Ódio antigo

POV Marlene
 

Dizem que o amor nos faz crescer. Não acho que seja exatamente assim.

O amor gera desconfiança, desconforto, tristeza, agonia.

Mas também gera confiança, conforto, alegria, satisfação.

Nos faz ver o mundo de uma forma diferente, nos faz sentir o mundo de uma forma diferente.

Só depende do modo de como você o vê. O modo de como você o sente.

Se você não confia no outro, o amor provavelmente acabará com a sua vida. E eu já pensei assim.

Admito, nunca acreditei em um Príncipe Encantado - que chega em seu cavalo branco incrivelmente lindo e bem cuidado - e me leva para o País das Maravilhas, onde não existe pessoas ruins e tudo é resolvido com palavras carinhosas e um abraço de confraternização.

Nunca acreditei em final feliz. Mas - antigamente, bem antigamente - sonhava com um. Sonhava com o dia em que meu príncipe apareceria em minha janela no meio da madrugada para me resgatar. Sempre gostei do romantismo - embora não sendo adepta - e histórias de amor. Mas eu tinha certeza de que nunca aconteceria comigo.

Por isso decidi nunca me apaixonar. E, até certo tempo atrás, essa foi uma das melhores escolhas que já fiz na vida.

Minha filosofia é simples: aproveitar até enjoar. Nunca fui uma espécie de virgem puritana, então não me importo de fazer exatamente o que quero, na hora em que quero.

A vontade de beijar aparece? Eu beijo.

Vontade de transar? Transo.

De ficar um tempo com o mesmo cara? Fico.

Sempre fui assim, e sou até hoje.

Mas nunca me entrego totalmente. Não gosto da ideia de um compromisso sério.

Mesmo que, lá no fundo, ainda resta uma pequena chama de romantismo em mim. O romantismo que, com cinco anos, eu sonhava.

E que agora, bem mais velha, achava desnecessário.

Não, isso não quer dizer que eu não tenho sentimentos. Apenas acho o amor algo extremamente clichê.

Quer dizer, eu amo minhas amigas, e minha família é a minha base. Eu acredito nesse tipo de amor.

Eu só não me vejo - e nunca me vi - fazendo juras de amor, passeando nos jardins de mãos dadas e olhando o pôr do sol em algum lugar romântico.

Só de pensar nessa hipótese eu já tinha enjoos.

Lily sempre dizia que, um dia ou outro, eu pagaria minha língua - já que eu faço o mesmo discurso desde, quantos anos mesmo? Quatorze? -. Que algum dia, iria conhecer um garoto capaz de me mudar e que me apaixonaria por ele. Que eu conheceria o amor.

E eu sempre retrucava. "James vive falando isso para você, ruiva. Não se esqueça que você pensa igual a mim, apenas age diferente."

Ela sabia que eu estava certa, assim como eu sabia que ela também estava.

Mas eu estava me divertindo do meu jeito.

Até que eu cometi o erro de me aventurar com Sirius Black.

Quinze anos. Foi a idade em que minhas aventuras começaram. Idade em que eu queria experimentar de tudo. Em que começei a ficar sem me importar.

Não me julgue por fazer isso com pouca idade. Eu tinha juízo, me dava valor. Não era uma qualquer, apenas fazia o que tinha vontade, e supria meus desejos criados pelos malditos hormônios

O pensamento dele era o mesmo que o meu. Ele agia como eu. Fazia o que queria, com quem queria, como e quando queria. Por isso minhas aventuras começaram com ele.

Não tínhamos exatamente uma amizade colorida. Quando estávamos com vontade, simplesmente procurávamos qualquer canto deserto e matávamos o desejo. Perdi a conta de quantas vezes fui puxada por ele e trancada em almoxarifados.

E céus, como ele era bom. Sabia exatamente o que fazer, onde tocar, o que falar. Tudo na hora certa, do jeito certo.

Sirius era perfeito. Sentia apenas atração física por mim - exatamente o que eu queria. Não tínhamos restrições, nem exclusividade. Ele poderia ficar com qualquer garota além de mim, assim como eu poderia ficar com qualquer garoto além dele.

Mas, com o passar do tempo, eu não senti essa necessidade - nem vontade - de ficar com vários. Eu me sentia realizada e saciada apenas com ele.

E parecia que o sentimento era recíproco, já que - raramente - ele ficava com outras além de mim.

E os encontros começaram a ficar cada vez mais constantes. E intensos.

Os sussurros eram mais expressivos, os gemidos mais altos, as mordidas mais fortes, os carinhos mais frequentes, os beijos mais profundos, e os toques - ah, os toques - cada vez melhores.

E eu comecei a me assustar. Eu estava agindo diferente. Contava os minutos para o intervalo sabendo que - quando esse chegasse -, as mãos fortes e precisas dele segurariam minha cintura e me levariam para algum lugar deserto, e eu ouviria sua voz rouca e extremamente sexy sussurrando coisas desconexas mo meu ouvido.

Segundo Lily, eu estava apaixonada.

Entrei em desespero. Isso não poderia estar acontecendo. Justo quando encontro o garoto perfeito, que aceita minhas condições, eu cometo a burrice de me apaixonar.

Segundo ela, foi justamente por isso que me apaixonei. Sirius me dava exatamente o que eu queria. E, - segundo meus relatos - de uma maneira muito boa.

Eu não podia estar apaixonada. Justo por Sirius Black. Todas - e todos - sabiam que ele jamais entraria em um relacionamento sério. Que nunca se envolveria. Que nunca amaria.

Ele nunca seria meu príncipe. E, por mais que eu negasse, eu ainda esperava por um.

Então, dei um basta nos nossos encontros. Ele - obviamente, já que não estava acostumado a levar foras - quis saber o porquê da minha decisão.

Eu menti. Dei a mesma desculpa que dava para os outros. De que tinha enjoado.

Eu não poderia dizer para ele que existia uma grande chance de estar apaixonada por ele. Então, escolhi o caminho mais fácil.

E tentei - em vão - tirar a impressão de que ele ficou triste com a minha escolha.

Ele era Sirius Black, afinal. Nunca se abalava.

Minhas amigas não apoiaram minha decisão de início. Havia contado para elas o real motivo. Dorcas e Alice - as eternas românticas apaixonadas - achavam que eu deveria me declarar para ele. Lily dizia que seria idiotice minha.

E realmente seria.

Ficamos um mês sem trocar uma palavra. Constantemente sentia seu olhar sobre mim. E eu poderia até estar ficando louca, mas cada vez que nosso olhares se cruzaram, eu sentia a mágoa em seus olhos azuis.

Os azuis mais impressionantes que eu já vira em toda a minha vida.

Aquilo estava me matando. Não falar com ele, não pensar nele.

Eu estava disposta a pedir desculpas. Ia fazer com que tudo voltasse ao normal.

E com sorte, iria me declarar.

Minhas amigas me ajudaram - como sempre. Combinamos então de sair todos juntos, como sempre fazíamos desde pequenos.

E, bem, o resto da história já é conhecida.

Eles nos trocaram por vagabundas quaisquer.

Acho que foi a gota d'agua. Em questões de segundo, a paixão virou ódio.

E que a cada segundo fica maior ainda.

Por isso, vou dar um conselho: se você tiver uma amiga ruiva super temperamental, NUNCA invente de fazer rodízios de carona.

Por que um dia, ele irá ter ataque de raiva e deixar você e suas amigas sem carona para casa.

E você terá que voltar com Sirius Black, que de paixão adolescente virou inimigo mortal, e agora é seu mais novo vizinho.

E que está cantando Hilary Duff com aquela voz rouca - que no passado deixava você desconcertada - enquanto te leva para casa.

É, a vida realmente é muito injusta.

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Foto do dia:

"Lily, quem é aquele?"

"Acho que é do time de futebol."

"Como ela consegue tantos?"

"Maravilhosa pergunta."

Marlene com 16 anos se agarrando com um cara qualquer em uma festa do colegial.

Tirada por Lily e Dorcas.

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