Capítulo V - Relâmpagos



O resto do jogo se passou sem grandes emoções. Já era tarde, no fim, e as garotas foram direto dormir. Estava relampejando. Annie odiava relâmpagos.


- Rose...


- Oi. – Rose resmungou, abrindo a cortina da frente.


- Relâmpagos!


- É, eu tô percebendo. Vai dormir.


- Não, eu... Eu não gosto.


Rose bufou.


- Annie, ninguém gosta. Vai dormir, já falei.


- Rose, você não tá entendendo! – Annie choramingou. – Eu tenho medo.


- Annie, é só um clarão. Na boa. Fecha essa cortina e vai dormir, que eu também tô com sono.


- Eu não posso... Eu tenho pânico de relâmpagos! – Ela começou a chorar.


Rose riu.


- Já sei, eu vou chamar o Alvo pra vir te fazer companhia!


- Para, sua idiota! – Ela começou a enxugar as lágrimas. – Eu não estou gostando dele, ok?


- Eu aposto que você está. – Disse Rose.


- Não, não estou. Se estivesse eu diria.


Relampejou outra vez. Annie gritou. Todas as meninas do dormitório levantaram para ver o que era, e encontraram ela nadando em lágrimas.


- Saiam daqui! – Ela gritou, fechando a cortina. Rose sentiu pena, mas achou melhor deixa-la sozinha, pelo menos enquanto as garotas estavam acordadas. Depois, ela foi até lá. Annie ainda chorava baixinho.


- Pare com isso. – Ela sentou na cama de Annie. – Não tem motivos pra você chorar, sua bobona. Parece até uma criancinha de dois anos.


Sabia que se falasse muito delicadamente Annie não ia gostar. Odiava que sentissem pena dela.


- É que... É trauma de infância. Na noite que meu avô morreu estava relampejando. É isso.


- Ah... – Rose se sentiu culpada. – Foi mal. Não sabia.


- Sem problemas. Mas tudo bem, eu queria ficar um pouco sozinha...


- Tá bem, como quiser. Boa noite. – Rose foi dormir.


Na manhã seguinte, todas pareciam ter esquecido daquela noite. Era uma bela manhã de inverno. Não tinha aula, então estavam todos dormindo até tarde, usando roupas. Annie preferiu acordar mais cedo que os outros. Às oito já estava em pé. Colocou uma camisa de listras, uma calça jeans confortável, e calçou um par de galochas. Não era muito o estilo dela, mas estava apropriado. Fez uma trança no cabelo, deixando cair no ombro. Assim que Rose levantou, elas duas saíram. Rose estava muito bonita, não tão desastrada como Annie. Usava uma blusa branca, um cardigã rosa bebê. Seus jeans eram apertados. Estava calçando oxfords, e usava uma faixa florida para prender os cabelos num rabo de cavalo. Estava linda. Mal saíram do dormitório, encontraram com Alvo. Estava diferente, também. Usava uma camisa branca, com uma xadrez vermelha por fora, com as mangas dobradas na altura dos cotovelos. Uma calça jeans preta, All Star brancos, e, chamando atenção, uma touca de lã no cabelo. Estava impecável.


- Bom dia. – Ela falou. – Dormiram bem?


- Não. – Respondeu Annie. – Detesto relâmpagos.


- Eu também. – Ele sorriu timidamente.


- Ah, esqueci desse detalhe. Alvo chorava muito. Não é, Al? Lembra da vez que fomos acampar? Ele acordou a vizinhança inteira com...


- Tudo bem, não entre em detalhes, querida prima. – Ele resmungou.


- Falando nisso, eu preciso pegar uns livros na biblioteca. Daqui a pouco eu volto. Me espera, Annie.


- Tudo bem.


Assim que Rose saiu, Annie percebeu que estava sozinha com Alvo.


- Foi bom ela ter saído, eu queria mesmo falar com você.


- Sobre o quê?


- É que, bem, você respondeu aquilo ontem no jogo da verdade, então eu parei pra pensar, tipo, claro que é opcional, eu não tô insinuando nada, só se...


- Você pode parar de enrolar e falar logo? – Ela riu.


- Eu queria saber se... Se você quer ficar comigo.


- Hã? – Annie sentou. – Eu não esperava por essa.


- Nem eu. – Ele falou. – Não sei como consegui perguntar. Mas me responde, por favor.


- Alvo, eu respondi aquilo, mas eu não sou do tipo que beija só por beijar, entende? Sou super contra isso.


- Mas não seria beijar por beijar. – Ele respondeu, e sentou ao lado dela. – Pelo menos não pra mim. Eu tô gostando de você, Annie.


Annie se entalou com qualquer palavra que fosse falar. Então ficou lá. Muda. Pálida. E totalmente perplexa.


- Não vai falar nada?


- Não sei o que falar. – Ela conseguiu dizer.


- Apenas sim ou não. – Ele fitou o chão.


Ela parou por um instante.


- Você está lindo hoje.


- Obrigado. – Ele sorriu. – E você também.


- Por favor, eu estou usando galochas. – Annie riu de si mesma.


- E você está fugindo da resposta.


Então, sem avisar, ela aproximou o rosto do dele, e o beijou. Simples assim. Ela nunca havia beijado ninguém, mas simplesmente o beijou, e ele a beijou de volta. Percebeu que, assim que o surpreendeu, ele sorriu. Depois de um tempo, eles pararam.


- Sabia que você ia aceitar. – Ele falou. – Obrigado.


- Deixe de ser convencido, Potter. – Ela riu. – Isso é muito feio. Sua mãe não te ensinou nada?


- Ela me ensinou a reconhecer uma princesa, e isso é suficiente. E, sabe, eu não vou deixar uma princesa dessas escapar tão fácil... – Ele sorriu.


Ficaram ali, se encarando, com sorrisos estampados no rosto, até que Rose entrou.


- Oi? Perdi alguma coisa?


Annie levantou.


- Vamos, Rose. – E olhou pra trás. – Tchau, Senhor Convencido.


Ele acenou, sorrindo ainda mais.


Saíram da sala comunal, e deram de cara com Malfoy.


- Ah, estavam procurando vocês duas lá em baixo. – Ele falou.


- Quem? – Perguntou Rose.


- A professora de Herbologia.


- Obrigada por avisar. – Disse Annie.


- Hm. – Ele foi embora.


- Por que estariam procurando a gente? – Falou Rose. Annie não respondeu. – ANNIE!


- Hã? Oi?


- Em que dimensão você está?


- Acho que... Acho que preciso falar com você. É sério. – Ela sorriu, quebrando o espírito da coisa. – Mas primeiro, vamos ver o que a professora quer com a gente.


 

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