Inconseqüêntes




CAPÍTULO 7 – INCONSEQÜENTES

A semana foi se arrastando, dando a impressão de que jamais terminaria. Mais um exaustivo treino acabava de terminar e Harry já colocava o uniforme da escola quando viu Ginny saindo a passos largos do vestiário. O garoto apressou-se para colocar as vestes pretas e saiu atrás da garota, que parecia estar com muita pressa, pois nem sequer percebeu a aproximação de Harry. Os dois já estavam no campo de quadribol quando ele conseguiu alcançá-la, segurando-a pelo pulso.

“Pra onde você vai, Ginny? Não sei se percebeu, mas nosso treino já terminou”, ele se fez de inocente. Harry sabia perfeitamente que o time da Slytherin chegaria para treinar a qualquer momento.

“É, eu sei”, informou a garota, que se tornara a principal artilheira da casa.

“E o que você vai fazer lá?”, mais uma vez fingiu não saber o que ela pretendia.

“Não interessa!”, respondeu com grosseria, por puro nervosismo.

“Claro que interessa. Para toda a escola você é minha namorada!”, exclamou Harry.

“Para toda a escola nós terminamos, esqueceu?

“Apenas pensei que você poderia mudar de idéia, preferindo manter a farsa para proteger o seu segredo”, o tom de voz era triste. No fundo ele ainda tinha alguma esperança. Ela desistiria um dia, disso tinha certeza. Só esperava que não demorasse muito.

“Eu não vou mudar de idéia. É o Malfoy que eu quero”, sussurrou para que mais ninguém escutasse, caso estivessem ouvindo a conversa. “De você eu só quero a amizade”, acrescentou em seu tom normal.

Não foi ríspida dessa vez. E isso deixou o gryffindor ainda mais perturbado. Quando ela o tratava gentilmente era pior... Desejava que ela sempre o tratasse mal, para que conseguisse tirar o que sentia por ela da cabeça. Ela não precisava ver educada, não precisava sorrir, não queria que ela sorrisse daquela forma. Isso só doía mais.

“Tem certeza...”, ele a soltou e ficou encarando algum ponto distante no campo de quadribol. “Que não sobrou nenhuma pontinha do sentimento que você tinha por mim?”, a voz triste do rapaz fez Ginny sentir o remorso crescer dentro dela. Não poderia tratá-lo mal, ele não tinha culpa.

“Claro que sim, Harry”, respondeu gentilmente, levando uma de suas mãos ao rosto do garoto, fazendo com ele a olhasse novamente. “Mas a cada dia você prova que não era para ser assim e que não devemos ficar juntos. É um grande amigo, e disso eu não tenho dúvidas, mas quanto a ficar com você... Creio que o nosso tempo já passou”.

“Para mim não passou”.

“Lembre-se de que prometeu não insistir”.

“Tudo bem”, ele se rendeu. “Você sempre vence, não é mesmo?”

Ela sorriu. Aquele sorriso o torturava. Não queria mais sorrisos tristes, cheios de compaixão... Desejava aquele sorriso. Exatamente aquele, que era dado quando achava graça em alguma coisa que ele dizia. Desejava aquele sorriso só para ele.

“Quando você não está bravo se torna uma pessoa muito gentil. E eu gosto disso, Harry. Admiro a sua sinceridade, mas apenas admiração não é suficiente”.

“E eu te admiro pela coragem que está tendo em investir nessa relação com aquele...”

“Não esqueça que eu sou uma gryffindor”, ela o interrompeu. “Coragem nunca vai me faltar, principalmente quando for para lutar por algo que eu quero. De qualquer forma, até mais Harry, tenho o treino da Slytherin para assistir. Pode deixar que eu vou memorizar as jogadas deles e repasso para os outros artilheiros”, ela voltou pelo caminho que tinham feito, mas em vez de voltar para os vestiários, virou para em direção às arquibancadas. Iria se esconder em algum lugar para que o time não a visse.

“Você é muito vingativa, sabia?”, Harry disse alto, quando ela já estava longe. Mas não longe o suficiente.

“Não é vingança, Harry. Eu só cansei de sofrer por você”, disse com simplicidade. Depois deu as costas novamente para o garoto e continuou o seu caminho.

“É, agora vai sofrer por um idiota”, resmungou.

Ele ouviu alguém batendo palmas e olhou para trás. Não ficou nem um pouco feliz com o que viu. Draco parecia ter observado a discussão quando estava a caminho do campo e provavelmente tinha se escondeu para não ser visto. Pela sua expressão, Harry pode ver claramente que o slytherin estava se divertindo com a situação, mas controlou a vontade de bater nele.

“Parabéns, Potter. Você conseguiu reproduzir a cena mais deplorável que eu já vi em toda a minha vida”, debochou. Malfoy vestia o uniforme da sua casa e se apoiava em sua vassoura nova.

“Cala a boca, Malfoy!”, irritou-se. “Você não sabe o que diz”, falou se virando para ir embora, mas o Draco recomeçou a falar e, o que ele disse, fez com que Harry parasse onde estava.

“Ah, eu sei, sim! Sei exatamente o que eu estou falando, Potter. Você é que parece ligeiramente perdido”, falou em tom de superioridade. “É lamentável ver um cara se humilhando, por uma mulher, mas no seu caso...”, ele se aproximou e falou baixo. “Até que foi divertido”.

Naquele momento Harry virou-se furioso. Desejando ouvi-lo gritar em vez de ouvi-lo sussurrar todas aquelas palavras. Aquele tom de voz do seu inimigo era realmente irritante e faria até o ser mais paciente da raça humana perder a cabeça.

“Ela me ama, Malfoy”, ele precisava sair vencedor daquela discussão. “Só está com raiva de mim no momento”.

“Desce do pedestal, Potter! A Weasley não quer você”, irritou-se. “Ela me quer”, mais uma vez as palavras vieram naquele tom baixo e odioso.

Harry ficou surpreso. Ele sabia. Mas como? Ouviu alguma coisa? Ginny lhe contou? Não... Por mais gryffindor que ela fosse, ele não acreditava que ela teria a coragem para tal atitude.

“Então você já sabe?”

“Não me diga que você sabia da história, Potter?”, um sorriso se alargou no rosto de Draco. Realmente esta era uma manhã para guardar na memória. Era divertido ver a cara de desespero no rosto do menino que sobreviveu.

“Isso não interessa!”

“Claro que interessa. Adoro a forma como você consegue parecer mais idiota a cada minuto. Você continuou namorando-a, mesmo sabendo que ela se encontrava comigo? Ser enganando pelas mulheres deve ser a sua vocação...”

No segundo seguinte Malfoy sentiu o punho direito de Harry em seu rosto, mas nem o soco que havia levado fez o seu bom humor diminuir. Ele apenas sorriu. Depois riu com intensidade. Estava quase gargalhando. Harry o odiou ainda mais.

“Do que você está rindo? Acabei de te bater!”, gritou com raiva.

“E doeu, pode ficar feliz. Você está ficando forte, hein, Potter?”, disse massageando o rosto.

“Não zomba de mim, idiota!”, Harry não conseguia controlar a sua raiva. A última vez que sentiu tanto ódio foi no ano anterior, quando quase matou um aluno da Slytherin que tentou usar a maldição Imperius em Hermione. “Você só está brincando com ela, não é mesmo?”

“Não estou! Eu a quero sim. E gosto dela de verdade, mas não vou sossegar enquanto você estiver por perto”, ele se aproximou mais uma vez do gryffindor. “Por isso, eu aconselho você a se cuidar... Ou posso providenciar para que você tenha o mesmo fim do Longbottom”, falou lentamente.

Então foi mesmo ele.

“Maldito!”

Harry sentiu vontade de socá-lo novamente, mas se conteve. Não se deixaria abalar apenas por palavras. Não cairia na provocação. Iria se mostrar forte... Precisava se mostrar dessa forma. Era isso que Malfoy desejava. Ele queria que Harry perdesse o controle, mas o garoto continuava lutando contra todas as células do seu corpo que gritavam para que ele matasse Draco naquele instante. Respirou fundo e tentou pensar em qualquer resposta mal criada.

“Tem medo que ela tenha uma recaída?”, ele tentou afastar da cabeça as incontáveis formas de fazer o slytherin sofrer com as piores dores possíveis.

“Claro que não! Isso não vai acontecer”, falou com simplicidade. “Tenho medo que você a ataque durante a noite”.

“Ora, seu...”, Harry puxou a varinha das vestes.

“Calma aí, Potter!”, Malfoy deu um passo para trás. “Você não era tão violento”.

Harry tentou respirar fundo e se controlar. Estava difícil, chegou a pensar que era impossível, mas depois de muito esforço conseguiu. Os olhos azuis, levemente acinzentados, ainda o miravam. Não podia deixar que brincasse com ele... Não permitiria que Malfoy brincasse com seus sentimentos e com os de Ginny. Sua cabeça estava a mil e quando falou suas palavras foram totalmente descabidas. Saíram sem que ele pensasse, sem que medisse as conseqüências... Saíram sem querer.

“Vamos fazer um trato, Malfoy”, Harry falou, não reconhecendo a própria voz.

“Um trato com você? Nunca!”, Draco riu ao pensar que o desespero de Harry era grande ao ponto de querer fazer um trato.

“Escuta primeiro”, pediu. “Depois você decide o que fazer”.

“Fala logo, cicatriz! Eu não sou muito paciente”.

“Depois de amanhã vamos nos enfrentar no quadribol”.

“E daí? Qual é o trato?”

“Se você pegar o pomo, esqueço que a Ginny existe e farei o possível para esquecer o que eu sinto por ela”.

“Até que não é um mau negócio”, Malfoy pensou alto. “Ok, cicatriz, eu ace...”

“Agora...”, Harry o interrompeu. “Se eu pegar o pomo, você tem que deixar o caminho livre para mim”, o slytherin esqueceu imediatamente que pretendia aceitar aquele acordo.

“Endoidou, Potter? Não vou aceitar um trato desses!”

“Está com medo, Malfoy?”, Harry provocou. Sabia que o loiro não admitiria que estava com medo de perder.

“Claro que não”, revidou irritado. Pela primeira vez, desde que iniciara aquela conversa, Harry tinha conseguido atingi-lo.

“Então por que não aceita a proposta?”, insistiu.

Draco ficou sem saber o que dizer por um momento. Não queria arriscar nada naquele jogo, principalmente quando sabia que suas chances não eram grandes. Mas era o seu orgulho estava em jogo. Não poderia sair derrotado naquela discussão.

“Está bem”, falou sem muita certeza. “Quem pegar o pomo, fica com a Weasley”.

Harry sorriu vitorioso. Não tinha dúvidas de que venceria aquela partida. Estendeu a mão ao adversário, para que selassem o acordo, mas o loiro rejeitou.

“Fazer um trato com você até admito, Potter. Mas não irei apertar essa sua mão nojenta”.

“Tudo bem. Isso não fará diferença mesmo... Mas trato é trato”, falou acenando a varinha, que soltou faíscas avermelhadas que circularam seu pulso e o de Malfoy. Não poderá voltar atrás, quando perder depois de amanhã. “Harry provocou”.

“Eu não vou perder, cicatriz”

“Não se esqueça que você nunca ganhou pra mim”, lembrou o gryffindor.

“Para tudo tem uma primeira vez”.

Malfoy passou direto por Harry em direção aos vestiários. O garoto viu o inimigo sumir pelo corredor e sentiu-se satisfeito. Teria a sua chance, venceria o jogo! Nunca perdeu para Malfoy, não seria agora que isso aconteceria. Teria Ginny para ele e poderia reconquistá-la. Precisava reconquistá-la.

Voltou praticamente correndo para o salão comunal, onde todo o time da Gryffindor estava reunido, comemorando o bom treino daquele dia. E estavam especialmente satisfeitos porque sabiam que o time da Slytherin não estava, nem de longe, a altura do deles.

“Vamos nos esforçar para que seja a maior vitória da história de Hogwarts!”, incentivava Ron, artilheiro do time.

“Não vou deixar nenhuma goles passar, podem ter certeza”, a nova goleira falou sorrindo.

“Ei, Harry, vê se não captura o pomo com menos de cinco minutos, tá legal? Quero fazer pelo menos uns dez gols”, brincou o novo artilheiro, o caçula dos Creevey.

A única do time que não estava lá era Ginny e só de pensar nela o coração de Harry batia mais acelerado. Naquele momento só conseguia pensar no que ela estaria dizendo ao Malfoy naquele momento. O que ele estaria dizendo para ela... O que estariam fazendo... Sentiu-se um idiota.

Deixou seus companheiros continuarem aquela conversa animada e isolou-se no silêncio do dormitório. Não conseguia ordenar seus pensamentos. Estava tão confuso com tudo o que estava sentindo que parecia não ser ele próprio que estava tendo aqueles pensamentos. Parecia que cada um deles pertencia à outra pessoa. Fechou os olhos e, sem saber ao certo como, adormeceu.

No dia seguinte Harry não fez nada além de pensar no trato que havia feito com Malfoy, não conseguia sequer se concentrar nas aulas, não conseguiu comer e quando falavam com ele respondia apenas sim ou não. Ron estava preocupado demais com o jogo para perceber alguma coisa, já Hermione não parava de perguntar o que ele tinha e Harry não cansava de responder que não era nada.

O dia do jogo chegou e Harry havia se atirado na mesma poltrona de sempre, aparentando estar mais morto do que vivo, enquanto olhava para uma janela na Sala comunal.

“Harry, definitivamente você não está bem. Geralmente você fica animado com um jogo, excitado... Eufórico. Desde ontem que você está parecendo um zumbi”, ela sentou-se do braço da poltrona. “E desde ontem que eu não canso de perguntar o que você tem. Só vou desistir quando você me contar”.

“Estou um pouco preocupado”, foi tudo o que ele conseguiu dizer. “Você viu a Ginny?”

“Já vai descer... Ah! Olha ela aí”.

Ginny vinha descendo as escadas e passou direto por Harry e Hermione. Parecia muito apressada.

“Ginny, espere!”, gritou Harry, mas ela não parou. “Desculpe, Mione”.

Ele saiu correndo deixando Hermione parada, sem reação. Correu atrás de Ginny e a alcançou.

“Preciso falar com você”, falou quando chegou ao lado dela.

“Estou atrasada para o café”, começou a falar, mas teve que parar bruscamente, porque o garoto se colocou em sua frente. “O que é Harry?”, perguntou irritada.

“Me perdoa?”, pediu. “Por favor, desculpa!”

“Do que você está falando? Se for...”

“É por tudo o que eu fiz. Por eu ter te beijado a força, ter insistido... Passei a noite toda pensando e acho que vai ser melhor pra você se eu não insistir mais”.

“Certo, Harry”, ela sorriu.

“Porque ela sempre faz isso?”, pensou o garoto. Teve vontade de apagar tudo o que dissera no momento anterior. Ao ver aquele sorriso teve vontade de beijá-la mais uma vez. Controlou-se antes que fizesse mais uma besteira que não teria perdão.

“Tudo bem, eu te perdôo, certo? Eu já havia te perdoado, Harry. Mas foi muito bom ouvir isso de você”, ele tentou forçar um sorriso. Isso era muito difícil de fazer.

“Fico aliviado”.

“Eu também!”, exclamou sorrindo mais uma vez. “Agora vai tomar café, por que você está com uma cara horrível”.

“É. Estou tendo crises de insônia de novo”.

“Dá uma passada na Ala Hospitalar mais tarde, depois do jogo... Quem sabe você resolve seu problema”, falou. Em seguida deu um beijo no rosto dele e saiu correndo.

“Harry”, era Hermione que o chamava. Ele virou-se e olhou para a amiga.

“Fala”.

“Acho que agora é o momento em que você para e me conta o que está te deixando assim, não é?”, perguntou.

O garoto respirou fundo e balançou a cabeça, afirmando. Já havia tomado uma decisão e precisava dividi-la com alguém. Ron não entenderia... Jamais poderia contar com o amigo em um momento como aquele.

“Obrigado”, falou baixo, encostando a cabeça no ombro de Hermione, que o abraçou. “Obrigado por estar disposta a me ouvir, porque eu não agüento mais isso tudo”.

“Não fica desse jeito. Vem”, ela respondeu no mesmo tom.

Eles voltaram para o salão comunal, que estava praticamente vazio. Como era dia de jogo todos foram tomar café o mais cedo possível para dirigirem-se para o estádio e conseguir um bom lugar.

Harry sentou no mesmo lugar que estava antes de Ginny aparecer e Hermione sentou-se em uma cadeira, de frente para ele, pronta para escutar cada palavra com muita atenção. Deixou que ele falasse. Por minutos seguidos ele narrou tudo, casa momento e conversa que conseguia se lembrar. Hermione permanecia quieta, deixando que ele transformasse todos os seus pensamentos em palavras e, mesmo não conseguindo acreditar no que estava ouvindo, deixou que ele terminasse. Era loucura demais para ser verdade.

“Ainda não consigo acreditar, Harry”, ela o olhava como se esperasse que ele pulasse da poltrona e gritasse “primeiro de abril”.

“Mas é a verdade. Eles estão juntos. Foi por isso que fingi namorar a Ginny. Para que ninguém, principalmente o Ron, não desconfiasse”.

“Vocês são loucos?”, perguntou. Depois ela parou, fingiu pensar e exclamou: “Claro que são loucos. Os três! A Ginnt por ter se apaixonado por alguém como aquele retardado, você por esconder uma coisa dessas e propor esse trato com aquele imbecil. E ele é um louco maior ainda por ter aceitado. Decidir a sua vida em um jogo de Quadribol, Harry?!”

“Eu já sei que eu fiz besteira. Não precisa ficar me lembrando... Não pensei na Ginny na hora, só em mim”.

“Mas pelo lado positivo, a sua vitória é quase certa, então o Malfoy vai deixar a Ginny em paz, mas se ela realmente ama o Malfoy não vai ficar com você! Você não pode perder Harry”, ela segurou as mãos do amigo com força. “Não pode deixar que ele fique com ela. Mesmo que a Ginny não fique com você, é melhor que fique sozinha”

“Eu já pensei em tudo, Mione. Já sei o que irei fazer. Sei que você será contra, mas tudo que eu quero é ver a Ginny feliz”.

“O que você...”

“Por isso eu já decidi o que vou fazer hoje”.

“E o que é?”, ela perguntou, com medo de saber a resposta.

“Vou deixar o Malfoy pegar o pomo”.

“Você está louco? Não pode entregá-la ao Malfoy! Ele não presta, Harry! Esqueceu o que ele já fez? Esqueceu quem ele é?”, perguntou desesperada.

“Eu sei”, ele gritou. “Mas não vai adiantar nada! A Ginny está completamente cega. Não vai deixá-lo”.

“Mesmo assim”, ela falou em seu tom de voz natural. “Precisamos ganhar esse jogo! É a honra da Gryffindor”, Hermione tentou apelar para a condição da casa. Talvez Harry mudasse de idéia.

“Eu não disse que a gente tem que perder o jogo, Mione”

“O que você tem em mente?”, perguntou desanimada, já imaginando a resposta.

“Se eu o vir o pomo, não vou pegá-lo. Mas tenho que cuidar para que o Malfoy também não o pegue”.

“Você vai deixar que ele pegue o pomo, mas...”

“Tenho que atazanar o Malfoy”, ele interrompeu. “Para que ele também não pegue antes de termos 160 pontos de vantagem. Nosso time é muito superior, vamos conseguir essa vantagem”.

“Não sei se você está agindo certo, Harry. Se fosse outro garoto, mas é o Malfoy! A Ginny nunca será feliz com”.

“Então vamos esperar que ela perceba isso, não é mesmo?”

Hermione respirou lentamente e o encarou. Depois confirmou com um aceno de cabeça. Ele estava decidido mesmo. Ginny realmente ficaria com Malfoy e Hermione não conseguia enxergar como aquilo poderia dar certo. Só conseguia olhar para o amigo e imaginar o quanto ele estava sofrendo.

“E você?”, ela perguntou. “Como vai ficar nessa história toda”.

“Não sei. Eu só queria ser capaz de esquecer tudo, porque eu não agüento mais”.

“Eu pude sentir a sua dor, enquanto me relatava tudo”.

“Mas tudo o que eu posso fazer para colocar um fim nisso depende desse jogo, por isso é melhor irmos andando, Mione. Tenho que comer alguma coisa antes”.

Harry falou em comer, mas sequer tocou na comida. Todo o time já havia se encaminhado para o vestiário, quando ele praticamente se arrastou para sair do Salão Principal. Estava preste a entregar Ginny em uma badeja de ouro para seu maior inimigo, mas depois pensou se ele já não tinha feito isso há muito tempo quando, disse que gostava dela apenas como amiga. O garoto nem percebeu que havia entrado no vestiário, se vestiu a esmo, pegou a sua vassoura e seguiu o time. Parecia estar distante daquela realidade... Estava melhor assim. Parecia que doía menos. Era mais fácil se enganar desse jeito.

Entraram voando no campo e Harry sobrevoou as arquibancadas lotadas. Era um dia nublado, assim como seus pensamentos, mas voar lhe deixava melhor. Sempre deixava. A velocidade e liberdade que as alturas lhe proporcionavam eram o seu analgésico. Respirou com força e se reuniu aos demais jogadores no centro, esperando o apito.

“Quero um jogo limpo”, informou Madame Hooch e em seguida soltou os balaços, o pomo e apitou, jogando a goles para o alto.

“Começou!”, narrava Lino Jordan, que já havia saído de Hogwarts, mas continuava a fazer as narrações dos jogos de Quadribol.

“Potter, eu vou te vencer”.

“Não espere por isso, Malfoy”, rebateu, voando na direção de Malfoy fazendo-o ter que desviar rapidamente.

O jogo não era nem de longe como os antigos clássicos entre Gryffindor e Slytherin. No ano anterior, o quadribol fora suspenso e a Slytherin não havia montado um time competitivo neste último ano. Os últimos jogos de quadribol realmente bons que aconteceram em Hogwarts foram aqueles em seu distante terceiro ano.

“E o placar é 30 para a Gryffindor, 10 para a Slytherin! Gryffindor com a posse da goles e... Gol! A Ginny Weasley está inspirada hoje!”

Era o terceiro gol de Ginny, e Harry só implorava em seu interior que ela fizesse mais dez. A garota estava bastante concentrada. Parecia até que sabia da vantagem que precisavam. Como se soubesse o que Harry estava planejado e fazendo questão de ajudar. “Até inconscientemente ela luta pelo Malfoy”, pensou Harry tristemente. Sabia que precisavam de uma vantagem muito ampla logo ou o jogo duraria dias, ou quem sabe... Harry avistou o pomo. Fechou os olhos e lutou contra a vontade de voar até ele e fechá-lo em suas mãos. Ficou apenas sobrevoando o campo e observando a movimentação dos artilheiros dos dois times. Em uma jogada particularmente espetacular do time da Gryffindor, usando Tabelinha juntamente com a Formação de Ataque Cabeça de Falcão¹, Creevey fez um gol realmente muito bonito.

Malfoy também estava apenas sobrevoando o campo e Harry teve um mau pressentimento. O que estaria havendo? O slytherin parecia ter adotado a mesma tática dele: apenas observar. Tinha alguma coisa errada, mas decidiu prosseguir com o plano.

Por mais duas ou três vezes, Harry viu o pomo, mas em vez de ficar parado disparou na direção oposta. Draco o seguiu em todas às vezes, e acabava frustrado. Harry sempre fingia um pouco de raiva ao “perder” a bolinha dourada de vista e Draco dava sinais de impaciência, assim como todos no estádio.

“Gol! Da Slytherin! Agora a vantagem da Gryffindor diminui para 50 pontos! O placar é: 70 a 20. Foi uma bela jogada de Zabini!

“Anda Creevey, vamos lá Ginny, Ron... Pelo amor de Deus, abram essa vantagem”.

Harry já estava ficando desesperado. O jogo já demorava mais de uma hora, estava ficando cansativo e muito chato, pois só Gryffindor fazia gols. No começo era um atrás do outro, seja com Ginny usando Ardil de Porskoff², ou com Ron usando Tail Tackle, depois de fazer Tabelinha com Creevey. Mas depois os gols começaram a demorar a sair, pois o time da Slytherin parecia estar se ajustando, mesmo que tardiamente.

“Lindo lance dos Weasley! Um belo Passe de Revés feito por Ron, que deixou a Ginny livre para marcar mais um! A Grifinória está em grande vantagem! O time da Slytherin não está agüentando a pressão. Casa dos Leões 170, casa das Serpentes desnutridas míseros 30 pontos e...

“Lino...”

“Desculpa, professora”.

Todos já estavam estranhando a demora na captura do pomo, pois Harry geralmente era rápido. Então o garoto viu o pomo outra vez, mas não foi o único. Malfoy voava muito veloz e tinha-o quase nas mãos. Harry, que não estava muito longe, voou o mais veloz possível e se viu emparelhado com o Malfoy, perseguindo o pomo.

"O que eu faço?", Harry se perguntava. Em seu normal aceleraria e pegaria o pomo, mas não podia fazer isso. Não poderia pegar aquele pomo, mas se não o fizesse, Malfoy pegaria eles terminariam empatados, pois a vantagem ainda era de 150 pontos e Draco não parecia se importar em empatar o jogo e colocar em risco o campeonato para a Slytherin. Ele só queria o pomo. Ele só queria a Ginny.

“Eu não vou deixar você pegar esse pomo, Potter!”, gritou Malfoy, superando o barulho do vento.

“E o placar é esmagador! Não é um bom dia para o time da Slytherin”.

"Só falta mais um gol", pensou Harry, se distraindo por um segundo, quando viu Creevey passar como um foguete entre ele e Malfoy. “Façam só mais um”.

Se distrair com esses pensamentos foi o seu erro, pois nesses segundos de desatenção ele acabou por bater sua vassoura com a de Malfoy. Cair foi inevitável. Ambos foram lançados para frente e iniciaram uma queda livre por quinze metros de altura.

Todos na arquibancada levantam-se, assustados. Dois borrões, um verde e um vermelho, colidiram com toda a força no chão, deixando todos chocados e preocupados com os dois acidentados, que não se mexiam.

Desmaiados e largados no gramado, logo uma multidão se aglomerou ao redor dos dois. A perna de Harry estava dobrada em um ângulo totalmente impossível. Malfoy, aparentemente, não tinha nada quebrado. Mas sua vassoura estava partida ao meio. E, em meio aquela cena trágica, de dentro da manga do uniforme de um dos jogadores desfalecidos, sai o Pomo de Ouro. Soa o apito. Fim de jogo. Harry pegou o Pomo.



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