Ida a escola



OS DIAS PARECIAM mais ensolarados e felizes do que nunca para Tom Servolo Riddle. A descoberta de uma nova identidade o trouxe à tona em seus mais mirabolantes sonhos e devaneios: era um bruxo que, como tal, fazia magia. Então era isso o que fazia quanto algo diferente acontecia ao seu redor que o destacava entre as outras crianças do orfanato. Não que desconhecesse o termo “magia”, mas a probabilidade daquela realidade existir era nula. De suas aulas, todas inúteis a ser ver, aprendera que a feitiçaria havia sido banida da Europa. Para alguns que ensinavam história, isso sequer aconteceu, era só um pretexto para prender, torturar e matar pessoas que pudessem vir a ser inimigas da Igreja. Será que, após tanto tempo, se realmente já existiu, o pai de Tom Riddle, o velho chamado Dumbledore e juntamente com o próprio Tom foram os primeiros a aparecer. Seriam os primeiros bruxos a aparecer depois de séculos de repressão até, por fim, a completa extinção? A ideia o agradava. Certamente era importante o suficiente, se não todo, a ganhar aquele prestígio. Passaram-se 10 dias depois da fatídica visita ao orfanato e Tom, agora, acordava ansioso. Sabia que hoje era a véspera de ir estudar magia e talvez, se não fosse apenas ele, o que achava improvável, encontrar outros bruxos de sua idade. Não lhe agradava ter amigos mesmo que fossem como ele, mas se fosse necessário para, como disse o velho, controlar ainda mais sua magia, faria de tudo. Talvez, a ideia era vaga, até se relacionasse verdadeiramente com alguém, algum professor, que sempre o respeitaria. Seria importante logo arrumar servos que o seguisse e o reverenciasse. Talvez precisasse disso para ganhar destaque, que era a segunda coisa que mais queria fazer. A primeira era saber mais de seu pai, que também era como ele, e saber seu paradeiro, gostaria de encontrá-lo. Iria procurá-lo mundo afora, isso se não o encontrasse na escola mesmo, como professor ou, melhor ainda, diretor. Lembrou-se de Dumbledore dizendo sobre “sua escola”, mas duvidou disso. Surpreendera-se com o que fizera, o que era muito incomum. Raramente prestava atenção em alguém por suas habilidades. Mas tinha que admitir, ele tinha estilo.


Levantou-se da cama e olhou através da janela, no mesmo ponto onde viu Dumbledore e reparava em suas estranhas vestes pela primeira vez. Pensando agora, como aquilo era comum. Todo bruxo era descrito usando longas roupas arrastando-as pelo chão. Como é que não pensou nisso antes? Como não havia percebido algo tão óbvio? Ele realmente não estava nos seus melhores dias, pensou, caso contrário, saberia na hora. Foi até o guarda-roupa e tirou a pesada sacola contendo estranhas moedas: de ouro, prata e bronze. Se vestiu, calçou os sapatos, pegou a sacola com os papéis, saiu do quarto e desceu as escadas.


As crianças todas estavam ainda dormindo. Tom só viu algumas cozinheiras e, como sempre, a Sra. Cole berrando aos quatro cantos. Não entendia como aguentou aquela mulher durante toda a sua vida. Lembrou-se, agora, de Erico Whalley, o garoto que Tom devolvera um brinquedo, tinha sarado repentinamente de sua catapora. Pensando melhor, talvez Dumbledore tivesse alguma coisa a ver com isso. Pra que então, se perguntou, a Sra. Cole continuava histérica? Não era bom ele estar bem? Mas parecia que o problema era outro:


– Meu Deus, o que eu fiz? – ela estava apavorada. – Por que eu voltei a fazer isso? Há 10 anos que parei...


Então, a Sra. Cole tinha voltado a fazer isso? Sabia (assim como todos do orfanato) que a Sra. cole tinha sido alcoólatra e que tinha parado, mas há 10 dias a velha senhora não parava de beber gim. O que era engraçado e conveniente, pois se tornava mais suscetível a pedidos do que o normal.


– Tom, o que é que você está fazendo aí? – perguntou, com profundas olheiras e o cabelo bagunçado.


Agora era a hora de uma boa inventada. Sabia que não o deixaria sair a essa hora da manhã.


Primeiro porque era muito cedo. Segundo porque as crianças logo teriam aula de manhã e terceiro porque a Sra. Cole não o deixara sair desde aquele dia em que voltou de tarde da noite.


– Sra. Cole, tenho que comprar material para a escola, amanhã – disse Tom, esperando a recusa.


– Ah, querido, agora não. Talvez só depois do almoço – respondeu, mas logo acrescentou – e acompanhado.


Odiava a palavra “talvez” pela boca dos outros. Mas tinha algo na cartola. E não era um coelho.
– Tudo bem então – suspirou ele, virando as costas, dando pequenos passos e falando bem alto. – então terei que pedir mais dinheiro depois, pois as lojas que vendem esse material só abrem de manhã e terei que pedir para abrirem. Você me dá mais dinheiro? – disse, estendendo a mão. Essa fora a mentira mais deslavada que já inventara, mas sabia que funcionaria.


– Ahhh, bem... dinheiro, é, mais...? – constrangeu-se ela. – É melhor você ir agora mesmo, vá querido.


Sabia que ia conseguir. Quando se tratava de dinheiro, mais contas a pagar deixariam a Sra. Cole mais louca ainda.


– Juarez, deixe-o sair.


E agora, Tom estava livre.


Consultando a folha com a descrição de como ir ao tal do Caldeirão Furado, teria que pegar o metrô. As poucas pessoas na rua pareciam sonâmbulas. Andavam com os olhos semicerrados e praticamente se arrastavam. Parecia haver alguma força invisível que não as deixava cair. Poderia parecer mágica, mas aquelas pessoas eram comuns. Mas não Tom Riddle, o único bruxo das redondezas. O trem subterrâneo estaria vazio se não fossem as poucas moscas voando pelo vagão, deixando o tempo do garoto mais divertindo fazendo-as voarem com rapidez e baterem com extrema força nos vidros, matando-as quase na hora.


Descendo na quarta estação, localizou na rua a placa: Charing Cross. Sabia que tinha ido ao lugar certo. Começou a caminhar rapidamente e notou algo engraçado na folha em sua mão. Havia uma seta apontando para o norte, indicando onde ele estava com seu nome. Não gostou nada de perceber que Dumbledore o achava incapaz de achar um lugar sozinho. Afinal, ele era um bruxo. Guardou a folha e seguiu em diante, sempre ao norte. Passou quase uma hora caminhando e chegou ao fim da rua. Não achou graça alguma ao ver que tinha sido enganado. Desdobrando o pergaminho, constatou que a seta apontava agora para o sul. Como seria possível? Olhou desesperado para os lados esperando ver o bar com grandes e luminosos letreiros e nada. Lembrou-se do que Dumbledore havia dito: “Você o verá, embora à sua volta os trouxas, as pessoas que não são bruxas, não o vejam”. Tom temia o que aquela frase pudesse significar e só havia uma resposta. Se ele não viu o bar, então... não, pensou. Ele sabia que não era uma pessoa comum, sabia que o homem não estava mentindo, viu em seus olhos. Será que o velho o enganou? Ah, se fosse verdade, ele iria pagar. Fez um trouxa cair às suas costas tamanha a sua fúria. Voltando por onde veio, começou a olhar mais atentamente os enormes prédios. Poderia derrubá-los se quisesse. Olhando agora o pergaminho, viu que a seta apontava para o leste e Tom Riddle se virou. Viu o que lembrou uma pensão encardida se destacando agora. Leu na tabuleta: Caldeirão Furado. Realmente, pensou, somente vendo com muita atenção alguém veria o bar. Caminhou até sua porta e entrou.


O bar estava repleto de gente de vestes iguais às de Dumbledore, mas não tão elegantes. O lugar era escuro e iluminado por 30 ou 40 velas estrategicamente posicionadas. Havia uma longa mesa no centro e várias cadeiras. Viu uma mulher cheia de esfregões nos braços resmungando algo que parecia ser sobre um trasgo no quarto 18. Ela subiu rapidamente e logo ouviram um poderoso urro dos quartos acima. Veio então um homem dizendo no escuro:


– Precisa dar a ele uma poção calmante... – e logo de destacou à luz das velas. Tom reparou que era corcunda e tinha a metade dos dentes de uma pessoa normal, ainda por cima amarelados. Como é que aquilo pudesse ser bruxo?


– Bom dia, meu jovem. O que deseja? – então sorriu. Ele não tinha apenas a metade dos dentes, devia ter um quarto.


– Oi. Eu quero saber como ir para o... – mas o homem o interrompeu quando viu a carta que Dumbledore tinha lhe dado.


– Ah, você é o Tom, certo? – perguntou todo animado o corcunda, achando graça na situação.


– Sim, e...


– Muito bem, meu rapaz. O professor Dumbledore disse que você viria, que homem – Tom se irritou pelo modo como cortava suas frases. – E veja, temos o mesmo nome: Tom. Legal, não é? – e deu uma leve batida no cocuruto do garoto. Nisso, colocou as mãos na cabeça como num ato de proteção esperando uma batida vinda do garoto em sua cabeça.


– Não acho – respondeu, cerrando os dentes. Já não bastava ter um nome daqueles e um velho qualquer se vangloriar de ter um igual? Só aguentava porque era o mesmo nome do pai bruxo, senão trocava de nome. – Escute, como vou ao Beco Diagonal? – recomeçou, de olho na carta tentando encontrar algo que ainda não tinha visto.


– Ah, certo – o homem nem ouviu sobre a resposta dada. Devia ser meio surdo também – Venha aqui comigo, Tom.


E eles passaram pelo centro do bar e ao redor da mesa. Um homem lendo um jornal, que Riddle pensou, ou melhor, viu mexer, porque agora tudo era possível, piscou para ele. Virou a cara. Uma porta foi aberta pelo dono do bar e chegaram ao que parecia a porta dos fundos do lugar, exceto que não havia saída para a rua, exceto uma parede à frente.
– Aí está – ele disse, abrindo bem os braços.


O que devia fazer? Escalar o muro? Não, aquilo qualquer um poderia fazer. Talvez demolir o muro usando a magia. Era mais provável mesmo, fazer um teste o qualificaria. Tom se concentrou e olhou para a parede.


– Ah, desculpe – o homem o interrompeu e tirou um parecido graveto com que Dumbledore uma vez queimara seu guarda-roupa. Ele tocou em certos pontos da parede com o graveto e algo aconteceu. Imediatamente, os tijolos ganharam vida e começaram a se locomover do centro para a periferia, formando um grande arco que Riddle não pôde ver atrás. O sol iluminou seu rosto com tal intensidade que fechou momentaneamente os olhos.


– Ah, desculpe. Disseram que iam tirar essa luz. Colocaram-na para quando os novatos entrassem eles não pudessem ver de imediato, só para dar aquele ar de entusiasmo, sabe? Espero que retirem isso logo. Bem, soa sorte, Tom – e deu um tapinha em seu ombro. Tom abriu os olhos e viu.


Uma imensa rua ladeada de lojas ao redor e apinhada de bruxos e bruxas caminhando com estranhos chapéus e segurando as coisas mais estranhas que ele pudesse imaginar. Carregavam enormes baldes de metal, penas enormes com sabe-se lá de que ave. Viu dois bruxos carregando o que pareceu duas vassouras reluzentes brilhando. Pra quê, pensou, uma pessoa, um bruxo, gastaria dinheiro numa vassoura tão bela para depois sujá-la de tanto limpar? As vassouras do orfanato eram tão velhas que Riddle as quebrava sem o menor esforço, fazendo quem estava limpando cair. Mas devia ser algo além, não podiam usar aquilo para limpeza, poderiam usar a magia para isso. Andando um pouco, viu lojas de roupas, utilidades, sorveterias, quadribol (não fazia ideia do que era), animais, livros, pergaminhos. Ficou cinco minutos só para olhar as lojas de longe, então, desdobrou a segunda parte da carta e leu rapidamente do que precisava: alguns livros, uniformes, luvas protetoras, capa para o frio, chapéu, ingredientes para poções, caldeirões, frascos, telescópios, balanças, penas e pergaminhos, tinteiros e, por fim, o que mais queria, cujo nome cientificamente bruxo era: varinha mágica. Leu que os alunos novatos não podiam trazer vassouras. Não entendeu aquele aviso.


Olhou para o lado e resolveu comprar roupas para a escola. Entrou na loja e uma mulher parecia apressada.


– E aquele ali, da Corvinal, precisa de mais três... Sim, rapazinho, o que precisa? – indagou uma mulher.


– Quero vestes de, ahhh... segunda mão. Para Hogwarts – disse Riddle, meio ansioso e envergonhado.


– Certo, de que casa você é mesmo? – questionou ela, como se essa pergunta ele deveria responder no ato.


A pergunta era sem pé nem cabeça. Ele vinha de um orfanato.


– É meu primeiro ano lá.


– Ah, desculpe... certo, certo, Accio vestes – Tom nem viu ela tirar a varinha da roupa e girá-la no ar. Logo, roupas diversas vieram ao seu encontro.


– Suba aqui – ela empurrou um banquinho à sua frente e posicionou-o. – Certo, meçam-no – e apontou a varinha para ele, saindo logo depois para atender outro cliente. Riddle não gostou de ter sido alvo de feitiçaria, nem sequer soube o que aconteceu. Mas logo vieram duas trenas mágicas o cercando e medindo seu tamanho. Após uns 20 segundos, as trenas pararam no ar e a mulher novamente apareceu.


– Certo, vista estas – e entregou umas vestes meio surradas e desbotadas. Riddle notou que eram cinzas, enquanto as novas que uma garota experimentava eram pretas. Mas dane-se, pensou.


– Ficaram boas – apesar de estarem meio velhas, ficaram perfeitas.


– Muito bem, quantas quer?


– Três... e também – ele consultou o pergaminho de Dumbledore mais uma vez – uma capa e um chapéu.


– De que cor a capa?


Riddle pensou, não gostava de nenhuma corem especial. Talvezo preto, igualzinho aos seus cabelos, mas escolheu pelo verde.


– São – e a mulher começou a avaliar as vestes – 21 sicles.


Sicles? O que seriam? As moedas de bronze? Riddle começou rapidamente a contar as moedas de bronze.


– Não, não, querido... são as de prata. Você é nascido trouxa? – perguntou, ansiosa e encorajando-o a responder.


Aquilo o incomodou, não gostava nem um pouco de ser comparado agora a uma simples pessoa.


– Claro que não. Meu pai é bruxo – desafiou, levantando o rosto e, se tivesse um daqueles gravetos, a enfeitiçaria.


Rapidamente, tirou 21 moedas de prata da sacola e deu-as para a mulher, que pelo crachá leu: Malkin.


– Obrigado – e saiu da loja, mas não antes de ouvir um:


– Bons estudos, querido.


Coisa que odiava no orfanato. Como é que estudos seriam bons? Pelo menos lá que tudo era inútil. Mas agora não, seria legal aprender magia melhor. Resolveu entrar nas outras lojas. Entrou numa loja de nome O Boticário e comprou diversos estranhos ingredientes: miolos de iguana, rabo de rato, olhos secos de besouro, aranhas mortas em conserva e tripas de morcego. Também comprou uma balança, frascos, um caldeirão de estanho e luvas de couro de dragão. Será que existiam dragões no mundo bruxo? Claro que sim. Comprou diversos livros das mais variadas matérias na Floreios & Borrões e também um malão de viagem.


              Por fim, faltou o que mais queria: uma varinha. Procurando uma loja que vendesse, leu uma sorveteria intitulada de Sorveteria Fortescue, Artigos de Quadribol (ficou curioso agora) e um enorme edifício com colunas gregas que lhe pareceu. Leu as palavras que de destacavam no mármore: Gringotes e Tom logo percebeu que era um banco, pois várias pessoas entravam e saíam carregadas de bolsas. Leu também, perto de um beco, escrito: Travessa do Tranco, mas não teve curiosidade. Havia lojas com corujas e outras aves se balançando nos poleiros, pensou ter visto até um morcego. Por fim, encontrou-a. Leu: “Olivaras: Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 a.C”. A loja parecia bem velha, mas pudera! Fundada antes de Cristo. Ele entrou e um pequeno sino tilintou acima de sua cabeça. Deixou todas as suas caixas e o malão numa cadeira do lado da porta e se aproximou do balcão. Reparou que havia enormes prateleiras com milhares de caixas finas e compridas. Logo apareceu um homem de olhos bem claros. Não sabia se eram azuis ou cinzas. Seus cabelos quase brancos estavam mal arrumados, cada fio para um lado diferente.


– Bom dia, meu jovem. Meu nome é Olivaras. E o seu? – perguntou, bondosamente estendendo a mão.


– Sou Tom Riddle, senhor – respondeu o garoto. Hesitou, mas apertou a mão enrugada do velho.


– Bem, Tom. Presumo que queira uma varinha, sim? – indagou o velho, felicíssimo por parecer já saber a resposta.


– Sim, senhor – disse, alegre.


– Bem, bem... eu sabia, é claro. Logo vi que você vai entrar em Hogwarts esse ano, com tantas coisas... Adoro vender varinhas, principalmente para quem nunca usou uma. Sabe por quê? – o velho parecia querer ser misterioso. E estava conseguindo, pois Tom perguntou:


– Não, senhor. Por quê? – Riddle fazia de tudo para deixá-lo de bom humor. Era essencial ter uma varinha.


– Vou te contar um segredo – e se aproximou e sussurrou em seu ouvido. – Você não vai escolher sua varinha hoje, senhor Riddle.


– O quê? – gritou ele, se arrumando e pegando a carta no bolso. – Tenho direito, está aqui, veja – disse, apontando para o pergaminho ganho de Dumbledore.


– Aí diz que você precisa de uma varinha, mas não que irá escolher uma – respondeu, sorrindo.


– Escute aqui, senhor – Riddle fazia de tudo para não perder a paciência. E se não pudesse estudar por falta de uma varinha? – Eu tenho dinheiro, tenho aqui... várias moedas de ouro, eu dou tudo que tenho... – e mostrou as moedas. Restavam algumas moedas de ouro e algumas poucas de bronze.


– Sei que vai pagar, alguns galeões apenas custa uma varinha. Mas não é você quem vai escolher uma.


– Mas...


– Esse é o segredo, senhor Riddle – disse, piscando os olhos cinzas em sua frente e falando ainda mais misteriosamente. – Você não vai escolher uma porque é a varinha quem vai te escolher.


Aquilo era brincadeira, só podia ser. Que teria de fazer para o velho parar de gozar de sua cara?


– Agora é sério – recomeçou Tom, seriamente irritado –, amanhã eu vo...


– Tom Riddle, há uma ligação entre varinhas e bruxos que somente os mais sabidos em varinhas conseguem entender. Eu, daqui, Gregorovitch, ao norte, e Mocellan, ao leste, discordam de várias coisas, como, por exemplo, o núcleo de suas varinhas. Eu dou preferência entre três animais mágicos: fênix, dragão e unicórnio.


“Gregorovitch reúne animais perigosíssimos e vivos para suas varinhas, como mantícoras, acromântulas e até mesmo um nundu, sendo que quase morreu ao coletar seu perigosíssimo bafo. Não sei como conseguiu enfrentar aquele animal sozinho. Seu bafo destrói um vilarejo inteiro e não há feitiço que o detém. Mas o caso é que ele está começando a tomar jeito, pois começou a fazer mais varinhas com corda de coração de dragão.


“Já Mocellan, na França, é o mais louco. Fiquei sabendo que fez varinhas com unha de duende, fio de cabelo de veela e, essa me chocou, pedaço de cérebro de Trasgo. Não sei o que o homem tem na cabeça. Sei que trasgos nada têm, são muito burros. Mas estranho mesmo é que tem quem compre suas varinhas.


“Enfim, nós três discordamos de várias coisas, mas só de uma concordamos: a varinha escolhe o bruxo, senhor Riddle. É impossível saber todas as qualidades de uma varinha, mesmo que tenha sido criada por você, mas isso é certo: para cada bruxo, há uma varinha. Não estou dizendo que não poderá usar mais de uma varinha ou de outro bruxo, isso é facilmente remediável. Mas não haverá tanta eficiência, tanta potência, entende? Será melhor até conquistar uma varinha que a princípio não é sua, que mesmo assim não será tão boa quanto a sua, mas aí é outra história.


“Resumindo: há uma varinha aqui, minha criação, que irá escolhê-lo como seu dono para sempre. Ela sempre irá te reconhecer. Conhecerá suas habilidades e seus medos e nunca vai abandoná-lo. Sempre o obedecerá em seus feitiços conjurados. Sempre será sua amiga, nos melhores e piores momentos, entendeu?”


Riddle estava estupefato. Não sabia o que dizer, mas ao mesmo tempo tinha tanto a perguntar. Como sabia tanto de varinhas? Não que Tom soubesse algo com que se basear, mas Olivaras parecia achar que varinhas pensam, têm sentimentos. Quem sabe?
– Sim, senhor – Tom adorou a explicação. Adorou pensar que a varinha iria escolhê-lo e que, com certeza, seria a mais poderosa de todas. – E qual...? – ergueu os olhos, fiscalizando as milhares de caixas.


– Ah, isso nós vamos descobrir agora... mas antes, deixe-me medi-lo. Você é destro? – indagou.


– Uso as duas mãos normalmente – o que era verdade. Era ambidestro desde que sabia o significado dessa palavra.


– Sem problemas, sem problemas... Agora, estique os braços e as pernas – pediu o tal Olivaras.


Ele não precisou subir em banco algum. Uma fita começou a percorrer seu corpo em todos os lugares: de uma orelha a outra, por trás da cabeça,  do joelho à cintura, do dedo do pé ao peito, do ombro direito ao tornozelo esquerdo e vice-versa e, por fim, da mão ao cotovelo.


– Certo, muito bem... muito bem mesmo – e subiu numa escada a fim de pegar uma caixa branco-acinzentada. – Que tal esta? Oliveira e pêlo da cauda de um unicórnio, 29 cm, meio mole.


Tom pegou a varinha e a olhou de ponta a cabo. Logo, ela saía de sua mão sem nada ter feito. Não gostou nada disso.


– Não, não é essa... – e foi pegar outra caixa, mais abaixo da primeira. Esta estava bem empoeirada –, então, freixo e fibra de coração de dragão?31 cm, elástica. Será essa, Tom?


Mais uma vez, Tom avaliou a varinha. E mais uma vez, Olivaras a tirou de sua mão. Tom estava começando a se irritar com aquela atitude.


– Como vou saber qual me escolheu...? – segurou o que queria falar, que era: se o senhor as tira de minha mão?


– Ah, Tom, ambos saberemos... você verá – e deu a volta numa prateleira alta e empoeirada e tirou outra caixa, agora da base. – Plátano e fênix, 24 cm, ligeiramente quebradiça.
E nada aconteceu. E de novo, com varinhas de zimbro e fênix, amoreira e dragão, eucalipto e unicórnio.


– Bem, está difícil... mas não fique triste – acrescentou, ao perceber que Riddle abaixara a cabeça – logo, logo achamos uma. É bom isso, sabe? Significa que você tem muitas habilidades e é poderoso, senão qualquer uma te escolheria – disse ele, abanando com a mão.


Isso com certeza animou Tom Riddle, que logo ergueu a cabeça e estufou o peito, cheio de orgulho de si mesmo.


– Hum... – Tom ouviu ele falando no fundo da loja – ... essa, será? Poderosa, boa para encantamentos e azarações... talvez até para... não, não. Não será para isso – então ele veio com uma caixa negra. – Que tal essa, meu jovem Tom? Teixo e pena de cauda de fênix,35 cm, dura.


A varinha era branca e longa. O suporte para segurá-la era magnífico: parecia um osso humano. Encaixava perfeitamente em suas mãos quando a segurou. O “osso” tinha um gancho na ponta cujos dedos ficavam presos, mas com uma certa mobilidade. Havia ainda uma ponta no suporte em que o garoto colocava o dedão. E na mesma hora, a varinha disparou faíscas verdes prateadas para o teto que colidiram com o empoeirado lustre, fazendo pó chover sujeira sobre suas cabeças. Logo, Tom virou a varinha para a entrada da loja, quebrando algumas vidraças. A varinha era bonita. Combinava com a palidez do garoto. Sabia que era essa. Ela reagiu nas mãos do menino. E reagiu bem, de acordo com o vendedor.


– Isso, garoto. É essa mesma, parabéns. E logo a de Alvo, vejam só – disse Olivaras, talvez mais feliz que o próprio garoto.


Riddle não tinha escutado nada. Não cabia em si de tanta excitação. Finalmente, essa seria uma grande amiga. Lembrou-se, então, de uma pergunta:


– Senhor Olivaras, você lembra qual era a varinha que meu pai, Tom Riddle, comprou aqui? – perguntou ansioso, girando a varinha entre os dedos e esperando qual seria a resposta.


Olivaras ficou um momento de olhos fechados e forçados. Suas sobrancelhas subiam e desciam.
– Sinto muito, Tom. Não me lembro de ninguém com esse nome – lamentou-se o velho, abrindo e fechando a mão.


Tom não se desapontou... muito. Sabia que era quase impossível aquele velho se lembrar.
– Quanto é? – perguntou, por fim.


– São sete galeões – agora Tom sabia do que estava falando e logo tirou as moedas de ouro.


– Aqui – e deu-as ao velho –, muito obrigado.


– Espere, não quer embrulhá-la? – disse Olivaras, trazendo a caixa negra aberta para Riddle depositar a varinha.


– Não, obrigado. Vou levá-la a mão mesmo – respondeu o garoto, contente e guardando-a internamente. De jeito nenhum que deixaria sua varinha em uma caixa, mas pensando melhor, seria uma lembrança. – Ah, vou querer sim – e Olivaras fechou a caixa e colocou numa sacola, mas a varinha foi em seu bolso.


– Adeus, então, Tom.


E nisso, Tom pegou as diversas caixas que havia comprado, levou a varinha no bolso do velho casaco e saiu da loja. Queria logo testar seu potencial e mirou num ratinho, correndo na rua. Nada aconteceu. Talvez fosse aprender amanhã a como matar ratinhos. Percebeu que havia sobrado algumas moedas de bronze e gastou com uns doces na sorveteria do tal Fortescue. Viu ao longe o imponente Gringotes e sentiu inveja dos bruxos que tinham uma chave com um cofre dentro dele. Devia ser um marco de um bruxo ter um cofre dentro de Gringotes. Voltou pelo caminho de onde viera e tocou com a nova varinha certos tijolos, que se alargaram numa passagem e passou pela porta dos fundos do bar.


– Tom, meu rapaz. Como foi lá? Comprou tudinho? – veio o corcunda dono do Caldeirão Furado com uma pesada tigela cheia de uma fumegante sopa. Vinha falando daquele jeito que odiava: por diminutivo e tratando-o como se trata um recém-nascido. – Quer comer algo? Por conta da casa.


– Não. Eu vou indo embora – sabendo que estava com fome e que já passara do meio dia. Nisso tratou de tirar a varinha do casaco, mostrando a quem quisesse vê-la.


– Tom, é melhor guardá-la – disse o homem, apontando. – Se algum trouxa a vir, poderá ter problemas.


– Certo – e guardou a varinha, mas já pensando em tirá-la novamente. Trouxas lhe importunando era o que mais queria. Iria testar seu potencial com eles. Nisso, ele sorriu e, percebendo algo estranho, o corcunda advertiu:


– E falo sério, Tom. O Ministério pode te pegar – começou ele – e quebrar sua varinha – alertou , olhando para o resto do bar, cujos clientes concordavam com as palavras do corcunda.


Ouvindo isso, tratou de proteger ainda mais a varinha escondendo-a melhor num bolso interno e tirando da mente aquele pensamento. Por ora.


– Obrigado. Adeus.


– Adeus, Tom – e lhe deu uma reverência.


Agora sim, pensou, estava sendo tratado como merecia.


Saiu do bar e voltou para pegar o metrô, com caixas e mais caixas, sem falar do malão, em seus braços. Chegou, depois de uma meia hora, no orfanato, exausto. E logo veio a Sra. Cole pela entrada. Mas antes que pudesse berrar algo sem sentido, Tom logo advertiu:
– Fui comprar minhas coisas para a escola. Estou cansado e vou deitar – deu as costas e saiu.


– Querido, não está com fome?


– Não – respondeu sem se virar.


Atravessou o pátio, subiu as escadas e se trancou no quarto. Lá, tirou tudo das caixas para examinar melhor. Os livros tratavam de feitiços, herbologia, defesa contra as artes das trevas, transformação, poções e história da magia. Viu também vários tinteiros, penas e pergaminhos. Pegou as vestes e examinou-as melhor. Viu um emblema com uma cobra, um leão, um texugo e uma águia ao redor da letra H. Saiu para comer algo e voltou, ficando a tarde inteira trancado. Ficou observando por quase 20 minutos tudo que havia comprado e dormiu, com a varinha do lado. Sonhou que estava enfeitiçando a Sra. Cole, fazendo-a correr pelada e sem dar um grito.


Acordou às 8 horasem ponto. Sabiaque tinha 3 horas até ir para a nova escola. Tomou um banho, se vestiu, colocou os sapatos, guardou umas roupas e as vestes da escola no malão, junto com os livros, caldeirões e as outras diversas coisas que tinha comprado, colocou a varinha no casaco e desceu.


– Tom, venha tomar café.


Ele foi e se sentou. As crianças perguntavam entre si para onde ele ia e ele nem dava bola. Não ia lhes dizer que aquilo era só para ele, embora merecessem sentir inveja. Ao término, a Sra. Cole disse:


– Quer companhia para pegar o trem, Tom? – disse, lhe dando um pouco de dinheiro trouxa.


– Não preciso de companhia – mas aceitou o dinheiro, recolhendo-o. – Adeus – despediu-se.


E saiu. Pegou o metrô novamente aquele dia, cheio de coisas. Sabia onde ficava King's Cross. Cerca de umas 5 estações (e uma hora e meia) depois do lugar onde parara para ir ao Beco diagonal. Ele saiu do metrô, caminhou quase1 kme logo chegou à estação. Chegou lá faltando vinte minutos para o trem partir. Lá, pegou um carrinho para suas coisas e tirou a carta do bolso. Lá estava o bilhete, restava saber qual estação. Leu: Expresso de Hogwarts, 11h, Plataforma 9 ½.


 9 ½? 9 ½? Só podia ser brincadeira. Ou talvez fosse coisa de bruxo, deduziu. Foi até as plataformas 9 e 10 e olhou novamente o bilhete, como se fosse dar uma dica. Agora sim, uma dica de Dumbledore seria bem vinda. Talvez tivesse que atravessar as paredes das plataformas 9 e 10. E foi isso que fez. Afinal, ele era um bruxo. Mas antes resolveu tirar a varinha do casaco, por via das dúvidas. Então, foi de encontro, quase correndo, à parede. Somente quando estava a um nanossegundo de bater, pensou que deveria bater nos tijolos com a varinha, mas não colidiu. Passou através da parede e sentiu um leve arrepiar da nuca. Olhou e a plataforma tinha mudado. Haviam várias pessoas de vestes longas e chapéus pontudos andando e um belo trem vermelho. No trem e numa placa do teto, Riddle leu: Expresso de Hogwarts. Sabia que tinha conseguido. Um homem gritou, parecia o maquinista:


– 10 minutos!


Ao ouvirem isso, várias pessoas se adiantaram, colocando os filhos e as bagagens no trem. Tom percebeu que haviam crianças de várias idades. Algumas menores, iguais e maiores que ele. Sem falar dos pais ali. Então, foi até um compartimento da base do trem onde se abria uma porta e guardou suas coisas, deixando consigo as vestes, o chapéu e a varinha. Entrou e dentro do expresso existia um longo corredor com vários compartimentos. Foi andando e olhando as crianças dentro, excitadas com um novo ano. Foi andando até encontrar um compartimento vazio. Entrou nele e se sentou do lado da janela. Então, o trem apitou e começou a andar. Logo, Tom Riddle apreciou a viagem. Viu colinas e montanhas, lagos e cerrados, extensas propriedades de pasto e até passaram por uma ponte. O mais longo trecho deve ter sido entre uma floresta onde choveu um pouco. Após 6 horas de viagem, as quais passou comprando uns doces com uma velha que teve de trocar o dinheiro trouxa que ganhara. Já era noite quando pararam num vilarejo. Riddle se trocou rapidamente e observou-se no espelho: como estava bonito. As crianças começaram a descer e logo Tom ouviu:


– Novatos, por aqui, novatos – era um homem alto e careca que se apoiava numa bengala. Devia ser um empregado pelo modo que andava. Todo desengonçado. Que idiota, pensou Riddle. Por que não usa a mágica para melhorar a perna? Talvez nem bruxo seja, mas um ajudante. Ouviu algumas pessoas dizerem:


– Oi, Ogg.


Ogg devia ser o nome daquele velho. Devia ser um trasgo, pelo que Olivaras descrevera.
– Olá, meus amigos. Que bom ver vocês – e acenou para umas pessoas de vestes vermelhas, amarelas e azuis. As de verde, Riddle notou, debochavam de Ogg.
– Lá está o “guarda-caça”, o “guardião de Hogwarts”. Nem consegue andar – dizia um garoto alto de costeletas negras.


– Vou lhes dar uma detenção – gritou Ogg.


– Você não tem autoridade – debochava uma menina de nome Dorea que parecia estar no último ano e com vestes verdes. Riddle reparou um distintivo com seu nome em seu peito.


Ogg parecia mesmo burro. Deu às costas e gritou para os novatos.


– Alunos do primeiro ano, me sigam.


E Tom o seguiu, relutante. Andaram por um caminho enlameado e chegaram a um extenso lago que refletia a luz da lua. Haviam vários barcos ancorados na margem.
– Subam neles, quatro em cada um – disse ele, apontando para os barcos ancorados na margem do lago.


Os alunos foram subindo nos barcos e Riddle esperou os barcos encherem para ir a um sozinho, mas não conseguiu. Teve que dividir o barco com mais três garotos, que diziam: 


– Vocês souberam do que Grindelwald aprontou mais ao norte? Parece que ele reuniu um exército de gigantes.


– Será? Bem, ele com certeza é o maior bruxo das trevas do mundo. Gostaria de ser como ele, que não quer saber de sangues-ruins nojentos no mundo bruxo.


– Vamos lá, crianças – Ogg fez um movimento como se os barcos fossem começar a se locomover, mas tudo que fez foi se desequilibrar e quase cair.


– Esse Ogg é um babaca mesmo – comentou o outro garoto – Devia ser da Lufa-Lufa. Eu sei que vou estar na Sonserina.


– É claro que sim, Laurêncio. Na Sonserina não se admite sangues-ruins.  Não é, Aurum?


– Com certeza, Tecnécio – respondeu Aurum. – E este aí?


Tom sabia que estava falando dele.


– E você aí? – repetiu Laurêncio, cutucando-o.


Mas ele nada disse. Apenas virou a cara e os encarou, deixando clara a sua impaciência. Sentiu sua varinha no bolso se mexer quando virou-se para a frente. Logo, os barcos começaram a se mexer sozinhos. Num grande trecho nada se via, pois tinha uma enorme montanha em sua frente e uma fina névoa acima do lago enchia seus olhos. O barco onde estava Tom e os outros era o último e não viram o que fizeram os barcos da frente dizerem:
– OOOOHHHHHHH.


Mas assim que contornaram a montanha e a névoa baixou, Tom Riddle o viu.

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