Aos Olhos de Dumbledore.
NOTA: No próximo capítulo Hermione será 'transportada' ao passado. Estão tão ansiosos quanto eu? Espero que sim!
* * *
— Srta. Granger?
Hermione despertou aos poucos, ainda se mantendo de olhos fechados. A voz da enfermeira Madame Pomfrey voltou a chamá-la, até que a insistência se tornasse excessivamente incômoda, fazendo a grifinória abrir os olhos de uma vez.
A visão da área hospitalar de Hogwarts, em sua imensidão de leitos, paredes e teto brancos, fez a vista da garota arder. A claridade lhe cegou por alguns instantes, até que ela se sentisse confortável o suficiente para buscar a imagem da enfermeira próxima a si. Não se assustou, porém, quando viu a expressão no rosto dela. Sempre parecia um pouco irritada pela imprudência dos alunos, ainda que amasse ter o dom de salvar vidas em casos mais sutis de acidentes mágicos.
— Como vim parar aqui? — Foi a questão feita por Hermione Granger.
— O Sr. Potter a encontrou e trouxe até aqui. Não me questione mais detalhes, porque realmente não os sei. — A enfermeira respondeu, vendo-a bem melhor. — Já fazem dois dias que está nessa cama. Sente-se bem o suficiente para andar? Dumbledore gostaria de vê-la.
— Claro. — Ela respondeu simplesmente.
Ainda sentia o mal-estar incomodando seu corpo, mas não ousou demonstrar tal fato. Havia muito o que fazer e não podia suportar a idéia de que dois dias haviam sido perdidos. Para tanto, saltou da cama com certa dificuldade, torcendo para que a senhora Pomfrey fizesse vista grossa a tal problema, mas ela não o fez, é claro.
— Tome isso antes das próximas duas refeições, deve ser o suficiente. — Receitara ela, entregando um pequeno frasco lacrado de poção na mão da garota.
Hermione apenas acenara positivamente, logo saindo da sala com pressa e tomando todo o frasco de imediato, enquanto ia na direção da sala de Dumbledore. Não havia tempo para remédios calculados. Ao chegar diante da estatueta característica que demarcava a entrada do local, arriscou a última senha que usara para entrar ali e se viu satisfeita com o sucesso logo de primeira.
Seus olhos buscaram pelo sábio bruxo ao redor da sala e o encontraram por fim diante do Chapéu Seletor, em uma conversa amistosa que lhe sugerira problemas. Ainda assim, entrara de cabeça erguida, como se não tivesse feito nada de errado nos últimos meses. Exceto bisbilhotar a vida de Tom Riddle em Hogwarts através de um livro insano que ela agora conhecia a origem. Nada demais, pra quem já enfrentara Voldemort algumas vezes e - graças a ele - se vira nos mais diversos apuros.
— Meu caro companheiro, o Seletor, me deu uma breve iniciação aos seus questionamentos, srta. Granger. — Dumbledore dissera, com seu usual tom de conforto, enquanto se aproximava de Hermione. Atrás de si, o Chapéu voltara à sua forma inanimada. — Isso é excelente. Já havia algum tempo que gostaria de mostrar-lhe uma coisa através da penseira.
— Estou disposta a vê-la, senhor. — Hermione resumira suas palavras, envergonhada por ter sido descoberta em seu plano de busca por respostas.
* * *
Um garoto estava sentado em uma cama improvisada. As pernas, aparentemente longas para a idade, jaziam pousadas ao chão e as mãos seguravam um livro. Olhando-o, Hermione viu que ele era bonito, alto para seus onze anos, com cabelos escuros e uma pele pálida.
— Olá, Tom. — Dumbledore disse, sentando-se numa cadeira de madeira muito desconfortável, ao lado de Riddle — Eu sou o Professor Dumbledore.
— Professor? — Dissera o garoto, cauteloso. — Me diga a verdade, o que está fazendo aqui? Não acredito em você.
— Eu já lhe disse. Meu nome é Dumbledore e sou professor em uma escola chamada Hogwarts. Vim para oferecer-lhe uma vaga nessa escola, caso queira. Hogwarts, é uma escola para pessoas com habilidades especiais.
— Eu não quero ir ao hospício! Eu sei como eles me olham, mas não sou louco!
— Eu sei que não é. — Dissera Dumbledore, com calma. — Hogwarts não é uma escola para pessoas loucas, é uma escola de magia.
— Magia? — ele repetiu.
— Sim. — respondeu Dumbledore, com simplicidade.
— Isso que eu posso fazer... é magia?
— Isso depende do que você pode fazer. Gostaria de me contar?
— Todo o tipo de coisas. Movo papéis sem os tocar. Às vezes coisas ruins acontecem às pessoas que me aborrecem. Eu lhes causo dor. — As mãos dele estavam tremendo. Parecia amedrontado em tocar no assunto. — Eu sempre soube que eu eradiferente.
Por algum motivo, Hermione soube que ele não dissera a última palavra com bons sentimentos. Pelo contrário, ser diferente parecia lhe ser um tormento. Parecia ser o que lhe tornava tão excluso.
— Bem, você estava bastante certo. Você é especial. — Dumbledore disse, olhando Riddle atentamente. — É um bruxo.
— Isso é incrível.
— Em Hogwarts, — Dumbledore disse. — Nós não lhe ensinaremos a usar magia, mas a controlá-la. Você tem usado seus poderes, de certo modo, sem saber e isso precisa ser aperfeiçoado.
— Mas eu não tenho dinheiro.
— Isso pode ser corrigido facilmente. — Dumbledore sorriu para ele. — Há uma bolsa em Hogwarts para os que precisam de ajuda ao comprar livros, utensílios, uniformes. Você poderá ter de comprar algum de segunda mão, mas são igualmente valiosos em conteúdo e eficiência.
— Onde se compra isso tudo?
— No Beco Diagonal, é claro. Eu tenho sua lista de livros e materiais. Posso lhe ajudar a encontrar tudo de que precisa.
— Você virá comigo? — perguntou Riddle.
— Se você assim desejar, estarei a acompanhá-lo.
Os olhos do garoto Riddle faiscaram por instantes e Hermione se viu admirando-o ainda mais. Era notável que ele estava feliz por ter alguém se preocupando com ele, uma criança abandonada e carente. Pelo visto, era ignorado até mesmo durante os anos em que vivera no orfanato, sempre diferente. Dumbledore certamente sabia da origem conturbada do garoto, mas isso não afastara o sorriso no seu rosto ou a atenção dedicada a ele. Nem mesmo Harry tivera Dumbledore a lhe buscar na casa dos tios, com tamanho carinho, ainda que Hagrid fosse uma pessoa adorável também.
Assim, Dumbledore lhe acenou com a cabeça positivamente. Pôs-se de pé e, após ajeitar brevemente as vestes, estendeu-lhe a mão de novo. Pegando-a, Riddle disse-lhe em um sussurro:
— Eu consigo entender o que as cobras dizem. Elas sussurram para mim.
— Devo dizer que isso é incomum, mas nós entenderemos esse seu dom juntos. — O confortou, enquanto sentia a pequena mão apanhar a sua com carinho e gratidão. — Vamos, Tom. Agora você está a caminho de Hogwarts, seu novo lar.
* * *
— Os poderes de Tom eram muito desenvolvidos para um bruxo tão jovem. — Dumbledore disse para Hermione, quando finalmente voltaram ao seu gabinete. — De certo modo, ele já havia descoberto como os usar de forma consciente.
— Na verdade, professor, eu gostaria de fazer uma pergunta. Não é nada relacionado a lembrança, mas...
— Prossiga, Srta. Granger.
— Entendo o motivo de tudo isso ser mostrado a Harry, mas por que para mim? Para que isso me servirá?
— Tudo ao seu tempo. — O senhor lhe respondeu, rumando pela sala enquanto ela se preparava para voltar ao seu dormitório improvisado. — Creio que tempos difíceis estão por vir.
* * *
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