A PORTA VERDE



Sirius estava deitado no escuro, esperando por Lupin. Passara o dia inteiro pensando na loucura que se tornara sua vida depois que fora traído por Rabicho, no tempo que perdera em Azkaban e principalmente, no que faria depois que limpasse seu nome. Quando fugira, seu único pensamento era provar sua inocência, nunca pensara no depois. Agora Sheeba ressurgira, e junto com ela milhões de sensações e pensamentos que estavam escondidoas, ou antes represados lá no fundo de sua alma. Era a existência dela que o fazia pensar no depois, e fazia sentir urgência de reconstruir sua vida. Se Dumbledore, Lupin ou qualquer outro dissesse que ele não podia entrar naquele subterrâneo no dia seguinte, provavelmente ele não escutaria e entraria assim mesmo. Nesse momento Lupin chegou, e acendeu o interruptor do quarto. Tinha a cara abatida, como sempre acontecia quando estava chegando a lua cheia, que começava no dia seguinte.
    ‒ Sirius, você sabe o que é eletricidade?
    ‒ Não. Mas não gosto ‒ disse cobrindo o rosto ‒ de luzes que se acendem bem na minha cara desse jeito sem aviso.
    ‒ Más notícias. Não me deixaram falar com Dumbledore. O que acha de adiarmos para depois da lua cheia?
    ‒ E perder Rabicho? De jeito nenhum. Temos que pegá-lo amanhã, Lupin.
    ‒ Sirius, pode ser uma armadilha!
    ‒ Mande uma coruja para Dumbledore dizendo “vamos entrar”, oras.
    ‒ Avise Sheeba, então.
    ‒ Não. Ela nunca precisou de um aviso.
    ‒ Cara, você está fazendo exatamente tudo que se deve fazer para perder uma mulher... ‒ Sirius levantou-se da cama
    ‒ Se eu avisá-la, ela vai dar um jeito de impedir que eu entre. Cada dia que eu passo fora de lá, é mais um dia da minha vida que eu perco... você não sabe o que é isso, Lupin. Você não é um banido que tem que andar por aí escondido, enxergando dementadores em cada canto. Eu entro lá, pego Rabicho ou morro limpando meu nome!  É isso que vou fazer, com ou sem você, com ou sem Dumbledore!
    ‒ Está bem, Sirius, eu entro contigo amanhã. Mas você vai me prometer que vai avisar Sheeba agora do que vai fazer.
    ‒ Não precisa me avisar, Lupin, eu já sei. ‒ Sheeba acabara de aparatar bem atrás dele.
    ‒ Eu não disse que ela não precisava de aviso ‒ disse Sirius mal humorado, virando as costas para Sheeba que não tomou conhecimento.
    ‒ Lupin, Sirius, estive em Hogwarts o dia inteiro. As coisas não estão muito boas por lá. Mais da metade dos alunos está sob feitiço de confusão. Eu acabei de avisar Dumbledore sobre isso e ele me deu uma luz do que pode estar acontecendo.
    ‒ O quê? ‒ Sirius evitava olhar para ela.
    ‒ Alguém pode estar tentando fazer algum feitiço proibido em  Hogwarts.  Eu fiz um pequeno levantamento: Cada aluno que cortou o cabelo lá está sob feitiço de confusão.  Dumbledore vai reforçar a segurança  e pediu reforço à polícia do ministério
    ‒ Onde Dumbledore estava o dia inteiro? ‒ Sirius perguntou irritado, ainda sem olhar para Sheeba.
    ‒ Resolvendo um assunto importante.  Algo que ele está tentando há muito, mas está difícil.
    ‒ E o que você vai fazer?
    ‒ Eu vou ficar em Hogsmeade com a polícia. Olho Tonto Moody chega amanhã, e as coisas ficarão mais calmas. Vamos fazer uma conjuração contra feitiços não autorizados, e depois que ela estiver feita, acreditamos que cada feitiço de confusão guardado em Hogwarts vai desaparecer. A coisa é tão preocupante, que Sibila Trelawney ontem à noite foi levada para o Hospital St Mungos.
    ‒ O que aconteceu com ela? ‒ perguntou Lupin
    ‒ Na verdade acho que ela teve um sopro das parcas e não aguentou. Embora não acredite em nada do que ela costuma prever, ninguém nunca tinha visto Sibila insana conforme ela estava ontem. Os alunos não sabem disso. Ela foi levada no meio de um delírio total para o hospital de madrugada. É o mal dos charlatães, um dia eles sentem o peso de sua responsabilidade. Preciso voltar para Hogsmeade.
    ‒ Não vai me dar um beijo?
    ‒ Não, Sirius. Sinto muito, você começou, você termina ‒ disse Sheeba, e desaparatou.
    ‒ Não diga nada, Lupin... ‒ completou Sirius mal humorado
    Quilômetros distante, em Hogwarts, Hermione acabara de presenciar este diálogo.

    No dia seguinte, Sirius e Lupin desaparataram num túnel abandonado do metrô.  
    ‒ Agora ‒  disse Sirius ‒ É só seguir o cheiro de rato. ‒ transformou-se rapidamente no grande cão e foi farejando, procurando o cheiro azedo de Rabicho, que ele era capaz de reconhecer a quilômetros de distância. Sentia seu cheiro, e sabia que estava por perto, mas ele  era muito bom em se esconder. Andaram mais de quatro quilômetros, e Sirius continuava a sentir o cheiro dele... havia um desabamento no meio de um túnel, mas eles não tiveram dificuldades em perceber que na verdade era uma barreira. Sirius saltou em sua forma canina e atravessou-a. Lupin o seguiu, logo depois da barreira tiveram a primeira pista. Havia uma porta lateral arrancada, que dava para escadarias que desciam mais ainda. A porta era guardada por um feitiço de decapitação, que Lupin demorou algumas horas tentando decifrar. Quando finalmente conseguiu, olhou o relógio: meio dia.
    ‒ Sirius, vou deixar esta porta com um feitiço de desarme, se conseguirmos alcançar Rabicho, não quero que os aurores ou a Polícia do ministério tenham dificuldade de entrar aqui. Temos que entrar rápido, isso é uma corrida contra o tempo.
    Naquele momento, em Hogwarts, Dumbledore comunicava aos alunos, muito sério, que iriam perder as aulas da tarde para fazer um serviço de limpeza contra feitiços não autorizados. Aproveitou para avisar que quem não quisesse ter nenhum feitiço estragado teria meia hora para registrá-lo. Hermione lembrou a Harry que ele deveria comunicar a veste que Sheeba lhe dera, pois ela ainda não estava registrada entre seus pertences, assim como a jóia que Sheeba dera a Hermione. Na frente da mesa onde Profª Minerva registrava os feitiços, começou a formar-se uma fila de alunos. Olho Tonto Moody presidiria os trabalhos. A lado da mesa principal, Sheeba apreensivamente segurava algo dentro de seu bolso. Era um objeto que roubara da roupa de Sirius na véspera, um botão. Apertava-o nervosamente, murmurando: “Rápido, Sirius, rápido”. Não conseguia prestar atenção em nada que ocorria no salão.
    Enquanto isso, em Londres, Lupin e Sirius, já transformado em homem, desciam uma escadaria que parecia mergulhar na escuridão. A toda hora eram lançados feitiços, armadilhas que os dois repeliam com feitiços de banimento e expulsão.  
    Em Hogwarts, Olho Tonto Moody começava o ritual, gritando palavras muito antigas com  uma varinha em cada mão. Na sua frente, crepitava um caldeirão, lançando fumaça violeta no ar. Moody mergulhou a ponta das duas varinhas no caldeirão, e a fumaça separou-se em um espectro rosado e outro azulado. Cada um deles se tornou  um imenso cavalo, que parecia um fantasma e saíram os dois a cavalgar pelo ar, um para cada lado. À sua passagem, era possível ouvir uma série de feitiços desarmando-se, explodindo... eram feitiços de amor de meninas do quinto ano, brincadeiras de mau gosto como as de Fred e Jorge, travessuras do poltergeist Pirraça. Na cabana de Hagrid um bule de chá explodiu, onde ele guardara uma coisinha que estava preparando para dar de presente para Madame Olympia Maxime; uma pena de escrever enfeitiçada com cola para prova de transfiguração explodiu na mochila de Draco Malfoy. Quando um dos cavalos desapareceu pelo teto na direção do segundo andar, uma explosão imensa sacudiu Hogwarts e houve pânico. Snape correu na direção do som enquanto  um bando de elfos domésticos entrou gritando no salão que a cozinha estava sendo inundada. Sheeba correu para lá bem a tempo de ver desabar do teto, de dentro de uma coifa, derretendo como gelo comum, o maior gelo de confusão que ela já vira, formado por cabelos de várias pessoas enrolados com um grande novelo multicor. Quando ele finalmente virou líquido, ela saiu da cozinha.
    Sheeba retornou rapidamente ao salão principal para tocar em Harry. Ao tocá-lo, nada aconteceu. O ritual estava terminado e ele continuava sob feitiço de confusão. Encontrou o olhar apreensivo de Dumbledore e disse:
     ‒ O feitiço dele não está  aqui! Alguém o levou embora. Então notou que  Snape desaparecera da mesa principal.
    Neste momento, Lupin e Sirius davam de cara com uma porta de onde saíam dois corredores, um à direita, outro à esquerda.  Decidiram separar-se, Sirius ia à esquerda, Lupin à direita. Conforme foi avançando pelo corredor, Sirius viu que ele mudava bruscamente de direção, como se fosse um labirinto (detesto labirintos, pensou), mais uma curva e deu de cara com uma porta amarela. Sirius abriu-a cuidadosamente,  sem entrar. Olhou para dentro e tirou a cabeça bem a tempo de evitar uma chama cuspida por uma espécie de diabrete. Fechou rapidamente a porta e decidiu seguir adiante. Foi andando e viu que havia uma segunda porta, desta vez vermelha.  Farejou o que estava atrás dela, e abriu-a com mais cuidado, vendo um grande trasgo. Conjurou cordas fortíssimas e prendeu o trasgo para constar que aquela sala não dava em lugar nenhum. Saiu da sala e seguiu pelo corredor. Quando avistou uma porta laranja, uma luz acendeu na sua cabeça e ele correu de volta pelo corredor. Em Hogwarts, Sheeba repetiu: “rápido, Sirius, rápido”. No final do outro corredor, Remo Lupin acabava de avistar uma porta verde.

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