Capítulo 2
Quando dei por mim já estava parado em frente a casa de Hermione Granger no dia seguinte. Meus pais haviam parado com aquela discussão estúpida sobre o que é ou não digno dos Malfoy e investiram todo o seu tempo em mim, mas de uma forma nada confortável ao meu ver.
- Vá pegar seu broche - dissera meu pai. - Queremos que você o use sempre e se lembre de sua origem!
Corri mais rápido do que minhas pernas poderiam aguentar até chegar ao meu quarto e me tranquei lá. Sentei sobre os lençóis verdes e apoiei a cabeça em minhas mãos, chegando a despentear meus cabelos sempre tão arrumados. O que faria agora? Havia esquecido meu broche na casa dela e não queria voltar lá tão cedo; algumas batidas na porta e a voz da minha mãe chegaram aos meus ouvidos, mas não prestei nem um pingo de atenção. A mesma coisa aconteceu com meu pai e mais algumas vezes com minha mãe, mas recusei-me a sair.
Agora, após uma noite insone, aqui estou eu parado em frente à essa porta de madeira enfeitada com uma guirlanda. Reunindo toda minha coragem e respirando fundo, bati na porta.
- Um momento! - uma voz grave respondeu ao meu chamado e um rapaz apareceu. - Em que posso ajudá-lo?
- Hermione Granger está? - minha voz saiu rouca e extremamente baixa. Pigarreei para limpar a garganta e briguei comigo mesmo por estar com o coração disparado.
- Você é o Draco, não? Draco Malfoy... Esteve aqui ontem, se não me engano!
- Exato! Er... Bem, tenho mesmo que falar com ela. Será que poderia chamá-la?
- Entre! - o rapaz sorriu e me puxou para dentro. - Prazer, sou Dênis. Pode subir até o quarto dela, tenho certeza que ficará feliz com a sua visita!
Numa situação como essa não havia nada que eu pudesse fazer a não ser subir para o quarto da Granger. Não sei bem o motivo, mas meu coração parecia acelerar a cada passo que eu dava nos degraus, então cheguei ao corredor e parei. Afinal, qual era o quarto dela? Lembrei do quarto em que havia entrado no dia anterior para trocar de roupa e não me parecia muito a cara dela, então já o descartei.
- Ei! - era a garotinha do dia anterior, Maria. - O que faz aqui?
- Preciso falar com...
- Ah, eu sei! - ela sorriu e pegou minha mão. - Venha.
Por que aquela menina gostava tanto de mim? Nunca fui bom com crianças e elas sempre me irritaram, mas com Maria era diferente; havia algo nela que me alegrava, algo esquisito que me deixava bem. Extremamente estranho, mas ultimamente não conseguia mais entender meus próprios sentimentos. Paramos em frente uma porta, branca como as demais, e Maria sorriu novamente para mim; enquanto observava a menina voltar correndo pelo corredor e descer as escadas, bati à porta e me mandaram entrar.
- Granger? - abri a porta com cautela e entrei lentamente.
Ela estava sentada na cama lendo jornal. Seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo e a garota usava shorts e regata. Seus olhos se arregalaram quando entrei; Granger colocou o jornal de lado e se levantou, encarando-me como se fosse uma espécie de alucinação. Fechei a porta e permaneci parado, apenas olhando para ela.
- Malfoy? O que faz aqui?
- Te garanto que não estou aqui por vontade própria! - fui grosseiro; as sobrancelhas dela se ergueram.
- Vai me dizer que seus pais te obrigaram a vir até aqui?
- Meus pais não imaginam em que tipo de lugar estou nesse momento! - odiava quando usavam sarcasmo, talvez por isso tenha sido novamente grosseiro com ela.
- Então...? - ela revirou os olhos, estava realmente irritada com a minha presença.
- Você ficou com algo que me pertence!
- Não tenho nada seu aqui, Malfoy!
Nos encaramos. Ela, de braços cruzados, me olhava com uma raiva incrível; eu, mais nervoso do que o normal na presença dela, não conseguia entender porque ficar na presença da Granger estava sendo tão torturante. Pigarreei e, após um longo suspiro, desisti de usar meu tom arrogante.
- Só vim por causa do meu broche, Granger!
- Parece que realmente se arrependeu de jogá-lo fora, não? - ela riu, descruzando os braços.
- Poderia me devolver?
- E quais são as palavras mágicas?
- Anda logo, Granger!
A risada dela aumentou e, no segundo seguinte, estava deitada rindo. Inconscientemente, comecei a gargalhar e minhas pernas chegaram a bambear; apoiando-me na parede para não cair, sentei no chão.
- Do que está rindo? - perguntou ela sorrindo, sentada na cama me encarando.
- Não faço a mínima ideia! - respondi em meio à risos.
Granger levantou-se e foi até onde eu estava, sentando-se ao meu lado. Parei de rir quase que instantaneamente e a encarei, ali tão perto de mim.
- O que está fazendo?
- Você está diferente, Malfoy! Em Hogwarts era totalmente desprezível, mas até consegue ser legal quando quer - o sorriso dela era ainda mais bonito de perto. Não prestava mais atenção em nada a não ser nela; seus dentes tão brancos e aquele sorriso doce, seus olhos escuros e a maneira como me olhava naquele instante. Nada parecia fazer sentido naquele momento e meus pensamentos começaram a dar um nó dentro da minha cabeça.
- Eu tenho que ir embora! - levantei-me repentinamente, assustando-a.
- Calma, temos que achar seu broche...
O broche! Não saberia dizer em que momento havia esquecido dele, mas à mera menção do objeto já fez com que meus pensamentos voltassem ao lugar e me lembrassem do motivo de estar ali e de tudo que passara em casa.
- Certo, onde está?
- E como quer que eu saiba? - ela foi até o guarda-roupa e vestiu um casaco.
- Sua casa, oras!
- Vou te levar até a porta...
- Mas o meu broche...?
- Accio broche! - ordenou Granger, erguendo a varinha.
O broche entrou voando pela porta já aberta direto para a mão dela, que se estendeu em minha direção; o prendi em minhas vestes e desci guiado por Granger, que saiu junto de mim da casa.
- Bom, até logo!
- Logo? Não conte com isso - novamente meu tom arrogante. Realmente não era intencional, mas parecia que meu orgulho gritava na presença dela.
- Parece que você sente falta daquele soco do terceiro ano!
Ergui uma sobrancelha e não consegui conter um sorriso. Cruzei os braços e observei-a por algum tempo, então ela revirou os olhos e virou as costas para voltar para casa, mas corri e puxei-a pelo braço, forçando-a a me encarar.
- Você quer o que, Granger? Que, de repente, sejamos melhores amigos e estejamos sempre juntos?
- Não, Malfoy. Estar com você não é bem a minha definição de um bom dia - retrucou ela de expressão fechada.
- Certo, pelo menos nisso concordamos! - eu não havia soltado seu braço. Ela olhou para minha mão segurando firmemente seu pulso e em seguida olhou em meus olhos; senti como se algo caísse dentro do meu estômago, como se algo revirasse lá dentro. - E por onde andam seus amiguinhos? Potter e Weasley te abandonaram, foi?
- Cada um tem suas vidas... Harry anda trabalhando muito e está noivo da Gina. Rony está namorando a Luna e começou a trabalhar faz pouco tempo!
- Então, te abandonaram!
- Poderia me soltar?
Soltei lentamente seu braço, mas não consegui me mover. Os olhos dela enchera-se de lágrimas e um nó se formou em minha garganta; sem reação, olhei profundamente em seus olhos mas Granger tentou disfarçar.
- O que foi?
- Está chorando? - minha voz saiu fraca.
- Claro que não! Por que estaria? Vá embora, me deixe em paz!
Ela saiu correndo mas pude ver uma lágrima escorrer pela sua face rosada. Me afastei lentamente e quando percebi já estava no meio da praça vazia. O que estava sentindo? Por que Granger estava me fazendo sentir coisas que nunca sentira antes, muito menos por uma garota como ela? Aquelas dúvidas andavam me perseguindo desde que ela me ajudara.
Minha respiração estava acelerada, meu coração estava descompassado; senti meus dedos dormentes e percebi que havia esquecido as luvas em casa. Olhei na direção em que ela se fora e novamente senti o mesmo aperto no peito.
- Deixa disso, Draco! - murmurei comigo mesmo, então aparatei para casa pronto para mostrar que estava novamente com meu broche.
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