GÁRGULAS NÃO TEM CORAÇÃO
Na véspera do jogo de Quadribol com Lufa Lufa aconteceram algumas coisas espantosas. Harry viu o professor Lupin de pé ao lado de Dumbledore e soube exatamente o que aquilo significava: más notícias em relação a Sirius e Sheeba. Mandara uma coruja para os dois do corujal da escola, porque Edwiges estava muito cansada da última viagem, e a coruja retornara porque não conseguira encontrá-los. Era desesperador.
‒ Harry, ‒ disse Dumbledore ‒ precisamos falar com você, na minha sala.
‒ Eu preciso saber ‒ disse Lupin assim que chegaram à sala ‒ se você disse a mais alguém que no fundo daquele abismo havia fogo sagrado.
‒ Eu não contei para ninguém, mas duas pessoas descobriram...
‒ Como assim, descobriram, Harry? ‒ Lupin olhou-o bem sério.
‒ Bem, quando eu mandei a carta para eles, Sheeba estava usando um olho de tigre.
‒ Sei, uma jóia de comunicação.
‒ Isso, ela estava falando com Hermione Granger, e creio que achou que não houvesse nada demais em ler a carta com o olho ativado, então, Hermione descobriu.
‒ Menos mal. Quem é a outra pessoa, Harry?
‒ No dia em que Edwiges chegou e eu contei para Dumbledore, fui perguntar para Hermione o que era fogo sagrado, porque Dumbledore não quis me falar nada ‒ Dumbledore balançou conformado a cabeça ‒ então, uma garota ouviu tudo escondida... Willhemina Fischer.
‒ Harry, você tem certeza que mais ninguém ouviu você falar com Hermione Granger?
‒ Tenho. Mas o que isso tem a ver com Sirius e Sheeba?
‒ Harry ‒ começou Lupin ‒ depois de tudo que aconteceu no ano passado, e depois que você estava totalmente subjugado por ele, não achou que foi fácil demais derrotar Voldemort da última vez?
‒ Bem... para falar a verdade achei. Mas quando me joguei sobre ele, não achei que eu fosse sobreviver... achei que ele fosse me matar na queda, e quando estudei aparatação, aprendi que é preciso ter os pés no chão para desaparatar... pensei que eu e ele fossemos morrer juntos.
‒ Harry, Voldemort não desaparatou.
‒ Não?
‒ Não. Foi expulso.
‒ Como assim, expulso?
‒ O fogo sagrado o repeliu. E provavelmente ele sabe disso. ‒ interrompeu Dumbledore ‒ Harry, você deve estar se perguntando o que pode ser o fogo sagrado, e por que, afinal de contas ele é tão importante.
‒ Exatamente, e parece que ninguém sabe desta história, ela não está em nenhum livro... parece que isso é algum tipo de...
‒ Tabu ‒ disse Dumbledore sério ‒ pois eu vou te contar a história do fogo sagrado, e espero que você entenda. Há muitos séculos, os bruxos viviam entre os trouxas em paz. A Magia era respeitada como ciência, e os magos eram consultados até por reis... Eu mesmo tive um ancestral que foi conselheiro de um rei muito famoso. Os magos do bem cuidavam do fogo sagrado, a chama que é a vida de todo planeta, a chama mágica que não se apaga nunca. Só os puros de coração podiam aproximar-se dele. Ou as gárgulas, que são de pedra e não tinham coração algum, e por isso mesmo agiam apenas com a razão.
‒ Então aconteceu. Os trouxas começaram a desconfiar dos bruxos, não chegou até nosso tempo o motivo da intriga, toda magia começou a ser considerada maligna. Os trouxas já haviam avançado em sua ciência, e assoberbaram-se em seu conhecimento, desprezando a magia. Por sua vez, alguns bruxos com medo de perderem o lugar, e sem disposição para conversar com os trouxas, decidiram tomar o fogo sagrado de seus guardiões e assim dominar os trouxas.
‒ Esses guardiões eram as gárgulas?
‒ Exatamente. Mas só existe um meio de ter o fogo sagrado, se você não é um bruxo de coração puro: é preciso que ele lhe seja dado de boa vontade. E as gárgulas não dariam o fogo a Bruxos do Mal de boa vontade. Então, um dos Bruxos das Trevas teve uma idéia: ofereceu às gárgulas a oportunidade de ter um coração. Em troca, queria o fogo sagrado.
‒ E o que aconteceu?
‒ Uma gárgula, o que até hoje se especulou que era uma lenda, recusou-se a receber um coração. Seu argumento era que a natureza de uma gárgula não comporta um coração. Os outras gárgulas o expulsaram de seu convívio, e quiseram um acordo com o Bruxo das Trevas...
‒ Era Salazar Slytherin?
‒ Exatamente. Mas as coisas não saíram como ele esperava, de posse de um coração, as gárgulas quiseram mais, e não queriam entregar o fogo sagrado. Seguiu-se uma grande guerra entre Salazar Slytherin e as gárgulas. Muitos foram mortos, então, Godric Griffindor interviu, e expulsou Salazar Slytherin, tentando a paz. Mas as gárgulas não queriam paz, já estavam loucas pelo poder que o fogo lhes dera... então, seu coração se corrompeu. E quiseram mais e mais... Mas, um menino, um bruxo nascido pronto, muito jovem, entrou no meio da batalha e atravessando a fenda, tomou o fogo sagrado nas mãos, e atirou-se no precipício com ele. Seu nome era Roderic Griffindor, o único filho de Godric Griffindor.
‒ E ele morreu?
‒ Harry, quem tem posse do fogo sagrado não pode morrer. Ainda mais se tiver o coração puro como o dele... Sem a posse do fogo sagrado, as gárgulas foram subjugadas, algumas escaparam, sendo capturadas nos anos posteriores. Até que foram consideradas extintas. Mas os bruxos adquiriram o temor das gárgulas, porque ao longo dos séculos, muitas foram encontradas em cavernas, lugares escondidos. Os bruxos eram orientados a destruir todo aquela que manifestasse ter um mau coração.
‒ Por isso Sirius falou que não confiasse em Gerárd!
‒ Sim, mas Sirius tem sabedoria suficiente para saber que se a gárgula não havia feito nada a você, não podia ter mau coração. Então, não o atacou.
‒ E porque Gerárd estava com o fogo sagrado?
‒ Quando Godric viu seu filho cair no abismo com o fogo sagrado, soube que ele não poderia ter morrido, mas não queria deixá-lo para sempre preso no fundo do abismo. Então, ele voou num pégaso, um cavalo alado, já extinto, e o resgatou. Mas não disse a ninguém a quem tinha sido entregue o fogo. Cheguei à conclusão que o fogo foi entregue ao única gárgula sem coração, cujo nome não havia chegado aos nossos tempos.
‒ E como você chegou a essa conclusão e Sirius não?
‒ Duas coisas; primeiro: a gárgula que você conheceu tinha a asa quebrada, reza a lenda, que aquele que não quis um coração, tinha um motivo: porque não podia voar, e achava que de nada adiantava um coração se ficaria para sempre preso ao chão. Segundo: preconceito. Depois de anos acreditando que não existem mais gárgulas sem coração, Sirius não poderia acreditar no contrário... e Sirius é o tipo de homem que não confia no coração alheio, pois acha que o seu próprio não é confiável. Julgamos os outros por aquilo que nós somos.
‒ Eu só não entendo uma coisa ‒ disse Harry ‒ o que isso tudo tem a ver com Sirius e Sheeba?
‒ Harry, ‒ começou Lupin ‒ sabe a caverna onde Rabicho prendeu vocês?
‒ Sei.
‒ Esta caverna estava desaparecida há mil anos. Godric Griffindor a selou com um feitiço, um feitiço tão potente para durar o maior tempo possível... mas como qualquer coisa, um dia o feitiço acabou... e por azar, quem chegou à caverna foi Rabicho. Ele não tinha informação nem inteligência suficiente para concluir que ali havia fogo sagrado, mas sabia tratar-se de um lugar poderoso, onde até ele, um feiticeiro medíocre podia ser mais poderoso, era só unir-se à caverna. Quando o ministério acabou o inquérito, eu e Dumbledore a lacramos novamente, de forma que só duas pessoas pudessem entrar lá novamente, as duas pessoas que estiveram próximas ao fogo sagrado.
‒ Eu e Sirius! Mas então... pegaram Sirius para entrar na caverna.
‒ Não é assim tão simples. Nem você nem ele sabiam disso... e ele ainda não sabe... Mas Voldemort provavelmente sabe que você teria que ser uma das chaves... e pegando seus padrinhos...
‒ Ele achou que me atrairia....
‒ Exatamente. Por isso, vou ter que te pedir uma coisa: não tente bancar o herói, Harry. Você já tentou outras vezes, e isso só não acabou ainda em desgraça porque você deu sorte até agora. Eu tenho certeza que Sheeba e Sirius estão vivos, e que Voldemort não os pegou pessoalmente, ele acha que esse tipo de serviço está abaixo dele, sem Rabicho por perto, deve ter arrumado um outro para fazer o serviço... O que ele quer é que você vá até ele, mas fora da proteção de Dumbledore, qualquer coisa pode te acontecer, não esqueça disso. Deixe que eu encontro Sirius. Confie em mim.
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