Recusado no emprego
NÃO ESPERAVA que agora em novembro o tempo estivesse bom. Nunca foi assim, pelo menos não naquela região. Era nessa época que o inverno assolava as cidades e a neve congelava as pessoas. Uma tempestade estava acontecendo agora enquanto ele girava no ar, penetrando no vácuo. Sentiu um ar gelado entrando em suas narinas quando ele soube que havia chegado. Queria o destino que tivesse aparatado logo ali, acima do trilho do expresso de Hogwarts? Lembrou-se da primeira vez em que desceu do trem para a plataforma e ouviu a voz patética do guarda-caça da escola, Ogg. Foi depois de algum tempo que conheceu Aurum, Laurêncio, Tecnécio e Natrium. Mais tarde, acabou fazendo amizade com Rubídio, que terminou a escola um ano antes, mas que ainda assim continuava como um bom seguidor faria. O vento fustigava seu rosto quando recobrou a consciência e subiu à plataforma. De longe, via uma sombra da escola e mais adiante o vilarejo de Hogsmeade. Um forte “craque” foi ouvido por ele e se virou. Quatro pessoas haviam acabado de aparatar naquele mesmo lugar e agora chacoalhavam as vestes para a neve dos ombros cair.
– Para onde, milorde? – perguntou a conhecida voz de Rubídio Rosier as suas costas. Mendell continuava se chacoalhando enquanto Antônio e Natrium se encolhiam dentro das vestes.
– Hogsmeade – disse, olhando para o vilarejo adiante e começando a andar. – Vamos nos hospedar no Cabeça de Javali. Será o lugar perfeito para ficar – explicou, imaginando o estado daquele bar. – Longe de olhares curiosos querendo saber o que vim fazer aqui na Grã-Bretanha.
Ele viu de relance os amigos se entreolhando sem entenderem nada. Sabia o que estavam pensando. Geralmente, quando chegava a um novo lugar, ficava agradado quando pessoas o recebiam, algumas reverenciando e dizendo seu nome. Perguntavam das magias que aprendera e como as canalizava daquele jeito meio “tenebroso”. Mas o caso é que agora ele não queria atenção; pelo contrário, queria discrição. A neve o fazia afundar cada vez que dava um passo, mas seria necessário.
– Por que pretendeu vir para cá, meu senhor? – era a voz de Antônio, que parecia estar tremendo de frio. Ou seria de medo?
– Quero um emprego na escola – respondeu Voldemort despreocupado, esperando a pergunta que logo fariam.
– Mas... por quê? – Mendell parecia chocado com o que acabara de ouvir. Riddle sabia que todos haviam concordado em fazer esta pergunta, mas receavam a resposta. Alguém tinha de perguntar isso.
– Isso é de minha conta – rosnou ele. Os amigos não perguntaram mais. Na verdade, não falaram mais nada. A mochila em suas costas estava começando a pesar quando chegou à rua principal e abriu a porta do bar.
Os poucos presentes ali pararam de falar e viraram-se. Ficaram encarando, outros cochichando. Com um olhar assustador para cada um que o encarava, sendo que alguns pareciam querer vir para conversar, Riddle entrou, seguido por quatro Comensais, no bar. Alguns viraram a cabeça tentando visualizá-lo melhor, mas não tinha tempo para conversas. Sentou-se numa mesa distante da porta, perto de uma lareira, e acomodou-se. Tirou a mochila das costas e depositou-a no chão. Os outros se sentaram à mesa no mesmo instante em que o dono do bar, pois devia ser o dono, já que era o único que trabalhava ali, chegou e perguntou, num jeito meio carrancudo:
– O que desejam?
Riddle encarou os olhos azuis que estavam por trás dos óculos do velho e disse simplesmente:
– Um quarto. E um uísque de fogo.
– Cinco – complementou Rosier, com os amigos concordando. – Cinco quartos e cinco uísques de fogo.
O velho saiu antes de ver Riddle olhando com interesse para os outros. Não esperava que ficassem com ele naquele lugar sujo e frio. Não pediu que viessem com ele, mas estranhou de terem vindo.
– Terei que ficar alguns dias aqui até mandar uma carta a Dumbledore – disse, mais para si mesmo do que com os outros. Sabia que Dippet havia morrido há pouco tempo e, como era esperado, Dumbledore assumira. – E quando for aceito, roubo a espada e escondo o diadema – pensou ele.
O velho veio e entregou os cinco copos com o uísque. Rosier pagou as bebidas. Ficaram conversando toda a noite sobre tudo o que passaram. Não paravam de lembrar de quando finalmente mataram uns trouxas numa certa noite do dia das bruxas. Foi aquele dia em que os Comensais entenderam o espírito da morte. A morte era para os fracos e quem a aceitasse não deveria mesmo viver, existir. Não existia nem bem, nem mal. A diferença no mundo era os que tinham poder e os fracos que não o aceitavam ou fugiam dele. Observando todo o local, Riddle constatou que tinha um estranho cheiro de bodes.
Não fazia ideia por que o dono do local criava, mas era algo que lhe lembrava alguém. Talvez fosse seus olhos azuis. Lembrava Dumbledore. Em poucos dias, retornaria a escola e lá ficaria por algum tempo. Tempo este em que ensinaria aos jovens tudo o que sabia. Não em feitiços, isso ficaria só para ele. Ensinaria o modo certo de encarar o mundo: os bruxos superiores aos trouxas. Soube, ali mesmo, que a irritante professora de Estudo dos Trouxas, Caridade Burbage, a quem já petrificara uma vez, continuava lecionando na escola. A professora enfatizava como os trouxas se assemelhavam aos bruxos e a odiava por isso. Não havia semelhanças por que não havia o que comparar. Eram coisas totalmente distintas, uma superior a outra. Mas ele sabia que logo esse quadro iria tomar novos rumos. Não ficaria mais nesse negócio de igualdade, mas sim na superioridade da raça bruxa.
Os nascidos trouxas também não estariam nessa nova ordem que tomaria em pouco tempo, seja contra ou a favor da vontade de toda a massa, era isso que iria fazer em pouco tempo. Pouquíssimo agora que entraria na escola, talvez o único lugar em que teria resistência de Dumbledore e dos outros professores. Mas isto não seria problema, apesar de não subestimar Dumbledore para nada desde aquele duelo. A carta mandada no dia seguinte era curta e breve. No mesmo dia, o professor havia mandado uma convidativa resposta pedindo que viesse conversar com ele. E assim o fez. Antes, tirou o diadema da mochila, vestiu-se com uma longa capa negra, guardou-o num fundo bolso e saiu. A nevasca não tinha cessado depois dessa semana no Cabeça de Javali. Assim que saiu, a neve cobriu seu rosto. A nevasca havia aumentado e estava difícil de caminhar pelo longo caminho do vilarejo a escola. O professor havia recomendado que viesse a um certo horário pelo fato dos portões estarem abertos. Os outros permaneceram no bar. Chegou aos portões com os javalis alados intactos. Ogg estava esperando, como dissera Dumbledore.
– Jovem Riddle...
Calou-se ao olhar que lançou. Abandonara o sobrenome Riddle há muito tempo atrás. Era conhecido por outro nome...
– Voldemort. Como vai? – perguntou o guarda caça gentilmente. Quase com receio da resposta.
– Bem, Ogg – respondeu, tentando não perder a paciência com o velho que falava como um trasgo.
Eles passaram por toda a extensão da escola. De longe, olhou o campo de quadribol coberto de neve, junto com as arquibancadas todas brancas. Então, chegou ao saguão de entrada. Como lembrava de cada detalhe daquele castelo. Os vários retratos, a enorme porta de carvalho, as várias escadas...
– Sabe onde fica...?
– Sei – respondeu, antes que Ogg pudesse completar a pergunta e subindo a escadaria. Sabia o movimento de cada escada. Como foi bom relembrar os momentos em que estudava ali. Chegou ao segundo andar, o mesmo andar onde ficava a entrada da Câmara Secreta. Podia ouvir, através das paredes, a voz do basilisco. Ouvia ele se movendo entre os canos da escola. Como queria abrir a Câmara mais uma vez, mas seria muito arriscado agora. A maioria dos alunos estava em aula ou nos dormitórios, logo, os corredores estavam vazios. Ele chegou à conhecida gárgula de pedra que guardava a entrada para a sala do diretor. Já havia entrado por ali uma vez quando pediu para permanecer na escola durante o verão e para pedir o emprego que uma vez lhe fora recusado. Mas não mais.
– Varinha de alcaçuz.
A gárgula emitiu um estranho ruído e virou-se. Ocultava uma passagem de pedra que continha uma escada giratória. Ele subiu nela e foi lentamente subindo para encontrar-se com o diretor. A mesmíssima porta com a maçaneta de bronze continuava ali. Bateu. – Entre – disse uma conhecida voz por detrás da porta. Girou a maçaneta e empurrou a porta. O escritório do diretor havia mudado um pouco. Era a mesma sala circular com uma grande variedade de livros, embora agora com vários objetos de prata curiosos e uma bela fênix num poleiro dormindo.
– Boa noite, Tom – disse Dumbledore. Oferecendo a cadeira em sua frente, perguntou gentilmente:
– Não quer sentar?
– Obrigado – respondeu Voldemort, se adiantando e puxando a cadeira. Nisso, resolveu falar sobre a nova “promoção” de Dumbledore. – Soube que se tornou diretor, uma escolha merecida – aprovou, afirmando com a cabeça e procurando o retrato de Dippet até encontrá-lo.
– Fico satisfeito que você aprove – respondeu o velho, abrindo um largo sorriso para ele. – Posso lhe oferecer uma bebida? – perguntou, já se preparando para levantar da cadeira macia.
– Seria bem vinda. Vim de muito longe – a viagem da Polônia até ali havia sido cansativa mesmo. Esses dez anos, embora produtivos, foram também cansativos. Mas valia a pena.
O velho finalmente se levantou e foi até um armário cheio de coisas brilhosas, entre elas várias garrafas. Parecia que havia pegado um vinho dos elfos. Vindo também com dois copos, serviu primeiro a Voldemort e depois a si mesmo. Por fim, perguntou o que Riddle não havia deixado entendido na carta:
– Então, Tom... a que devo o prazer? – questionou o diretor da escola que tanto prezava.
Antes de responder, iria dar os termos do contrato chamando-o como deveria. Faria-o esperar bebendo um gole do vinho até responder:
– Não me chamam mais de Tom. Hoje em dia sou conhecido como...
– Eu sei como você é conhecido – interrompeu-o Dumbledore, deixando-o profundamente irritado. – Mas, para mim, receio que você sempre será o Tom Riddle. É uma das coisas irritantes nos antigos professores, eles nunca chegam a esquecer a juventude dos seus pupilos.
Dumbledore ergueu a taça e sorriu. Voldemort apenas encarou-o. Estava recusando a dizer o nome que havia escolhido e insistia em chamá-lo como odiava ser chamado? Como odiava seu nome de batismo. Após um breve momento de raiva, recomeçou:
– Estou surpreso que tenha permanecido aqui tanto tempo – disse, olhando para toda a sala esperando encontrar a espada. – Eu sempre me perguntei por que um bruxo como você jamais quis deixar a escola – ponderou. Afinal, poderia tornar-se ministro da magia há muito tempo.
– Bem – respondeu Dumbledore, ainda com o sorriso velho no rosto –, para um bruxo como eu, não pode haver nada mais importante do que transmitir artes antigas, ajudar a afinar a mente dos jovens – disse, tentando entrar nos mais fundos pensamentos de Voldemort. – Se me lembro corretamente, no passado você também se sentiu atraído pelo ensino – pelo jeito, Dippet lhe contara algo que não queria que mais ninguém soubesse.
– Ainda me sinto – confirmou. – Simplesmente me perguntei por que você, a quem tantas vezes o Ministério tem pedido conselhos, e a quem já foi oferecido duas vezes, acho, o posto de ministro...
– Na realidade já foram três vezes – corrigiu-o Dumbledore, mas não em tom de censura. – Mas o Ministério nunca me atraiu como carreira. Mais uma coisa que temos em comum, acho.
Sabia a que estava se referindo. No último ano, havia recebido muitas propostas de emprego no Ministério, mas nenhuma o interessava. Tomando mais um golinho do vinho, baixou a cabeça como que se estivesse concordando. O diretor apenas ficou olhando sem nada dizer. Com uma estranha nota de pedido e uma expectativa na voz, Voldemort falou:
– Voltei, talvez mais tarde do que o professor Dippet esperava... – afinal, não esperaria retornar após dez longos anos – mas voltei, mesmo assim, para tornar a solicitar o que ele certa vez me recusou dizendo que eu era jovem demais para ser – não havia gostado daquela resposta. – Vim procurá-lo para pedir que me permita retornar a este castelo como professor. Acho que você deve saber que vi e fiz muita coisa desde que saí – é claro que havia ouvido. Quem não ouviria? – Poderia mostrar e contar coisas aos seus estudantes que não poderiam aprender com nenhum outro bruxo – que seriam as Artes das Trevas em seu auge. Após algum momento em que Dumbledore parecia pensar, respondeu:
– Certamente sei que você viu e fez muita coisa desde que nos deixou – disse ele. – Os rumores dos seus feitos alcançaram sua antiga escola, Tom – continuou. E, agora, parecia que falaria algo desagradável. – E eu lamentaria ter de acreditar sequer em metade deles.
Com um langor de fúria, canalizou-a para a fala:
– A grandeza inspira a inveja, a inveja engendra o despeito, o despeito produz a mentira. Você deve saber disso, Dumbledore – desafiou, esperando a resposta melancólica do velho.
– Você chama de “grandeza” o que tem feito? – perguntou o diretor, olhando com uma estranha expressão que mesclava susto e curiosidade.
– Sem dúvida – disse ele, recordando tudo o que fizera. Sentia cada ato de terror passando pelos seus olhos negros. – Fiz experiências; levei as possibilidades da magia a extremos a que jamais alguém levou...
– De alguns tipos de magia – novamente, ele cortou sua frase. Interromper os outros era algo que não suportava, principalmente quando faziam isso com ele. – De alguns – reforçou Dumbledore. – De outros você continua... me desculpe dizer... lamentavelmente ignorante.
Voldemort sorriu. Era um sorriso de risada, de humilhação, sabia o que Dumbledore estava pensando.
– O velho argumento – respondeu, sonhadoramente olhando para o teto por um breve momento. – Mas nada que vi no mundo respaldou as suas famosas declarações de que o amor é mais poderoso do que o meu tipo de magia, Dumbledore – concluiu, imaginando nos diversos tipos de feitiço que havia criado e conjurado sem amor algum. Não precisava dessas bobeiras mundanas.
– Talvez você tenha procurado nos lugares errados – Voldemort percebeu que Dumbledore estava provocando-o, desafiando-o. Não iria ceder:
– Bem, então que melhor lugar para começar novas pesquisas do que aqui, em Hogwarts? – contrapôs Voldemort. Seria ali, pensou debochadamente, que encontraria o amor? – Você me deixará voltar? Você me deixará dividir meus conhecimentos com os seus estudantes? – seriam logo, logo, meus estudantes, pensou. – Coloco a minha pessoa e os meus talentos à sua disposição. Estou às suas ordens – até a hora da emancipação que viria a acontecer.
Com um olhar curioso, Dumbledore ergueu as sobrancelhas e perguntou:
– E o que acontecerá àqueles que recebem as suas ordens? – perguntou. Voldemort parecia não entender. – Que acontecerá àqueles que se intitulam, ou assim corre o boato, Comensais da Morte?
Ficou chocado desta vez. Não esperava que Dumbledore, nem ninguém, conhecesse esse nome que havia criado apenas para seus íntimos. Como saberia?
– Meus amigos – após uma breve reflexão, teria que usar esse termo, apesar de não aprová-lo e considerá-lo inexistente –, prosseguirão sem mim, tenho certeza – concluiu Voldemort.
– Fico contente em ouvir que os considera seus amigos. Tive a impressão de que eram mais seus servos – Dumbledore estava afirmando isso, não esperava que Voldemort o contradissesse.
– Está enganado – disse, com um leve tom de raiva no ar que qualquer pessoa normal sentiria.
– Então se eu fosse ao Cabeça de Javali hoje à noite, não encontraria um grupo deles, Nott, Rosier, Mulciber, Dolohov, aguardando a sua volta? – perguntou Dumbledore. Riddle sabia que Dumbledore desconfiava que havia mais Comensais. Estes apenas não vieram. – Amigos verdadeiramente dedicados, que fazem com você uma viagem tão longa em uma noite de nevasca, meramente para lhe desejar boa sorte em sua tentativa de obter um cargo de professor – terminou Dumbledore, ainda com os olhos azuis em seus olhos negros. Ajeitou os óculos de meia-lua.
Voldemort não entendia como sabia tanto. Como saberia do nome dos Comensais? Sempre estiveram em segundo plano enquanto ele agia. Imediatamente, teve que retrucar:
– Você continua onisciente como sempre, Dumbledore – e isso não era bom. Quem se metia onde não era chamado, tinha que acabar mal.
– Ah, não, apenas tenho boas relações com os donos de bares locais – respondeu ele descontraído. Então, o velho dono do bar teria avisado? – Agora, Tom... – nisso, Dumbledore depositou o copo na mesa e juntou os dedos, pronto para falar algo que julgasse importante – vamos falar francamente. Por que veio aqui hoje, cercado de capangas, para pedir um emprego que ambos sabemos que você não quer?
Ficou surpreso e arregalou os olhos. O velho estava louco!
– Um emprego que não quero? Pelo contrário, Dumbledore, quero e muito – respondeu, constrangido pelo modo como Dumbledore havia dito aquilo.
– Ah, você quer voltar a Hogwarts, mas quer tanto ensinar aqui quanto queria aos dezoito anos. Que é que você está procurando, Tom? – perguntou, com os olhos muito sérios. – Por que não experimenta pedir abertamente uma vez na vida?
A ideia de que ele soubesse algo do que Voldemort pretendia, ou melhor, viria a fazer era absurda. Riu antes de falar:
– Se você não quiser me dar um emprego... – disse ele, encarando o velho com tamanha raiva que se não se controlasse...
– Claro que não quero – a cólera de fúria ia subindo de seu pescoço até seus ouvidos. Cada nova palavra do diretor o fazia ter vontade de atacá-lo. A recusa parecia ser dita cada vez mais alta. – E não acho nem por um minuto que você esperava outra resposta. Contudo, você veio e pediu, logo deve ter uma razão.
Levanto-se, empurrando a cadeira para trás. O rosto branco ficando vermelho de raiva ante a resposta.
– Esta é a sua resposta definitiva? – desafiou-o com o olhar. Não seria qualquer um que lhe negaria algo.
– É – respondeu, levantando-se também da cadeira.
– Então não temos mais nada a conversar – disse, pronto para sair dali.
– Não, nada. – então, a face do velho veio invadida pela tristeza. Como era fraco. – Já se foi o tempo em que eu podia assustá-lo com um guarda-roupa em chamas e forçá-lo a compensar os seus crimes. Mas quem me dera poder, Tom... quem me dera poder.
Num esgar de mais raiva concentrada, Voldemort levou a mão ao bolso. Dumbledore estava desafiando-o novamente, esperando vencer novamente como quando ordenou a Riddle que devolvesse certos objetos roubados no orfanato. Estaria ameaçando-o? Isso é que não. Entretanto, se o amaldiçoasse ali, não poderia esconder o diadema.
Virou-se raivosamente, abriu a porta e bateu-a. Como o velho ousou a recusá-lo no emprego? Como sabia tanto? Como sabia o nome dos Comensais? O caso é que essa recusa mudava tudo, como obteria a espada que, por acaso, não encontrou-a no gabinete do diretor? Teria que, antes de tudo, esconder o diadema de Ravenclaw na Sala Precisa. Depois é que teria de pensar em tudo que faria para reverter esta situação. Quando a gárgula abriu, viu de longe a Dama Cinzenta e se afastou rapidamente. Não queria papo agora. Chegou a grande escadaria e as escadas o levaram diretamente ao sétimo andar. O corredor estava deserto, assim como toda a escola, e logo encontrou a tapeçaria do Barnabás ensinando balé aos trasgos e levando porretada destes. Mentalizando o quanto precisava da sala em que se escondia tudo, fechou os olhos e depois ouviu uma estranha rachadura e abriu os olhos. Uma porta havia se materializado e entrou por ela.
A enorme catedral por onde uma vez esteve parecia mais cheia do que antes. Estantes e mais estantes cheias de objetos eram ladeadas por diversas coisas. Livros, roupas, objetos de prata e ouro, o escudo em que três alunos viram o basilisco, machados e armas medievais e mais uma porção de caldeirões. Começou a caminhar olhando tudo. Entrou a direita quando viu um enorme trasgo empalhado. Como eram imbecis. Andou mais um pouco através dos vários corredores, virou a esquerda e deu de cara com um armário todo velho e visivelmente estraçalhado. Estava cheio de estranhas bolhas e, quando abriu-o, havia uma gaiola com um esqueleto de algum animal morto não faz muito tempo. Fechou-o. Ali seria um lugar onde não esqueceria, mas não deixaria seu precioso diadema num lugar tão nojento. Dando alguns passos para trás, percebeu uma cabeça de alguma estátua em cima de um caixote, que tomaria como referência caso voltasse para buscar o diadema.
Então, numa pequena mesinha do lado do armário e do caixote, depositou com cuidado o diadema atrás de uma estranha peruca velha. Seria ali que o deixaria. Seria ali sua morada final até que voltasse a buscá-lo. Retornou pelo mesmo caminho em que viera, certificando-se de que não esqueceria, e logo estava novamente no sétimo andar. A porta se fechou, atravessou o corredor, desceu a escadaria e já estava nos jardins. Os portões continuavam abertos e passou por eles. Continuava nevando, mas o frio do gelo não o deixaria com menos raiva do que estava sentindo por Dumbledore. Com um último olhar, virou-se e encarou o castelo que a neve castigava. Após passar os portões, aparatou direto para o Cabeça de Javali. Lá, reuniu-se com os Comensais da Morte e partiram para a casa de Aurum Avery.
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