Desafios e cremes de canário
Desafios e cremes de canário
As semanas seguintes a visita a cabana de Hagrid foram tão cheias quanto a primeira. Aos poucos já dominavam alguns feitiços e Alvo se mostrou um ótimo aluno em poções, arrancando vários elogios da professora. Scorpius já se saira melhor em feitiços e tinha interesse especial por Estudo dos Trouxas, enquanto Rose se dava bem em todas as matérias. Ela tinha uma impressionante capacidade de anotar e memorizar tudo o que os professores falavam e conseguira vários pontos extras para a Grifinória. No entanto, a aula que mais gostaram foi a de voo. Nos momentos de folga, passeavam pela escola, conhecendo seus jardins e corredores. Rose passava muito tempo na biblioteca, a cara enfiada nos livros.
- Sua prima gosta mesmo de ler, né? - comentou Scorpius, numa tarde em que ele e Scorpius estavam no campo de quadribol observando o treino da Grifinória. O time era formado quase que inteiro pelos Weasley: Fred e Louis eram batedores, Dominique era atacante e Tiago era apanhador.
- Se gosta. Desde pequena ela vive com um livro nas mãos. Mamãe diz que ela é igual a tia Mione. - Alvo comentou rindo.
- Ela não gosta de mim. - Scorpius falou e Alvo o encarou ficando sério.
- Não é verdade. - defendeu a prima. - Rose só é desconfiada. E tem aquele lance dos nossos pais não se darem bem. Desencana.
- Seus pais não falaram nada da gente ser amigo? - o loiro questionou, a testa franzida de preocupação.
- Não. Eles não ligam com essas bobagens. - Alvo falou, dando de ombros, observando atentamente Tiago capturar o pomo com destreza. - E os seus?
- Acho que meus pais não ligam. Mas meu avô não vai gostar nenhum pouco.
Ficaram em silêncio vários minutos até que Scorpius abriu um sorriso.
- Você é o primeiro amigo que eu fiz que não liga que meu pai foi um Comensal da Morte. Meu avô vai ter que entender isso.
Alvo fitou o loiro e também sorriu. O capitão da Grifinória deu o treino por encerrado e os dois voltaram andando devagar até o castelo. Estava próximos as estufas quando escutaram chamar. Se viraram e viram Tiago, Fred e Louis vindo até eles.
- E ai, irmãozinho. Como está? - perguntou com um sorriso malicioso.
- O que você quer, Tiago? - Alvo questionou, já imaginando o que o irmão queria aprontar.
- Nada. Na verdade, estavámos conversando e imaginando, mas ... - trocou um olhar travesso com os primos. - É melhor não. Você não teria coragem.
- Coragem de que? - Alvo perguntou, sentindo que estava caindo em uma armadilha.
- Bom, estavámos planejando uma brincadeira, sabe, algo para confirmar que você é tão maroto quanto nós, e que não envergonhará o nosso avô Tiago e nossos tios Fred e Jorge.
- Mamãe me disse para ficarmos longe de encrencas. - Alvo declarou.
- Eu não disse que ele não toparia? - Tiago falou para os primos.
- Talvez ele não esteja na casa certa. - Fred declarou, encarando Alvo. - A Grifinória é a casa dos corajosos e não dos covardes.
- Eu não sou covarde. - Alvo estava ficando irritado, sentia as orelhas começarem a arder, sinal que estavam ficando vermelhas, bem típico dos Weasley.
- Talvez Lily, quando vir para Hogwarts, possa honrar o nome dos marotos e dos Potters. - Louis falou, dando de ombros.
- Tudo bem, o que tenho que fazer? - Alvo perguntou decidido e Tiago riu, contente. Como esperado, o irmão mais novo caira na provocação.
- Isso irmãozinho. Sabia que não me decepcionaria. - tirou de dentro do bolso um saquinho com um pó branco. - Agora o desafio: você deve colocar isso aqui na sobremesa dos sonserinos.
- O que é isso? - Alvo questionou, temeroso de que fosse algo perigoso.
- Creme de canário. - Fred esclareceu, um sorriso travesso no rosto.
- Isso é loucura. Se te pegarem, você vai receber uma detenção. - Scorpius protestou.
- Mas não vão pegar. - Fred falou, seguro.
- E como ele vai por isso nos doces dos sonserinos? Acha que não vão achar estranho um aluno da Grifinória ir na mesa deles durante o jantar e colocar algo nos doces? - Scorpius ainda argumentou.
- Temos um plano, caro Scorpius. - Tiago falou. - Agora prestem atenção. Os elfos fazem os doces agora a tarde. Você só tem que entrar na cozinha e colocar o pó na sobremesa.
- E como vamos entrar na cozinha? - falou Scorpius, achando aquela história toda uma loucura, mas também a coisa mais emocionante que já lhe acontecera. - E como vamos distrair os elfos.
- Vamos? - Alvo perguntou, sinceramente surpreso e feliz. O outro deu de ombros e concordou com a cabeça.
- Bom, vamos com vocês. - Tiago explicou. - Conhecemos uma entrada para a cozinha e vamos distrair os elfos. Os doces ficam numa bancada perto do fogão, os da sonserina é a última fileira .
- Como você sabe isso? - Scorpius perguntou curioso.
- Monstro, o elfo domestico lá de casa, trabalhou um tempo em Hogwarts e me contou. - Tiago deu de ombros.
- E quando faremos isso? - Alvo questionou. Sentia o estômago revirar de medo, expectativa e excitação.
- Hoje mesmo, depois do jantar. - falou Fred. - Só temos que ter cuidado com o velho Filch.
- E despistar a Rose. - Louis completou.
- Com isso não precisam se preocupar. Todos os dias, depois do jantar,ela vai para a biblioteca e fica até fechar. - Alvo falou.
- Então tá combinado. Esperamos vocês na escadaria próxima ao Salão Principal às sete e meia. - Tiago declarou. - E tomem cuidado. Ninguém pode nem desconfiar do que vamos fazer.
Saiu seguido de Fred e Louis, os três cochichando animadamente. Scorpius e Alvo ficaram parados no mesmo lugar.
- O plano do seu irmão é uma loucura. - o loiro falou, sério.
- Eu sei. Se descobrirem quem foi, com certeza ficarei em detenção. - Alvo falou e Scorpius concordou.
- Mas, afinal, o que faz esse creme de canário? - os dois recomeçaram a andar.
- Você não conhece? É um dos produtos da loja dos meus tios. Quem come vira um canário amarelo por algum tempo.
- Deve ser engraçado. - Scorpius falou, rindo ao imaginar a cena.
- E é. Teve uma vez que o vovô Artur comeu um por engano. Foi uma confusão só, mas ele até achou engraçado.
- Duvido que o sonserino que comer vai achar graça. - Scorpius declarou com riso na voz.
- Mas eu tenho que fazer. Senão Tiago vai ficar enchendo o meu saco pelo resto da vida. E se eu for cuidadoso, ninguém vai descobrir.
Mesmo achando muito perigoso, logo depois do jantar, Scorpius seguiu Alvo até a escadaria de mármore, fingindo conversarem quando alguém passava. Logo Tiago, Fred e Louis apareceram e juntos viraram à esquerda ao pé da escada e passaram por uma porta. Desceram um lance de escada e sairam num corredor de pedra, largo e bem iluminado, decorado com alegres pinturas, a maioria de comida.
- Pensei que íamos para a cozinha. - falou Alvo, cada vez mais apreensivo.
- E vamos. - falou Tiago com um sorriso maroto, parando em frente a uma pintura de uma enorme fruteira de prata e fazendo cócegas numa enorme pêra verde, que começou a rir e se transformou numa maçaneta. A abriu num gesto teatral e Alvo e Scorpius deram um passo atrás.
- Legal, né. - falou Fred, passando pelos dois primeiranistas e parando ao lado de Tiago, que olhou desafiadoramente para o irmão.
- Então, vai em frente ou vai amarelar?
Alvo sentiu o rosto começar a esquentar, e encarou o irmão com um pouco de raiva. Sem dizer uma palavra, entrou na cozinha e parou momentaneamente abismado: o aposento era tão grande como o Salão Principal acima, panelas e tachos empilhados ao redor das paredes de pedra. Imediatamente foram cercados por vários elfos domésticos, ansiosos para atenderem qualquer pedido que tivessem. Tiago, Fred e Louis encheram os bolsos de doces que os elfos ofereciam. Scorpius também olhava tudo a sua volta até que avistou algo, dando um leve cutucão no braço do amigo, apontando uma mesa próxima ao fogão, repletas de tortas.
Extremamente nervoso, Alvo caminhou disfarçadamente até a mesa, vendo Scorpius desviar a atenção de um elfo que parecia desconfiar dos garotos, mas que logo se deu por satisfeito em servir o garoto loiro. Antes que perdesse a coragem, retirou o saquinho com o pó do bolso e despejou tudo numa travessa com uma torta coberta de chantilly e damascos. Logo juntou-se aos outros, comeram mais algumas guloseimas e foram embora.
- Então, colocou? - Tiago perguntou assim que entraram no salão comunal.
- Sim. - Alvo respondeu. - Mas... não tenho certeza se foi na torta que vai pra mesa da Sonserina.
Ao invés de ficar bravo com o irmão, Tiago sorriu ainda mais com aquela informação.
- Bom, então será muito mais divertido. - falou trocando um olhar com os primos que já riam só de imaginar quem comeria o doce adulterado. Viram Rose os encarar com a testa franzida e alertou os dois primeiranista. - E cuidado, não deixem ninguém descobrir.
Subiu para o dormitório dos meninos e Alvo e Scorpius juntaram-se a Rose.
- O que vocês estavam fazendo junto com Tiago, Fred e Louis? - a ruiva foi logo perguntando.
- Nada – Alvo falou com cara de inocente. - Encontramos com eles aqui na entrada do salão comunal.
Rose os encarou por alguns segundos, desconfiada.
- Você voltou cedo da biblioteca. - Alvo desconversou e viu um brilho entusiasmado surgir nos olhos da garota.
- Ah sim. Andei fazendo umas pesquisas. Sabia que existe uma sessão com edições antigas do Profeta Diário? - ela questionou,com um brilho de excitação nos olhos.
- Tá, e daí? - Alvo falou se sentando no sofá, com Scorpius a seu lado.
- Daí que descobri muita coisa interessante da época que nossos pais estudavam aqui. - fez uma pausa com a intenção de criar curiosidade e continuou. - E também sobre a guerra.
- E o que fala essas reportagens? - Scorpius perguntou, realmente curioso.
- Muitas coisas. - Rose respondeu, mas fez cara amuada e bufou aborrecida.- Mas Madame Pince não me deixou ler. Disse que não é uma leitura apropriada pra minha idade.
- Mas se bem a conheço, você vai burlar a vigilância dela e ler esses jornais, não é? - Alvo falou com um sorriso.
- Com certeza. - a ruivinha falou e se levantou. - Vou dormir. Amanhã quero levantar cedo para passar por lá antes do café. Além dos jornais, achei uns livros bem interessantes que Madame Pince não pode me impedir de ler. Boa noite.
Rose se recolheu, deixando os dois garotos rindo da forma que ela falava.
- Alvo, posso perguntar uma coisa? - Scorpius começou e o outro o encarou.
- Sim, claro.
- Seu pai te contou sobre a guerra? - quis saber o loiro, curioso. - Quer dizer, ele contou todos os detalhes, como ele fez pra vencer Voldemort?
- Tudo, tudo, não. - Alvo declarou com um suspiro – Sabemos o que todo mundo sabe: ele matou Voldemort e pronto. Papai não gosta muito de falar no assunto. Mamãe diz que ele não gosta de se lembrar daquela época porque muita gente morreu e ele se sente meio culpado.
Scorpius balançou a cabeça em compreensão.
- Meu pai as vezes tem pesadelos e fica muito tempo sem dormir. - o loiro confidenciou. - E não gosta da Mansão Malfoy. Mamãe me contou que ele tem péssimas lembranças de lá. - ficaram em silêncio um longo tempo, até que Scorpius se levantou. - É melhor irmos dormir também. Amanhã temos o dia cheio, e ainda temos aula de astronomia a noite.
Alvo concordou, mas não estava preocupado com as aulas. Estava imaginando quem comeria o doce com creme de canário. Só esperava que ninguém descobrisse que fora ele. Ai sim, ficaria encrencado.
O dia seguinte correu normalmente até a hora do almoço. Já começavam a acreditar que ninguém comeria a bendita torta quando Scorpius lhe deu um cutucão no braço e apontou discretamente para a mesa dos professores. Horrorrizado, Alvo viu cinco professores comerem a guloseima e logo em seguida o caos se instalar no Salão Principal quando todos eles se transformaram em grandes canários amarelos e emplumados. Olhou para o irmão e os primos, que apenas riam sem parar. Aliás, a maioria dos alunos pareciam se divertir com a situação. Apenas Rose parecia a beira de uma sincope.
Os professores foram levados para a ala hospitalar e os rumores de quem poderia ter feito aquilo começou. Antes de sair para as aulas da tarde, conseguiu puxar Tiago para um canto e desabafou.
- Você não disse que as tortas iam pras mesas das casas? Agora vão me expulsar.- falou, meio desesperado.
- Relaxa, irmãozinho. Ninguém vai saber que foi você. Não vai acontecer nada. - Tiago falou antes de sair para as aulas da tarde.
Por alguns momentos, Alvo até acreditou que ninguém iria descobrir que fora ele que fizera aquela brincadeira, mas antes do fim da primeira aula, praticamente todos já sabiam e muitos vinham cumprimentá-lo. Por sorte nenhum professor tinha ouvido.
No entanto sua sorte foi por água abaixo quando ia para a aula de feitiços.
- Ei, Potter. - ouviu chamar e ao se virar deu de cara com Richard Newton, um aluno da Corvinal do 2º ano. - Fiquei sabendo que foi você que colocou creme de canários no doce dos professores. É verdade?
Alvo até pensou em negar, mas o orgulho de ser reconhecido como um maroto falou mais alto e ele confirmou.
- Sim fui eu. - ele falou pomposo e trocou um sorrisinho enviesado com Scorpius.
- Cara, legal. Achei que tinha sido seu irmão. Nunca imaginei que tivesse coragem pra isso.
- Coragem pra que? - ouviram atrás de si e se viraram assustados, dando de cara com os professores de Herbologia e Runas Antigas. A professora de runas olhou para os três garotos e então virou-se para o professor Longbotton com a testa franzida. - Parece que descobrimos o autor daquela brincadeira sem graça da hora do almoço.
Alvo instantaneamente ficou pálido e nem viu Richard Newton fugir de fininho.
- Pode deixar, Sra. Price. - Neville declarou. - Vou cuidar disso pessoalmente.
- Vou avisar Minerva que encontramos o responsável pelo desastre da hora do almoço. Acredito que ela mesma queira dar uma punição ao engraçadinho. - A mulher saiu com passos duros, parecendo bastante satisfeita.
- Venham comigo. - Os dois garotos seguiram Neville até uma sala desocupada. O professor sentou-se numa das cadeiras e fitou os dois garotos seriamente.
- Então, é verdade o que escutei no corredor? Vocês adulteraram a sobremesa da mesa dos professores? - perguntou
- Não professor. - Alvo falou. - Fui eu, só eu. Scorpius não teve nada a ver com isso. Eu entrei na cozinha e coloquei o creme de canário na torta. Mas não era para os professores comerem. A torta tinha que ir para mesa da Sonserina.
- E você acha que seria engraçado ver seus colegas virarem pássaros no meio do almoço? - Alvo não respondeu, apenas baixou a cabeça e negou com um gesto imperceptivel. - Devo pressumir que seu irmão e seus primos também estão envolvidos nessa brincadeira, certo?
Não houve resposta e Neville deu um suspiro.
- Olha, sei que você quer seguir os passos do seu irmão, mas deve concordar que passou um pouquinho da conta essa sua brincadeira. Eu poderia resolver esse assunto aqui, mas vocês ouviram a professora Prince. A essa hora a diretora McGonagoll está sabendo que foi você que colocou creme de canário na sobremesa e ela já tinha deixando claro que queria falar com o responsável. Só quero lhe dar um conselho: pega leve. Eu o conheço desde que nasceu, mas aqui dentro sou seu professor e não posso fazer vistas grossas para suas faltas. - levantou-se e começou a caminhar para saída. - Na próxima vez, não se deixe ser apanhado tão facilmente. Sr. Malfoy, vá para sua aula e Alvo, venha comigo.
Alvo trocou um olhar resignado com seu amigo e seguiu o professor de Herbologia para conhecer sua primeira punição em Hogwarts. E pelo jeito, aquela não seria a última.
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Oi, pessoal. Depois de uma eternidade, estou postando mais um capítulo. É a travessura que faz Alvo parar na sala da diretora. Espero que gostem. Aguardo os comentários. Não vou demorar mais tanto tempo pra postar essa fic, vou me dedicar mais a essa história. Idéias são bem vindas.
Beijos
Fabiana
Comentários (1)
Ah que bom que atualizou!Não demore muito, fico tão ansiosa! hahaahahahO Tiago é um maroto msm, metendo o irmão dele em enrascada!Mas adoro tudo!
2014-03-10