse carregado a penseira. Era uma coisa que eu queria colocar lá, com certeza.
No dia seguinte, as coisas pareciam mais calmas, mas quem conhecia pelo menos um pouquinho da história, como eu e Gina, por exemplo, sabia que, mais uma vez, alguém havia feito algo muito estúpido com Hogwarts. Haviam simplesmente afastado Dumbledore. Vocês acham isso pouco? Quem estava sentado na cadeira de diretor era ninguém mais, ninguém menos, que o professor Snape.
Nada foi dito. Nada foi explicado. Apenas que a escola continuava normalmente.. Logo depois do café, Gina me procurou e disse que o professor Snape pedira para nós dois falarmos com ele.
–Queria explicar aos dois que não queria que o professor Dumbledore fosse retirado daqui. Mas eu não podia deixar qualquer um assumir Hogwarts. Ano passado eles colocaram aquela estúpida da Umbridge aqui... mas agora eles tem que acatar os nossos termos. Dumbledore pediu que eu assumisse, e eu assumi. A Professora McGonnagall não ficou como suplente desta vez por que achou que o meu nome seria mais simpático ao Ministério. – ele respirou – Vocês são amigos do... Potter. Então eu sei que posso confiar nos dois. Acreditamos que não foi alguém do lord das trevas, pelo menos não alguém sob as ordens dele... temos meios de saber que ele não teve nada a ver com isso.Dumbledore saiu para assumir pessoalmente as investigações. Ele é o único com todos os pre-requisitos para tanto.
–Longbotton – ele disse, e não parecia em nada com o Snape que eu conhecia, eu juro para vocês, nem havia uma única pontinha de maldade no jeito que se dirigiu a mim. – por favor, não fale disso com ninguém. Não sabemos quem pode estar aqui dentro vigiando a escola para o ministério... ou para o lord das trevas. O mesmo vale para você, minha jovem. – ele disse, para Gina, e, incrível, sorriu. Confiem em nós, o Professor Dumbledore já está seguindo uma boa pista, acreditamos que eles vão voltar, vivos e inteiros.
Acabei contando isso para Pansy, e ela vibrou. Disse que sabia que o Professor Snape ajudaria a escola. Que ele gostava tanto de Hogwarts quanto Dumbledore, dos alunos inclusive.
Já disse a vocês que eu e Pansy não concordamos em tudo, certo?
***
Se vocês querem saber, durou duas semanas o sumiço deles. Duas longas semanas com a escola cheia de aurores nos vigiando, olhando para nós com cara de quem sabe tudo sobre o nosso presente, passado e futuro. Pelo menos Tonks estava entre eles e ela era bem mais simpática que o resto. Devo dizer que foram JUSTAMENTE as duas semanas da exames. Grande. Eu fui muito bem em Herbologia, mas fui mal em transfiguração, feitiços e até em trato das criaturas mágicas. Ok, acho que eu não fui o único que saí correndo e gritando de medo quando Hagrid me pediu para jogar o feitiço calmante na manticora. Defesa contra artes das trevas não foi tão mal, mas algo que parecia o certo de se fazer em advinhação foi o que me derrubou.
Diga-se de passagem que, se advinhação sempre tinha sido uma matéria problemática, esse ano os problemas haviam com certeza dobrado. Tínhamos dois professores, a Professora Trelawney e Firenze, que discordavam totalmente em métodos e convicções. Na verdade, Firenze não acreditava que o futuro pudesse ser previsto por simples bípedes... E ele acabou se afastando das aulas. Ficava lá no castelo, porque se voltasse para a floresta proibida com certeza viraria patê nas mãos (patas?) dos seus companheiros de espécie.
A professora Sibila então voltou ao seu programa convencional, e passamos todo o ano olhando para bacias de prata com água em busca da “iluminação superior”. Não fui nada iluminado na hora da prova:
– O que o reflexo mostra? – ela disse
– Que meus amigos estão mortos – eu inventei, com um grande remorso, já que isso era o que eu menos queria.
– Só isso?
– Só – não sei exatamente porque, mas não me ocorria nada mais horrível que isso para dizer.
– Meu filho, até as pedras de Hogwarts sabem que eles estão mortos... céus, porque pessoas sem visão INSISTEM em fazer minha matéria?
**
Sabem o que aconteceu? Eu fiquei com uma Média Global absolutamente indecente. Com aquelas notas, eu seria reprovado, e reprovação no nível intermediário significa ser mandado embora de Hogwarts! De forma que eu deveria tirar nota máxima na única matéria que restava, que estava suspensa até as coisas se regularizarem. Vocês perceberam que eu deveria tirar nota máxima em... poções?
– Eu... estou... morto – disse à Pansy.
– Não é decente pensar em você quando seus melhores amigos estão desaparecidos.
– Também acho. Mas pensar que ficarei reprovado e não sei onde estão meus amigos é desesperador. Porque Voldemort não me levou também?
– NEVILLE! – Pansy gritou e eu saí do meu devaneio.
– O quê?
- Você percebeu o que disse?
– Que eu estou morto?
– Não... você falou... o NOME dele.
Na hora eu não pensei, realmente em, tá, vá lá, Voldemort como um nome assustador. Já tinha problemas demais, então, porque pensar em mais esse? Era o fundo do poço, estar reprovado, sem amigos... sem Mione. Só Pansy estava por perto.
– Obrigada, Pansy.
– Por quê? Eu não fiz nada!!!
– Você nasceu – eu disse – Você está aqui, mesmo sabendo que eu vou ficar reprovado.
– Você ainda não está reprovado.
– A quem você quer enganar? Nós não vamos tirar dez. É impossível... obrigado por tudo Pansy, mas é inútil. Vou para o meu dormitório, quero dormir até ser chamado para ir embora de Hogwarts.
Pansy não me seguiu. Acho que ela havia entendido que tem horas que mesmo o maior amigo não consegue ajudar. Fui para o dormitório, que estava deserto. A hora de dormir ainda estava bem distante, e, apesar do que eu dissera, não estava com sono. Fiquei na janela, olhando o lago de Hogwarts, pensando que em breve estaria longe dali: se eu fosse reprovado, me mandariam embora. Meu destino provável era alguma sub escola de magia, ou um daqueles cursos por correspondência como o que tio Grouxo, o mais próximo de um aborto na minha família (mais até que eu), fizera. Foi quando eu vi uma coisa grande, voando desconjuntada, vindo por sobre o lago.
Parecia uma grande... qualquer coisa voadora. A silhueta se aproximou mais e eu vi que na verdade eram três vultos. A lua não estava cheia, a luz era fraca, mas eu pude ver mesmo longe, que era um hipogrifo, mas não percebi direito a cor dele. Tinha duas pessoas montadas nele, ao lado dele havia uma espécie de caixa com asas conjuradas... na mesma hora, eu percebi que, de alguma forma, o professor Dumbledore havia conseguido: ele resgatara todos.
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