A casa Sonserina



UM IMPONENTE CASTELO se destacava a luz do luar acima de um enorme penhasco. Naquele momento, Tom Riddle lembrou-se da caverna a beira do conhecido penhasco onde utilizou a magia contra duas crianças.


A beleza era indefinível. Torres com bandeiras tremulavam ao vento e as luzes do castelo banhavam o rosto das crianças. Tom sabia: aquele seria seu lar. As crianças conversavam excitadas e os garotos junto a Riddle retomaram a conversa.


– É, ouvi falar que o Dippet sempre foi meio palerma – dizia Aurum, com os cabelos louros dourados descendo até as pálpebras.


– É claro que é palerma. Onde já se viu um diretor deixar sangues-ruins pisar em sua escola? – concordou o outro de nome Laurêncio. Este tinha os cabelos cor de palha e um rosto triangular, lembrava a cobra com quem Riddle conversara no campo durante as férias.


– Olhem o idiota lá – o outro, chamado Tecnécio com um nariz curvo, apontava para Ogg, que estava saindo do barco, todo desengonçado.


– Muito bem, crianças. Desçam cuidadosamente do barco – gritava Ogg, que parecia estar comandando a situação. Até brigar com uma coisa enorme que o agarrou pelo pé, puxando-o para o lago. Ogg parecia não querer parecer preocupado e até chegou a rir, mas a coisa estava começando a ficar séria, até Ogg demonstrar que não era tão trasgo assim, pois conjurou um feitiço (Relaxo!) que atingiu os tentáculos, fazendo-os largarem Ogg na mesma hora.


Os alunos desceram dos barcos, olhando cuidadosamente para o chão, e começaram uma caminhada por um longo trecho escuro e enlameada, até chegar a uma enorme escada à sua frente, que parecia levar ao pátio de entrada. Começaram a subir e, à medida que subiam, tochas automaticamente iam acendendo sozinhas. Terminaram a subida e logo estavam em um enorme pátio de pedra, de frente a duas grandes portas de carvalho. Ogg passou e abriu a porta, que numa rangida mostrou o que havia por trás dela, que era pedra e mais pedra. O chão, teto e paredes eram de pedra e, quando os alunos passaram, mais tochas acendiam. Havia vários quadros nas paredes e alguns, Riddle notou, se mexiam e falavam entre si. Algo meio branco e transparente passou rápido por eles e desapareceu numa parede oposta. Tom só teve tempo de perceber que devia ser um fantasma, ao que parecia coberto de sangue prateado na roupa. Eles subiram por mais um pequeno lance de escadas até onde estava um homem. Seu nome era Apolíneo Pringle, que parecia o zelador da escola, pelo modo que estava ancorado numa das dezenas de estátuas presentes na escola. Riddle leu o nome em um crachá nas vestes.


– Alunos do primeiro ano – ao que parecia, ele iria começar um discurso –, mais um ano em Hogwarts vai começar e esse ano é qualquer um para todos os já presentes no Salão Principal – por cima dos ombros, ele apontou o dedo enrugado para a porta atrás dele.


           “Como bem sabem, ficarão o ano letivo todo aqui na escola e poderão visitar suas famílias nas férias natalinas e pascoalinas. Vocês serão selecionados para uma das quatro casas presentes na escola. Cada casa tem suas características próprias do seu fundador, que foram os bruxos mais poderosos de suas épocas. As casas são Grifinória, em homenagem a Godric Gryffindor, Sonserina, de Salazar Slytherin, Lufa-Lufa, vinda de Helga Hufflepuff e Corvinal, cuja fundadora foi Rowena Ravenclaw – alguns alunos acenavam a cabeça e cochichavam uns com os outros. Pelo jeito, sabiam perfeitamente do que o zelador estava falando. – Vocês verão aulas com alunos de sua casa e de outra. No tempo livre, terão liberdade de andar pelo castelo e arredores, à exceção da Floresta Proibida, a menos que não queiram viver. Dormirão no salão comunal da casa correspondente.


“Os monitores darão constantemente informações que os professores ou, por ventura, o diretor, deram a eles, sendo importante para a manutenção da escola. Além disso, vocês não podem rabis...


– Quanta enrolação – cochichou Laurêncio para Tecnécio e Aurum, que concordaram com a cabeça.


“ ... car paredes e danificar propriedades que pertencem a escola. Se fi...


– Quem vai querer roubar essas porcarias daqui? – debochou Tecnécio, olhando para as estátuas enferrujadas.


“ ... zeram mal caso dos funcionários, professores e até mesmo do diretor, seus pais serão avisados e poderão ganhar detenções. As detenções consistem em...


– ... “ficar trancado comigo me ouvindo tagarelar?” – completou Aurum, e logo os três começaram a rir.


“ ... castigos que serão impostos a vocês. Todo final do ano termina com a entrega da Taça das Casas. Essa é uma competição desde a época dos fundadores e se baseia em que a casa vencedora será a que tiver mais pontos no final do ano. Vocês logo serão selecionados. Alguma pergunta? ”


Os alunos começaram a balançar negativamente a cabeça, mas Riddle, encantado com tudo aquilo, levantou a mão.


– Sim, senhor...?


– Riddle. Como se ganham pontos para a casa? – era importante ele ganhar a Taça. Competição era seu forte.


– Bem, senhor Riddle, é bem complicado – começou o homem, sem saber por onde começar. Então tentou. – Vou dar uma base a vocês, mas os monitores darão mais informações depois. Cada aluno pode ganhar pontos para a casa participando das aulas, ganhando jogos e por aí. Perderão com o que fizerem que contradiga o regulamente escolar, ou seja, tudo que falei aqui na frente – alguns alunos agora começavam a saber do que ele estava falando. O tal Aurum começou a revirar os olhos para o teto e mexer a boca que nem um abobado. – Danificar a escola, tratar mal outras pessoas, ganhar detenções. É isso. Certo?


– Sim, obrigado, senhor.


– Muito bem – Apolíneo olhou um estranho relógio no pulso, tão grande quanto um de parede, e disse:


– É chegada a hora.


Então, abriu as postas e um longo salão estava por trás delas. Havia várias velas flutuando no ar acima deles e o teto parecia o espaço, com várias estrelas e nebulosas. Centenas de alunos estavam sentadas em quatro longas mesas dispostas lado a lado e no fundo havia uma com pessoas mais velhas, que Riddle deduziu ser os professores. Provavelmente encontraria o professor Dumbledore sentada nela, e lá estava. Os cabelos e barba acaju com um óculos, formato de meia lua. Usava um terno comprido roxo com estrelas douradas e estava sentado conversando com um homem no centro da mesa, que devia ser o diretor, que era franzino e quase careca.


Os alunos, após percorrerem o salão sob olhares de curiosos, pararam até onde estava a mesa dos professores. Havia um banquinho de três pernas a sua frente. Riddle achou que deveriam flutuar o banco, ou quem sabe tocar fogo nele. O bruxo franzino se levantou e o salão se calou.


– Mais um ano começa, meus alunos – ele começou a andar pelos lados e olhava atentamente para todo o salão. Ou pelo menos assim parecia – e aqui estamos. Para os novatos, sejam bem vindos a Hogwarts. Para os veteranos, mais um bom ano de estudos. Nosso zelador, senhor Pringle, já lhes deu algumas informações, creio eu? – ele se dirigiu aos novatos do grupo de Riddle e nenhum parecia querer responder. Seria medo? Mas aquela palavra Tom desconhecia aquela palavra. E respondeu, em alto e bom som:


– Sim, senhor.


O diretor olhou para Tom e sorriu. Este retribuiu o sorriso.


– Muito bem. Para os que não sabem, sou Armando Dippet, o diretor. Deixem-me apresentá-los aos seus professores. Alguns novos e outros velhos, se é que me entendem – ele acabara de fazer um trocadilho. A mensagem não era para os veteranos, mas para os novatos, que olharam um homem esborrachado na mesa, parecia velhíssimo, aos pedaços.


– Este – e ele logo apontou para ele – é o seu professor de Trato das Criaturas Mágicas, professor Kettleburn.


Os alunos bateram palmas e o professor apenas acenou com a mão, ainda atirado de cara na mesa.


– E aqui nosso professor de Herbologia, professor Merchand – um homem alto de cabelos grisalhos se levantou e sorriu para os alunos. Ele tinha o rosto deformado, ao que parecia, com uma queimadura. – E nosso mestre das Poções, professor Slughorn, diretor da Sonserina – um homem barrigudo, quase careca, se levantou com uma caneca na mão e deu olá aos novatos. – Professora Burbage, que ensina Estudo dos Trouxas, diretora da Lufa– Lufa – uma senhora se levantou e tirou o chapéu para os aplausos.   


            “Nosso professor de Runas Antigas, Dagworth – um homem que parecia carrancudo apenas olhou para os novatos, que não se atreveram a aplaudir nem que fossem pagos para isso. – O mestre da Aritmancia, professor Longen – um homem de poucos cabelos, mas ao que parecia cativo, se levantou e sorriu. Riddle notou um furinho no seu queixo.


            “Aqui temos o excelente proficiente em feitiços, professor Ózon, diretor da Corvinal – um homem com uma estranha coloração azul levantou o braço, talvez fosse reflexo das bandeiras tremeluzentes atrás dele. – E aqui a diretora da Grifinória, professora Merrythought, que leciona Defesa contra as Artes das Trevas – uma mulher velha levantou-se e descreveu um arco com o braço, dando recepções a todos.


            “Já o professor de História da Magia, professor Binns, está nos seus aposentos. Não está se sentindo muito bem e eu diria que está descansando – então ele riu, junto com os veteranos no salão e alguns professores. Os novatos não entenderam nada. Não tinha graça em rir de alguém que podia estar passando mal. – O professor Plut, de Astronomia – apareceu um homem todo de terno estrelado.


“E nosso querido professor de Transformações, professor Dumbledore – Agora houve algo a mais. Os alunos veteranos bateram palmas com mais intensidade do que o normal e Alvo Dumbledore apenas se levantou e ergueu os braços, como se estivesse abraçando todos. Nisso, olhou para Tom Riddle e sorriu. Riddle retribuiu o sorriso.


– Agora, vamos começar. Ogg, traga-o.”


O guarda-caça veio com um chapéu escuro e longo, mas todo remendado e sujo. Colocou-o no banquinho e todos se calaram. O chapéu começou a se contorcer até formar uma pequena abertura em sua base, parecendo uma boca. Por incrível que pareça, era uma boca, que logo começou a cantar:


 


Tudo começou quase 1000 anos atrás;


Nem nascido você era, talvez nem seus ancestrais;


Fui mandado a cada ano uma nova canção compor;


Coragem e ousadia eram bem vindas a Gryffindor;


Aqueles de sua casa viriam sem ter dor;


Duelista para sempre, não fugia de brigas;


Lívicas derrotou num duelo arcadista;


Sua espada remanescente;


Brilhando ao luar;


A lâmina afiada;


Absorve sem pensar;


Já Slytherin, era o que falava: astúcia e nobreza;


Para aqueles de sangue puro que provinham da realeza;


Competidores obsessivos, não conhecem a derrota;


Não voltam atrás, continuam na mesma rota;


O medalhão que dava a astúcia;


Nos mais enfadonhos planos;


Pois mesmo num feitiço forte;


Refletia através dos anos;


E a linda Ravenclaw com suas longas pestanas;


Inteligência é o que não falta dentro de suas entranhas;


Remoendo de felicidade com uma bela família;


Até morrer de desgraça, não se sabe o que tinha;


Seu diadema perdido;


Há séculos procurado;


Talvez tenha sido destruído;


Talvez tenha se acabado;


Lealdade e destreza, dizia Hufflepuff;


Amizade para sempre e nunca a covardia;


Para aqueles restantes e de bom coração;


Poderão entrar por perto do porão;


A taça do metal 79;


Brilhante à luz solar;


Imaginação crescente e fértil;


Até a hora de tudo desvendar;


E agora? Perguntaram os fundadores;


Como será a repartição?


Escolhidos a dedos poderia dar meleca;


E se a casa escolhida não fosse a correta?


Mas então, eis que surge de uma cabeça;


O chapéu que agora vos fala;


Tirado de longos cabelos;


Enfeitiçado e dotado de fala;


Disse-me: selecione e ajude sempre que possível;


Deu-me uma relíquia, a qual guardo no impossível;


O castelo parecia imbatível;


Era uma relação de total harmonia;


Mas chegou uma hora de briga e confusão;


Até a hora da iminente separação;


Não se sabe o porquê da tal discussão;


Mas agora chega de conversa,


Vamos logo à nossa seleção.


 


Os alunos se levantaram a prorromperam em aplausos ao chapéu, que deu uma leve reverência. O diretor Dippet então recomeçou a fala:


– Alunos, este é o Chapéu Seletor – ele se dirigia aos alunos novos. – O professor Ózon irá chamá-los, um por um. Vocês deverão vir até o banquinho, o professor colocará o chapéu em sua cabeça e será designado para sua casa. Professor...


O Professor Ózon recolheu o pergaminho das mãos do diretor e o desenrolou. Chamou o primeiro nome:


– Avery, Aurum.


O garoto que estava com Tom no barco andou até o banquinho e sentou. Ele refletia uma estranha aura dourada. O chapéu foi para sua cabeça e logo gritou:


– Sonserina!


Os alunos da mesa mais ao extremo bateram palmas e Aurum Avery foi se juntar a eles.


Mais alunos foram sendo chamados: Brodehj, Diruc, Fellington, Flimiopz, Ginwadlob e Hokirk foram para a Corvinal. Bherrons, Cellinger, Dupli, Hythrium e Jklonso foram para a Lufa-Lufa. Cadmium, Dérmoclo, Eufrátodo, Frrasco, Izias e Kalioka para a Grifinória. Os sonserinos foram, além de Avery, Bludger, Corla, Desmos, Frungoli e Holodum. Mas ainda havia gente a ser selecionada.


 – Lestrange, Laurêncio.


O outro garoto, de rosto triangular e olhos cinzas, se adiantou e teve a cabeça coberta pelo chapéu, que gritou:


– Sonserina


– Nott, Natrium.


– Sonserina


– Mulciber, Mendell.


– Sonserina.


– Toposde, Orus.


– Lufa-Lufa


– Wellington, Pliningrer.


– Grifinória.


– Riddle, Tom.


Agora era a hora, para qual casa Tom iria? Iria para a casa da coragem e ousadia? Astúcia e Realeza? Inteligência? Lealdade? A cor verde da Sonserina o atraía quando se sentou no banquinho, que imediatamente, quase tem tocar na cabeça do garoto, gritou:


– Com certeza que... SONSERINA!


Os alunos sonserinos bateram palmas, inclusive Laurêncio Lestrange e Aurum Avery. Sentou-se do lado de Aurum e na frente de Laurêncio e logo começaram a conversar e observar o resto da seleção.


– Que bom, cara. Achamos que não era dos nossos – falou Aurum, dando um tapinha em suas costas.


– Dos seus o quê? – perguntou Riddle, num tom estranhamente educado encarando o garoto.


– Da Sonserina. Achamos que você fosse meio trouxa, sabe – respondeu Laurêncio esperando uma resposta ofensiva.


– Quê? Sou trouxa coisa nenhuma, meu pai era bruxo – desafiou Riddle, orgulhoso de ter repetido o fato do pai ser bruxo.


– Nós sabemos – recomeçou Laurêncio, quase que num pedido de desculpas –, caso contrário não estaria na Sonserina.


– Quigol, Elena.


– Corvinal!


– Então, a Sonserina é a melhor casa, não é? – perguntou Natrium Nott, que começou a participar da conversa ao lado de Laurêncio. Ao que parecia, estava prestando atenção em tudo e em todos.


– Claro, só os melhores ficam nela. A Lufa-Lufa só tem panacas, a Corvinal só CDF’s e a Grifinória só abriga sangues-ruins – explicou Laurêncio.


– Rtym, Dora


– Lufa-Lufa!


– Aí uma babaca.


– Rorfes, Glacio.


– Grifinória!


– Esse deve ser trouxa.


– Travers, Tecnécio.


– Sonserina!


Tecnécio Travers foi se sentar ao lado de Tom e na frente de Laurêncio e Natrium.


Cumprimentou os quatro.


– E aí, então você é dos nossos – disse Nott para Tecnécio, balançando a cabeça afirmativamente.


– Sou. E que bom que você também é dos nossos, Tom – afirmou Tecnécio para o garoto.


Tom começou a gostar disso, mas queria algo a mais, queria ser o centro das atenções.


– Xarfi, Mariola.


– Lufa-Lufa!


E, por fim:


– Zaslono, Arsênio.


– Lufa– Lufa!


Finalmente, a seleção acabou e Ogg levou o banquinho com o chapéu para fora do Salão Principal. Com todos os alunos sentados, Armando Dippet ordenou:


– Podem comer.


Riddle olhou para os pratos vazios que não eram mais vazios. Na mesma hora, comida e mais comida de todos os tipos e cores e tamanhos e formas diferentes se materializou diante de seus olhos e comeu de tudo um pouco. Aquilo era, sem dúvida, a melhor refeição que já tivera. Aquela noite com certeza viria a ser a melhor de sua vida e daquele dia em diante, sua vida seria outra. Após meia hora de pessoas conversando e o tinir dos talheres, após todo mundo estar empanturrado, as sobras desapareceram e tudo se limpou. O diretor se levantou e retomou a conversa:


– Alunos novos, por favor, queiram se dirigir a seu respectivo salão comunal – o diretor apontou para que eles fosse andando. – Os monitores irão orientá-los. Boa noite a todos e uma boa semana de início de aulas.


Os alunos se dispersaram e os novatos ficaram esperando e olhando para os lados, tentando encontrar o monitor. Logo ele apareceu, dava-se para distinguir uma insígnia de prata com a letra M em suas vestes. Ele era alto e aparentava ter 15 anos ou mais.


– Alunos do primeiro ano, sigam-me. E sem gracinhas – acrescentou, ferozmente olhando por cima do ombro.


Tom, Aurum, Laurêncio, Tecnécio e Natrium, junto com mais alguns colegas sonserinos, começaram a seguir o monitor. Passaram pelas mesas e chegaram à entrada do castelo. Outros alunos, como os da Grifinória e Corvinal, subiram as enormes escadas que Riddle agora percebeu que se moviam, enquanto os da Lufa-Lufa desceram por outra escada paralela, mas distante.


– Por aqui ficam as masmorras – o monitor apontou para uma escura escada por onde iriam descer. Onde estavam era escuro, mas tochas nas paredes começaram a iluminar o lugar à medida que avançavam – Ali é a sala de Poções e ali adiante – ele apontou para uma porta a uns dois metros da sala de Poções – é a sala do diretor da nossa casa e professor de Poções, Horácio Slughorn.


 Eles chegaram a um extenso salão de pedra negra com vários corredores. O monitor apontou para uma passagem e chegaram por ela, até parar diante de uma parede. Será que teriam de atravessá-la?


– Vocês captaram bem o caminho? – perguntou, olhando para os lados certificando-se de que não havia ninguém.


Os garotos disseram que sim.


O monitor se aproximou da parede de pedra, como se fosse atravessá-la de qualquer jeito, e disse:


Ofidioglossia.


Riddle iria perguntar o que aquilo significava, mas na mesma hora calou-se. A parede de pedra começou a se distorcer e girar até um portal se formar. O monitor passou por ele e os alunos o seguiram. Logo, durante aquele pequeno trecho de um túnel, Riddle sabia que estava indo para “o seu quarto”, já que a escola seria sua nova casa. Porém, era mais do que um quarto. Poderia ser uma casa inteira quando viu por inteiro o salão comunal da Sonserina. Riddle gostou tanto. Por quê? O salão comunal era de pedra e lembrava uma caverna, logo a caverna onde havia ido com duas crianças. Provavelmente era a mais bela sala comunal do castelo. As paredes negras entravam em contraste com algo verde, que Riddle achou ser água, que deslizava por trás das janelas. Até mesmo o chão era negro-esverdeado, logo a cor que Tom mais gostava.


– Nossa, bem que meu pai falou. Aqui é lindo – disse Tecnécio, revirando os olhos para o teto.


– É mesmo – concordou Aurum. – Que acha, Tom, Laurêncio, Natrium? Vamos explorar?


– Com certeza – disseram, juntos.


– Esperam aí – alertou o monitor. – Tenho que passar a vocês as próximas senhas e os horários das aulas. Tomem – e entregou um pedaço de um pergaminho esverdeado a cada um.


– Espera aí – Tom havia se esquecido de algo –, onde estão minhas coisas? Meu malão com meus pertences?


– É verdade – gritou Aurum, apalpando os bolsos das vestes esperando encontrar o malão ali –, esqueci minhas coisas no trem!


Nisso, outros alunos do primeiro ano começaram a se revoltar com si mesmos por terem esquecido suas coisas.


– Calados – gritou o monitor com raiva. – Suas coisas já foram levadas aos seus dormitórios.


Os garotos sossegaram e foram se sentar às fofas poltronas defrontes a uma confortante lareira. O fogo crepitava e suas chamas dançavam. Até uma delas engolir um aluno que gritou:


– SOCOOOOORRO!


O restando dos colegas sonserinos iam chegando agora. Viram um rebuliço onde estava a lareira e só riram. O garoto que gritara gritou à toa. Um dos fantasmas passou pela lareira, produzindo o vento que arrastou uma das chamas até o garoto, fazendo-o rolar inutilmente no chão achando que estava em chamas.


– Este é o Barão Sangrento – apresentou o monitor mostrando o braço pelo qual o fantasma se destacou na luz. O que era estranho de ver, pois já era transparente.


O fantasma era magro e tinha um bigode. Havia longos respingos de sangue prateado em suas vestes. Riddle percebeu que arrastava uma pesada corrente, fazendo o conhecido barulho de metal batendoem metal. Logoele saiu, deslizando suavemente.


– De quem é aquele sangue? Dele? – perguntou Nott, curioso, apontando para o peito do fantasma.


– Essa pergunta todo novato faz – respondeu o monitor imaginando o que de fato teria acontecido, mas inutilmente. – Ninguém sabe, nem mesmo Slughorn.         


Era algo que Riddle descobriria, mas agora não era o momento. Resolveu conversar, sentando de volta à fofa e confortável poltrona, sobre os fundadores. Fingiu que sabia algo para começar a conversa.


– Então, o que vocês acham sobre a fundadora da Lufa-Lufa? Devia ser panaca também, não? – perguntou um garoto chamado Mendell.


– Soube que ela era gorda, a tal Hufflepuff – e Riddle riu, uma risada fria e cortante que não combinava com sua aparência. Todos, na mesma hora, olharam para ele. Alguns assustados, outros admirados. Riddle gostou. O momento em que todos o observaram, seja por medo ou respeito, foi o melhor de sua estada. Tecnécio resolveu quebrar a tensão:


– Sim, era uma gorda inútil. Devia se transformar em morsa quando quisesse – disse ele maldosamente.


– Mas ela não era um animago, era uma metamorfomaga – cortou o monitor, tentando parecer mais esperto do que os outros.


– Sabemos disso, Rabtidoide – era o nome do monitor. Agora era um garoto do sétimo ano que falava. Este tinha costeletas negras e era monitor-chefe. Seu nome era Ytrio Yaxley. – ele quis dizer pela aparência dela, de trocar seu corpo. Acho que era mais um elefante.


Os garotos riram mais ainda.


– Ah, como gostaria de ter conhecido o Salazar – dizia uma garota sonhadora num dos sofás.


– Ele foi incrível. Foi ele quem inventou o termo “sangue-ruim”. Ninguém mais pensaria nisso, é incrível. Faz todo sentido – concordou Natrium feliz com a conversa com os mais velhos.


– E por que a Lufa-Lufa tem como animal um texugo? – perguntou do nada um aluno do segundo ano.


– Dizem que os texugos são leais à família, Rosier, algo assim – explicou o monitor Rabtidoide.


– As águias são inteligentes e os leões corajosos. Mas não estou dizendo nada sobre os outros – acrescentou o monitor da Sonserina de costeletas negras.


– E a cobra da nossa casa é porque Slytherin era conhecido como língua-de-cobra, já que falava com elas – concluiu o monitor, imaginando se teria errado algo quando falou isso.


– Eu também falo – exclamou Riddle, de repente, e todos olharam para ele, sendo que alguns esconderam risinhos enquanto outros riram abertamente na sua cara – O quê? Isso é ruim, por acaso? – começou a ficar vermelho: nunca era um bom sinal.


– Tom, Tom...é Tom, certo? – começou o monitor, Rabtidoide, indo de encontro a ele e envolvendo-o com o braço.


– Isso – disse, desafiando. E logo desvencilhou-se do monitor, irritado.


– Sabemos que você tem mérito por estar na Sonserina – começou ele. – Mas falar com cobras? Dos bruxos famosos conhecidos, e não só os famosos, sabe-se que só Slytherin foi ofidioglota – informou.


– Talvez eu seja o próximo – vociferou Riddle, e agora ninguém mais riu visto a intensidade do vermelho em seu rosto.


– Tá bom, Tom. Prove.


– Traga-me uma cobra, provarei agora mesmo – e Riddle tirou a varinha do bolso, sem saber o porquê. Aurum, Laurêncio, Natrium e Tecnécio observavam, perplexos, a cena entre Riddle e o monitor.


O monitor olhou para os lados e gritou:


– Black! Black! Venha aqui.


– Como é? – gritou uma garota no fim do corredor que parecia muito atarefada já com o início das aulas.


– Por favor – disse tediosamente.


A garota, que Riddle achava que estava no último ano com um reluzente distintivo, veio e logo perguntou:


– O quê? – parecia que não estava a fim de conversa.


– Conjure uma cobra aqui pra gente, Dorea – mandou Rabtidoide, apontando para o chão.


– Como é que é? – perguntou a tal Black, com um ar de quem queria encrenca com o monitor da própria casa.


– Vamos, você não consegue? – brincou Rabtidoide, querendo humilhá-la por estar no último ano.


– Ora essa, uma cobra, é? – Black começou a ficar furiosa com o monitor. – Você quer é, então toma essa – gritou ela, apontando a varinha para o sofá furiosamente. – SERPENSORTIA!


E da ponta de sua varinha saiu uma cobra naja, que foi parar em cima de um sofá, onde uma novata gritou e se jogou, com medo de ser mordida. A cobra começou a sibilar furiosamente, dizendo:


O que é isso? Onde estou?


Obviamente ninguém, senão Riddle, entendeu o que a cobra disse, agora batendo o rabo e encarando todos.


– Vai, então, Tom. Fala com ela! – disse o monitor, receoso demais para se aproximar da cobra que os encarava.


– Falar, só falar? Por que não a controlar? – desdenhou Riddle, erguendo a cabeça e encarando-o.


– Vamos ver, então.


E agora, mais alunos vieram e começaram a observar a cobra no sofá e Riddle diante dela, com todos ao redor encarando-o.  Riddle sabia que ia funcionar, já tinha conseguido uma vez:


Olhe para mim.


Sabia que tinha conseguido por três razões: a primeira foi porque a cobra olhou para ele. A segunda porque sentiu um silvo estranho saindo de sua boca e, a mais divertida razão, todos olhavam para ele espantados.


Sssssimmmm... – sibilou a naja.


Erga-se e abra a boca – ordenou. – Mostre as presas para eles – e Riddle acenou a cabeça, apontando para onde estava a massa de alunos observando. Na mesma hora, Rabtidoide viu que não era nada bom o que quer que Riddle tivesse dito, pois a cobra virou-se para eles, se ergueu e mostrou as presas sibilando furiosamente e sacudindo o enorme rabo.


Sssssssssss... – ela sibilou para os alunos, sendo que alguns saíram correndo apavorados.


Venha até mim e suba no meu ombro. Agora! – acrescentou, vendo o olhar da cobra.


A cobra foi deslizando pelo chão, se enrolou na perna de Riddle e começou a subir, até ficar em seu ombro.


– E agora, acreditam em mim? – perguntou, sabendo que iriam admirá-lo agora pela demonstração. – Pode ir agora – ele sibilou baixinho para a cobra, que se desenrolou e saiu, rastejando pela pedra até uma janela.


Riddle apenas ficou encarando as dezenas de rostos.


– Tom – começou o monitor assustado e suado. – você é um autêntico Sonserina. É ou não é, galera?


Dezenas de vozes concordaram. Muitos dos alunos mais velhos vieram cumprimentar Tom, que agora guardava a varinhas nas vestes, para bajulá-lo, coisa que adorava. As garotas vieram ao seu encontro e pediram para falar mais daquela adorável língua. Alguns trouxeram livros descrevendo um pouco da biografia de Salazar Slytherin e Tom, na mesma hora, leu todos. Ele era conhecido por sua astúcia e havia criado vários feitiços. Então, Tom era, de fato, um ofidioglota. E era um dom muito raro, somente Slytherin era um conhecido bruxo ofidioglota e que, por acaso, tinha fundado a escola onde estava e era o fundador de sua casa, Sonserina. Pelo que leu, Slytherin foi um dos quatro mais poderosos bruxos não só da época em que viveu, mas do mundo inteiro até os dias atuais. Estavam os quatro fundadores e Merlin na lista. Saber que tinha o mesmo dom que um famoso bruxo instigou Tom Riddle ainda mais a saber sobre sua descendência, mas primeiro tinha que saber mais sobre seu pai. No dia seguinte procuraria, como informou Rabtidoide, sobre os prêmios da escola. Com certeza, seu pai teria um e lá veria seu nome.


A partir daquela noite, da primeira noite der Tom Riddle na escola, os dias foram os melhores da vida de Riddle, pois agora tinha amigos que o respeitavam e o seguiam. A partir daquele dia algo, para sempre, iria mudar o mundo bruxo.

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