Os Planos de Dorcas Meadowes
“Acho que aquele foi o dia mais epicamente épico de todos os tempos. Finalmente, a Garota Invisível tinha se revelado. A rainha perdera sua coroa, e a popular se transformou na pessoa mais odiada da escola toda... JAMES VOCÊ QUER PARAR DE BRINCAR COM ESSE URSINHO?"
"Mas eu não estou incomodando ninguém!"
"Olha, falta pouco pra eu chamar a polícia"
O refeitório estava em silêncio. Ninguém nem ousava se mexer. Aos poucos, as pessoas foram absorvendo a informação, e começaram a falar muito rápido, ao mesmo tempo. James estava com uma cara péssima. Decepção.
–Mas... - comecei. Não sabia exatamente o que dizer, mas tinha que fazer alguma coisa – Eu nunca imaginei que se tornaria um meio de humilhação.
–Então porque fez isso? - gritou alguém.
–Eu, sinceramente não sei. Mas vocês não percebem? Está tudo errado! - fiz um gesto com as mãos, indicando todo mundo – Vocês não percebem? Vocês colocam rótulos nas pessoas, machucam elas!
–Ah, agora a culpa é nossa? - disse James.
Parei um segundo, decidindo se aquilo tudo que estava há tempos dentro de mim, comprimido, deveria sair. Bem, é agora ou nunca.
–Na verdade, é sim. A culpa é de vocês. De todos vocês – muitos ficaram boquiabertos – Se vocês não tivessem começado com isso de popularidade, nada disso teria acontecido. Por Deus, todos vocês são iguais! Gostam das mesmas coisas, tem as mesmas opiniões! Por que um grupo de pessoas tem que ser os melhores? - parei para respirar – A maioria de vocês não faz ideia de como é ser julgado. A maioria de vocês não sabe pelo o que eu passei. Pelo o que muitos aqui nessa escola passaram! E ainda ficam se rotulando, pra quê?, é uma forma de se sentir melhor, é isso? Dizer que fulano é feio, fulana é burra... Quem vocês pensam que são?
Dava para ouvir os passarinhos do lado de fora. Os alunos fizeram um círculo em torno de mim e de James, para poder acompanhar a novela mexicana de perto. Eles se entreolhavam, mostrando que eu estava certa.
–Nós podemos ser os piores julgadores do mundo, Lily – disse James em voz baixa – Mas você...
–Eu não estou certa, sei disso! - gritei – E nunca estive! Eu só queria poder viver em um lugar onde não há diferenças. E que as pessoas não julguem só pela aparência. Posso não estar certa, mas pelo menos eu tentei.
Baixei a cabeça e estava me preparando para fugir dali, mas ouvi uma voz que me fez mudar de ideia:
–Eu acho que você está certa.
Me virei e deparei com a pessoa que eu mais precisava naquele momento.
Dorcas.
–O quê? - sussurrei. Ela se aproximou.
–É, eu acho que você está certa. Você fez idiotisse, todos sabem – percebi que aquele não era um bom momento para dizer que a ideia fora toda dela – Mas foi por um motivo legal.
Sorri.
–Concordo – disse Remus – Acho que a gente precisa de alguém com iniciativa para mudar o mundo.
–Vocês são pirados, sério – disse Marlene McKinnon – A garota fala mal de todo mundo no jornal da escola, e ainda dizem que ela está certa? De que planetas vocês são?
–Tenho certeza que não do mesmo que o seu. Onde se fabricam garotas populares, fúteis e com uma mínima capacidade cerebral – falei, antes de perceber o que estava dizendo. Os alunos seguraram as risadas.
–Evans – chamou James – Você escolheu o motivo certo, mas fez a coisa errada. E ainda espera que alguém aqui te perdoe?
–Na verdade, não. Eu posso conviver com o ódio de todos vocês. Já aguentei isso por anos, não é? Não vai fazer muita diferença.
"E, com isso, sai do meio da galera, sendo acompanhada por Dorcas e Remus"
"Uma saída espetacular, devo dizer"
"Eu te deixei de boca aberta"
"Não é todo dia que uma ruiva temperamental dá um discurso de como ser um ser humano decente para a escola toda"
"Uau. Isso foi um elogio?"
"Isso quer dizer que você fez barraco"
"Ah. Deixa pra lá"
–Acho que você vai ser declarada a pessoa mais humanitária da escola – disse Dorcas, se jogando na minha cama.
–E a mais vadia também, não se esqueça – completei. Tínhamos saído da escola. Ninguém se importou com isso. Acho que os professores estavam até contentes de termos saído, menos problemas – Eu nunca devia ter começado com a Garota Invisível.
–Você não percebe, fez um bem para essa escola – comentou Remus – Mostrou o quão idiotas eles são.
–Mas serei odiada pelo resto da vida – falei – Peraí, eu não ligo a mínima pra isso. Quem quer Toddynho?
–Eu quero um – Dorcas disse rapidamente – Mas você não pode ser odiada. Sua vida será um inferno.
–E ela já não é?
–Imagina chegar todos os dias na escola e ser apontada pelos corredores, ser motivo de chacota de todos, não conseguir apresntar trabalhos, futuramente não ganhar boas oportunidades na cidade...
–Tá, deu, Dorcas – falei – Já entendi.
–Então! Temos que fazer algo!
Remus suspirou e eu revirei os olhos.
–Dorc's, a última fez que a gente fez algo, não sei se você lembra, mas eu passei a ser odiada pela escola toda.
–Isso não vem ao caso – ela disse rapidamente – O que importa é o que vai acontecer daqui pra frente.
"Lá vem Dorcas e seus planos malucos. Não se exatamente porque ela queria limpar minha barra, já que na última vez que eu tentei fazer isso, ela foi a culpada de tudo. Mas acho que ela sentiu pena de mim, pela minha humilhação pública, e depois pela minha reviravolta muito comentada. Só tinha certeza de uma coisa: não importava o que a gente fizesse, eu nunca seria perdoada"
"Isso é verdade"
"Metido"
"Você está no meu quarto, na minha casa, usando a minha câmera e meu notebook, peidando na minha cama, e depois eu sou o metido?"
"É. E eu não estou peidando na sua cama"
"Eu senti um arzinho"
"A janela está aberta"
"Mas o vento não tem cheiro de cocô, não é? AAII! Não precisa exagerar!"
–Isso não vai dar certo.
–Quem disse?
–Eu, oras – falei – Sério, Dorcas, isso é loucura.
–Combina bem com você, então.
–Mas eu não posso simplesmente... - fiquei em silêncio, enquanto um grupo de alunos passava por nós.
–Eu lembro dessa conversa – disse Dorcas – Ela aconteceu no começo dessa fic, enquanto estávamos decidindo se você iria ou não se tornar popular.
–Você sabe que isso não vai dar certo.
–Como é que não pode dar certo, garota? - ela perguntou, em voz alta – É incrivelmente brilhante.
–Como era o plano para me tornar popular – falei, e ela suspirou.
–Não dá pra conversar com você, é brincadeira...
Dorcas foi ao banheiro, e eu fiquei esperando no pátio da escola. Estávamos esperando o treino de futebol acabar para podermos ter a reunião da equipe do jornal da escola. Eu não sabia se queria ou não ir. Tinha certeza que McGonagall ia começar com um discurso de "Eu avisei, blá, blá, blá". E não estava nem um pouco afim de ver isso.
O sol estava se pondo, e o céu estava cor-de-rosa. Observei os garotos do time de futebol saírem do campo, suados e rindo sem parar. James estava junto, e eu me encolhi para não ser notada. Ele tentava rir com os outros, mas quando ninguém estava vendo, ele ficava com uma cara péssima.
"Só pra constar, ele estava super gostoso, todo suado e sem camisa"
"JAMES!"
Os garotos desapareceram dentro da escola, e senti alguém sentar no banco ao meu lado. Demorei alguns segundos para perceber que era Sirius. Ficamos em silêncio.
–Você me odeia? - perguntei. Ele demorou um tempo para responder.
–Acho que não. Você fez merda. Mas eu te entendo – olhei para ele – Até eu ás vezes me sinto perdido nesse estranho mundo dos populares.
–Por quê me denunciou? Podia ter falado que sabia de tudo, e eu poderia ter parado. Já estava querendo desistir disso mesmo.
Sirius suspirou.
–É complicado. Na verdade foi por causa de James.
–Como assim?
–Eu não me aproximei de vocês porque achei interessante Remus ter ligado uma torradeira com um abacaxi, bem, foi um pouco por isso, mas em maioria... Foi porque James pediu.
–Wow, wow, wow. Explica direito esse negócio – falei, e ele riu do meu desespero.
–Acho que isso é James que vai ter que contar – falou, observando o céu – Mas primeiro vocês tem que fazer as pazes.
–Acho difícil, ele me odeia – resmunguei.
–Bem, é.
O encarei.
–Sabe, você devia fazer eu me sentir melhor.
–Não importa o que eu diga, você nunca vai acreditar – continuei encarando ele – Ok, ok. James gosta de você. Só está irritado.
–Não acredito – disse.
–Eu disse que você não ia acreditar, mas você não acreditou – ele fez cara de confuso – Como?
Começamos a rir, mas o tempo de alegria logo passou.
–A gente se vê, ruiva – disse Sirius, se levantando e colocando a mochila nas costas. Ele começou a ir em direção á rua, mas se virou para mim na metade do caminho – Faz um favor? Tenta consertar a situação.
Assenti levemente com a cabeça, e ele se foi.
"Eu não sabia dessa parte. Você nunca me conta as coisas mais importantes, né, ruiva?"
"Isso não é importante"
"Claro que é! Sirius estava praticamente dizendo para você começar com o plano..."
"Ele não fazia ideia"
"Claro que fazia. Ele lê mentes"
"James? Cale a boca"
Na hora que eu mais precisava, faltava coragem. James estava mais a frente no corredor, e eu não conseguia falar com ele. O garoto pegava seu casaco no armário, se preparando para sair. De repente, ele se virou, mas eu consegui me esconder atrás da parede a tempo. Segundos depois ele atravassou o corredor e saiu pela porta da frente.
Não sei o que deu em mim. Fico decidida a pedir desculpas, e quando chega a hora, não sai nada. O medo de ele começar a gritar novamente também assusta.
E minha chance de resolver tudo se foi.
–Droga – resmunguei, fechando os olhos e encostando a cabeça na parede.
–Pelo o menos você teve a intenção – levei um susto, mas ao me virar vi que era apenas Dorcas – Tem certeza que não quer outro meio de se desculpar?
Pensei um pouco. Era minha única chance. E ainda tinha a possibilidade de ajudar várias outras pessoas. Suspirei.
–Ok, desisto. Vamos do seu jeito.
Ela sorriu, deu uns pulinhos costumeiros e me arrastou para a reunião do jornal.
"Digamos que Dorcas tinha uma ideia bem... Interessante para fazer as pessoas me perdoarem. Mesmo que eu não me importe, não conseguiria viver com aquele ódio para sempre, e tive que aceitar. De qualquer jeito ela ia por em prática esse novo plano, mas com minha ajuda seria bem mais fácil.
Como ela dissera, "Se não puder se juntar a eles, faça com que eles se juntem a você"
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