Where has my heart gone?

Where has my heart gone?



                                                    


A escuridão da noite começava a atingir o castelo, mas o toque de recolher já fora dado a muito tempo. No momento, apenas professores e monitores tinham permissão para andar pelos corredores procurando aqueles que ainda teimavam para com a segurança que a escola estava querendo lhes proporcionar durante o período atual. Fora dos muros de Hogwarts a guerra estava cada vez pior. O Lord das Trevas reunia cada vez mais seguidores e procurava destruir todos aqueles que lhe negassem apoio e que tentassem impedi-lo.


No momento em que uma coruja preta pousava no parapeito de uma janela, uma bela garota virava o corredor. Estava com a varinha acesa, iluminando o seu caminho a medida que avançava cautelosamente, observando todos os lados atentamente em busca de alunos infratores. Mesmo com quase quatro meses sendo monitora-chefe e realizando rondas noturnas todos os dias, ainda não tinha se acostumado com o silêncio e escuridão do castelo nesta hora do dia.


Assim que os seus olhos observaram a coruja negra parada no parapeito da janela, um sorriso se formou em seus lábios enquanto se encaminhava rapidamente para ela.


 


“Meet me after dark again and I'll hold you


I am nothing more than to see you there”


 


+Me encontre novamente depois do anoitecer e eu te abraçarei


Eu não sou nada além da vontade de te ver de novo+


 


Retirou a carta e observou a coruja enquanto ela alçava voo. Uma carta sem respostas, algo prático e bem típico dela. Já sabia de quem era a carta apenas pela coruja, e isso lhe dava uma ideia do que poderia esperar. Abriu a carta rapidamente e leu o pequeno bilhete. Como imaginava, sorriu.


Amassou o papel e o atirou no ar mirando com a sua varinha e, silenciosamente, lançou um feitiço que fez o papel pegar fogo. Em poucos segundos o bilhete não existia mais. Olhou para os lados mais uma vez antes de se virar em direção à escadaria, subindo vagarosamente em direção ao sétimo andar, Sala Precisa.


Chegou em frente a tapeçaria que indicava a parede da sala. Passou por ela três vezes, repetindo mentalmente o que estava escrito na carta e uma porta apareceu. Entrou na sala e pode observar o quarto que se formara. As paredes em um tom claro, com muitas janelas que mostravam o céu e o terreno do castelo, que estava coberto pela neve, e uma vista maravilhosa para o lago. Em volta das janelas, várias cortinas verdes com detalhes em prata – típica decoração Slytherin – pensou. No fundo havia uma cama de casal e mais a frente uma mesa de jantar, com uma quantidade exagerada de comida de diversos tipos. No canto esquerdo da sala havia uma porta, que provavelmente levaria ao banheiro. Do lado direito havia uma lareira acesa com um sofá preto em frente.


Sentada nesse sofá estava uma garota. Alta, cabelos negros, longos e lisos, pele muito clara e pálida. Vestida com trajes verdes, típicos da sua casa. E os olhos... grandes e quase tão escuros quanto a cor dos cabelos. Olhos misteriosos, que miravam laconicamente a lareira a sua frente. Desviou o olhar da lareira e mirou a jovem Gryffindor que acabara de entrar na sala e então sorriu, algo que não se dava ao luxo de fazer com muita frequência.


- Marlene... estava me perguntando se você viria. – Levantou-se do sofá e abriu os braços.


Marlene caminhou em direção aos braços abertos da morena e a abraçou com carinho.


- Bella, você sabe que eu sempre venho.


Seus olhares se encontraram e elas demonstraram o quão felizes e confortáveis elas finalmente estavam na presença uma da outra.


 


“Maybe tonight, we'll fly so far away


We'll be lost before the dawn”


 


+Talvez esta noite, nós voaremos pra longe


Estaremos perdidos antes do amanhecer+


 


- E então Marlene, vai me acompanhar na ceia? – Perguntou apontando para a mesa enquanto se encaminhava para ela, pegando uma taça que estava sobre a mesa, enchendo-a com vinho tinto e entregou a Marlene que se juntava a ela.


- Apesar de saber que o convite não foi só por causa do jantar, Bella, eu aceito. – pegou a taça e se sentou a mesa.


- Eu simplesmente adoro a sua companhia, Marlene. – Sorriu mais uma vez antes de se sentar.


Durante o jantar nenhuma palavra foi dita. Apenas seus olhares se encontravam, em uma comunicação velada.


- Suponho que agora você possa me falar o verdadeiro motivo pelo qual você me chamou aqui esta noite, Bella... - se levantou da mesa indo em direção ao sofá.


Bellatrix suspirou e a acompanhou até o sofá. A parte mais difícil da noite começaria agora.


- Tenho uma proposta. E espero que não recuse. – atirou Bellatrix, sem rodeios.


 


“If only night can hold you where I can see you, my love


Then let me never ever wake again”
 


+Se a noite puder te guardar onde eu possa te ver, meu amor


Então nunca mais me deixe acordar+


 


Marlene observava atentamente os olhos da morena e percebeu onde ela queria chegar.


- Se for o que eu estou pensando... – disse incerta, ainda sem querer acreditar.


- Você seria muito mais importante e poderosa do que poderia imaginar, Lene. Junte-se a nós. Junte-se a mim.


- Achei que já tínhamos colocado um ponto final nessa história, Bellatrix – rebateu – Eu não concordo com isso e não irei me juntar a vocês e a esse que vocês chamam de ‘’Mestre’’.


- Marlene, me escute! Nós podemos ser grandes juntas! Fazer coisas incríveis! E o Lord das Trevas é o único que pode nos ajudar.


- Bella, ponha de uma vez por todas na sua cabeça: eu não vou me tornar uma Comensal da Morte!


- Por favor, Marlene! – ficou de pé, caminhando em direção à lareira enquanto levava as mãos à cabeça – Pense um pouco. Nós não vamos conseguir ficar juntas com uma guerra acontecendo. Não em lados opostos dessa guerra.


- Então venha para o meu lado, Bella – respondeu suavemente.


- Você está ficando louca! Ninguém me aceitaria mais. Eu já fui longe demais – a morena rebate com a voz desesperada.


- Então esqueça isso – pede.


- Eu não quero te perder! – disse enquanto se lançava de joelhos ao chão em frente à Marlene.


- Nem eu queria que isso acontecesse, acredite. Mas você começou a me perder no momento em que aceitou esse absurdo, tatuou essa merda de Marca Negra no seu braço e passou a obedecer as ordens de um maricas que se acha todo poderoso!


- Não se atreva a falar isso! – gritou Bellatrix. Em um momento de fúria, se levantou e sacou a varinha apontando-a para Marlene. No mesmo instante pareceu se arrepender pelo ato, mas mesmo assim não abaixou a varinha.


- Não? Por quê? Vai me matar? Me enfeitiçar? Ótimo! Faça isso então! – rebateu levantando-se do sofá e indo em direção a Bellatrix, colocando-se na frente da varinha – Você também se perdeu quando se vendeu para eles. Isso não vai te levar a lugar algum.


- Eu sei, eu escolhi isso para mim – abaixou a varinha e olhou para o chão – mas quando eu fiquei sabendo que eles estavam querendo matar a sua família... você... eu só quero te proteger!


- Me proteger de quem? Para que? Você sabe que nunca teremos um futuro juntas, Bella. Pare de se iludir. – pegou a mão da morena que segurava a varinha e apontou para o seu peito – Vamos logo, acabe com isso. Já que eu não tenho muitas chances, me mate logo e ganhe seu precioso status com o seu “dono”.


- Marlene – suplicou a morena – Eu não quero que isso aconteça. Eu não quero, não posso e não vou te matar. Eu te amo!


 


“And maybe tonight, we'll fly so far away


We'll be lost before the dawn”
 


+E talvez esta noite, nós voaremos pra longe


Estaremos perdidos antes do amanhecer+


 


- Não me faça rir, Bella – comentou ainda em choque pela revelação – você não sabe o que é o amor. Se soubesse nunca teria se juntado a esse bando de Comensais.


- Acredite em mim! Eu não posso te perder, não agora que eu finalmente consigo admitir isso – suplicou.


- Nós somos muito diferentes, Bella. Nunca daríamos certo.


- Podemos tentar, por favor? – chegando perto de Marlene acariciou seu rosto, e esta fechou os olhos apreciando o toque – Eu quero tentar ser feliz ao seu lado.


- Agora não dá mais. Você fez a sua escolha e eu fiz a minha. – sentenciou.


- Então... que seja pela última vez....


Aproximaram-se vagarosamente, olhos nos olhos. Cada uma conseguia ver no olhar da outra todo o amor que sentiam, com olhares cheios de promessas que sabiam que nunca iriam se realizar. Porque ambas eram muito determinadas e seguiam fielmente o que acreditavam. As respirações se misturaram, a proximidade era eletrizante.


Seus lábios se tocaram, suaves e saudosos pelo tempo que ficaram separados. O beijo começou lento, mas a medida que os corpos se reconheciam ficou cada vez mais intenso. Suas mãos começaram a procurar um caminho tão conhecido e cômodo para ambas. Já conheciam cada mínimo detalhe do corpo uma da outra, e o equilíbrio entre eles era perfeito. Seus corpos se encaixavam, se completavam perfeitamente. Era uma harmonia, por vezes, assustadora.


Nesta noite, poderíamos afirmar que ambas quase chegaram a perfeição. Neste momento em que se permitiram viver apenas a realidade daquele amor estranho e proibido, elas se esqueceram da guerra, dos problemas que iriam enfrentar. Apenas se amaram, como se nada as impedisse de serem felizes juntas.


 


“Somehow I know that we can’t wake again from this dream


It's not real, but it's ours”
 


+De alguma forma sei que não podemos mais acordar desse sonho.


 Não é real, mas é nosso+


 


No outro dia quando Bella acordava lentamente, procurando Marlene pelo quarto e não a encontrou, sabia que tinha perdido a sua razão de viver para sempre. Olhou para a mesa e encontrou uma pequena e delicada rosa negra e ao seu lado, um cartão. Pegou a rosa e sorriu ao constatar que se tratava de uma rosa eterna. Mais um dos brilhantes feitiços de sua amada. Deixou as lágrimas correrem pela face quando pegou o cartão e reconheceu a caligrafia fina e bela de Marlene.
 


“Bella,


Feliz Natal!


Eu não sei se você vai estar com ânimo para comemorar este Natal, mas é sempre bom poder desejar um Feliz Natal para as pessoas que amamos.


Hoje quando acordei ao seu lado, sabia o que tinha que fazer. Estou indo para minha casa. Vou passar as festas com os meus pais. E eu acho que nós duas sabemos o que provavelmente irá ocorrer lá. Ter certeza que isso vai acontecer me deixa muito triste, mas eu não vou abandonar os meus pais e os meus ideais para sobreviver. Vou lutar até o último segundo por mim, mas não posso fazer mais nada. Não posso prometer nada.


Sei que a guerra vai ser muito difícil e não posso julgar qual lado é certo. E eu temo por você. Temo por sua segurança, por sua saúde e pela sua felicidade.


Quando você não estiver aguentando mais e quiser fugir, quiser lembrar-se de mim, olhe para essa rosa. Lembre-se que eu fiz tudo ao meu alcance para tentar te fazer feliz. Sua vida poderia ser tão diferente. Mas você fez a sua escolha e eu respeito isso.


Mesmo com os seus defeitos, você vai encontrar alguém capaz de te fazer feliz. Alguém que te ame e que possa ficar ao teu lado, te fazendo muito bem, como eu não posso mais fazer agora.


Não se deixe abalar pelo que acontecer comigo. Continue vivendo e seja feliz com a vida que você escolheu.


                                                                 Boa sorte.


                                                                        Eu te amo.


                                                                               Marlene”
 


Agora não conseguia mais segurar ou controlar suas lágrimas. Pela primeira vez na sua vida não conseguia parar de chorar. Olhava para a carta e para a rosa, se lembrando da face rosada de Marlene. Dos seus sorrisos, seu cheiro, seu toque, sua voz... seu olhar. Lembrou-se de todos os momentos que passaram juntas. A antiga rivalidade, o primeiro beijo, a descoberta dos sentimentos... Momentos em que ela realmente acreditou que poderiam ser felizes para sempre.


Ficou sentada no sofá por horas. Perdeu a noção do tempo frente às lembranças. Sentiu o braço esquerdo formigar, a Marca Negra estava queimando. Era isso então. O sinal da vitória dos comensais. Mais uma pessoa havia morrido. Sabia exatamente o que tinha acabado de deixar acontecer. Sabia quem se fora para sempre. Deixou uma última lágrima cair e enxugou o rosto antes de se levantar.


 


“And maybe tonight, we'll fly so far away


We'll be lost before the dawn”
 


+E talvez esta noite, nós voaremos pra longe


Estaremos perdidos antes do amanhecer+


 


Caminhou pelos corredores desertos do colégio, saiu pelo pátio e foi em direção aos portões de Hogwarts, cheia de lembranças de algo que nunca mais seria real. Levantou a varinha e sussurrou um feitiço que fez os portões se abrirem. Atravessou os portões e antes de aparatar, pegou a rosa em suas mãos e observou a única coisa que poderia afirmar, em segredo, que Bellatrix Black fora capaz de amar verdadeiramente outra pessoa.


 


“As the days pass by, before my face, as wars rage before me, finding myself, in these last days of existence, of this poor country, this parasite inside me, I forced it out. In the darkness of the storm lies an evil. But is me”
 


+Enquanto os dias passam diante de mim, enquanto as guerras se constroem na minha frente, me tornando quem eu sou, nesses últimos dias de existência, deste pobre país, este parasita dentro de mim, eu o criei. Na parte mais cruel da tempestade repousa um mal, que sou eu+


 


Levou a rosa aos lábios e lhe deu um suave beijo, em seguida guardou-a cuidadosamente na capa de viagem, pegou sua varinha e aparatou.
 


“I still remember...”

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Comentários (1)

  • MiSyroff

    *suspiro*Nossa, você escreve muito bem! E adorei o desenrolar, a despedida, ambas sabendo o que estava por vir e mesmo assim seguindo o que acreditavam... Só não entendo porque a Marlene não tentou conseguir a proteção de alguém!Uma pena mesmo, mas gostei da fic. Muito coração pra Bella rsrsrs, mas gostei mesmo, parabéns! Espero mais fics suas Ah, e queria te chamar pra participar do Amigo Secreto Femme! Topa?Da uma passada, vai ser mesmo legal ^^  http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=44631 =* 

    2012-11-17
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