Senhorita Mentirosa
"ÔÔ LILY, CADÊ O PAPEL?"
Gritei pedindo por socorro até minha voz ficar rouca, e chutei a porta do banheiro até torcer o tornozelo. Mal podendo caminhar, me arrastei para um canto do banheiro e sentei, esperando alguém vir me salvar.
Hogwarts era uma escola denominada por muitos como "de rico". Claro que muita gente aqui não era rica, mas mesmo assim a mensalidade era alta. Por esse motivo, havia coisas chiques em toda a parte, como relógios no banheiro. Acho que isso servia para mostrar ás pessoas que elas estavam gastando muito tempo fazendo suas necessidades. Mas no meu caso, mostrava que eu estava quinze minutos atrasada. E para um encontro entre dois alunos que estão no limite entre a amizade e o ódio, quinze minutos era muito tempo.
Sem perceber, comecei a chorar. Só tinha certeza de uma coisa: se eu não aparecesse, as chances de James me perdoar iam pro beleléu. E isso era uma coisa que eu não podia me dar o luxo de acontecer. Sequei as lágrimas com força, me repreendendo por ser tão fraca. Respirei fundo, e olhei para cima. Conseguia ver, pela janela do banheiro, que estava começando a escurecer.
Espera... A JANELA!
"É surpreendente o fato de que Lily Evans demorou quase vinte minutos para notar que banheiros tem janelas"
"Dorcas, cale a boca. Você não faz ideia pelo o que eu tive que passar"
"Se fosse eu, conseguiria sair dessa bem rapidinho"
"Como?"
"Eu sempre carrego um estoque de comida em minha mochila. Era só usar a manteiga"
Pela primeira vez na vida, pensei seriamente em começar a acompanhar minha mãe em suas dietas malucas. Não que eu fosse gorda. Mas o fato de que eu não conseguia nem passar a bunda por uma janela era deprimente.
Eu estava entalada. Com as pernas para dentro do banheiro, e o tronco e os braços para o lado de fora, balançando inutilmente no ar. Eu não tinha percebido uma coisa, que era realmente importante se você queria pular uma janela: ela ficava no terceiro andar. Se eu por um milagre conseguisse me soltar, teria que ter a sorte de cair para o lado de dentro da escola, ou viraria omelete de Lily. O que não deve ser muito apetitoso.
Se eu começasse a gritar, as pessoas iriam me ver e rir de mim. Se alguém entrasse no banheiro, também ia rir. Eu estava sem saída. A única coisa que eu tinha para fazer era apreciar a vista. O que não era muito convidadivo se você está pendurado pela bunda em uma janela a três andares do chão.
De repente, ouvi um barulho. Não, não era da minha calça rasgando. Alguém batia na porta do banheiro.
"Eu nunca fiquei tão feliz em ver uma tiazinha da limpeza. Elas tem chaves mágicas que abrem todas as portas da escola, e com um pouco de força e muitos produtos de limpeza, ela me desentalou. E depois ficou me encarando como se eu fosse uma louca, é claro"
"Lily, não tem nenhuma pessoa na face da Terra que não saiba que você é louca. Aquilo foi só para comprovar o que já estava comprovado"
"Se já estava comprovado, para que comprovar?"
"Porque se comprovarmos uma coisa já comprovada, ela será considerada como uma comprovação comprova..."
"O QUE ESSA LOIRA AGUADA TÁ FAZENDO NO MEU LUGAR?"
"Ah, começou..."
"Eu sou a melhor amiga dela, ok? Hunf"
"E daí? Sai, macaca, sai, o camarote é meu"
"Voltando para a história..."
A tia da limpeza não concordara em me emprestar seu carrinho de rodinhas. Minha intenção era me deixar nele e ir dando impulso com a perna boa. Era óbvio que ela não me emprestaria. Ela sabe que estamos no terceiro andar.
Eu tentava andar o mais rápido que meu pé conseguia. O que era super lento. E ainda por cima, eu estava fedendo a Vanish. Para resumir as cenas seguntes:
1.Eu andei com dor.
2.Eu cai das escadas.
3.Eu cai da outra escada.
4.Eu tropecei nas escadas.
5.Eu cheguei ao pátio da escola.
Ao longe, não conseguia enxergar se havia alguém no campo, e rezava para que James ainda estivesse lá. A descida era longa, e eu pensei seriamente na possibilidade de deitar no chão e descer rolando. Pouparia tempo.
Cheguei ao meu destino tendo certeza que meu tornozelo em pouco tempo iria se desfazer em pedacinhos microscópicos, de tão grande que era a dor. Mas isso nem era o pior: James não estava mais lá. Me joguei na grama, amaldiçoando até sétima geração da família Mckinnon. Aquela vadia ia me pagar.
Depois de acalmar os nervos, levantei-me para ir embora.
E depois percebi que tinha esquecido minha mochila no banheiro.
Definitivamente, esse não é meu dia.
"Minha mãe me meteu a boca por ter demorado tanto. Depois me xingou mais ainda por ter forçado o pé. E depois teve uma crise de nervosismo porque sua filhinha estava machucada"
"Lily, sua mãe é meio doida, não acha?"
"É, a Lily puxou a ela"
"Vocês estão conspirando contra mim agora, por acaso? Não eram vocês que estavam brigando trinta segundos atrás?"
"Mas isso foi trinta segundos atrás. Já é passado"
James nem ao menos olhava na minha cara. Sei lá, só acho que ele deveria ter percebido que eu me machuquei e não pude ir, ou que não tinha entendido a mensagem, mas nãão... A estupidez dele não tem fronteiras. Já estava começando a ficar com uma raiva de James. Eu não precisava me desculpar com ele, afinal. Não fiz nada que pudesse prejudicá-lo.
Mas então porque eu estava tão desespereda para conseguir seu perdão?
Isso é uma coisa que provavelmente nunca descobriremos.
Na hora do almoço, eu finalmente resolvi falar com James. Fui atrás dele quando ele ia pegar a sobremesa.
-James – chamei, e ele me ignorou – Hey, James! Eu realmente não quero fazer barraco de novo, sabe?
Ele se virou para mim.
-O que você quer, Evans?
-Conversar.
-Eu já disse tudo que tinha que dizer – ele se virou para sair, mas eu me adiantei e peguei no seu braço.
-Mas eu não! Por que continua me ignorando, mesmo depois de eu ter pedido desculpas, me humilhado publicamente...
-Não são um punhado de palavras vazias que me farão mudar de ideia.
Soltei o braço dele, e meu corpo pareceu murchar.
-Palavras vazias?
-Não importa o que você diga, Lily – ele deu um riso irônico – Você não vai me convencer. As pessoas não mudam assim de uma hora para a outra. Tudo que você escreveu era mentira. Não sobre os alunos, sobre você. Esse seu pedido de desculpas... Se existe uma pessoa que não liga a mínima para seus colegas, essa pessoa é você. Você só diz mentiras. Você é uma mentira.
-Eu sou uma mentira? - sussurrei – Então por que você conversava comigo? E porque diabos seu melhor amigo se tornou o meu de uma hora para a outra? Sirius disse que você que pediu para ele fazer isso. Por quê? Por que você se importa?
-Quem disse que eu me importo? - ele tentou disfarçar, mas eu continuei. A essa hora nossa conversa estava chamando mais atenção do que eu gostaria.
-Se você não se importa, porque teve aquela reação quando descobriu que eu era a Garota Invisível? - perguntei – Porque me ajudou naquela festa do Matt? Porque mandou Sirius conversar comigo? Por que?
Ele parecia não saber o que responder. Abria a boca e a fechava várias vezes, mas sem emitir nenhum som. Dei uma risadinha.
-Foi o que eu imaginava – me virei para sair, quando ele gritou:
-Isso não tem nada a ver com você, Evans! Está imaginando coisas. E quer saber? Eu me importo. Mas não com você. E sim com meus amigos, aqueles que você machucou. Não importa o que você faça, ou o que você diga. Você nunca vai deixar de ser uma vadia.
"Uau. Essa foi tensa."
"Sem me preocupar com mais nada, eu saí correndo de lá. Momentos depois eu me debulhava em lágrimas, sendo consolada por Dorcas. Ou pelo que ela achava que era um consolo"
"Ei!"
"Mas isso realmente tinha passado dos limites. E eu percebi com um choque, no meio daquela multidão, ouvindo o cara com quem eu queria me desculpar me chamar de vadia. E no fim, eu sabia que tudo que ele dizia era verdade. Mas tinha algo a mais. Já estava acostumada com as pessoas jogando a verdade na minha cara, já que eu não tinha a capacidade de perceber ela. Mas naquele momento, não era qualquer pessoa. Era ele. E eu finalmente percebi. E foi demais para mim.
Eu estava completamente apaixonada por James Potter"
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