Ouvindo atrás da porta
PROGRESSO? Que progresso estavam tendo? Até agora, haviam descoberto o nome de poucos Comensais graças a Rabicho, mas nada mais do que isso. O que preocupava Lord Voldemort é que Karkaroff já o avisara de que Moody sempre estava encarando-o, de longe. Receava que Karkaroff pudesse contar algo ao auror, mas se fosse o caso, seria punido. Um rapaz, novo, se alistou entre os Comensais no final de 77. Seu nome era Régulo Black, irmão de Sirius Black e primo de Belatriz Black. É verdade que o rapaz tinha apenas 16 anos, mas era competente. Régulo contou diversas informações sobre seu irmão, que havia fugido de casa e ido morar com os Potter, mas nada de relevante, pois não informou o local. Mas algo, muito bem feito, era que Régulo e sua família tinham um elfo doméstico. Era disso que precisava para testar algo que há muito tempo queria, uma poção, imaginada por ele mesmo, na época do colégio, que dava as piores sensações possíveis a uma pessoa, algo semelhante, em teoria, por um ataque de dementador e bicho papão, provocando a sede após o término.
Após um ano comprovando o bom trabalho que Régulo vinha fazendo, o Lorde pediu a Régulo, que na hora concordou, com honra, que seu elfo servisse ao seu mestre. Voldemort foi a Lodz e recuperou o medalhão que lá estava há anos. Trouxe o restante de seus pertences e guardou-os na mansão de Lúcio Malfoy, em Wiltshire.
– Milorde, este é Monstro – Régulo estava diante de Voldemort; a sua frente, estava um elfo doméstico de longo nariz e orelhas caídas. Trapos imundos o vestiam. – Pode usá-lo. Monstro – dirigiu-se ao elfo. – Faça tudo que milorde mandar, depois pode voltar para casa, entendido?
– Sim, meu senhor – respondeu o elfo, numa voz de rã muito semelhante ao cruzamento de um touro.
– Venha – ordenou Voldemort, e o elfo o seguiu. – Vamos aparatar para um longo campo.
E o Lorde girou. No mesmo instante, o elfo aparatava ao seu lado. Não sabia como ele sabia o lugar, mas lá estava o elfo, do seu lado. Voldemort olhou o lugar como nunca havia olhado para alguém: com estranha felicidade de estar naquele lugar. De longe, viu a casa onde morava o trouxa Cartwright. De longe, ele viu três rapazes andando em cavalos. Eles falavam:
– Little Joe, o Hoss vai te pegar!
– Que nada, Adam. Ele é gordo demais para isso.
Parecia que estavam numa corrida com os cavalos, mas nada disso importava. Se dirigiu ao penhasco. Sabia que estava no lugar certo, nunca se esqueceria daquele lugar. Ele flutuou em direção ao mar e entrou na caverna oculta. O elfo aparatou para lá. Voldemort sabia que tinha algo além do lugar onde estavam, mas duvidava que alguém sabia da existência daquilo. Havia uma outra câmara por dentro daquela caverna, algo que viu, mas não compreendeu, há muitos anos. Usou a magia para explodir o lugar e realmente, havia uma leve brisa naquela câmara. Havia um lago fedido ali. Pensouem algo. Ordenouao elfo que permanecesse ali e aparatou.
Estava no cemitério de Great Hangleton, maior do que aquele que visitara em Little Hangleton, e desenterrou dezenas de corpos. Com a magia, levou-os para a câmara da caverna. O elfo olhava assustado, mas nada dizia. Voldemort reanimou os corpos com o feitiço Inferius (Inferius Living!), alguns simplesmente ossos, e eles se levantaram. Voldemort ordenou que ficassem no fundo do lago a espera de alguém que tocasse, com o corpo, o lago imundo. Conjurou um pequeno barco verde, que serviria apenas para levar um bruxo qualificado por vez, e arrastou uma corrente do nada para o barco. Subiu ele e o elfo e se dirigiram para o lago a frente. Então, encontraram uma pequena ilhota, a vários metros da margem, situado no meio do lago. Pararam nela. Voldemort conjurou uma bacia branca e, com o auxílio da varinha, conjurou um viscoso líquido verde fosforescente.
Ele havia guardado a poção antes de prepará-la. Lembrou-se dele mesmo descrever e dar um nome à poção.
A poção Dementoraxima tem efeito semelhante ao de um ataque a um dementador misturado a um bicho papão, mas cem vezes pior. Os efeitos são os mesmos que o bruxo sentiria durante o ataque: veria e sentiria seus piores momentos como se estivesse acontecendo de novo. Seus piores temores apareceriam. Ela é pior pois enfraquece tanto o bruxo quase a ponto de matá-lo. E isso ocorrerá se o bruxo for fraco. A poção, por ter sido fervida com raízes de Valeriana a mais de 430ºC, levará a quem bebê-la procurar desesperadamente por água. Sua cor é verde fosforescente devido à pele de Ararambóia misturada ao pó do chifre de um Chifre Longo Romeno.
A luz que saía da poção iluminava a outra margem. Saberia como os efeitos da poção se propagariam agora nesse ser imundo.
– Beba – ordenou ao elfo, que logo obedeceu. – Tudo – acrescentou Voldemort, com aspereza.
O pequeno elfo, com o auxílio das pequenas mãos enrugadas, tomou quase um terço da poção quando começou a berrar e a gritar coisas desconexas e sem sentido, as quais Voldemort entendeu:
– Não, não, a cabeça dela, não...
Mas ele, apesar de tudo, continuava a beber aquela poção. Cada vez que bebia, gritava e falava coisas estranhas.
–Empalhe-me, empalhe-me...
Voldemort ria da situação vendo o elfo sofrer de agonia. Voldemort tirou o medalhão do bolso e depositou-o no fundo da bacia.
–Meu senhor... Régulo, senhor Black... Me ajude, me salve! – urrava o elfo, se debatendo violentamente. – Sra. Black, por favor... por favor...
Com um aceno da varinha, mais poção verde foi enchendo a poção, enquanto o elfo bebia o restante, até a ordem:
– Pode parar.
O elfo se atirou ao chão, soluçando. A bacia se encheu. Com outro aceno, deixou a poção translúcida e contemplou, uma última vez, o medalhão de Slytherin que pertenceu a sua mãe. A poção tornou-se verde opaca novamente quando ele acenou com a varinha de teixo.
Entrou no barco e viu o elfo se dirigindo até a margem, sedento por água, mesmo que suja. Então, mãos o agarraram. Ele tentou resistir, Voldemort riu e seguiu adiante. O elfo afundou e morreria lentamente. Quando chegou a margem, Voldemort reparou que a perturbação perto da ilhota havia acabado. O elfo estava morto. Enfeitiçou o lugar para que nenhum bruxo pudesse aparatar direto para o local. Enfeitiçou também com poderosos encantamentos de proteção para caso algum engraçadinho tentasse conjurar a Horcrux. Se isso acontecesse, Inferis pulariam da água. Saiu da câmara e selou o lugar. O feitiço que havia conjurado permitiria apenas que a passagem se abrisse se oferecessem sangue. Era um preço a pagar, mas duvidava que alguém encontrasse o lugar. Além disso, a poção não aceitava nenhum tipo de magia: transfiguração, desaparição, repartição, alteração tampouco aspiração ou penetrada à mão. Deveria ser bebida!
Dando um último toque no lugar, aparatou para a mansão de Malfoy. Logo que chegou, via feitiços por todo o lado. Bruxos atacavam os Comensais, agora no meio da rua. Atacou-os também. Alguns se apavoraram quando a maldição da morte de Voldemort quase atingiu uma mulher ruiva, salva por um homem de óculos e cabelos despenteados.
– Alice, ele está aqui – gritou um outro bruxo, indo de encontro à mulher. Sabia quem eram:
– Longbottom – vociferou ele, amaldiçoando o casal, que desviou do lugar. O casal começou a lançar repetidos feitiços contra Voldemort, que teve realmente de se proteger deles. Então, todos os feitiços cessaram e os bruxos aparataram. Wilkes e Gibbon estavam inconscientes, caídos.
– Levem-nos para dentro – ordenou Voldemort, furioso e entrando na mansão de Lúcio Malfoy.
Quando todos entraram, Voldemort se sentou na longa mesa de carvalho e aguardou todos os presentes se sentarem.
– O que aconteceu aqui? – perguntou ele, imaginando o que os Comensais haviam feito para atrair aqueles bruxos para ali.
– Milorde, os Potter e os Longbottom estavam passeando por aqui – disse Thor Rowle, enxugando a sobrancelha ensanguentada.
– Passeando? – perguntou, com raiva, suas finas narinas dilatando de raiva ante ao fracasso.
– Sim, milorde – confirmou Karkaroff, tentando reanimar Gibbon com feitiços desconhecidos –, achamos estranho eles andarem por aqui e tentamos matá-los para o senhor.
– Tentaram, foi? – disse ele, olhando para os dois Comensais desmaiados. – E conseguiram algum progresso?
Ninguém respondeu. Então, eram os Potter aqueles que ele quase matou hoje. Uma mulher ruiva e um homem de óculos. Não tinham mais do que vinte anos, assim como os Longbottom.
– Milorde – disse uma voz mirrada. Era Rabicho –, eu descobri onde moram os irmãos Prewett.
Todos os olhares convergiram para o bruxo, que se encolheu com ainda mais medo quando Voldemort o encarou.
– Leve alguns de nós ao encontro deles, Rabicho – ordenou Voldemort, que começou a selecionar alguns bruxos. – Yaxley, Travers, Dolohov, Crabbe e Avery Jr. Acompanhem Rabicho.
Os cinco Comensais concordaram e se levantaram. Rabicho permaneceu sentado e apenas disse:
– É em Ottery St. Catchpole. Perto de uma fazenda – ele fechou os olhos como se rezasse para não ter de ir junto.
– Leve-os, Rabicho. Como você deve ter medo – rosnou Voldemort –, pode voltar logo depois.
– Sim... sim... – gaguejou o bruxo, feliz de não ter que lutar e acenando com a cabeça imunda.
Os Comensais, já de pé, saíram da sala e Rabicho os acompanhou. Lord Voldemort ficaria para descansar enquanto os outros ou ficariam na casa e outros voltariam ao “trabalho”.
Não muito longe dali, numa casa cujo endereço era Largo Grimmauld, 12, um elfo contava algo apavorante.
– Como assim, Monstro? – indagou Régulo Black. – Ele o fez beber uma poção para daí colocar um medalhão no fundo?
– Sim, meu senhor – rebateu o elfo. – E ele disse para Monstro tomar tudo, e Monstro tomou.
– E o que aconteceu? – perguntou Régulo, fechando desta vez a porta do quarto cuja porta tinha os dizeres:
Não entre
sem a expressa permissão de
Régulo Arturo Black
– Monstro viu coisas terríveis. Sentiu coisas terríveis também, meu senhor, Régulo. Monstro viu sua família ter a cabeça decapitada e empalhada – começou o elfo, tremendo a cada palavra, mas corajosamente não gaguejando. – Agora eu sei que será uma honra quando isso acontecer comigo, mas eu me lembrei quando vi meu avô morrendo, senhor Régulo – ele soluçou um pouco, mas logo se recompôs. – Monstro gostava muito dele, meu senhor, e Monstro chorou muito quando o viu morrer. Monstro nunca mais quer ver um parente morrer, meu senhor Régulo, tampouco o meu mestre.
O olhar de Régulo encontrou o de Monstro e ambos tinham lágrimas projetadas nos olhos.
– Certo, Monstro. Eu... eu... – Régulo tentava não parecer que estivera com lágrimas nos olhos, mas de nada adiantava. Monstro havia visto. – E ele mandou você vir de novo para cá?
– Não, meu senhor Régulo. O Lorde das Trevas me deixou lá, rindo de mim, e saiu num barquinho verde que conjurou. O Lorde das Trevas viu quando Monstro foi puxado pelos mortos...
– Mortos? – interrompeu Régulo, apavorado.
– Sim, meu senhor. Defuntos enfeitiçados pelo Lorde das Trevas. Eu queria água, a poção me deixou com a boca seca. E quando Monstro se abaixou até a borda do lago, mãos mortas me puxaram para dentro da água. E então, meu senhor, você me chamou de volta.
Régulo não parecia compreender, mas ao mesmo tempo estava lívido de fúria. Voldemort ria enquanto seu elfo se torturava bebendo a poção. E fora ele o culpado. Ele quem mandara Monstro cumprir as ordens dele. Régulo não permitiria que isso acontecesse. Nunca mais...
– Monstro, fique aquiem casa. Seo Lorde das Trevas vier te procurar, não apareça. Não cumpra nenhuma ordem dele a não ser que eu man... a não ser que eu peça – completou ele, com firmeza.
– Sim, meu senhor – e dizendo isso, o elfo encostou o nariz trombudo nos pés de Régulo ao completar a reverência. Régulo saía do quarto preocupado quando Monstro o viu correndo apressado para o corredor.
Sem saber de uma futura traição, os Comensais aparataram para um vasto campo e, ao longe, uma casa alta e toda remendada, parecia que tivesse sido montada há pouco e só se sustentava por magia. Rabicho apontou com os dedos nodosos e aparatou de volta a mansão.
– Pode haver uma arapuca? – perguntou Yaxley, desconfiado das atitudes de Rabicho e encarando melhor o lugar.
– Poder, pode. Se for o caso, ele morrerá. Vamos – disse Travers –, vi um movimento nos andares de cima.
Eles tiraram as varinhas e se aprumaram adiante. Dolohov, de longe, viu uma coruja parda voando exatamente no mesmo instante em que várias coisas estranhas aconteciam:
– Olhem! Uma coruj...
– Argghhhh!
– Vamos, Fábio!
Um feitiço relâmpago atingiu Avery no rosto, Travers estava caído, dois bruxos, ao que pareciam, de terno e arrumados, saltavam de dentro da terra e lançavam feitiços nos Comensais.
– É uma emboscada! – berrou Crabbe, lançando maldições para todos os lugares. Uma, inclusive, quase atinge Dolohov. Ao que parecia, os irmãos Prewett estavam a espreita e mandaram uma coruja com reforços e logo mais pessoas viriam. Teriam que terminar isso logo.
– Avada Kedavra!
– Protego Maxima!
Os irmãos Prewett sabiam duelar muito bem. Protegiam as costas um do outro e lançavam feitiços certeiros e bem calculados. Mas cinco contra dois ainda era covardia. Avery e Travers estavam acordando e já prontos para lutar. As maldições voavam e os irmãos corriam por entre as árvores da fazenda. Aparatavam atrás dos Comensais e os atingiam. Parecia tudo divertido, pois há cada Comensal que estuporavam, eles riam e se cumprimentavam. Até a hora da separação. Um dos irmãos correu para um rio e o outro correu para dentro dos arvoredos.
– Avery, Crabbe, Travers. Vão em direção ao rio. Dolohov, venha comigo – gritou Yaxley, correndo atrás do irmão que estava entre as árvores. Dolohov vinha ao seu encontro entre as árvores e tudo estava quieto. Eles começaram a procurar com apreensão. Há algumas centenas de metros, três Comensais estavam entrando no rio a procura do outro irmão...
– Ele está por aqui – dizia Crabbe, cutucando com a varinha o fundo do lago. Foi então que um irmão se levanta e enfeitiça Travers. Crabbe lança uma desconhecida maldição em sua perna, fazendo-o cair e sangrar. Ele sai correndo em direção ao lago e se atira contra as águas. No fundo, o irmão apertava com força a perna que não parava de sangrar. Suas habilidades na natação estavam ajudando-o muito naquele trágico momento.
Não muito longe dali, Dolohov derruba uma árvore e, por sorte ou não, era nela que o outro irmão se encontrava. A árvore esmagou seu braço quando caiu por cima do rapaz, mas ele se desvencilhou rapidamente e começou a correr, sendo alvo de vários feitiços. O braço inútil pendia e balançava. Cada movimento era uma agonia, mas não podia fugir e deixar seu irmão ali. Ele saiu por detrás de uma árvore no mesmo momento em que Yaxley o amaldiçoava. Ele foi lançado contra uma sequóia gigante e caiu de bruços. Sua cabeça parecia estar rachada e o sangue que entrava em suas narinas o fazia parar de respirar. Ele se levantou lentamente e Dolohov ria. Mas eles não sairiam impune, não mesmo:
– Crucio! – berrou o irmão, atingindo certeiramente Yaxley. Dolohov tentou reconciliar, mas também foi atingido pela maldição. O irmão parecia assustado com o que fizera, mas seu irmão estava em maior perigo. Eram três contra um. Ele foi correndo em direção ao lago, o braço quebrado batia em sua barriga, mas ele não queria sentir essa dor. Via os três Comensais no meio das águas furiosas, mas ele não podia aparecer do nado. Tinha que ter um plano. Ele foi mais longe do lugar e entrou na água. Mergulhou e começou a ir rapidamente contra os Comensais da Morte. Colocou parte do rosto para fora e estava a dois metros de um Comensal grandalhão. Atingiu-o silenciosamente com a maldição da tortura, mas não foi em silêncio que ele gritou. Jugson o viu e amaldiçoou. Logo depois, levitou-o e arremessou-o contra algumas árvores a vários metros de distância. O outro irmão reapareceu com raiva e amaldiçoou Avery. Era agora os irmãos contra Travers, que estava com raiva de ver os amigos sendo amaldiçoados. Não iria procurar por tudo, esperando os irmãos o atacarem juntos. Não mesmo.
Travers não queria esperar.
– Lava suzure!
As águas do rio se levantaram e viraram lava escaldante. Um dos irmãos escondido gritou de dor quando algo fervendo atingiu sua perna. Os Comensais o encurralaram na mesma hora em que ele gritava:
– Gideão, FUJA!
O grito foi tão pavoroso que até os Comensais entre as árvores, até há pouco desmaiados, ouviram.
– Eles o pegaram – disse Yaxley, levantando a cabeça e tentando ver o mais longe possível.
– Fábio!
O outro irmão saltou de um arbusto a beira do lago e correu de encontro ao seu irmão caído. Dolohov vinha numa rapidez descomunal enquanto apontava certeiramente contra as costas do inimigo Prewett:
– Crucio!
O irmão caiu, mas não berrou de dor. Era visível que ele a sentia, mas parecia querer guardar suas forças para salvar o irmão capturado. Dolohov o amaldiçoou mais uma vez, tirou sua varinha e voltou para acompanhar Yaxley, que logo amaldiçoou Gideão Prewett com a maldição da tortura.
– Não, Gideão, não... – veio berrando o irmão Fábio, com a perna em carne viva sendo arrastado por Crabbe e Jugson, ambos acordados, enquanto Travers enfeitiçava sua perna dilacerada e queimada. – Por que você não foi embora? – ele choramingava vendo que o irmão continuava ali.
– Calado! Crucio!
Fábio Prewett também não berrou, apenas fechou os olhos no mesmo momento em que seu irmão chorava ao ver o irmão sendo torturado. Avery arremessou o irmão para cima e, lentamente, Gideão via seu irmão rachar os ossos quanto batia com força o chão de terra.
– Bastardos! – berrou Gideão, se levantando e correndo em direção ao irmão, até que Crabbe o enfeitiçava:
– Quantum foton!
Um raio azulado partiu de sua varinha e, no momento em que tocou o braço do irmão correndo, ele gritou. O braço simplesmente soltou-se do ombro e o sangue espirrava por todos os lados.
– Energia? – perguntou interessado Yaxley para Crabbe, que respondeu com aspereza e orgulho:
– Aprendi com Goyle.
Os Comensais resolveram tirar as máscaras. Yaxley voltou e incendiou a casa torta em que os irmãos moravam. Travers lançou a Marca Negra no céu no mesmo instante em que uma dezena de bruxos, incluindo o auror Moody, aparatava a vários metros dele. Ao verem a Marca no céu, correram em direção aos Comensais. Mas era tarde demais para os irmãos. Dolohov e Avery Jr. exclamaram, no mesmo instante em que os irmãos se abraçavam:
– Avada Kedavra!
– MALDITOS! – vinha gritando Moody, no mesma hora em que alguns aurores lançaram maldições da morte, mas os Comensais giravam nesse exato momento de volta a mansão de Malfoy, em Wiltshire. Eles entraram cansados na casa e estava vazia. Apenas Rodolfo, Rabastan, que há pouco tempo chegara, e Lúcio, o dono da casa, estavam nela.
– Onde estão os outros?
– Rabicho sabe onde os Longbottom e os Potter vivem. Ele os levou até lá – respondeu Rodolfo.
– Foram todos para lá? – perguntou Crabbe, interessando em quão útil Rabicho estava mostrando ser.
– Não – disse Rabastan. – Ele levou o Lorde e mais alguns. E vocês? Pegaram os Prewett? – perguntou o rapaz, ansioso.
– Pegamos – respondeu Jugson, feliz, sentando numa confortável poltrona e imaginando onde estavam os outros.
Em Londres, Rabicho orientava o paradeiro dos Longbottom, certificando-se de que os Potter deviam estar juntos. Estavam juntos também Evan Rosier, Aurum Avery, Thor Rowle e Mendell Mulciber. Rabicho os orientava para o que parecia ser uma festa de noivado, mas eles não tinham muita certeza disso. Rabicho, inoportunamente, aparatou, fazendo um alto barulho e os bruxos do casamento olharem assustados. Voldemort lançou maldições certeiras contra alguns convidados, que na mesma hora caíram. Então, saem de cena o casal Longbottom. A mulher, com a barriga em destaque, e o homem, todo arrumado de terno. Voldemort avançou quando eles se espantaram. Na mesma hora, um raio vermelho atinge Voldemort na cara, fazendo-o perder o equilíbrio. Então ele também vê uma mulher com uma barriga bem visível e um homem de óculos. Novamente, os Potter quase o derrubam. Os Comensais investiram lançando maldições. O homem de óculos, Tiago, assim dissera Snape, conseguiu estuporar Mulciber, enquanto o homem Longbottom derrubava com sucesso Rowle. As pessoas corriam e se dispersavam. Evan e Aurum lançavam maldições nos convidados, mas sem sucesso. Então, a mulher grávida de vestido lança um feitiço dourado em Voldemort, fazendo suas vestes negras queimarem. Ele apagou as chamas na mesma hora, mas se enfureceu. Mais maldições da morte foram lançadas, mas nenhuma os atingiu. Alguns convidados resolveram ajudar os noivos e estuporaram Avery. Voldemort se enfurecia e começou a queimar todo o lugar, mas nada adiantava. Todos aparataram do lugar. Era a segunda vez em que os Potter e os Longbottom escapavam de suas mãos. E mais uma vez, estavam juntos.
– Milorde, venha ver – gritou Evan Rosier, de longe e com a voz embargada. Havia uma névoa branca de fumaça a sua frente, mas Voldemort a atravessou sem medo, pisando em vários corpos caídos. Evan estava diante de um livro e apontava para ele, que estava escrito:
Bem vindos ao casamento de Frank e Alice Longbottom
Mais embaixo, tinha alguns nomes reconhecidos, mas prestou mais atenção na família Potter: Tiago e Lílian, e na família McKinnon, Marcos e Marlene. Havia também os irmãos Prewett, que só agora ele havia percebido que não viriam. Voltaram a mansão de Malfoy, não antes de Avery, acordando só agora, lançar a Marca Negra no céu. No dia seguinte:
Irmãos Prewett assassinados. No mesmo dia, ataque ao casamento dos Longbottom.
Ontem, 29 de março, duas tragédias aconteceram: a morte dos irmãos Gideão e Fábio Prewett e o ataque pelos Comensais e Aquele que não deve ser nomeado ao casamento de Frank e Alice Longbottom. O Quartel General dos Aurores recebeu uma carta com os breves dizeres, com a letra de Fábio:
“Comensais da Morte aqui em casa. Cinco. Um fugiu.”
Logo após Alastor Moody dizer isso, pediu ao seu superior que recrutasse alguns homens imediatamente para ir à casa dos irmãos Prewett, mas era tarde demais. “Eles lutaram bravamente e não desistiram em hipótese nenhuma. Vi-os morrer e é algo que nunca esquecerei. Minha vida existirá para capturar esses malditos e desová-los, para sempre, na prisão”, diz Moody. Após o inquérito, foi comprovado que os irmãos feriram alguns Comensais, visto a quantidade de sangue na fazenda deles. Mas a batalha já estava perdida no momento em que um dos irmãos, Fábio, foi subjugado. “Nós sabíamos que Gideão não fugiria, não importasse os pedidos de Fábio. Eles eram muito íntimos e se fosse para morrer, como ocorreu, morreriam juntos.” Os aurores conseguiram fazer alguns retratos falados dos Comensais, mas nada muito bem feito. Um dos Comensais que matou os irmãos tinha uma cara torta e triste, mas isso não ajuda em nada.
Após algumas horas do mesmo dia, Comensais e seu próprio chefe invadiram o casamento dos aurores Longbottom e mataram vários convidados. O casal de noivos escapou ileso, mas até quando? Esta não é a primeira vez que os Longbottom quase são assassinados. Além disso, os Potter também já foram atacados duas vezes. E mais uma coincidência, pois ambas as mulheres estão grávidas, esperando filhos para o fim de julho ou começo de agosto. As baixas bruxas estão assustando seriamente.
Ultimamente, o Profeta Diário estava se tornando extremamente maçante e nada de importante surgia. Nada de interessante acontecia. Lúcio vinha anunciar que seu filho nasceriaem breve. Coisa que não importava ao Lorde, sequer sabia que tinha uma mulher. Mas pelo menos era uma sangue puro, irmão de Belatriz. Natrium Nott também informava que teria um filho logo, mas nada mais interessante. Rabicho informava agora a localização exata do casal Potter e do casal Longbottom. Voldemort estava começando a desconfiar por que os casais estavam sempre juntos e mais ainda era que Rabicho o informava, mas nada acontecia. Resolveu não ir de prontidão ao local, mas que estudaria o caso antes. Enquanto vários Comensais trabalhavam na surdina no Ministério, outros estavam viajando. Desta vez, nada poderia dar errado. As informações de Rabicho foram confirmadas por Mulciber II e Rookwood. O ataque se realizaria dentro do Ministério, dentro do quartel de aurores, mas aquele dia era feriado de páscoa e estaria vazio. E como toda a páscoa, era um domingo e teria, naturalmente, um número reduzido no Ministério. Eram 06 de abril quando Voldemort estava diante da lareira que daria acesso ao Átrio do Ministério. Foram ele, Wilkes, Laurêncio, Belatriz, Rodolfo e Rabastan. A família Lestrange toda, praticamente. “O Átrio”, exclamaram um por vez enquanto adentravam nas chamas da lareira. Logo, estavam diante de um vasto chão de pedra negra, um gigantesco hall que não se via onde terminava. Não havia ninguém andando por ali, apenas algumas corujas que voavam apressadas.
– Temos de ir ao elevador – mencionou Wilkes, apontando para um elevador de alças douradas. Eles entraram e Wilkes apertou o botão para o segundo andar. Estavam subindo. Eles ouviram uma voz:
– “Nível 7 – Departamento de Jogos e Esportes Mágicos: Sede das Ligas Britânica e Irlandesa de Quadribol, Clube de Bexiga Oficial, Seção de Patentes Absurdas. Nível 6 – Departamento de Transportes Mágicos: Autoridade da Rede de Flu, Controle de Aferição de Vassouras, Seção de Chaves de Portais, Centro de Testes de Aparatação. Nível 5 – Departamento de Cooperação Internacional em Magia: Organismo de Padrões de Comércio Mágico Comercial, Escritório Internacional de Direito em Magia, Confederação Internacional dos Bruxos, sede britânica. Nível 4 – Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas: Divisões das Feras, Seres e Espíritos, Seção de Ligação com os Duendes, Escritório de Orientação sobre Pragas. Nível 3 – Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas: Esquadrão de Reversão de Mágicas Acidentais, Central de Obliviação, Comissão de Justificativas Dignas de Trouxas. Nível 2 – Departamento de Execução das Leis da Magia: Seção do Controle do Uso Indevido da Magia, Quartel-General dos Aurores, Serviços Administrativos da Suprema Corte dos Bruxos”.
– É aqui – exclamou Wilkes, saindo do elevador e se postando nos flancos do corredor. Eles ouviam várias vozes mais adiante, mas não se preocuparam. Nas paredes, havia vários cartazes de procurados, incluindo o nome de alguns Comensais e alguns retratos falados. Havia também uma foto da recém nomeada Ministra da Magia, Emília Bagnold.
Wilkes apontou para uma porta com os dizeres: “Quartel-General dos Aurores” e a empurrou, levemente. Nisso, um barulho ensurdecedor fez a porta bater e Wilkes, estando lá dentro, atravessou-a sendo arremessado para fora do lugar. Ele se levantou assustado no mesmo instante em que vários bruxos saíam de dentro da porta e estuporavam os Comensais. Voldemort enfeitiçou vários aurores e logo se imobilizaram. Foi então que ele vê o casal Potter e Longbottom correndo disparado pelo corredor numa névoa branca que quase ninguém enxergava o que acontecia. Rosier e Rabastan foram atrás, mas logo deram um grito e Laurêncio percebeu que seus dois filhos tinham sido enfeitiçados. Foi atrás deles. Um auror pulou sobre o Comensal e tentou tirar sua varinha inutilmente, mas Wilkes o amaldiçoou. Voldemort foi correndo atrás do casal, passando por Evan e Rabastan. Chegou a um corredor ainda coberto daquela estranha névoa e a proporção era de quatro para um. Mas Voldemort não se importava: se divertia.
– Potter, Longbottom – cumprimentou ele, andando ameaçadoramente.
– Voldemort – disseram juntos os casais, e Voldemort não gostou dom jeito displicente que recitavam seu nome.
– Não têm medo, hein?
– Medo de quê? De um simples bruxo, tão infeliz com sua vida, que espalha o pânico por todo o mundo? – rosnou Tiago Potter ao que sua esposa, Lílian, apontava corajosamente a varinha para Voldemort. E este não estava nada feliz com o comentário de Potter.
– Tão infeliz, sem amigos. E vai continuar sem se contin... – ia dizendo Frank, até Voldemort interrompê-lo.
– Amigos! – berrou Voldemort. – Não preciso de amigos.
E começou a lançar repetidas maldições contra o quarteto, que nada fazia a não ser desviar e lançar repetidos feitiços tentando prendê-lo, mas sem sucesso. Mas, aparentemente, os casais temiam pela vida. Não pela deles, Voldemort percebeu.
Aparataram e não havia mais o que fazer. Haviam escapado pela terceira e última vez. Chamou os Comensais e voltaram, frustrados, para a mansão. A manchete do Profeta Diário estava tão chata, assim disse Gibbon, que Lord Voldemort sequer leu para saber quem havia morrido. Foi nos primeiros meses de 79, entretanto, que deu a Régulo uma tarefa mais confiável: matar Moody. O rapaz na hora se assustou, mas concordou. Mal sabia o Lorde de que Régulo, após aceitar com susto a ordem, ouvia-o conversando sozinho na sala de Malfoy.
– E quando eu dominar a escola de vez, poderei obter a espada de Gryffindor e também transformá-la em Horcrux.
Régulo teve um sobressalto tão grande que ele deu graças aos céus quando neste momento o Lorde havia enfeitiçado um candelabro apagado. Saiu, de fininho, e aparatou direto para casa.
Também. Foi isso que dissera Lord Voldemort. Horcrux... a invenção mais perversa e maligna da magia, que consistia em dividir a alma. Era um horror. Uma maldição. A que ponto seu mestre...? Seu mestre? Aquilo não era um mestre, era um tirano, um assassino, um brutal desalmado. Torturara e deixara à morte seu elfo apenas para saber se duas defesas para guardar a Horcrux (pois só agora percebera que devia ser uma) funcionariam. Não, não... e a sua família? Seria de se esperar que todos fossem assassinados se ele desertasse, se fugisse. Régulo não parecia querer pensar. Nessas horas, ele melhor que ele não tivesse sabido, pois só assim algo tão maligno passaria despercebido. Nessas horas ele não queria ter ouvido à porta seu... um assassino cruel e sórdido falar sozinho. O que estaria pensando?
Ele entendia, então, porque Lord Voldemort se gabava de ser tão poderoso. É imortal.
Somente agora percebera o quanto fora injusto com seu irmão mais velho, Sirius. Mas não, injustiça não era o nome. Ignorância. Somente a ignorância deixaria algo tão óbvio passar despercebido como se nada fosse. Xingara, junto com toda a família, o irmão que pertencera à Grifinória, o irmão que fugira quando viu quem era sua família, o irmão que se aliara à Alvo Dumbledore e se tornara membro da Ordem da Fênix. E em que a organização consistia? Qual era seu objetivo?
Uma vozinha em sua cabeça, uma vozinha cheia de coragem e humildade, cheia de compreensão ante ao desconhecido, cheia de... não; na verdade, essa vozinha era vazia de preconceito contra nascidos trouxas e mestiços, uma vozinha que martelava de modo insistente deixando claro que isso não poderia esquecer, deixando escrito cada vez que abrisse os olhos e pudesse ler. A vozinha dizia o objetivo da Ordem da Fênix: Derrubar Lord Voldemort.
– Monstro! – chamou Régulo, sabendo o que precisava saber, sabendo o que o tornaria um homem de verdade, sabendo o que aconteceria a ele. Tirou de uma gaveta um antigo medalhão, uma réplica medíocre do medalhão de Slytherin. Este era menor, mais leve e não era caprichosamente trabalhado, tampouco tinha o “S” serpentino que revelaria a insígnia de Slytherin. Abriu-o e tirou as fotos de dentro. Teve raiva e tristeza ao contemplar ali, no fundo, seu pai e sua mão, ambos vangloriavam Lord Voldemort. Atirou-as no chão sem cerimônia na mesma hora que o elfo chegava.
– O que deseja, meu senhor Régulo? – perguntou Monstro, quando Régulo pegava um pergaminho gasto, uma pena e um tinteiro quase vazio. Colocou o medalhão no pescoço.
– Monstro, quero que me leve onde o Lorde das Trevas te levou. Me leve à tal caverna.
Monstro arregalou os olhos de medo, mas nenhum sinal de resistência ele tinha quando Régulo informou:
– Nada acontecerá com você, Monstro. Eu prometo.
Monstro pegou a mão livre de Régulo, a que não tinha nas mãos os instrumentos de escrita, e desaparatou.
Régulo abriu os olhos e, atrás dele, ouviu e viu o mar batendo violentamente nas rochas. Monstro o segurava e o levava até o fundo da caverna.
– E agora, Monstro?
Monstro bateu a cabeça com força na parede.
– Monstro, por que fez isso? – perguntou aborrecido Régulo, assustado com o que o elfo poderia querer fazer.
– Para passar pela passagem, meu senhor – respondeu, tirando sangue no nariz e esfregando-o num trecho liso de pedra.
Na mesma hora, uma passagem oculta se abriu e Régulo constatou que era exatamente o que imaginara quando o elfo que explicara. O lago era gigantesco. Uma luz verde brilhava ao longe. Monstro passou rápido pela margem até um certo ponto, com Régulo o acompanhando. Monstro estendeu o braço tateando no ar e logo segurou uma corrente, cuja invisibilidade foi desaparecendo a medida que Régulo encostara sua varinha para puxar a corrente. Veio um barco verde espectral e bateu na margem. Monstro e Régulo entraram e aguardaram o barco deslizar suave e silenciosamente pelo lago. Régulo viu cadáveres ondeando o lago, flutuando à superfície. Chegaram à margem onde a poção se encontrava. Régulo, apoiando-se nos joelhos, as lágrimas quase escorrendo, escreveu:
Ao Lorde das Trevas
Sei que há muito estarei morto quando ler isto,
mas quero que saiba que fui em quem descobriu o seu segredo.
Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que puder.
Enfrento a morta na esperança de que, quando você encontrar um adversário à altura, terá se tornado outra vez mortal.
R.A.B
Não seria fácil, pensou Régulo, que Voldemort descobrisse de imediato a sigla do nome. Afinal, nunca dissera seu nome do meio.
– Monstro – disse por fim, colocando o bilhete dentro do medalhão em suas mãos. Amassou-o, mas por fim entrou –, quero que me obedeça.
– É claro, meu senhor, qualquer coisa.
– Eu vou beber esta poção e...
– Meu senhor, não! – exclamou o elfo, tão alto que o grito ecoou uns longos segundos.
– Monstro... – disse Régulo, ao notar Monstro debulhar em lágrimas – é importante. Eu preciso que me obedeça. Escute: eu vou beber esta poção e quando ele acabar, quero que troque os medalhões e volte imediatamente para casa. Sem mim – acrescentou Régulo de repente. – Não conte a ninguém o que aconteceu comigo nem que viemos aqui. E, como último desejo, quero que destrua esse medalhão que está no funda dessa poção. Compreendeu?
Monstro chorava enquanto acenava com a cabeça afirmativamente.
–Será para o bem de todos, Monstro. Obrigado, você é um bom elfo.
E conjurando um copo de cristal, afundou-o na poção verde. Por algum motivo, Régulo consegui tomar toda a poção sem querer recusá-la um só momento. Talvez o que estivera prestes a fazer o trouxera não somente coragem, mas revelações fortes o suficiente para fazer o que de tão terrível fosse para outros sem sequer reclamar. Estava fazendo o certo e ele sabia disso. Os sentimentos que o invadiam ao beber a poção que lhe queimava por dentro eram o oposto do que Voldemort esperava que a vítima que a bebesse viesse a sentir. Era, talvez, alegria de poder fazer algo de bom para o mundo e para os que nele viviam. Estava consciente de tudo o que fizera desde que nascera, talvez soubesse que seria seus últimos momentos de vida. Sentia a coragem e a ousadia apoderar-se dele ao vislumbrar o medalhão de Slytherin na bacia onde a poção estivera. Sentia orgulho do irmão por ter sido da Grifinória.
Monstro de adiantou, vacilante, e trocou os medalhões. Ficou olhando Régulo se arrastar causticante até a borda do lago, em que bastou um gole da água para que os cadáveres o puxassem. Monstro tremia e seus olhos não mais choravam. Sua expressão era de absoluto terror. Régulo ainda conseguiu relancear o olhar triste de Monstro no mesmo momento em que a água entrava em seus pulmões. A vida de Régulo Arturo Black morrera ali.
Os dias estavam passando rapidamente, já estava chegando o final de abril quando uma notícia que chocou a todos veio de Severo Snape.
– Milorde, preciso te contar... – veio Snape falando, arfando desesperado quando parou diante do seu senhor.
– Diga, Snape.
– Euestavanocabeç...
– Calma, homem – ordenou Voldemort, irritado. Nisso, vários Comensais entraram no aposento e sentaram-se na mesa. Parecia ter sido tudo preparado e para todos ouvirem – Fale calmamente.
– Milorde, eu estava no Cabeça de Javali agora há pouco – ia dizendo ele, assustado e suando –, e ouvi dizer que Alvo Dumbledore estava lá entrevistando uma professora de adivinhação para a escola, Sibila Trelawney.
– Continue – assentiu Lord Voldemort com a mão branca, parecendo muitíssimo satisfeito em saber algo sobre o diretor da escola. Os Comensais estavam atentos a conversa.
– Eles subiram para um patamar do bar e os segui. Quando estava subindo, ouvi que Dumbledore estava falando com a mulher sobre uma tal de Cassandra. Nisso, a mulher começou a falar que era neta dessa vidente famosa e que possuía clarividência, milorde – Snape parecia uma bomba prestes a explodir. – E ela fez uma profecia sobre o senhor, milorde!
– Profecia, Severo? – perguntou Voldemort, estranhamente gentil, mas preocupado. – E o que ela dizia?
Os Comensais prenderam a respiração ante a resposta que Snape daria em poucos segundos. Snape estava respirando forte até falar:
– Sobre alguém que vai te derrotar, milorde.
O tempo parou. Congelou. Ele não ouvia mais nada, sequer o som de sua respiração. O vento não chegava ao seu rosto e ele não o sentia. O ar não queria ser respirado pelas suas finas narinas e ele abriu a boca. Estava seca, dura. Pela primeira vez em sua vida, sentiu medo.
– O que ela dizia, Severo? – perguntou, assim que recobrou a fala após vários minutos – Diga-me igual o que a mulher disse.
Snape inspirou profundamente antes de recitar:
– “Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês...”
– Deve... – tentou dizer Voldemort, após todos entenderem o impacto das palavras de Snape. Belatriz era a que parecia mais preocupada – ... haver um engano. Eu não posso ser derrotado.
– Que mais você ouviu depois de ouvir isso?
– Mais nada, milorde, o dono do bar gritou comigo quando me viu ouvindo atrás da porta e de repente a porta se abriu. Dumbledore estava me encarando e a mulher virou a cabeça para mim e me encarou também. O dono do bar me expulsou e logo depois eu vi Dumbledore levando a tal Trelawney para o castelo. Deve tê-la contratado após ter feito essa profecia...
Os Comensais pareciam ter medo demais para falar o que quer que fosse e alguns encaravam o chão.
– Deixem-me a sós – ordenou ele, e os Comensais saíram de fininho. Nenhum tinha a coragem o suficiente para voltar e sequer para conversarem entre si. Saíram silenciosamente.
Não podia, não era verdade. A profecia era fajuta, era falsa, algo para enganar Dumbledore e ser contratada. Poderia? Dumbledore a recusaria após ouvir algo tão grandioso e que agradaria a todos? Dumbledore a tiraria de suas mãos com medo de que a capturassem para saberem mais sobre essa profecia? Ele se arriscaria? Algo tão sério assim ele não deixaria passar, algo tão sério assim logo seria divulgado. Mas ainda havia tempo...
A profecia dizia que essa pessoa se aproximava, sequer havia nascido. Esperaria essa pessoa nascer, se formar para depois derrotá-lo? De jeito nenhum. A pegaria antes de completar a escola, antes de se tornar uma ameaça, antes, talvez, de nascer. Era isso que faria. Iria atrás dos pais desse futuro bruxo e os mataria antes de terem um filho. Filho este que nasceria no fim do sétimo mês, no fim de julho. Quem poderia ser? Havia vários bruxos do Ministério com filhos para nascer, quanto seriam nessa precisa data? Mas ele se lembrou se algo lido no Profeta Diário: “pois ambas as mulheres estão grávidas, esperando filhos para fim de julho ou o começo de agosto.” Os Potter e os Longbottom, pensou. Começo de agosto era apenas uma probabilidade, poderia muito bem ser dia primeiro ou dia trinta e um de julho. Mas não era nada preciso, poderia haver uma diferença de, talvez, 10 dias, entre o dia 20 de julho e 10 de agosto. Nesse caso, os filhos seriam...
“Nascido dos que o desafiaram três vezes...”. Aquilo ainda não ajudava em nada, tanto os Potter quanto os Longbottom já haviam estado, cara a cara, três vezes com Lord Voldemort e sobrevivido. Os Longbottom, uma família sangue puro. Os Potter, sangue-puro com uma sangue-ruim, para ele, tão desprezível como se fosse um trouxa. Qual seria?
Algo dizia que os sangues-puros tinham mais poder, mas ele sabia em seu íntimo. Não seria apenas coincidência de que seu pai fosse trouxa e a mãe da pessoa que nasceria também era trouxa. Tinha que haver uma semelhança, algo igual, tinha que ser o destino.
Mas seria mesmo possível? Isso poderia, de fato, acontecer? As Horcruxes agora, antes de tudo, estavam mais do que protegidas. Estava tudo decidido, seriam os Potter quem ele e os Comensais procurariam nos próximos meses. E se concentrariam apenas neles e em mais ninguém. Voldemort disse aos Comensais que não havia com o que se preocupar, pois revelou, mas não totalmente, sobre suas Horcruxes. Vários Comensais se espantaram, outros, aplaudiram, alguns, ficaram com receio, mas não importava.
Nenhum deles era tão poderoso quanto Lord Voldemort, mas não era isso o que estava em jogo e o que importava. Não agora, nessa situação. Iriam atrás dos Potter o mais cedo possível.
–Mas meu senhor – começou Severo Snape, num tom de voz que beirava a piedade –, com certeza não são os Potter a quem a profecia se refere!
–Não é você quem decide, Snape – respondeu Voldemort, secamente, após falar sozinho com Snape sobre o que deduzira. – Afinal, não é ninguém, a não ser eu, quem decide. Nem mesmo após eu mandar aquela mensagem a Dumbledore sobre a Ordem...
–Mensagem? – sussurrou Snape.
–Sim, Snape! Esqueceu daquela que lhe mandei dizer, em que ameaçamos matar vários membros da Ordem? Pois bem, a resposta dele a você não foi nada gentil, não é? Impomos nossas condições e o velho tolo as recusou do mesmo modo com que recusa Feijõezinhos de Todos os Sabores – rosnou Voldemort. – Mas agora ele viu com quem está brincando...
–Por favor, milorde... eu, Lílian... Não vá atrás deles, eu...
–Você gosta dela? – perguntou Voldemort rispidamente, se erguendo do sofá e encarando-o profundamente. – Uma sangue-ruim nojenta, Snape?
Snape sabia que, se negasse, seria pior para ele. Mas ele tinha de salvá-la...
–Não, meu senhor. Só estive pensando em... acho-a bonita e atraente, é só. Tem... tem melhores, agora que estou pensando – mentiu Snape.
Voldemort se adiantou e quase encostou o nariz dele no nariz curvo e oleoso do Comensal. Após vários segundos, Voldemort concordou:
–De fato, Snape, ela é muito bonita. Atraente... Não que eu ache isso, é claro – acrescentou rapidamente, desafiando Snape a contradizê-lo. – Mas tem outras melhor para você, Severo, outras de sangue mais digno. Agora vá. Tenho de pensar em como fazer isso.
Severo Snape saiu tropeçando e, talvez, fungando, mas Voldemort tinha mais o que pensar agora. Onde existia o amor? Não havia! O amor era o que tolos achavam que sentiam quanto sentiam atração por alguma coisa, como agora com Snape. Era por isso que Snape não mentia. Não havia a menor detecção de falsidades e mentiras em seus olhos negros...
Severo Snape estava esperando-o no alto de um morro já de noite. O vento gritava em protesto em seus ouvidos ante ao que Voldemort queria fazer. Snape podia ver a silhueta de um enorme castelo recortado entre as montanhas ao fundo. Snape tremia. Não por frio ou medo de estar ali, sozinho, correndo o risco de ser atacado. Temia pela mulher a quem tanto amou, a que uma vez ofendera, a mulher bela e gentil de cabelos acaju e olhos espantosamente verdes...
Um raio prateado rompeu o céu, iluminando tudo em um raio de quatorze metros. A varinha foi tirada de sua mão e algo o atingia por trás, fazendo-o cair ajoelhado.
–Não me mate! – pediu Snape. Não antes de eu lhe dizer, Dumbledore, o que quero dizer, pensou.
–Não era a minha intenção – explicou Alvo Dumbledore, com a varinhaem riste. Aproximou-secom a luz da varinha e perguntou:
– Então, Severo? – sua voz estava gélida, congelante. – Qual é a mensagem que Lord Voldemort tem para mim?
– Não... – Snape não se sobressaltou ao ouvir o nome – Eu venho com um alerta... não, um pedido... por favor...
O vento fustigava com mais intensidade agora. O tempo parecia querer chorar junto às palavras de Snape. Os galhos da árvore mais próxima batiam com ferocidade.
Dumbledore ergueu a varinha e o barulho da natureza cessou. Eles se encararam.
– Que pedido poderia um Comensal da Morte – a voz de Dumbledore exalava uma raiva reprimida ao repetir esse nome – fazer a mim?
– A... – gaguejou Snape, cada palavra que saía inteiro era um milagre – a profecia... o vaticínio... Trelawney...
– Ah, sim. Quanto daquilo você relatou a Lord Voldemort? – questionou Dumbledore, sua voz alteando a cada palavra.
– Tudo... tudo que ouvi! – respondeu Snape, tremendo – É por isso... é por esta razão... que ele julga que se refere a Lílian Evans! – completou Snape.
– A profecia não se referia a uma mulher – respondeu, calmo. – Mencionava um menino nascido no fim de julho...
– O senhor sabe o que quero dizer! – interrompeu Snape. Cada palavra arranhava suas estranhas. Ele tinha que explicar. Devia salvá-la... – Ele acha que se refere ao filho dela, ele vai matá-la.... matar a todos...
– Se ela significa tanto para você – começou Dumbledore –, certamente Lord Voldemort irá poupá-la, não? Você não poderia pedir a ela misericórdia para a mãe em troca do filho?
– Pedi... pedi a ele... – respondeu Snape, mas sabendo que Lord Voldemort nunca acataria seu pedido.
– Você me dá nojo – disse Dumbledore, e Snape pareceu tremer ante ao xingamento. Dumbledore não aceitaria.... seria o fim! – Você não se importa, então, com as mortes do marido e do filho? Eles podem morrer desde que você tenha o quer?
Snape sabia o que Dumbledore estava dizendo. Mas não importava. Se houvesse uma única condição para ela sobreviver, ele a aceitaria. Nem que isso implicasse que seu marido, Tiago Potter, sobrevivesse também.
–Esconda-os todos então – disse, a voz saindo rouca, mas forte. – Mantenha ela... eles...em segurança. Porfavor – suplicou.
– E o que me dará em troca, Severo?
– Em... troca? – Snape não entendeu ao abrir a boca. Faria o que quer que fosse para salvá-la, nem que tivesse de trabalhar contra Voldemort. – O que quiser – confirmou ele.
– Então, Severo, quero que me encontre regularmente em Hogwarts – disse Dumbledore, conjurando a varinha de Snape do escuro e entregando-o em sua mão. – Quero que me passe tudo o que Voldemort estiver pensando em fazer, todos a quem estiver pensando em atacar, cada plano que ele traçar...
– Sim... sim...
Dumbledore aparatou e Snape ficou sozinho. Ela não morreria...
Ninguém desconfiava da traição de Snape, nem mesmo Rabicho, que era amigo dos Potter. Porém, as tentativas de investida contra os Potter nos meses seguintes foram todas fracassadas. Mais do que nunca, os Potter estavam muito bem escoltados e protegidos por ninguém menos do que Alvo Dumbledore, que parecia saber cada movimento antecipado de Lord Voldemort, que a cada fracasso os Comensais pagavam. Já havia chegado o final de julho e nasce o filho de Tiago e Lílian Potter: Harry, assim informou Rabicho, grande amigo – e traidor – deles.
Apesar de tudo, Rabicho dizia que não confiavam cegamente nele para, por exemplo, saber a localização da família e do garoto. Dumbledore tomara precauções imediatas sobre isso e quase ninguém os via.
Lord Voldemort, junto com Belatriz, achavam que Régulo Black havia morrido após o Lorde mandá-lo matar Moody, pois nunca mais foi visto.
Inclusive, a família Black estava em prantos pois ele não aparecia há meses. Era apenas um garoto tolo que achava que sabia o que fazer em situações desesperadoras. Assim como seu elfo... Tolo demais para lutar pela vida, fraco demais para lutar pela vida. Não merecia a vida eterna como ele a merecia.
Foi somente no final de setembro que acontece uma boa oportunidade de, uma vez por todas, matar o auror Moody. Rookwood tinha ouvido falar que o auror poderia estar sozinho no Ministério e que seria uma oportunidade perfeita. Além disso, Voldemort propôs para os que fossem matá-lo para que desaparecessem por um tempo; a probabilidade de serem capturados depois disso era grande e maior ainda era de algum dos Comensais capturados dizer alguma coisa. Seria uma batalha contra alguns aurores bem treinados. Foram Wail Wilkes, Evan Rosier, Igor Karkaroff, Jacques Jugson, Hock Yaxley e Avery Jr., sendo que este permaneceria depois em Lodz até um futuro chamado. De acordo com Karkaroff e Rookwood, que há meses planejavam um ataque aos aurores, o quartel general se esvaziaria a meia noite e apenas alguns poucos aurores, incluindo Moody, iria embora por uma travessa escura e vazia atrás do prédio do Ministério. Seria o momento perfeito para matá-los. Apesar da segurança com que Karkaroff dizia em que eles estavam, Lord Voldemort não foi. Estava preocupado demais pensando a respeito dos Potter.
Os Comensais estavam diante da tal travessa a exatamente meia noite. O vento uivava, uma fina névoa dos esgotos pairava no ar, um cheiro insuportável entrava nas narinas dos Comensais da Morte que, de máscaras, estavam começando a sufocar. Hock Yaxley tirou a sua. Karkaroff baixou o capuz e respirou melhor. Havia algo estranho acontecendo. Era meia noite e meia, nenhum vulto aparecera, os Comensais já estavam desistindo da ideia e já baixavam as varinhas...
– NEPARDO!
Uma corda agarrou Jugson pela cintura, levantou-o no ar e o fez atravessar várias vidraças no prédio ao lado Os Comensais se dispersaram. Um feitiço atingiu o céu. Karkaroff, apavorado, tentou fugir. Não conseguia. Alguém deixara o ar impossível para aparatar, sem risco de fugas. Não havia escapatória. Eram eles, os Comensais, quem estavam encurralados. Uma dúzia de bruxos aparecia do nada por entre portas. Avery Jr. lançava maldições para todas as direções em que olhava, os Comensais correram por entre as ruas vazias e clarões iluminavam o lugar. Ainda não era possível aparatar dali. Os aurores já haviam conseguido capturar Jugson e levado-o, provavelmente, a prisão. Os aurores tinham a vantagem de dois para um. E, sabendo disso, eles se formaram, par a par, para cada Comensal. O segundo a ser capturado foi Karkaroff, após ser estuporado por dois aurores e ser levado para algum lugar. Era certo de que os aurores podiam aparatar naquela região enfeitiçada, tudo estava planejado. Estavam numa arapuca e em menor número. Avery Jr. e Yaxley, ambos, conseguiram estuporar um auror que os seguiam. Mas não adiantava. Foi daí que, num momento de distração em que Avery quase mata outro auror, Yaxley é estuporado e, rapidamente, levado preso. Os Comensais não entendiam como os aurores conseguiam aparatar naquela região enfeitiçada magicamente contra fugas.
– Estupefaça! – gritou um auror certeiramente contra Wilkes, que se imobilizou. Porém, quando o auror que o enfeitiçou foi em sua direção, o Comensal se levantou e amaldiçoou-o. Por sorte, outro auror salvou-o e não perdoou:
– Avada Kedavra!
A maldição verde do auror atingiuem cheio Wilkes, o primeiro Comensal da Morte a morrer. Nisso, o auror que o matou correu em direção a Evan Rosier enquanto o outro ficou olhando o corpo do Comensal. Avery, irritado, apontou com raiva a varinha para o auror que havia quase capturado Wilkes:
– RUPTIARE!
O auror olhou e tentou parar o feitiço, mas já era tarde demais. A maldição que Avery lançara rasgou sua perna esquerda. O auror gritou quando viu parte de sua perna, exceto a coxa, ser arrancada violentamente de seu corpo. Ele caiu. Quando Avery se aproximou, o auror, visivelmente cheio de cicatrizes no rosto, rosnou, com extrema raiva na voz:
– Você... Você matou os Prewett... – ele apontavas as mãos cheias de cicatrizes para ele, tremendo violentamente. Mas não de dor ou medo. De raiva.
Era Moody, que o havia visto quando matou os irmãos. Avery sorriu antes de falar maliciosamente:
– E agora... mato você.
Quando ele levantou a varinha, algo prateado o atingiu e Avery caiu. Um outro auror veio junto com mais um e levaram Avery Jr. Só restavam agora cinco aurores, incluindo Moody caído, e Evan Rosier, que ainda batalhava. Dois aurores enfaixaram a perna de Moody e deram-lhe uma muleta. Ele queria lutar e capturar Rosier, foi mancando em sua direção. Os aurores lançavam feitiços certeiros contra Rosier, que caiu. Moody se aproximou para amarrá-lo. Rosier não desistiu, levantou-se de um salto e exclamou algo que Moody nunca mais esqueceria:
– Arrhenius acetum!
Um líquido viscoso e incolor voou da varinha do Comensal e atingiu em cheio o rosto de Moody. O auror caiu e gritava violentamente.
– Avada Kedavra! – gritou um auror com raiva para Rosier, que foi atingido pela maldição da morte e não mais se mexia. A batalha estava ganha, mas os dois aurores em pé nunca ouviram Moody daquele jeito.
Ele continuava gritando de dor com as mãos no rosto. Quando os aurores se aproximaram, mais gente foi aparatando e luzes se acendendo. Eram outros aurores que haviam retornado após a captura de alguns Comensais. Quando a luz incidiu no rosto de Moody, alguns exclamaram de horror. Um bom pedaço de seu nariz parecia ter derretido, suas bochechas estavam em carne viva. Um cheiro de carne podre assolou o lugar e Moody continuava a gritar. Bolhas e bolhas se formavam em sua face, uma narina havia sido perdido e seu rosto nunca mais seria o mesmo.
– Ácido clorídrico – disse lentamente um auror de cabelos negros e forte. Encarava o auror Moody com um ar de total compreensão pelo acontecido. Seu ar quando olhou-o de perto beirava a piedade. – Extremamente corrosivo.
Os aurores levaram Moody para o St. Mungus. Teria que usar uma prótese na perna e seu rosto estava queimado e cheio de cicatrizes, perdera uma parte do nariz e parecia louco. Foram informados de que Moody, com algumas dezenas de cicatrizes no rosto, nunca mais teria a pele como antes. Apesar do ácido ter sido removido e o rosto curado, as cicatrizes permaneceriam junto com a textura da pele. Os aurores ferviam de raiva ao ver o companheiro que parecia ter enlouquecido após tanto ser atacado, mas não mais do que Lord Voldemort após a manchete:
Quatro Comensais capturados e dois mortos
Felizes em informar, o quartel general de aurores realizou, com sucesso, uma operação há meses sendo realizada, principalmente, pelo auror Alastor Moody sobre uma possível captura de pelo menos meia dúzia de Comensais, o que, de fato, se concretizou.
Na passagem desta madrugada, 28 de setembro, uma informação falsa foi espalhada de dentro do Ministério sobre aurores que, por ventura, estariam sozinhos a meia noite de ontem. Com sucesso e esperado, os boatos de que existem Comensais infiltrados no Ministério se confirmaram: algum Comensal passou essa informação a Aquele-que-não-deve-ser-nomeado e, por conseguinte, aos Comensais da Morte. A operação, intitulada “Gentalhas”, capturou quatro Comensais da Morte já identificados: Igor Karkaroff, Hock Yaxley, Jacques Jugson e Avery Jr., um dos responsáveis identificado pelo brutal homicídio de Gideão e Fábio Prewett. “Foi uma sorte termos capturado esse desgraçado”, diz Dawlish.
Dois Comensais, entretanto, resistiram fortemente à prisão e acabaram mortos durante a batalha. Foram identificados como Wail Wilkes e Evan Rosier, filho de Rubídio Rosier do Departamento de Cooperação Internacional em Magia. “Não sabemos ainda se Rubídio também é um Comensal da Morte. Iremos interrogá-lo o mais cedo possível”. Apesar do sucesso da operação, nem tudo foi maravilhas. Vários aurores saíram feridos durante a participação, mas foi o mestre da operação que mais foi ferido, Alastor Moody. “Moody perdeu a metade de uma perna, tem múltiplas escoriações e cortes profundas e também teve o rosto corroído por um feitiço” como disse o curandeiro do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos, Rebano Carbonato, “mas achamos que ele vá se recuperar”, salientou o curandeiro.
Os Comensais capturados foram mandados imediatamente para Azkaban até a hora de seus julgamentos. “Terão um julgamento rápido e imparcial”, disse Bartô Crouch, chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia e futuro ministro da Magia, “os Comensais causaram muitos males e devem pegar severamente por tais crimes hediondos”.
Lord Voldemort tortura, neste momento, Augusto Rookwood, por ser ele o motivo da captura de quatro Comensais e da morte de dois. Extravasando seu pesar, Rubídio também o amaldiçoa.
Os meses foram passando. Já passara um ano desde o nascimento da criança dos Potter. O filho de Laurêncio, Rodolfo, sabia de uma família que estudou junto com ele e Belatriz, os McKinnon, que criticavam os Comensais e cuja família era da Ordem. Crouch disse que sabiam onde moravam, pois sempre recebiam notícias sobre os ataques de trouxas e que sabiam de alguns Comensais. Iria matá-los antes que contassem algo. A família McKinnon, cuja integrante da Ordem se chamava Marlene, morava com o marido, seus pais e dois filhos. A família toda seria dizimada por isso. Eles moravam do lado oeste de Londres, atravessando uma ponte até perto de um famoso hospital trouxa.
Foram: Voldemort, Travers, Karkaroff, Rowle, Goyle, Belatriz, Rodolfo e Dolohov. Eram 25 de julho. Aparataram direto para o tal hospital e as casas estavam acesas. A casa dos McKinnon, descrita por Crouch e indicada por Rodolfo, também estava acesa. Viram algumas pessoas no andar de cima e avançaram cautelosamente. A porta estava aberta, estava fácil demais. A sala era extensa e bonita. Havia, em pleno verão, uma lareira acesa. Poderia ser algum tipo de aviso, mas não ouviram nada de mais. Até a hora em que um velho entrou no aposento fazendo levitar alguns pratos e caldeirões, quando Rowle tirou sua varinha, Dolohov o amarrou e também silenciou. Voldemort não mataria nenhum por enquanto. Queria que morressem um por um, lado a lado. Faria alguns sofrer. E foi Belatriz e Rodolfo quem capturaram as duas crianças. Belatriz, com nojo de tocar em uma delas, a levitou, fazendo bater a cabeça de propósito em diversos cômodos. Deixaram as crianças e o velho amarrados na sala. Dolohov estava cuidando. Subiram as escadas rudimentares, fazendo um extremo barulho. Ouviram:
– Kenin, ajude-me aqui.
Deveria ser a velha. Esta deveria ser a esposa do velho, mãe de Marlene. Quando ela viu quem estava subindo, deu um leve berro, mas Goyle a silenciou antes, mas não a tempo de ouvirem um barulho estrondosamente alto quando a velha deixou cair vários pratos no ar quando a varinha foi lançada.
– Mãe, o que a senhora fez? – gritou uma voz feminina no fim do corredor. Goyle levou a velha para junto com o velho e as crianças. Ele e Dolohov estavam aguardando lá embaixo.
– Marlene, ela derrubou os pratos novos que Lílian nos mandou! – gritou um homem, aparecendo repentinamente. Belatriz estava louca para amaldiçoá-lo, mas nada fez. Estavam todos escondidos quando a mulher chegou.
– Ora, essa, mãe. Cadê você? – disse ela, rindo. – E Marcos, você viu como eu me saí naquela foto? Da Ordem? Estive horrível... – Nisso, um gemido foi ouvido lá embaixo e o casal sacou a varinha. Estavam descendo as escadas quando Rodolfo e Travers gritaram:
– Crucio!
A maldição atingiu os dois em cheio, fazendo-os cair da escada e chegarem inconscientes no térreo. Enquanto isso, trouxeram o casal de velho e as duas crianças e colocaram-nas de frente aos pais, ainda desmaiados. Após algum tempo, o casal McKinnon acordou assustado:
– O que é isso?
Eles olharam para um rosto pálido na sua frente. Olhos quase vermelhos, narinas estranhamente estreitas. Eles reconheceram Voldemort quando baixou o capuz. Os Comensais o imitaram, alguns tirando as máscaras.
– Voldemort! – gritou o velho, assustado. Não seria qualquer um que exclamaria esse nome tão puro.
– Crucio! – berrou Rowle, vendo o velho gritar de agonia, a velha chorar, o casal se debater violentamente e as crianças fecharem os olhos.
Tudo parou, então. O velho gemia no chão, as mordaças foram retiradas. As cordas, rompidas.
– Desgraçados – berrou a mulher McKinnon, dizendo maldições e xingado-os com todos os palavrões possíveis. Logo, o homem complementou com alguns inventados por ele próprio.
– Marlene McKinnon, da Ordem da Fênix, não é? – perguntou Voldemort, a voz fria e aguda vibrando em seus tímpanos.
– Da Ordem, que um dia vai derrotá-lo, seu covar... – ia gritando a mulher junto com o homem, pareciam que tinham ensaiado. Mas suas palavras foram abafadas quando as crianças começaram a berrar. Belatriz e Rodolfo as atiraram na lareira. Os velhos berravam e o casal tentava de tudo para se livras das cordas conjuradas por Dolohov e Goyle, mas não adiantou. Foram necessários apenas alguns segundos para as crianças pararem de berrar no fogo. Voldemort levitou os corpos carbonizados e depositou-os a sua frente. Karkaroff pareceu receoso ao olhar o cadáver enegrecido das crianças e o casal chorar de tristeza e fúria. Foi então que, sem Goyle saber como, o homem soltou-se das cordas e avançou em punho, sem varinha, a Voldemort. Rowle riu antes de exclamar:
– Crucio!
O homem se jogou no chão e berrava mais ainda. A mulher gritava maldições a esmo e, por incrível que pareça, sua varinha lançou um raio dourado contra os pés de Goyle. Apesar de desarmada, a alguns metros de distância, a varinha obedeceu a um acesso de fúria de sua dona. Goyle urrou de dor e jogou a varinha para longe. Se não fosse Rodolfo conjurá-la rapidamente, o bruxo torturado a pegaria. Voldemort torturaria Goyle depois pelo erro.
– Ora, ora, Marlene – exclamou Voldemort, parecendo estranhamente orgulhoso e feliz de conversar com alguém com tamanho poderio mágico. – Você é poderosa, não é qualquer uma que...
– Vá para o inferno! – berrou ela, ensandecida com a contínua tortura de seu marido, agora por parte de Dolohov.
– Quer se juntar aos seus filhos, McKinnon? – indagou Belatriz, rindo com a situação e começando a torturá-la felizmente. Era uma boa bruxa. Sabia o que fazia e tinha prazer na tortura. Matara os filhos daquele jeito por serem, ambos, filhos de mestiços nojentos e porcos.
– McKinnon – começou Voldemort, e Belatriz cessou a maldição. – Dê-me a localização dos Potter e seu marido morrerá rapidamente e sem dor – Para Voldemort, isso era piedade. É claro que, apesar de isso parecer verdadeiramente piedoso, também era mentira.
Marlene começou a falar palavras sem nexo nenhum, então Voldemort se enfureceu também e deu a ordem a Travers, que há tanto tempo queria matar alguém importante para seu mestre:
– Avada Kedavra! – gritou ele duas vezes, apontando a varinha para a velha e o velho, que tombaram sobre as mordaças e as cordas desapareceram. O marido gritou de fúria e a mulher nada mais falava. Chorava silenciosamente e se debatia contra o chão. Eles não cederiam, mas...
– Me fale onde eles estão, McKinnon, e você não morrerá. Dê-me os nomes dos outros membros da Ordem da Fênix e você não morrerá – repetiu Lord Voldemort, com calma. Isso era um absurdo demais da conta, mas Voldemort falou tão convincentemente que Belatriz, quase na mesma hora, contestou:
– Mas, milorde, ela...
– Calada! – vociferou Voldemort, erguendo ameaçadoramente a varinha para Belatriz Lestrange, que abaixou a cabeça.
Houve um silêncio de extremo desagrado, mas McKinnon chorava e, quando enxugou as lágrimas e encarou os corpos dos filhos, dos pais e o marido semi-inconsciente, falou, com um ar de extrema coragem:
– Fênices são imortais, Voldemort. Bruxos, principalmente das trevas, não.
Com um olhar de total impiedade, Voldemort acenou com a varinha. Matou Marlene McKinnon, enquanto Rowle matou o marido.
– Procurem informações – disse a voz fria e distante de Voldemort, andando pela casa. Revistaram tudo, mas não encontraram informações pertinentes sobre a Ordem. Porém, encontraram várias fotos com o casal Potter sorrindo para eles. Karkaroff lançou a Marca enquanto saíam.
Família McKinnon assassinada
A família McKinnon foi encontrada morta brutalmente ontem, 25 de julho, em sua casa em Londres. Mais uma vez, a morte foi ocasionada pelos Comensais e seu líder, Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, pois a Marca Negra estava no local. Os filhos do casal, Roberto e Mirella, foram queimados vivos pelos bruxos das trevas. Os pais de Marlene, Kenin e Nara, foram assassinados também, após breves sinais de tortura. O casal, Marcos e Marlene, foi torturado antes de ser assassinado pela maldição da morte. Não se sabe como os bruxos das trevas souberam a localização da família McKinnon, o que indica que os Comensais podem estar entre nós, infiltrados. Também não se sabe o que os Comensais e seu senhor querem, afinal, a família McKinnon era de sangue puro e acredita-se que os bruxos só matavam os nascidos trouxas. Algo está motivando-os a matarem bruxos do Ministério abertamente. Crouch já deu a ordem de captura dos Comensais, mas ainda não se sabe o nome deles. Inclusive, criou a lei que prescreve o direito dos aurores matar, e não somente capturar. As coisas estão fora de controle.
Alvo Dumbledore diz estar tomando providências para a escola não cair sob as mãos daquele cujos atos foram tão pavorosos que não diremos mais seu nome. Aurores estão sendo destacados para averiguar a escola.
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