Três impopulares mudam o mundo

“A primeira fase do meu plano ia começar logo que eu tivesse certeza que isso não desencadearia uma Terceira Guerra Mundial”

"Você quer dizer, quarta"

"Não, James, teceira"

"Você esqueceu de contar a guerra de comida que tivemos na cantina, na segunda série... Que foi?"

 

-Dorcas...

-E tem essa garota aqui, que sabe tocar sete instrumentos...

-Hey, Dorcas...

-Seria legal colocá-la, embora suas habilidades não sejam nada comparadas as daquele garoto, o que toma suco pelo nariz...

-DORCAS, PELAMORDEDEUS, ME ESCUTA! - ela deu um pulo na cadeira, e depois ficou em silêncio – Deu agora?

-O mundo acabou, por acaso? - perguntou.

-O seu vai acabar, se você não me escutar – ela finalmente parou quieta – Larga a caneta – ela o fez. Baguncei seus cabelos, em seguida fazendo voz de bebê – Muito bem, Dorquinhas! Você quer biscoito? Quer biscoito?

-Direto ao ponto, Evans.

-Você quer biscoito ou não?

-Não, obrigada.

-Tudo bem, não tinha mesmo.

Dorcas revirou os olhos e me encarou.

-Ok, ok... Só estou feliz que fizemos as pazes – ela sorriu levemente – Olha só, eu acho sinceramente que seu plano é uma completa bobagem, e que eu vou me ferrar mais ainda. Quero dizer, não gostavam que eu falasse dos populares, e agora...

-Agora eles vão te adorar, Lily – respondeu ela calmamente – Você está fazendo exatamente o contrário do que seu eu vadia fez.

-Nossa, obrigada – resmunguei.

-E eles seriam loucos se não gostassem do que você vai fazer. Eles podem continuar te odiando, mas vão reconhecer que você está tentando.

 

"Bom, era um plano extremamente idiota. E em nenhum momento desse vídeo eu disse se ele funcionou ou não"

"O que dá um toque de suspense á coisa"

"Cale a boca, Sherlock Holmes. Bem, o plano era basicamente..."

"O contrário do outro"

"E eu tinha que..."

"Gastar muito tempo buscando informações"

"Você quer vir explicar isso? Vem, vem. Faz melhor que eu"

"Bem, era um plano que... Lily, Dorcas e Remus participavam... E era tipo, uma coisa assim, tipo... Sério, Lily, por que você tá rindo? Um bicho mordeu sua bunda, por acaso? Ah, sério, desisto"

 

-Dezessete pessoas tentaram me matar hoje, e mais quarenta e duas me lançaram olhares assasinos. Bom, isso foi o que eu contei – falei, abrindo o armário e pegando os livros.

-Como tentaram te matar? - perguntou Dorcas pouco interessada, tomando chá gelado com um canudinho do Batman.

-Livros cairam "acidentalmente" em meus pés, portas foram abertas em minha cara, esbarrei com trocentas pessoas e ainda fiquei trancada no banheiro.

-Nossa – disse ela, sem muita emoção – E como você conseguiu sair de lá?

Dei de ombros.

-Passei por baixo da porta.

-Mas o buraco é minímo...

-Por que você acha que meu cabelo está bagunçado? - ironizei, revirando os olhos. Ela resmungou algo como "Está sempre assim", que também poderia ser "Minha mãe que diz". Vou ficar com a segunda opção.

Sirius passou andando pelo corredor, junto com James. Nenhum dos dois me dirigiu o olhar.

-Dorcas – chamei calmamente – Acho que estou começando a gostar do seu plano.

 

"Senhoras e senhores, a segunda temporada das idiotices está aberta!

Não sei o que deu em mim para mudar de ideia tão rápido... Na verdade, sei sim. A frase anterior era só pra dar suspense á coisa. Acontece que eu estava tão mal com James me ignorando, que poderia fazer qualquer coisa para ele me perdoar"

"Owwn, que fofo! Aconteceu isso mesmo?"

"Claro que não"

"Ah, Lily, isso não tem gra-EU VI! EU VI TU PISCANDO! AGORA NÃO ADIANTA FUGIR! EU TENHO OLHOS DE TIGRE, VIU?"

 

-Isso é cansativo – resmunguei. Era tarde da noite, tipo, umas oito e meia. E eu estava morrendo de sono – Sério, Dorcas, chega de blogs por hoje.

-Na-na-ni-na-não – respondeu, com os olhos vidrados na tela do computador – Vamos terminar de uma vez isso. Tu sabe que vai ter que fazer isso várias vezes, não é? - resmunguei alguma coisa indefinida – E aí, já fez o texto?

Mostrei para ela o que eu tinha feito, e ela riu.

-Como você acha que vai ser perdoada pela escola toda com um texto de meia página? - eu a encarei – Tá, bom, tá bom, vou ler.

Vinte minutos depois ela estava pulando pelo quarto. É, isso mesmo. Ela demorou vinte minutos para ler meia página.

-Isso é brilhante! Brilhante!

-Não tá cansada, não? - perguntei. Eu estava começando a me cansar por ela – Hoje tivemos Educação Física.

-É, e Educação Física serve para fazer viciados em chocolate como você não se tornarem obesos.

-Como você? - eu ri. Dorcas não era nem um pouco gorda. Pelo contrário, era esquelética. Mas ela sempre me contrariava quando o assunto era peso, e chegou uma hora que eu cansei de dizer o quanto ela era magra, e entrei na onda. Dorcas me jogou uma almofada, que ironicamente era em formato de biscoito.

-Não tem graça. Mudando de assinto... Lily Evans, onde você aprendeu a escrever tão bem assim?

-Eu leio muito – dei de ombros.

-Ah, é, esqueci que você leu Hugo Cabret em uma hora e meia – ela revirou os olhos.

-Mas aquele não conta, a maioria das páginas eram com figuras.

Os olhos dela brilharam.

 

"LIVROOS COM FIGURAAS! LILY, ME EMPRESTA? PORFAVOOOR!"

"A reação da Dorcas foi exatamente essa"

"Está me comparando com uma garota?"

"Não sou eu que estou usando batom aqui"

"EU COMI MORANGOS, OK? MORANGOS?"

"Sirius, por favor, faça com que ele nunca esqueça desse dia"

 

-Depois de toda a bagunça que você criou, ainda espera que qualquer texto seu seja publicado no jornal?

A equipe do jornal da escola me encarava friamente.

-Profa. McGonagall, isso é diferente – tentei me salvar – Eu estou amenizando a bagunça – Mas ela não pareceu convencida – Olha, você ao menos leu o texto? É um pedido de desculpas extremo! Eu estou quase me ajoelhando diante daqueles que me fizeram passar por idiota por tantos anos...

-Eu entendo isso – ela me cortou – A Garota Invisível pede desculpas. Mas e o outro texto? Você continua falando sobre as pessoas sem permissão...

-Mas isso não faz mal, já que eu estou falando bem das pessoas. Elas não vão se importar de ter suas habilidades secretas publicadas em um jornal, certo?

Ela ficou um pouco em silêncio, me encarando.

-Por que isso? Por que de uma hora para a outra você resolveu mudar do seu assunto principal, dos populares para os não populares?

-Porque... - comecei, olhando para o chão – Acho que todos merecem uma chance de brilhar.

 

"Resumindo, McGonagall publicou meus textos. Meu pedido de desculpas e ainda uma matéria sobre três alunos, não populares, que ninguém sabia que existiam até eu escrever sobre eles."

"Isso causou uma reviravolta tremenda na escola. Até hoje me lembro de cada palavra que você escreveu naquele pedido de desculpas..."

"James, você pregou ele na parede"

"Continue contando a história, por favor"

"Então, de uma hora para a outra, as classes socias de Hogwarts estavam totalemente bagunçadas. Os populares perceberam que existiam outras pessoas com os mesmos gostos e hobbies que eles, e literalmente ficaram perdidos. Esses três alunos fizeram história. Provaram que o mundo não gira em torno daqueles com a melhor aparência.

Na verdade, acho que fui eu que provei isso.

Eu fiz história.

O que é bem merecido, depois das confusões que eu me meti.

Mas elas não param por aqui"

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