A SEMANA ANTES DO FERIADO

    Depois que vira a fada na sua sala, Snape passara a ficar sobressaltado dia e noite, achando que ela ia aparecer de novo... por via das dúvidas ele armou com um sorriso maligno nos lábios algumas ratoeiras pelo lugar e espalhou por toda sua sala (principalmente em cima do vidro do pó de casca de bétula) uma grossa camada de pó-de-pega-intruso, que era um pó invisível que apitava quando alguém, que não era quem o espalhara, se aproximava de onde estava, além é claro de grudar-se ao intruso fazendo-o coçar-se intensamente. Por infelicidade ele esquecera disso no dia em que madame Pomfrey pedira um pouco de um pó qualquer e mandara que ela entrasse sem conjurar o feitiço protetor contra o pó...  o resultado foi que madame Pomfrey, coçando-se intensamente e com uma ratoeira pregada no nariz, o intimara a tomar uma poção anti-paranóia. Ele não sabia o quanto a fadinha rira neste dia.

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    Draco estava no dormitório à noite, faltava exatamente uma semana para o feriado de Natal que ele ia passar com os pais... não que os seus pais comemorassem o Natal, que eles chamavam de "festa de trouxa". Claro que Draco sempre ganhava vistosos presentes, cada um maior que o outro, para depois exibir na escola desde que se entendia por gente. Agora ele achava isso meio idiota, ninguém mais ligava para o que ele ganhava de Natal. Draco fora alfabetizado numa escola comum, mas de gente muito rica, porém, nunca tivera um único amigo trouxa. Nem bem tirava o nariz da sala de aula, lá estava sua mãe o esperando, pronta para pô-lo no grande carro e carregá-lo para casa, uma casa muito grande nos arredores de Londres.
    Naquele momento ele olhava a fotografia de Sue Van Helsing, que ele encantara para brilhar no escuro. Ela era sem dúvida a primeira garota de quem gostava. Não que não tivesse tido uma certa paixonite por alguma menina antes, mas ela era a primeira que ele queria namorar, quase a um nível obsessivo. Se seu pai soubesse, estava perdido... Draco sabia que seu pai combinara um casamento para ele, talvez mesmo antes dele nascer... todos na sua família casavam através de combinações, havia séculos talvez, e sempre com alguém com pelo menos 200 anos de sangue bruxo comprovado... seus pais eram primos e ele não sabia como com tantos casamentos entre primos não havia ninguém com duas cabeças na família.  
    Suspirou... não sabia como ia fazer para encontrar-se com Sue em Londres, ela ia estar lá no Natal, na casa de uma prima mais velha. Mas tinha que dar um jeito de se livrar dos pais e escapar na véspera de Natal para encontrá-la no beco diagonal. Era ridículo, mas aos dezesseis anos, Draco não saía sozinho, seus pais não queriam que ele fosse parar em algum "lugar de trouxas".
    Essa coisa que seu pai tinha contra trouxas tinha deixado de ser divertida talvez há uns dois anos, depois que seu pai começara a gaguejar quando falava no tal "mestre".  Draco não podia acreditar que o tal cara que fizera a cicatriz no Potter simplesmente "revivera"... e que seu pai vivia puxando o saco dele. No ano anterior, quando o padrinho do Potter havia sido absolvido, Draco pôde notar quando chegou em casa para as férias que seu pai vivia com uma cara crispada de raiva... dizia pelos cantos que aquilo era bem feito para o mestre...confiar na besta do Wormtail, agora aquele maldito estava solto e dera tanto trabalho incriminá-lo... não podia deixar de achar patético o fato que seu pai queria tanto a atenção do tal Lord Voldemort.
    Se perguntassem quem era a pessoa no mundo que Draco mais admirava, com certeza ele diria: Severo Snape. O professor de poções era exatamente o que ele queria ser: duro, firme, não fazia concessões para quem tinha cara de bonzinho por causa disso. Tá, às vezes ele puxava um pouco a brasa  para a sardinha dos alunos da Sonserina, mas isso no fim não fazia a menor diferença, não é mesmo? Quando entrara para escola seu pai insistira que ele se aproximasse do professor... Snape e seu pai não eram mais exatamente amigos, mas mesmo assim o professor tinha muita consideração com Draco, e não cansava de adverti-lo contra as forças das trevas, o que ele prudentemente não relatava ao pai. Depois de uma conversa franca que Snape tivera com ele no ano anterior, ele descobrira porque o pai queria tanto que ele se tornasse amigo de Snape.
    Quando Snape pertencera ao grupo que cultuava as forças das trevas, para grande raiva de seu pai, fora o favorito do Lord das Trevas... então, acontecera alguma coisa que o fizera mudar de lado... e essa coisa tinha algo a ver com o diretor da escola, mas Snape não lhe contara o que era. Ele lembrava perfeitamente do dia em que o professor dissera-lhe: "Por mais que pareça sedutor, Draco, não se iluda, o poder das trevas é transitório... eu sei que seu pai não esqueceu. Eu sei que secretamente ele quer te levar para o lado das trevas... mas não vá, ou você vai se arrepender, como eu me arrependi." Desde então ele procurava não pensar muito nessa conversa.
     Olhou de novo a foto de Sue e notou que um brilho azulado aparecera sobre ela, com o canto do olho pôde ver um ser minúsculo deitado de lado sobre o seu  travesseiro, encarando-o com aqueles olhões azuis enormes. Antes que pudesse gritar ou fazer qualquer coisa, um pensamento sob a forma de uma voz fina como o de uma criança invadiu sua mente: "Por favor, Draco, deixe-me ajudá-lo"

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    Desde que Hermione soubera que Rony ia ser o vilão da peça da escola, seu comportamento mudara para muito pior em relação aos amigos... ia para casa no Natal, e comunicara isso a Rony e Harry, que protestaram, afinal haviam combinado com Sirius e Sheeba...  ela disse que se encontrariam em Londres, mas que iria de qualquer forma ficar com os pais, achava melhor, afinal, há dois anos passava sempre o Natal na escola, estava na hora de ficar um pouco com os pais, que já estavam ficando chateados com ela. Quando Willy parou-a num corredor e em seu jeitinho contestador e nada sutil acusou-a de estar com ciúme de Rony, Hermione ficou quase histérica e mandou-a se meter com a própria vida, afinal de contas não era ela que tinha um namorado que se correspondia com uma bruxinha em High Hill!
    O que a mantinha menos enraivecida eram as tarefas da monitoria, ela procurava ser a melhor monitora da escola e era tão rígida que alguém lhe dera o apelido de "Mini-Minerva", que ela odiara e que pegara entre os alunos como uma gripe... estava começando a ser odiada pelos do primeiro ano, principalmente, porque era sobre eles que descontava a raiva que sentia de algo que não sabia bem dizer o que era.
    Uma noite estava voltando da sala dos professores, onde fora entregar algo à professora Minerva quando ouviu uma coisa dentro da sua cabeça dizendo que virasse à esquerda, ela virou sem pensar, depois comandada pela mesma voz virou à direita, seguiu por um corredor e empurrou uma porta.
    Entrara numa sala mal iluminada, a não ser por uma luz azulada em forma de foco lá na frente... demorou alguns minutos para notar que era a sala de Teatro... ficou parada no fundo e ouviu  a voz do professor Lockhart dizer:
    ‒ Agora, Rony, entre no foco, é a sua deixa. ‒ Rony apareceu subitamente sob a luz azulada do foco.
    Era Rony? Era o menino alto e desengonçado com quem brigara durante praticamente todos os dias desde que entrara em Hogwarts? O Rony que pedira para namorá-la no fim do ano anterior e que ela dispensara achando que afinal não passava de um crianção? Era Rony mesmo aquele? O mesmo Rony que ela achava que não era tão bom como bruxo porque sempre demorava muito mais que ela para executar uma coisa tão banal como uma simples transfiguração? Se era, não parecia.
    Seus cabelos ruivos sob a luz azulada estavam escuros, um brilho de cobre que ela nunca notara aparecia... seus olhos estavam na penumbra por causa da franja, e as inúmeras sardas que cobriam-lhe o rosto, fazendo que ele parecesse sempre alguém que pegou sol demais, não apareciam direito... ela podia ver só a expressão do rosto dele. Achou-o bonito pela primeira vez na vida. E ele estava dizendo coisas lindas sobre o amor de uma mulher... alguém por quem se perderia, por quem ele faria qualquer coisa, inclusive por aos pés dela o mundo...
    ‒ Agora, Padma, você! ‒ ecoou a voz do professor Lockhart
    Padma Patil entrou no foco junto de Rony... eles se olharam por um segundo então, ele a tomou nos braços e beijou-a . Hermione gritou.
    A sala iluminou-se na mesma hora. Rony e Padma pararam de se beijar. Rony olhou para de onde viera o grito e para sua grande surpresa, lá estava uma embaraçada e constrangida Hermione, com as duas mãos nos lábios sem saber o que dizer, como a querer fazer voltar para a garganta o grito que dera sem notar. O professor Lockhart veio até ela:
‒ Hermione, minha querida... aconteceu alguma coisa?
‒ E Eu... acho que foi o Pirraça... eu entrei aqui para a-assistir o ensaio e uma coisa gelada me pegou... foi o Pirraça... desculpe, com licença. ‒ Saiu disparada pelo corredor.
    No palco, Padma olhou entediada para Rony e disse:
‒ Que saco, vamos ter que fazer de novo.
‒ É... ‒ ele concordou, olhando intrigado para a porta, por onde Hermione saíra
    Hermione saíra correndo pelos corredores da escola, as lágrimas se formando nos seus olhos,  grossas e insistentes. Ela deu a senha à mulher gorda olhando para o outro lado, disparou pela sala comunal da Grifnória ‒ Harry a chamou, mas ela ignorou-o e continuou até o banheiro do dormitório, onde se trancou chorando alto. Ela tinha que falar com alguém... Sheeba! Olhou a jóia de comunicação e viu Sheeba em sua casa sempre ladeada pelas agulhas automáticas de tricô e por Smiley, que insistia em tricotar sapatinhos também. Ia chamá-la quando a jóia apagou-se e ela ficou murmurando, tentando fazê-la funcionar. Uma luz arroxeada surgiu na sua frente e transformou-se primeiro em um sorriso depois numa pequena fada. Hermione abriu a boca mas não saiu nada.  Um pensamento invadiu sua cabeça: "Deixe-me ajudá-la, Hermione." Repentinamente, uma cena sobre danças com fadas voltou à sua lembrança.

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    Na sala comunal, Harry estranhou ver Hermione correndo feito doida daquela forma... que idéia a dela. Era impressão dele ou ela estava chorando? Olhou para o outro lado, tirando por uns minutos a atenção do livro que estava lendo e viu Neville, sacudindo a cabeça como quem recebe instruções, era a mesma expressão que ele usava quando estava ouvindo as preleções no campo de Quadribol. Harry ficou prestando atenção nele.
    A fada assobio estava ao lado de Neville, invisível para todos os outros, explicando detalhadamente o que ele deveria fazer para que ela o ajudasse com Gina Weasley, que lia um livro e tomava um chocolate quente no lado oposto da sala. O livro era sobre as fadas e a autora era Silvia Spring. Era cheio de figuras de fadas lindíssimas, todas da corte das fadas boas de Seelie. No final havia uma nota sobre as fadas não tão boas que podiam ser conhecidas lendo-se "As fadas de Unseelie" , da mesma autora e com ilustrações da própria.. De vez em quando Gina passava a mão sobre a figura de uma fada, que ria, sentindo cócegas. Gina Sorria de volta. Neville levantou-se de um salto e andou até ela.
    Gina olhou para ele quando ele começou a gaguejar. A fadinha em seu pensamento naquele momento mais atrapalhava que ajudava:
‒ Gi-gina.... e-Eu ‒ "Neville, não gagueje, seja firme" ‒ Não gagueje, seja firme  ‒ "Não, Neville" ‒ Não Neville! ‒ "Espera o que eu vou dizer!!!" ‒ espera o que eu vou dizer!
‒ Neville... você está bem? ‒ Gina o olhava espantada. Será que ele estava sob algum feitiço? Ela olhou em volta para ver se alguém pregava uma peça nele e ele olhou para o livro dela, vendo quase que imediatamente a ilustração que mostrava a mesma fadinha que desastradamente tentava fazê-lo convidá-la para se encontrarem no feriado de Natal. No livro a fada o olhava com cara de censura.
‒ Assobio! ‒ Ele disse, apontando a fada ‒ como ela está aí? ‒ "Neville, fique quieto, disfarce" ‒ Finalmente se tocando que não era para repetir as palavras da fada ele sorriu para Gina, que sorriu de volta, olhando para a fada no livro e disse:
‒ Realmente... aqui diz que o nome dela é Assobio... você a conhece? ‒ Um chute da fada no lóbulo da orelha de Neville fez com que ele soltasse um "ai" seguido de um não. ‒ eu já li esse livro ‒ Neville improvisou olhando feio para a fada.
‒ Quer vê-lo comigo?
‒ Lógico! Ela abriu um espaço na poltrona e ele sentou-se satisfeito. Nesse momento a fadinha discretamente jogou um feiticinho de carisma leve sobre Neville, que fez uma discreto brilho traspassar seu corpo. Gina olhou para ele e sorriu. Ele apontou uma fada no livro e disse qualquer coisa.
    De longe, Harry acompanhara toda essa cena, espantando-se quando viu o ligeiro brilho passar por Neville, coisa que só ele notou... "Tem alguma coisa estranha aqui." ‒ ele pensou, quase no mesmo instante que voltou a ler.

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