Sozinho





Narrado por James Potter


 


 Ah, que dia fantástico! E não digo isso só porque o sol brilhou e os professores estão de bom humor! Não, não digo isso só porque os passarinhos cantaram e o Salgueiro Lutador não acertou ninguém! Sem sombra de dúvida, não digo isso só porque o café da manhã estava cheio de cereal com chocolate e Anne finalmente se recuperou do seu “acidente”! Digo isso porque... [rufar de tambores]


 LILY EVANS NÃO SAIU DO QUARTO HOJE! [fogos de artificio]


 Não é incrível?! Passei um dia inteiro sem nem sequer vê-la, para a alegria geral da nação! Isso não acontecia a tanto tempo, que não posso deixar de me sentir a ponto de vomitar arco íris! Por um dia inteiro, não houve perseguições, cantadas, sorrisos imbecis, piscadelas inconvenientes ou mãos bagunçando o cabelo!


 Foi tão bom que tive de me beliscar meia dúzia de vezes, porque pensei estar sonhando.


 A única pessoa que não parece muito feliz é o Remus. Mas acho que é porque ele e Katherine mal se olham na cara.


 - Você foi grosso. – conjecturou Remus, de novo. E quando digo “de novo”, não quero dizer pela segunda ou terceira vez, mas sim pela VIGÉSIMA QUARTA VEZ!


 Não, não é exagero. Eu mesmo contei.


 Só ele mesmo para querer tão decididamente acabar com o meu dia.  


 - Não, eu não fui. – neguei, sorrindo.


 - Ah, você foi. – voltou a afirmar Remus.


 Bufei, bem humorado.


 - Porque acha isso?


 Remus me olhou como se não pudesse acreditar que eu estivesse fazendo essa pergunta.


 - Porque?! – se certificou. – O que você disse para a Lily foi o equivalente à pisar nela e cuspir em cima!


 Merlin, quanto exagero!


 - Dizer a verdade não é grosseria. – discordei, apoiando os braços na mesa.


 Já passava das oito da noite. Eu e Remus estávamos sentados em uma mesa da Sala Comunal da Grifinória, sem absolutamente nada para fazer. Sirius estava desaparecido (provavelmente passeando pelos corredores com a irmã da minha namorada) e as garotas também haviam sumido (devem estar aprontando alguma, para variar).


 Remus sorriu, um pouco debochado.


 - Claro que não. – concordou. - Mas dizer uma coisa só porque você acha que é verdade acaba se tornando grosseria. – completou, apontando o dedo para mim.


 E eu aqui pensando que ele ficaria do meu lado! Doce ilusão!


 - Para começo de conversa, tudo mundo sabe que a Evans realmente é egoísta. Eu não teria dito se não fosse verdade. – ignorei quando Remus revirou os olhos e fez menção de começar a falar. – Além disso – interrompi. -, ela bem que mereceu. Ninguém mandou fazer toda aquela papagaiada ontem, na frente de todo mundo.


 - O que é “papagaiada”?


 Deixei essa passar.


 - O fato é: ela mereceu. – encerrei o assunto. - E o resultado foi benéfico. – e bota benéfico nisso, minha gente! ‘Tô mais feliz do que pinto no lixo!


 Remus me olhou desconfiado.


 - Qual a sua definição de “benéfico”? – questionou.


 Merlin, dai-me paciência!


 - Bom, o dia hoje transcorreu em paz. O que não teria acontecido se Lily Evans tivesse passado seu tempo livre no meu pé. – respondi, com a certeza de que estava mais do que certo.


 - Você não está nem um pouco preocupado, né?


 HÁ! Se ele me der um bom motivo para preocupação nesse dia maravilhoso, eu vou doar todo o meu dinheiro para a Professora Sprout cuidar das mandrágoras.


 - E eu deveria estar preocupado com o que, exatamente? – porque ele não pode simplesmente curtir o dia?


 - Com a Lily, James! – exclamou Remus, jogando os braços para o alto. – Ela não foi vista por ninguém hoje. Deve ter ficado magoada com você. Isso não te perturba?


 Ah... Não. Fala sério, nem precisei pensar antes de responder.


 - Foi como eu disse antes, Remus. Ela merecia ouvir um pouco da verdade.


 Remus riu, balançando a cabeça negativamente. Algo me diz que essa risada foi bem irônica... Você também acha? Hum. Imaginei.   


 - Você – me olhou, decepcionado. - é um babaca. – completou.


 Francamente. Evans quase mata a minha a namorada, me faz passar vergonha e é completamente entupida de detenções, mas eu sou o babaca.


 Quem entende essa gente?


 - Isso é muito injusto. – desabafei. – Porque está me condenando por falar a verdade?


 Remus fez cara de quem discordava, mas, para meu alívio, ele decidiu não repetir sua opinião. Ao invés disso, me perguntou:


 - Quer saber uma verdade?


 - Por favor! – pedi.


 - Essa garota gosta mesmo de você.


 Ah, ‘tá. E eu decidi ser um hipopótamo alado. Com bolinhas verdes.


 Eu até ia responder (o que seria um discurso que eu já cansei de repetir, sobre como Lily Evans conseguia enganar a todos com seu teatro), mas Sirius chegou bem nesse momento, ocupando (se jogando, na verdade) a cadeira ao lado de Remus.


 Não consigo deixar de me surpreender com o poder que os personagens dessa fanfic têm de aparecer do nada.


 - E ai? – cumprimentou, parecendo mal humorado.


 Eu e Remus trocamos um olhar.


 - Oi. – cumprimentei. – Está tudo bem?


 Sirius me perfurou com o olhar.


 - Não estou falando com você, seu babaca. – e cruzou os braços.


 E como é que eu ia adivinhar? Até onde eu sei, um “e ai?” pode ser dirigido para mais de uma pessoa ao mesmo tempo.


 Ele ainda deve estar bravo com a minha falta de profissionalismo ao faltar no treino de quadribol. Que infantil.


 Cara, é a segunda vez que me chamam de babaca hoje. O que acontece com essa gente?


 Levantei as mãos, me rendendo.


 - Tudo bem, então, nervosinho. – resmunguei. – Da próxima vez, cite o nome da pessoa com quem estiver falando.  


 - Depois dos últimos acontecimentos, não acho que vá falar com você tão cedo. O seu nome não vai ser citado pelas próximas semanas. – rebateu ele.


 Como se eu estivesse ligando para o fato de o meu melhor amigo não querer falar comigo! Ele que se dane!


 - Merlin, o que foi que eu fiz?! – exclamei.


 - Quer a lista por ordem numérica ou alfabética? – retrucou, irônico.


 Não respondi. Não queria discutir com Sirius de novo, ou nunca mais nos olharíamos na cara. Se ele quer agir assim, ótimo. Estou cagando e andando para ele. E, além do mais, eu não tinha feito nada de tão grave assim. Faltei à alguns treinos do time, matei algumas aulas, discuti com Katherine e Lily (talvez mais de uma vez), discuti com Sirius, andei meio ausente, mas isso é o que todo adolescente faz.


 Foi Remus quem prosseguiu com a conversa.


 - Aconteceu alguma coisa, Sirius? – perguntou, parecendo preocupado.


 Sirius fechou ainda mais a carranca.


 - Não, nada demais. – disse, dando à entender exatamente o contrário. – Só Marlene e sua penca de pretendentes!


 Remus sorriu.


 - Porque isso te estressa? Vocês não andam mais juntos à uma ou duas semanas... – e com “andar junto” ele quis dizer “se agarram por ai”.


 - Isso não me estressa! – é, continua negando. – Eu só acho que ela não precisa se engraçar com todos os garotos de Hogwarts! Enquanto eu estava vindo para cá, pelo menos dois me perguntaram onde ela estava.


 Remus assentiu, divertido. Sirius bufou audivelmente.


 - Porque não deixa a Lene em paz e se concentra na Susan? – sugeriu Remus. - Afinal, é com ela que você está agora... E você e Marlene nunca tiveram nada sério. Não há razão para ter ciúmes.


 Sirius o encarou com os olhos arregalados, como se ele tivesse acabado de pronunciar uma Maldição Imperdoável.


 - Eu não estou com ciúmes! Ciúmes é uma coisa completamente diferente do que eu estou... falando... sentindo... Ou sei lá! Eu só acho que a Marlene não devia se envolver com todo mundo, porque isso pode dar problemas. Por exemplo: Jack e Josh. Sabe, eles fazem parte do time de quadribol também, e, se caso ela der o fora em algum deles, isso pode interferir na hora do jogo! Entendeu? Ciúmes não tem nada a ver com a conversa. Eu não estou com ciúmes. Porque eu teria ciúmes? Bobagem! Essa foi a coisa mais idiota que você já disse, Remus. – se justificou, tão rápido que pareceu meio tonto por um momento.


 Olhei para Remus, só para me certificar de que ele estava pensando a mesma coisa que eu. Nós dois sorrimos, compartilhando a mesma idéia. Se aquilo não era ciúme, então não consigo imaginar o que mais poderia ser.


 - De qualquer modo – prosseguiu Sirius, levemente recuperado. – Eu não sei onde ela está, então passar raiva foi uma perda de tempo.


 Remus virou-se para Sirius, as sobrancelhas juntas.


 - Parece que não foi só Lily que andou sumida. Você viu alguma das meninas hoje? – perguntou. Eu sabia que ele, no caso, só estava interessado em saber onde está Katherine. Mas não comentei.


 Sirius fez que sim com a cabeça.


 - Vi Kate e Lene, tomando café da manhã juntas. Mas depois elas sumiram. – deu de ombros. – E esbarrei na Lily vindo para cá. Mal trocamos duas palavras, porque ela parecia apressada. Aliás, - fez Sirius e lançou um olhar rápido para mim. – o que aconteceu com ela?


 Não respondi, pois sabia que, embora olhasse para mim, a pergunta era para Remus.


 - James falou algumas maldades para ela. – disse Remus, sendo breve. – Porque a pergunta?


 Sirius deu de ombros de novo.


 - Não sei. Lily parecia meio abatida. Triste. – balançou a cabeça negativamente, parecendo negar os próprios pensamentos. – Mas acho que só estava preocupada com Kate.


 Remus se remexeu, desconfortável, na cadeira, antes de perguntar:


 - Porque ela estaria preocupada com a Katherine?


 - Lily disse que Kate passou mal de novo e está na Ala Hospitalar.


 Franzi a testa. De novo? Até parece que ela faz isso todo mês.


 Remus pareceu preocupado. Ele com certeza queria correr para a Ala Hospitalar naquele exato momento, mas estava chateado demais com Kate para ceder ao impulso.


 Fiquei me perguntando quando é que as coisas começariam a dar certo para ele. Afinal, se eu consegui a garota dos meus sonhos, porque ele não podia?


 


Narrado por Marlene McKinnon


 


 O plano era simples. Sempre fora simples. Quando o relógio batia 17:30, corriamos com Katherine para perto do Salgueiro Lutador, onde jogávamos o feitiço que o paralisaria. Depois disso, entrávamos pela passagem secreta que nos levaria para a Casa dos Gritos, onde às 18:00 em ponto, um lobisomem surgiria. No dia seguinte, perto das 05:30, o lobisomem voltava a ser Kate e, às 06:00, já estávamos dentro do castelo, na Ala Hospitalar, onde ela ficaria o dia todo. E seguia assim, até que o ciclo daquele mês acabasse.


 Era isso o que acontecia todos os meses, desde que eu e Lily soubemos que nossa amiga era um lobisomem. Nunca foi difícil, ou trabalhoso, ou amedrontador. Tínhamos um plano, seguíamos todos os passos com cautela e tudo dava certo.


 Seria assim naquele mês também. A diferença é que resolvemos fazer algumas mudanças, porque tínhamos Lucy Snape na nossa cola (um problema que nunca havíamos cogitado). Dessa vez, eu ficaria com Kate a noite toda, enquanto Lily ficaria no castelo, para monitorar os movimentos de nossa suposta delatora.


 Nem eu e nem Katherine comentamos, mas ambas sabíamos que não seria nada fácil passar uma noite inteira na Casa dos Gritos sem Lily. Afinal, nunca nos separamos em semana de Lua Cheia.


 Olhei para Katherine. Ela estava destruindo uma cadeira de madeira em canto da Casa dos Gritos, os dentes rasgando o estofado.


 Suspirei, deitada com a cabeça sobre as patas. Querendo ou não, eu estava, definitivamente, sentindo mais falta de Lily do que Kate, porque eu tenho consciência de estar aqui sem Lily, e Kate não tem consciência de nada quando está na forma de lobo.


 Enquanto observava Kate, me peguei imaginando como Lily estaria se saindo em sua função de monitorar Snape. Será que ela queria estar aqui com a gente? Será que estava tão preocupada quanto eu estava?


 Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi um barulho perto da casa. 


 Katherine levantou as orelhas, de repente. Parou de morder a cadeira, e virou a cabeça de um lado para o outro, escutando. Fiquei atenta também, levantando a cabeça, esperando. Merlin, que não venha ninguém aqui hoje!


 Outro barulho. Me levantei. Kate correu de um lado para o outro, tentando descobrir de onde vinha o som. Droga. Ela está com fome. Se alguém entrar aqui, não terei forças o suficiente para conte-la.


 Kate parou de correr. Deu alguns passos, sendo o mais silenciosa possível. O focinho dela farejando o ar, os olhos atentos. De trás do sofá, sai um rato, grande e preto, com os olhos vermelhos. Suspiro, aliviada, e volto a me deitar.


 Kate não parece ter nojo do individuo. Pelo contrário, o rato pode ser uma refeição tentadora. Sem perder tempo, ela salta sobre ele. Argh, Kate! Você bem que poderia esperar até o café da manhã, né? Vai saber por onde andou essa coisa?


 Senti meu focinho franzir. Eca.


 


 Narrado por Lily Evans


 


 Seis e meia. Se meu relógio estiver correto, Lene e Kate já devem estar na Ala Hospitalar. Ou, pelo menos, era mais ou menos esse o horário em que costumávamos chegar ao castelo depois de uma noite na Casa dos Gritos, na semana de Lua Cheia. Se tudo correu como o esperado, elas, sem duvida, devem estar de volta.


 Para ter certeza, peguei o Mapa de dentro da bolsa. Eu tinha certeza de que tudo havia dado certo, mas não me custava nada checar. Apontei a varinha para o centro do pergaminho. 


 - Eu juro solenemente que não vou fazer nada de bom. – sussurrei.


 E, de repente, aquele pedaço inútil de pergaminho ganhou linhas, que se transformaram em cômodos. Esperei pacientemente que os nomes aparecessem e procurei, primeiramente, Lucy Snape.


 Ela ainda estava dormindo, no dormitório, exatamente igual à última vez em que olhei. Nem sequer havia trocado de posição. Algumas garotas que dividiam o quarto com ela já estavam acordadas, se arrumando para o café da manhã.


 Segui com os olhos pelo Mapa, percorrendo os corredores que levavam até a Ala Hospitalar. Madame Pomfrey estava em sua salinha, procurando por alguma poção. Marlene McKinnon estava sentada em uma cadeira, ao lado da cama onde se encontrava Katherine McCanzey, aparentemente desacordada.


 Suspirei, aliviada. Tudo certo. Tudo bem.


 Eu havia passado a noite inteira do lado de fora da Sala Comunal da Sonserina (que eu, coincidentemente, com a ajuda do Mapa, sabia onde ficava), embaixo da Capa da Invisibilidade, monitorando Lucy Snape.


 Não vou mentir: ela dera um pouquinho de trabalho. Tentara sair umas três vezes durante a noite. Mas eu fui cuidadosa e não desgrudei o olho dela nem por um minuto (exceto alguns segundos para dar uma espiada em James Potter, dormindo, no dormitório masculino da Grifinória).


 Infelizmente, não incluímos a Casa dos Gritos quando elaboramos o Mapa. Queria muito ter tido essa idéia, porque quase pirei dentro desse castelo, sem saber o que acontecia com minhas melhores amigas. Tive que resistir ao impulso de mandar tudo às favas e ir até lá para fazer companhia à elas.


 Bom, eu teria que me acostumar. Seria assim, de agora em diante.


 Dando uma última olhada no pontinho da Snape, me levantei, recolhendo a Capa e enfiando na bolsa. Dei uma ajeitada nas roupas e passei as mãos pelos cabelos. Eu sabia que estava acabada. Quem me visse nos corredores provavelmente levaria um susto.


 Olhei no Mapa, procurando a passagem mais próxima para a Ala Hospitalar. Hum, tinha uma logo atrás de uma armadura à uns dois corredores dali.


 Apontei a varinha para o Mapa novamente.


 - Malfeito, feito. – e enfiei o pergaminho dentro da bolsa.


 Sai andando pelo corredor, normalmente (ou quase), como se estivesse apenas de passagem.


 


***


 


 - Oi, Lene. – eu disse, meio aliviada em finalmente vê-la, entrando pela porta da Ala Hospitalar.


 Ela estava exatamente como mostrar o Mapa (sentada, ao lado da cama de Kate, segurando sua mão). Marlene tirou os olhos de Katherine e olhou para mim. Parecia esgotada, mas sorriu ao me ver.


 - Oi. – disse, baixinho, preocupada em não acordar nossa amiga. Fechei a porta da Ala, tentando não fazer barulho. - Como passou a noite?


 Sentei em uma cadeira próxima à de Marlene. Não querendo fazer drama, nem nada, mas eu estava exausta! Credo, parece que corri uma maratona com vinte quilos amarrados em cada pé!


 Quer dizer, o caminho da Sala Comunal da Sonserina até a Ala Hospitalar não é lá muito longo, mas eu tinha certeza que tinha contribuído para minha noite em claro e a choradeira de ontem.


 - Acordada, oras. – respondi, empurrando Marlene com o ombro. Ela riu de leve.


 - Você me entendeu. – retrucou. – Não é tão burra assim.


 Uau, a vagabunda decidiu me encher o saco desde cedo! E olha que ainda nem são sete horas!


 Sorri para ela. Olhei Kate, deitada, parecendo serena, a respiração calma. Ela estava cheia de arranhões, como sempre ficava. Me fazia sentir triste não ter presenciado, dessa vez, como ela tinha se arranhado. Suspirei. Que besteira.


 - Correu tudo de acordo com o plano. A Snape tentou sair do castelo assim que bateu seis da tarde. Depois tentou de novo, perto das oito horas da noite. E uma última vez um pouco antes do toque de recolher. – contei, deixando de fora a parte em que a gata do Filtch quase me pegou sentada no corredor. Ela maldita gata passou por lá umas sete vezes! – Mas eu estava atenta. Fiquei vigiando pelo Mapa a noite toda.


 Marlene franziu a testa.


 - O que fez para impedi-la?


 Dei de ombros.


 - Joguei um feitiço básico de confusão. Nada muito elaborado.


 - E funcionou?


 Ela adora duvidar da minha capacidade!


 - Claro que funcionou! – exclamei, ultrajada.


 Minha amiga riu.


 - Surpreendeu a todos. – comentou.  


 Mandei a língua para ela. Marlene soltou uma risada e passou o braço pelos meus ombros, em um abraço de lado. Eu não contaria a ela, de maneira alguma, que o último feitiço da confusão lançado na Snape deu meio errado e eu acabei tendo que botar ela para dormir. Nada que um bom Obliviate não resolva. De um modo ou de outro, acabou surtindo o mesmo efeito.


 - E como foi a sua noite? Tranquila? – questionei.


 Marlene bocejou.


 - Tranquila. – confirmou. – Isto é, tirando a parte em que a Kate comeu um rato. Na minha frente.


 Fiz uma careta.


 - Eca! Argh! – e ri. – Ela vai pirar quando souber disso. Que nojo!


 - Com certeza. Ainda mais quando eu contar que ela sugou o rabo dele como se fosse espaguete.


 Meu estomago embrulhou.


 - Ahh! – exclamei. – Pelas calcinhas de Minerva, acho que ‘tô passando mal! Nunca mais vou comer espaguete...


 Marlene soltou uma risada, me olhando, divertida, enquanto eu fingia vomitar no cesto de lixo, segurando a barriga.


 Neste momento, Madame Pomfrey saiu de sua salinha carregando uma bandeja cheia de frasquinhos e pacotinhos de gaze. Ela sorriu assim que nos viu e colocou a bandeja ao lado da cama de Kate, em um criado mudo.


 Senti Marlene encostar a cabeça no meu ombro, mas sabia que ela não ia dormir enquanto Madame Pomfrey não dissesse que estava tudo bem e que poderíamos voltar para as aulas.


 - Merlin! – exclamou a senhora, examinando Katherine. – O que houve com os lábios dela?!


 - Ela destruiu uma cadeira de madeira, Madame Pomfrey. – explicou Lene. – Passou quase que a noite inteira mordendo aquilo.


 Olhei para o rosto de Kate. Além dos arranhões habituais nas bochechas, a boca estava machucada, cheia de pequenas farpas, cortes e sangue seco.


 - Puxa. Deve ter doído um bocado. – falei, imaginando a cena.


 - É. – fez Marlene. – Não sei como ela consegue fazer essas coisas.


 Lene continuava segurando a mão de Kate, fazendo carinho com o polegar. Levantei minha própria mão e segurei a mão livre de Marlene.


 Desse jeito, observamos Madame Pomfrey cuidar dos ferimentos de Katherine, retirando as farpas dos lábios dela, limpando os ferimentos do rosto com o líquido dos frasquinhos. Em meio ao processo, Kate estremecia de leve, mexia a cabeça de um lado para o outro, e pareceu prestes a acordar uma ou duas vezes. Mas correu tudo bem.


 Quando acabou, Madame Pomfrey jogou um cobertor por cima de Kate e disse que ela estava muito bem. Também disse que poderíamos ir tomar o café da manhã, mas nem eu e nem Marlene nos mexemos. Então ela sorriu, nos desejou um bom dia e voltou para sua salinha.


 Eu sabia que tínhamos que ir para a aula. Não podíamos simplesmente ficar e correr o risco de levantar ainda mais as suspeitas de Lucy Snape. Porém eu continuei ali sentada, com Marlene deitada no meu ombro e pensando no quanto eu queria poder ficar na Ala Hospitalar e vigiar Kate o dia todo. Ela merecia alguém que cuidasse dela (e que não fosse tão descabeçado, como eu e Lene). Afinal, Lucy tinha descoberto seu segredo. Katherine tinha um problemão daqueles e estava doida de preocupação.


 É verdade que tínhamos encontrado uma solução para o assunto. Mas será que duraria? Seria o bastante?


 - Lene, o que vamos fazer? – perguntei, em um sussurro. – Não podemos vigiar Lucy Snape para sempre.


 Marlene não respondeu. Acho que ela não tinha a menor idéia do que fazer, assim como eu.


 Perdidas, pensei. Estamos perdidas.


 


 Narrado por Remus Lupin


 


 - Jay-Jay! – disse (gritou) aquele ser irritante, lá do outro lado do Salão Principal.


 James abriu um sorriso enorme e acenou para Anne Blake, que veio rebolando em direção à nossa mesa, suas seguidoras vindo logo atrás.


 Por favor, que ela não sente aqui, que ela não sente aqui, que ela não sente aqui, que ela não sente aqui, essa é a última coisa que eu preciso, por Merlin, que ela não sente aqui, que ela siga reto até a mesa da Corvinal...


.


.


.


 Ela sentou aqui. O que só prova que pedidos para a estrela definitivamente não se realizam.


 Reprimi um grito de horror quando Blake e James começaram sua seção de amassos matinal, coisa que eu me recuso à narrar, porque essa é uma fanfic livre e eu não quero traumatizar as possíveis crianças que estiverem lendo. De qualquer modo, posso adiantar que ela está sentada no colo dele e que, definitivamente, é um beijo de língua-barra-desentupidor (pois é, dá para ver todos os órgãos de James saindo pela boca).


 Eu bem que podia meter meu distintivo de monitor nessa baderna toda, mas de que adiantaria? Anne Blake também é monitora e está envolvida na situação. Não posso dar uma detenção para outro monitor.


 Precisando compartilhar meu descontentamento, olhei para Sirius, ensaiando mentalmente um discurso genial sobre falta de respeito. Mas, pelo que parece, ele também tem sua loira para agarrar descaradamente. Não, você não leu errado. Sim, Susan Blake também veio fazer uma lavagem estomacal em seu... ficante?


 Afinal, o que ela e Sirius são?


 Affs, e quem se importa? Bem, talvez Marlene se importe. Mas isso não é da minha conta.  


 Revirei os olhos e voltei minha atenção para minhas torradas com geleia. Se esses dois queriam ficar de agarração na minha frente, ignorando minha nobre existência, tudo bem. Eu não me importo. Aliás, prefiro ficar de vela do que andar por ai, agarrando uma das Blake.


 Nesse momento, para minha enorme satisfação, Marlene chegou, com Lily em seu encalço, ambas parecendo extremamente abatidas.


 Ainda vou descobrir o que essas duas andam fazendo para ficarem tão cansadas.


 Talvez eu pergunte à Kate mais tar... Ah. Não estou falando com ela.


 Por falar nisso, onde a Katherine se meteu? Será que ainda está na Ala Hospitalar?


 - Bom dia. – cumprimentei, enquanto elas sentavam perto de mim, uma de cada lado.


 - Oi, Remus. – disseram Lily e Lene juntas. – Tudo bem? – perguntou só Lily, enquanto Marlene se ocupava fazendo caretas para a cena de romance entre Sirius e Susan.


 Eu ri, debochado, para a pergunta sem cabimento de Lily. Se eu estava bem? Há. Claro que eu estava.


 Quer dizer, tenho dois melhores amigos que ficam se agarrando com outras garotas na minha frente, me transformando em um candelabro; tenho lembranças de uma briga maravilhosa com o babaca do Stephan O’Shea e levei um tremendo fora da garota que eu mais gosto nesse mundo. Será que isso tudo me faz sentir mal? Deveria, mas nãããão... Eu estou ótimo. Fantástico, na verdade.


 - Não muito... – foi a minha resposta. Eu poderia ter dito que sim, eu estava muito bem. Mas qual o sentido de mentir para Lily? Ela é ótima. Uma das minhas melhores amigas. – Já estive melhor, sabe? Eu até poderia estar numa boa se a Kate... Bom, é que... Eu sempre pensei que... Você sabe... – gaguejei, sem saber o que dizer.


 Lily sorriu, compreensiva. Estava com olheiras, como se não tivesse dormido nada. Talvez tenha passado a noite com Kate na Ala Hospitalar.


 Pelo modo como me olhava, tive certeza de que Lily sabia de tudo o que tinha acontecido entre mim e Kate. Por incrível que pareça, isso não me deixava desconfortável, porque eu também sabia o que havia acontecido entre ela e James. Acho que nossa mágoa era uma coisa que tínhamos em comum. Uma coisa que talvez pudéssemos compartilhar.


 Sorri de volta.


 - Olha, Remus, eu sinto mui...


 - Tudo certo. – interrompi, antes que ela pensasse em falar alguma coisa sobre o quanto se sentia mal pelo meu atual estado. Acontece que eu já sabia disso. Não precisava que ela me dissesse.


 Senti Marlene apertar meu ombro.


 - Ah, parem vocês dois. – tentou nos animar. –Um pouco de fossa é sempre saudável. E quem é que consegue estar bem sempre? – perguntou, divertida. E indicou os dois casais com a cabeça. – Eu não sei vocês, mas eu prefiro estar no fundo do poço, à estar com ESSE tipo de humor.


 Lily riu pelo nariz, mas não olhou para os casais. Ao invés disso, preferiu se concentrar em encher uma tigela com cereal e leite. Percebi, com isso, que ela queria evitar contato visual com o casal que se beijava bem na frente dela.


 Admirei-a secretamente por isso. Se fosse eu, com certeza já teria me levantado e ido embora dali. Mas ela se contentou apenas em não olhar, fingir que não estava ali.


 Aquilo me deixou tão chateado, que senti vontade de enfiar James/Anne no bolso, para que Lily não tivesse que presenciar nada.


 - Merlin... – prosseguiu Marlene, quando não dissemos nada. – E pensar que fazem isso em público todos os dias. Minha avó tem razão, esses jovens não tem vergonha na cara mesmo.


 Eu ri, pensando que Lene não estaria ligando se fosse ela a se agarrar com Sirius. Mas como era Susan... bem...


 - Olha quem fala. – provoquei, entrando na brincadeira.


 Marlene pareceu falsamente ultrajada.


 - Vê se me respeita, Lupin. – rebateu. – Não me compare com essa ralé. - fez um gesto com a mão, como se estivesse jogando lixo fora.


 Levantei as sobrancelhas.


- Vamos, Lene. Não tem um ser vivo nessa escola que já não tenha presenciado um de seus amassos. – argumentei.


 - Ele tem razão, sabe? – concordou Lily e enfiou uma colherada de cereal na boca.


 Lene fez um gesto obsceno com as mãos para nós dois.


 - Vocês estão falando lorotas. – acusou. – Eu não fico desse jeito. – apontou para os casais, que estavam alheios à nossa análise. – Meus beijos são bem mais bonitos.


 Com isso eu tinha que concordar.


 - Todosh shabemosh que voshê não é a Madre Teresha de Calcutá. – comentou Lily, de boca cheia. Marlene fez uma careta. – Não ligue, Remus. Ela ainda acha que engana alguém. – completou, depois de engolir.


 Eu pensei que Marlene fosse retrucar, mas ela apenas pareceu confusa.


 - Quem é Madre Tereza de Calcutá?


 Bati a mão na testa, inconformado.


 - Ela é... – fui interrompido:


 - Não responda, Remus. – falou Lily. – Morgana sabe o quanto eu já tentei ensinar para essa garota. – e remexeu o cereal com a colher.


 Dei de ombros, conformado.


 - Eu só acho que... – fui interrompido de novo:


 - Olha só, Evans, você não tem o direito de opinar. – exclamou Marlene.


 Lily riu.


 - Não preciso da sua permissão, cachorra.


 Eita.


 - Veada. – retrucou Marlene, carrancuda. O que? “Veada”?


 Lily bateu a mão na mesa. Observei, tranquilamente, enquanto meu suco pulava.


 - É CORSA!


 Arregalei os olhos com o grito de Lily. Ouviu-se um barulho de desentupidor de privada (bem alto, por sinal [como se 100 privadas estivessem sendo desentupidas ao mesmo tempo]) quando ambos os casais se separaram para nos olhar. Marlene e Lily pareciam querer terminar a discussão, mas ficaram subitamente chocadas ao ver que as atenções tinham se focado em nós três.


 Bom, alguma coisa tinha que separar esses quatro. É perigoso ficar com a boca colada em outra por muito tempo. Se pegar pressão, fica difícil de separar. Se é que vocês me entendem.


 Um James descabelado e borrado de batom me lançou um olhar esquisito. Dei de ombros para ele. Sirius se desgrudou um pouquinho de Susan para nos dar uma bela olhada. Marlene lançou um olhar raivoso para ele.


 Lily voltou sua atenção para o cereal, o que eu não entendi. Se fosse um dia normal, ela estaria contente por ter separado James de sua namorada-barra-chiclete.


 Anne pigarreou.


 - E mais uma vez, Evans decide atrapalhar meu namoro. – disse, sorrindo falsamente.


 Agora danou-se.


 Lily não respondeu. Só continuou olhando, séria, remexendo o cereal. Marlene deixou de encarar Sirius e voltou seu olhar para Blake, pronta para defender a amiga se fosse necessário.


 - Isso tudo é inveja, querida? – prosseguiu Anne, vendo que Lily parecia ignorá-la. – Não se preocupe. Quem sabe um dia você ache alguém com a personalidade tão podre quanto a sua.


 ‘Taí uma coisa que eu nunca vou entender: a necessidade que algumas garotas têm de rebaixar as outras.


 Quer dizer, eu sei que a Anne morre de raiva da Lily e que tem todo direito de querer uma vingança, porque 1: Lily já jogou bombas de bosta nela usando uma bazuca, 2: Lily já discutiu com ela repetidas vezes, 3: Lily gosta do namorado dela, e 4: Lily a atacou com bolinhas de Paint Ball.


 Mas, naquele momento, Lily não tinha feito nada. Pelo contrário, ela estava educadamente ignorando a nojeira que o casal meloso estava fazendo (o que era uma surpresa, porque normalmente ela tentaria separá-los), de modo que eu não entendia o propósito daquela provocação por parte de Anne Blake.


 Porque ela não podia curtir o namorado e deixar Lily em paz?


 Olhei de Anne Blake para Lily, esperando uma reação explosiva da parte de minha amiga. Afinal, se ela não tinha puxado briga quando chegou e deu de cara com James agarrado com outra garota, essa era a deixa perfeita para começar.


 Marlene, Sirius, James e até Susan pareciam pensar a mesma coisa que eu: era agora que o pau ia comer solto!


 Porém, para a decepção geral da nação, o que Lily disse foi:


 - Eu não fiz nada, Blake. Mas, ainda assim, me desculpe se te aborreci. Não foi minha intenção.  


 Só isso. Mais nada.  


 


 Narrado por Sirius Black


 


 COMO É QUE É?!


 Espera só um segundo... Deixa eu ver se entendi direito.


 Anne Blake estava beijando James Potter. Lily Evans viu essa cena e não fez nada. Então Anne Blake decidiu chamar Lily Evans para o ringue. E Lily Evans não fez nada novamente, à não ser jogar um pedido educado de desculpas. E agora estamos todos com a mesma cara de idiota, olhando para Lily Evans como se ela tivesse acabado de sugerir que pintássemos nossos cabelos de laranja. Com mechas azul-piscina.


 QUE P*RRA ESTÁ ACONTECENDO AQUI?!


 Prováveis Alternativas: 1. Lily foi substituída por um clone alienígena que não é apaixonado pelo James; 2. Estamos em um universo paralelo e não sabemos disso; 3. Lily bateu com a cabeça e se esqueceu que é apaixonada pelo James, que odeia a Blake e que não é educada; 4. Alguém jogou um feitiço da memória em Lily; 5. Alguém fez uma poção do amor e Lily bebeu, de modo que agora é apaixonada por outra pessoa; 6. Lily desistiu de James.


 Qual das alternativas acima vocês acham que é a mais provável? Todas, menos a 6? Ótimo. Eu também.


 - O que? – perguntou uma Anne Blake confusa.


 Tirou as palavras da minha boca, garota. O que é estranho, levando em conta que essa é Anne Blake. De um modo ou de outro, considerem qualquer semelhança entre nós uma mera coincidência.


 Lily franziu a testa.


 - O que foi, Blake? Eu disse algo de errado?


 Pelas barbas embaraçadas de Merlin! Lily, já chega. A piada foi engraçada. Agora volte ao normal e chuta o pau da barraca.


 Blake parecia sem saber o que fazer. James olhava para Lily, surpreso. Marlene e Remus se entreolhavam, preocupados.


 - Será que ela bebeu? – perguntou Susan, em um sussurro, perto do meu ouvido.


 PAUSA PARA REFLEXÃO: “Susan sussurrou perto do meu ouvido”. Eu disse isso mesmo? Sim, eu disse. Talvez não nessa ordem, mas ainda assim disse. O fato é: ela sussurrou no meu ouvido e eu não senti nada. Pois é, porque o normal seria eu me arrepiar todo. Mas isso não aconteceu. Uma garota linda sussurrou no meu ouvido e eu não reagi. Merlin, acho que estou doente, só pode. Isso nunca tinha acontecido antes, Marlene costumava sussurrar o tempo todo no meu ouvido e minha reação imediata era um arrepio na espinha. O que?! Como assim eu só me arrepio com a Lene?! Ficou doido?! Isso é fruto da sua mente, meu amigo. Eu não vou discutir isso com você agora, ok?! Tenho que continuar a narração.


 Dei de ombros, ainda meio desnorteado. Talvez Lily tenha mesmo tomado algumas boas doses de whisky de fogo para afogar as mágoas.


 Sem dar chance para ninguém se mexer, falar, ou sequer expressar uma reação, Lily pegou suas coisas e saiu da mesa, dando um adeusinho para nós, e dizendo alguma coisa que envolvia “aula”, “pegar anotações para a Kate”, “hora” e “McGonnagal vai nos matar”.


 Decido nesse momento que a alternativa correta é a 2. Falando sério, Lily se preocupando com a aula de Transfiguração? Impossível. Só em um universo paralelo isso aconteceria.


 Depois dessa, Anne Blake se despediu de James (com um daqueles beijos lindos que ADORO presenciar) e saiu em direção à mesa da Corvinal. Susan foi logo atrás dela, deixando só o nosso grupo, ou parte dele, reunido.


 Me inclinei sobre a mesa, apoiado pelos cotovelos.


 - O que diabos está acontecendo aqui? – lancei a questão no ar. – Quer dizer, o que tem de errado com a Lily? – me expliquei, porque esse povo é meio lento. – Ontem eu a vi meio para baixo andando pelos corredores, e agora, de repente, do nada, ela decidiu que ser educada com a Blake era uma boa idéia...


 Marlene bufou audivelmente ao me ouvir falar.


 - Não entendo como isso pode ser da sua conta. – resmungou, lançando um olhar mal humorado para mim. – Lily pode fazer o que bem entender.


 Bom, parece que alguém desceu pelo lado errado da vassoura hoje.


 - Só está nervosa assim, porque ainda não sabe o que tem de errado com ela. – adivinhei.


 O rosto de Lene ficou vermelho de raiva e ela abriu a boca para retrucar.


 Esperei.


 Nada.


 Ela voltou a fechar a boca, cruzando os braços.


 Ponto para mim.


 - Porque tem que estar acontecendo alguma coisa? – questionou James, repentinamente sério.


 Como não estou falando com ele, me virei para Remus.


 - Pode dizer ao Potter o porquê de, obviamente, ter algo de errado com Lily Evans? – pedi, educadamente.


 Remus revirou os olhos, reprovando minha atitude, mas ainda assim respondeu.


 - James, a Lily te ignorou completamente. Isso já é razão o bastante, porque nunca acontece. Além disso, deixou passar a oportunidade de tirar uma com a cara de Anne Blake.


 - E não te jogou nenhuma cantada... – meditou Marlene. – Ela sempre faz isso no café da manhã.


 Poxa, dessa parte eu não lembrava! E não é que a Lene tinha razão?


 James balançou a cabeça negativamente, como se estivéssemos falando um monte de bobagens. Bem, não seria a primeira vez.


 - Pois eu acho que vocês estão fazendo tempestade em tampinha de xarope. – opinou ele. – Evans só está um pouco balançada com a nossa briga de uns dias atrás. Mas daqui a pouco ela volta ao norm... – foi interrompido:


 - Espera! Você e a Lily brigaram? Ou você brigou com ela? – perguntou Marlene, desconfiada.


 Ainda bem que ela interrompeu esse maricas. James provavelmente começaria a falar um monte de lorotas sobre como ele tinha dito a verdade e de como isso foi extremamente benéfico.


 Como James não disse nada, sobrou para mim responder:


 - Na minha opinião, foi o Potter quem brigou com a Lily. – falo mesmo! – Ele, inclusive, foi super injusto, e tudo porque ela fez uma serenata! – que foi mega legal, sabe? Lily manja muito das cantorias.


 Credo, eu usei “super” e “mega” no mesmo dia. Porque, de repente, estou usando expressões de quem corta para o outro lado? Se é que vocês me entendem...


 - Eu não fui injusto! – negou James. – Falar a verdade não é injustiça!


 HÁ! Eu disse que ele ia começar com esse papo de “eu-disse-a-verdade-e-sou-melhor-do-que-vocês-por-isso”.


 - O que você quer dizer com “injusto”? – essa foi a Marlene.


 ‘Tá. Uma coisa de cada vez.


 - Remus, pode dizer ao Potter que ele foi muito, MUITO injusto? – pedi. Remus me olhou feio. – Por favor? – tentei.


 Remus suspirou, cansado.


 - James, você foi muito injusto. – passou a mensagem, parecendo concordar plenamente com o que eu tinha dito.


 James jogou os braços para cima, inconformado.


 - E eu digo “injusto”, Marlene – prossegui, antes que ele pudesse retrucar. –, porque o Potter falou um monte para a Lily, e também a chamou de egoísta, sabe-se lá por qual razão, e... – fui interrompido:


 - VOCÊ FEZ O QUE?!


 Sabe, Lene, não é nada legal berrar no ouvido das pessoas. Existe uma coisa que se chama tímpano que pode sofrer graves danos ao ser submetido ao barulho excessivo.


 Merlin, o que há de errado comigo hoje?


 - Falei a verdade, ora! – defendeu-se James. – Porque estou sendo condenado por isso?!


 Marlene jogou a cabeça para trás e riu alto, debochadamente, ironicamente, sarcasticamente, ou como você quiser chamar. Ela parecia meio doida com qualquer uma das alternativas.


 - Alguém, por favor, dá UM TIRO nesse infeliz! – gritou.


 - O que seria um “tiro”? – perguntei, inocentemente.


 Remus me lançou um olhar de reprimenda. Que absurdo. Não se tem mais liberdade de expressão nessa fanfic.


 - Qual é o problema de vocês? – esse foi James, se levantando. – Lily Evans é egoísta, sim! Porque vocês tem tanto problema em lidar com isso?


 - Porque é mentira! – rebateu Marlene, furiosa.


 - É verdade! E você sabe disso! – apontou o dedo para ela. – Você sabe! Eu sei!


 Marlene se levantou e deu um tapa na mão de James, jogando o braço dele para longe.


 Shii, nada bom...


 - NÃO! VOCÊ NÃO SABE DE NADA! – acusou, aos berros. Muita gente virou para olhar. – Você trata a minha amiga como se ela fosse um monstro! Mas ela não é assim! – respirou fundo, tentando se acalmar. - Ela não é egoísta. Você não sabe nada sobre ela, James! Não pode sair por ai, falando o que pensa das pessoas, sem nem ao menos conhecê-las.


 - Ninguém ia querer conhecer uma pessoa como ela, Marlene! – retrucou James, o rosto da cor dos cabelos.


 Isso não é verdade. Eu estou muito feliz por ter conhecido Lily. Ela é legal, meio louca, esperta, engraçada e muito bonita.


 Mas eu nem disse isso em voz alta. Merlin me livre de interferir nessa bagaça. Tenho amor à vida, sabe?


 E a discussão continua:


 - Se é assim, porque ocupa o seu tempo tentando fazê-la se sentir mal? – desafiou Marlene.


 - Eu não faço isso! – negou James.


 Faz sim...


 - Faz sim! – eita, leitura de pensamento instantânea. - O tempo todo! De novo, e de novo, e de novo... Sempre discutindo com ela por qualquer coisa! Sempre falando asneiras, sabendo que vai magoá-la!


 Remus e eu olhávamos para os dois, como quem olha para um jogo de ping pong. Nunca vi eles discutindo. Quer dizer, acontece, de vez em quando, por uma ou outra desavença. Mas essa é uma daquelas brigas bem sérias.


 - O que importa se vai magoá-la?! A Evans sempre volta a me perseguir! E não vai ser diferente dessa vez! Ela vai voltar ao normal, como sempre faz!


 Sem querer semear a discórdia, mas James parecia quase esperançoso ao dizer isso. Que estranho, não acha?


 - E só por isso vai continuar à magoá-la?! Porque ela se recupera?! Acha justo?! – Marlene grunhiu as palavras, fechando o punho. - E depois tem coragem de julgá-la?!


 James não respondeu. Ele ia, mas não o fez. Abriu a boca uma ou duas vezes, mas nenhum som saiu dela. Por um minuto, pareceu perdido, sem saber a resposta. Ou talvez soubesse e só não gostasse dela.


 Marlene continuou encarando-o, esperando uma reação. Ela estava brava, obviamente, mas, mais do que isso, estava preocupada com Lily. Fiquei me perguntando o porquê disso. Quer dizer, é verdade que James deu mancada (com todo mundo, pelo visto). Mas ele, de fato, sempre rejeitava Lily. E ela, de fato, sempre voltava a tentar conquista-lo. O que tinha de diferente dessa vez?


 Visto que James não responderia, Marlene suspirou, passando as mãos pelos cabelos.


 - O que ela faz com você, James? Você não era assim... – e abaixou a cabeça. Eu tenho que concordar com ela. De verdade. Que feitiço cruel Anne Blake tinha lançado no meu melhor amigo? - Quer saber? Esquece. – desistiu, exausta. – Faça o que bem entender. Ninguém se importa. – começou a recolher a bolsa. – Acho que, pela primeira vez, vou dizer à Lily para desistir de você. – e nos deu as costas.


 Observei Marlene andar rápido por entre as mesas das casas. Antigamente, ela costumava conversar comigo e rir das minhas piadas e roubar alguns beijos meus. Também gostava de distribuir sorrisos para todos com quem esbarrasse pela escola. Nesse momento, ela se contentava em me ignorar não tão educadamente assim e caminhar quieta, desviando de alguns pelo caminho.


 Juntei as sobrancelhas. Senti alguma coisa apertando meu peito, de dentro para fora.


 Cale a boca. Não preciso que me diga o que é. Eu já sei. É um vazio que nem Susan, nem ninguém jamais poderia preencher. Não sabe o que é? Vou te dar um tempinho para descobrir. Não vai ser difícil, já que até eu acabei descobrindo a resposta para minha questão dos arrepios. Porque eu não senti nada com Susan? Bem simples: porque ela não é Marlene.


 E eu sei disso agora, pois estou preocupado com Lene de um jeito que eu nunca fiquei com Susan.


 O que tem de errado com Lene, afinal? Porque eu tenho a sensação de que Lily não é a única razão para ela estar tão cabisbaixa?


 Remus e eu trocamos um olhar, e depois olhamos para James, que tinha voltado a se sentar.


 - Qual o problema dessas garotas? – resmungou o ruivo, parecendo meio balançado. – As três andam tão sensíveis... Se deixam abalar por qualquer coisa.


 Quanta babaquice.


 - Merlin. – rezei, fechando os olhos. - Ilumine a cabeça desse imbecil. – pedi, solenemente. - Não é possível existir tanta titica de diabrete na cabeça dessa criatura.


 Remus me lançou um sorriso divertido.


 - Cale a boca, Sirius. – ordenou James, fazendo cara feia. Isso para mim é fome! – Não comece à agir feito um idiota.


 Fiz que sim com a cabeça, começando a recolher minhas coisas.


 - Talvez eu seja mesmo um idiota. É o que todos dizem. – dei de ombros. – Mas não sou eu que estou afastando todos os meus amigos.


 Me levantei. Remus me acompanhou, provavelmente se recusando a ficar sozinho com James.


 - Não estou afastando ninguém. – imagiiiiiiina!


 - Você quem sabe. – coloquei a mochila no ombro. - Só espero que goste de viver sozinho, porque é assim que vai acabar ficando.


 Dei as costas para ele e fui em direção à saída, com Remus ao meu encalço.


 Ah, e a questão do aperto no peito? Conseguiu descobrir o que era? Não? Seu mole.


 Era saudade.


 


 


N/A: Postei!!!!! Meio atrasado (ou muito atrasado), mas postei! ‘Tá, eu sei que ficou um lixo e que ninguém mais lê isso aqui, porque o autor é enrolado para caralho e não posta nada com rapidez, mas, bom... Eu postei.


 Um obrigado muito especial aos meus leitores (ou não), entre eles: Lana Silva, Spencer Cavanaugh, vitorialarissa, MariSchaffor, Maria_Fernandes_99, Duda Souza, Annabeth73, Hannah Black, L.Oliveeira, Alice Spring, And Allegra, MilaPotter, CarlosS.Riddle, Lally Sads, Marlene McKinnon Black, ROC, lily potter 007, Helen Black, Sah Espósito, vinicius Saldanha bastos.


 E aos que comentaram nos últimos capítulos: Mila Potter, Ivanice, L.Oliveeira, MariSchaffor, Gabi O. Potter, Leticia Horan, Lana Silva, Maria_Fernandes_99, Sah Espósito. MUITO OBRIGADO, GENTE!! VOCÊS SÃO OS AMORES DA MINHA VIDA!!


 Juro que vou voltar a responder os comentários!


 Até o próximo cap,


Abraço.

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Comentários (2)

  • MariSchaffor

    Puxa, fiquei muuuuito tempo sem entrar, mas valeu demais a visita!Adorei o capítulo, mesmo que eles estejam todos separados. Quero que a Lene com o Sirius se reconciliem logo, adoro o romance torto dos dois hahahah Um abraço e nao desista da fic! 

    2014-11-03
  • vitorialarissa

    Depois de tanto tempo sem entrar aqui, quando finalmente entro tenho um presente desses, pelos céus. Não sei se te parabenizo pelo capítulo ou se te agradeço por ter voltado depois de tanto tempo ❤️ Sinceramente ficou ótimo, de verdade! E eu estou completamente ansiosa para saber sobre o próximo capitulo, então não demore tanto viu moço? Enfim, ficou muito muito bom. Beijoca.

    2014-10-14
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