"Cala a boca, Malfoy!"
CAPÍTULO 5 – “CALA A BOCA, MALFOY!”
Por mais uma noite Harry não dormiu em seu quarto. Ficou sentado na costumeira poltrona vendo, pouco a pouco, o salão comunal esvaziar-se. No final das contas ficou sozinho, olhando para as paredes e pensando na besteira que fez. Tinha conseguido mais um problema adicional para resolver e dessa vez não tinha idéia da forma como deveria agir. Não sabia lidar com garotas e duvidava se algum dia conseguiria dominar essa arte. Fechou os olhos e, por ficar meditando sobre assuntos que lhe davam dor de cabeça, nunca soube exatamente quando adormeceu.
No dia seguinte foi acordado por Hermione quando o sol já iluminava a sala comunal e, no primeiro momento, não se lembrou do porquê de ter dormido ali, em frente à lareira. Estava atordoado e sua cabeça doía, pois mais uma vez seus sonhos foram povoados por imagens do ano anterior.
Insistia em se perguntar por que não ter sossego, mas suas respostas sempre envolviam seu nome, sua família morta e Voldemort. Não queria pensar sobre isso em todos os momentos e tudo o que desejava era poder dormir tranquilamente por uma única noite. Todos viveram o mesmo pesadelo, mas era ele sofria com insônia. Apenas ele acordava atordoado nas poucas noites que conseguia dormir, por causa de pesadelos, apenas ele sentia a cicatriz queimar todas as vezes que sonhava com a morte de Percy.
Tentou espantar aqueles pensamentos, pois, por mais dolorosos que fossem, pertenciam ao passado e ele sabia que precisava se preocupar com o presente. Seu maior problema agora se chamava Ginny e precisava desculpar-se urgentemente se quisesse que ela ainda olhasse para ele ou lhe dirigisse a palavra.
Ela tinha entendido errado. Ele não tinha a menor intenção de magoá-la, muito pelo contrário. Tudo que Harry queria naquele momento era que Ginny não sofresse por Malfoy.
Seu rosto cortado era a prova de que ela realmente estava furiosa. Um beijo roubado... Harry pegou-se pensando naquele momento. Atrasado. Se tivesse roubado aquele beijo um ano antes talvez não estivesse passando por isso, mas há um ano ele estava mais interessado em mantê-la viva, do que roubar-lhe um simples beijo. O caos era tanto que não havia espaço para pensar em romances, mas agora...
“Se arrependimento matasse, eu estaria morto”, Harry pensou alto.
“O que foi que aconteceu?”, Hermione perguntou calmamente, sentando-se no braço da poltrona. Ron chegou no instante em que ela fazia a pergunta e sentou-se no chão, de frente para Harry.
“Estão falando que vocês terminaram”, informou o ruivo, com um traço de tristeza na voz. “É verdade?”
“Provavelmente foi isso mesmo”, Harry sussurrou, infeliz.
“Como assim? Provavelmente? Não é certeza?”
“Se você tivesse visto a tapa que eu levei não te restariam dúvidas, Mione”.
“Oh, Harry...”
“Olha, eu não quero falar sobre isso, Ok? Não estou nada bem, não dormi bem e estou com fome”, resmungou.
Harry foi incisivo. Não haveria conversa se o assunto fosse ele e Ginny.
“Ok, Harry. Será como você quer”, acatou Hermione.
“E então? Vamos comer?” Ron perguntou, levantando-se em um salto.
“Sim, vamos”, Harry concordou.
Por uma semana inteira foi assim. Não havia uma palavra que pudesse descrever perfeitamente, mas Harry acreditava que a mais próxima de uma descrição seria ‘insuportável’. Sentia-se angustiado, como se vivesse com um pressentimento ruim constante, e isso fazia com que não dormisse direito, ficando cada vez mais atormentado por pesadelos. Somando isso aos rumores que corriam Hogwarts, podia declarar oficialmente que sua vida estava um inferno. A cada dia surgia um boato pior sobre o rompimento do casal, e mais uma vez Harry desejou que todos se explodissem de uma vez só, porque não suportava mais ser o alvo das fofocas.
Sempre fora assim desde que chegara a Hogwarts, já deveria ter se acostumado, mas isso parecia longe de ser possível.
“Harry, simplesmente ignore”, aconselhou Hermione enquanto jantavam, na quarta feira da semana seguinte. “Não adianta ficar se torturando, sabe? Assim você só vai ficar pior”.
“E como você quer que eu fique? Não vou dar pulos de alegria por...”
“Olha, cara”, Ron interrompeu. “Eu sei que você está passando um momento difícil, mas eu ainda assim acredito que nós deveríamos estar dando pulos de alegria”, Ron estava muito sério. Não olhava para Harry enquanto falava, pois cutucar a sobremesa com a colher parecia exigir muita concentração.
“Você deve estar brincando”, Harry debochou.
“Pelo menos estamos vivos”, sussurrou. “Você está vivo”, finalmente teve coragem de levantar a voz e a cabeça, para encarar Harry. Ele precisava entender, porque não podia continuar agindo daquela maneira. “Pelo menos, Hogwarts está vivendo um momento de paz. Essas fofocas pelos corredores só servem para provar que estamos superando o trauma. A escola está voltando a ser o que era antes de tudo o... Você sabe o que nós passamos”.
“O Ron tem razão, Harry. Você está sendo precipitado agindo dessa forma”.
“Só está piorando a sua situação, ficando com a saúde frágil. Não é possível que terminar com a minha irmã seja uma tragédia tão...”
“Certo! Tudo bem. Eu prometo que não vou mais andar por aí como um zumbi, está bem? Mas, por favor, parem de me dar conselhos! Eu não quero conselhos”.
“Ok, Harry. Prometemos não ficar mais te importunando com nossos conselhos certos e que são apenas para o seu bem, não é mesmo, Ron?”, o garoto apenas confirmou e continuou a comer.
Ginny não falava mais com o Harry. Nem ao menos olhava para ele. Era como se fosse transparente e isso o incomodava, pois não queria perder a amizade dela. Agiu sem pensar, por impulso. Desejava aquele beijo, tomou o que queria a força, mas acreditava que não era um motivo tão forte para ela estar reagindo daquela forma.
Ela passou a se comportar de forma bastante diferente desde que Malfoy descobriu que a garota era Hermione. Além de se dar ao trabalho de evitar Harry nos corredores, ela se desdobrava para conseguir passar o dia inteiro monitorando Hermione. Não poderia deixar a amiga sozinha por nenhum segundo, para não proporcionar brechas a Malfoy, porque ele jamais poderia deixar que os dois conversassem... Jamais. Hermione era esperta, ligaria os pontos e descobriria tudo no mesmo segundo.
“Ginny, você está bem?”, perguntou, folheando, distraída, um livro velho.
As duas estavam sentadas debaixo de uma árvore nos jardins do castelo, aproveitando o tempo livre após o almoço. O clima estava quente, mas uma brisa agradável soprava, incentivando as brincadeiras e o clima descontraído nas proximidades do lago.
“Claro que sim! Estou ótima”, mentiu. Pegou um livro e se enfiou por trás dele.
“Ninguém fica ótima depois que termina um namoro. O Harry está péssimo e você anda um pouco abatida. Não adianta desmentir... E também não adianta fingir que está lendo isso”, Hermione pegou o livro. “Está de cabeça para baixo”, Ginny sorriu sem graça.
“Acho que não estou dormindo direito, só isso”.
“Nem dormindo e nem comendo. Desse jeito você vai ficar doente”, a monitora comentou, preocupada.
“Eu vou me cuidar mais, Mione”.
“Vou acreditar no que está dizendo, mas posso te fazer uma pergunta?”
“Claro”.
“Por que vocês terminaram? Parecia que estava tudo tão bem”, apesar de não ter sido pega de surpresa com aquela pergunta, a garota não sabia o que responder. Tudo que dissesse seria mais uma mentira.
“Deixei de gostar dele há algum tempo. Acho que mantive o namoro por acomodação. A gente se acostuma e acaba aceitando a rotina e...”
Segurou a respiração e não conseguiu concluir a frase, pois para deixá-la em situação mais difícil, naquele exato momento Malfoy andava sozinho e distraído nas proximidades do lago. Não vivia mais cercado por seus guarda-costas brutamontes, pois Crabbe e Goyle não voltaram para Hogwarts depois que tiveram seus pais presos.
Ela perdeu a fala. O garoto olhou na direção das duas e fez um sinal para Hermione, pensando que Ginny não estava olhando.
“O que deu no Malfoy?”, perguntou Hermione, esquecendo completamente do que a ruiva estava falando e, ao olhar para a amiga, percebeu que esta estava vermelha. Parecia que estava com falta de ar. “Você está bem?”
“Sim, estou. Não foi nada”.
“Por que será que o Malfoy está agindo daquela maneira”.
“Como vou saber? Ele é maluco”, respondeu Ginny.
“É um doente. Acho que nunca odiei tanto uma pessoa quanto o odeio. Tenho certeza que foi ele o culpado pela morte de Neville. Não posso dizer se foi realmente ele, com as próprias mãos, mas tem o dedo dele na história”, Ginny ficou em silêncio.
Ginny tinha certeza que, naquele momento, Hermione prometia para si mesma que iria descobrir o que estava acontecendo. Ela ligaria os fatos, perceberia que ela e Harry estavam estranhos. Sabia que o namoro deles tinha terminado de forma misteriosa e ninguém queria falar sobre o assunto. Malfoy aparentemente estava ficando doido. Iria descobrir. Saber de tudo era um desafio para ela e Hermione não deixaria que perguntas tão simples continuassem a importuná-la.
Alguns dias se passaram e a odisséia de Ginny não cessava, ao contrário, parecia mais difícil. Os encontros com Malfoy se tornaram mais freqüentes e ele não parecia desconfiar de que ela não era a verdadeira Hermione e ele nem sequer perguntava o porquê dos encontros durarem sempre menos que uma hora. Em contrapartida, todo o dia acordava cedo para ir tomar café junto com a amiga e permanecia ao seu lado o dia inteiro, com exceção dos horários das aulas.
A cada novo dia ficava mais cansada e abatida, fazendo com que os colegas tivessem mais motivo para fofocas e, assim como Harry, ela já não agüentava mais ouvir cochichos e risadinhas por onde passava. Tinha vontade de gritar. Queria azarar cada um que pudesse, mas ponderou sobre seus desejos e deixou que a razão vencesse. Não iria cometer nenhuma loucura.
Saindo de uma aula de Feitiços, de cabeça baixa, praticamente cambaleando de tanto sono, Ginny sentiu alguém lhe puxar pela cintura e tapar-lhe a boca com uma mão, segurando-a com muita força. No instante seguinte, viu-se entrando em uma sala vazia. Mordeu a mão da pessoa com força e ouviu um grito de dor, mas, mesmo assim, a pessoa não a soltou. A voz era muito familiar.
“Shii... Por favor, precisamos conversar”, sussurrou, soltando-a. “Não precisava me morder”.
“Quer me matar de susto, Harry? Por que fez isso?”, perguntou irritada.
“Você tem me evitado, não fala comigo, o que queria que eu fizesse? Precisamos conversar! Mesmo que a força, eu precisava falar com você”, ele estava na frente da porta. Nunca deixaria que ela saísse sem antes ouvir tudo o que ele tinha a dizer.
“E qual é o assunto? Malfoy e eu?”, sua voz era em tom de quem não se importa muito.
“Não. Você e eu”.
“Já falamos sobre isso, Harry. Veja...”
“Ginny”, interrompeu. “Eu sei que eu fui negligente, incapaz de enxergar um palmo a minha frente...”
“Você não tem culpa de ser míope”.
“Eu falo sério! Só percebi que gostava de você quando vi que posso te perder”.
“Muito conveniente, Harry. Francamente, eu não acredito que goste de mim! E você não vai me perder, Harry, porque eu não sou uma coisa que pode ser perdida”.
“Não fala assim”.
“O que poderia existir entre nós evaporou quando me falou que gostava de mim apenas como amiga, lembra?”.
“Lembro, mas eu queria uma chance”.
“Até daria, mas você sabe o que eu sinto pelo Malfoy”.
“Esquece ele, Ginny. Ele gosta da Hermione”.
“Ele gosta de mim! É de mim que ele gosta! Você sabe muito bem disso... É por mim que ele está apaixonado”.
“Mas pensa que é pela Hermione. E ainda tenho as minhas dúvidas sobre o que ele realmente sente”.
“É só um pequeno detalhe”, tentou minimizar o problema. “Ele vai ficar sabendo. Eu vou contar na primeira oportunidade que tiver e...”
“Pensa que eu não percebi?” Harry interrompeu.
“Percebeu o que?”
“Você não desgrudou nenhum minuto da Mione, desde que a história toda começou. É para evitar que o Malfoy se aproxime dela, não é? Tem medo que ele descubra a verdade?”
“Não é isso”.
“Claro que é! Você não pretende contar para ele”.
“Eu já disse que não é essa a questão!” gritou.
“Então qual é? Você sabe muito bem que se o Malfoy for falar com a Hermione seu segredo estará ameaçado, porque ela vai solucionar o mistério em menos de dois segundos”.
“Eu tenho medo sim! Por Deus, Harry... Por que você está fazendo isso comigo?”
“Eu só quero te abrir os olhos. Para quê ficar com uma pessoa que pensa amar outra pessoa, quando na verdade ama a outra e nem imagina que você é você?! E que além de tudo odeia a sua família?” Harry falou tão rápido e tão confusamente que até ele ficou sem entender direito.
Ginny o encarou. Sobrancelhas arqueadas, também tentando digerir o que ele tinha falado. Suspirou.
“Sei que seria mais fácil namorar você, Harry”.
“Então fica comigo”, falou com simplicidade.
“Passei cinco anos apaixonada por você...”
“Fica comigo”.
“Mas eu cansei...”
“Fica comigo”, repetiu aproximando-se mais dela, levando uma das mãos à cintura. Ela abaixou a cabeça para evitar os olhos dele, que estavam perto demais.
“Cansei de tanta espera, de ter esperanças, segui com a minha vida, Harry. Preciso que você entenda que a gente não manda no coração”.
“Eu sei muito bem disso, porque estou sofrendo justamente pelo meu sempre me desobedecer”, falou ao ouvido da garota. Que ainda olhava para baixo.
“O meu coração também não é muito obediente”.
“Fica comigo”, insistiu em um sussurro.
“Não posso, iria te fazer sofrer ainda mais”.
“Ginny”
“Por favor, Harry, para com isso. Vai ser ruim para nós dois”, ela finalmente o afastou um pouco e encarou seus olhos verdes. A firmeza que havia neles era tamanha que fez com que ele se rendesse. Já sobrevivera a milhares de atentados contra a sua vida e sempre saíra vitorioso, mas aquele jogo ele tinha perdido há muito tempo.
“Ok”, ele a soltou. “Pode sair. Prometo não insistir mais”, ele não conseguia mais encará-la.
“Eu realmente sinto muito”.
“Tudo bem. Talvez com isso eu aprenda a não deixar as oportunidades passarem, não é mesmo?”, perguntou se graça.
Ela deu um sorriso amarelo e ele retribuiu. A garota se aproximou e beijou-lhe o rosto, mas antes que ela se afastasse Harry a segurou.
“Não vou insistir, mas isso não significa que eu irei desistir”, ele sussurrou. Ela o encarou, surpresa, como se não entendesse o que o garoto queria dizer com aquilo, ou como se não desejasse entender. “Vou esperar por você só mais um pouco. Um dia você vai desistir dele e, quando isso acontecer, nós voltamos a falar sobre isso”.
Ginny respirou fundo querendo procurar uma resposta para aquilo, mas não conseguiu. O que deveria dizer em uma hora daquelas? De certo, a primeira coisa que lhe passou na cabeça foi uma resposta mal criada, mas não queria piorar a situação, então preferiu o silêncio. Não poderia dizer a ele para esperá-la sentado. Não depois dessa demonstração de carinho.
Ela saiu da sala e deixou Harry só, desolado e com raiva de si próprio. Como pôde se humilhar tanto? Nunca foi capaz de fazer nenhuma declaração para uma garota, mas Ginny era diferente. Estava tão habituado a ter ela por perto que não se importou. Não era como se precisasse provar qualquer coisa, porque ela já o conhecia o bastante para saber se ele estava representando algum papel para impressionar. Harry não sabia impressionar garotas, nunca tinha precisado, nunca sequer tinha pensado que precisaria. Não queria impressioná-la, só queria dizer o que estava sentindo e não teve vergonha de falar.
Mas Ginny tinha razão, ele sabia. Seria pretensão demais esperar que ela permanecesse apaixonada para sempre, esperando apenas o momento em que ele decidisse se apaixonar também. Ela também tinha uma vida, e parecia não precisar dele nela. Não se fosse como algo além de um amigo.
Ginny correu pelos corredores da escola procurando Hermione, mas não a encontrou em lugar algum e isso foi suficiente para que ficasse desesperada. Mil coisas passavam por sua cabeça quando saiu do castelo correndo e, para seu alívio, viu Mione sentada debaixo de uma árvore com um livro imenso no colo. Ginny respirou mais calma e foi ao encontro da amiga, que estava tão concentrada que não a viu chegar.
“Olá, Mione”, Hermione a olhou e sorriu, mas no segundo seguinte o sorriso desapareceu.
Só então Ginny percebeu que havia alguém atrás dela, mas antes que pudesse se virar para ver, a pessoa falou bem próxima ao seu ouvido. Apenas a voz. Tão conhecida, tão esperada, dessa vez sussurrada de modo diferente. Seu habitual tom arrastado e frio.
“O Potter te dispensou, Weasley?”
Ela pôde sentir a respiração de Malfoy em seu pescoço e simplesmente ficou sem reação.
“Cala a boca, Malfoy!”, gritou Hermione, levantando-se.
No primeiro instante Malfoy ficou parado ao vê-la, já que não a tinha visto no primeiro momento. Estava tão preocupado em atormentar a vida da ex-namorada do Potter, que simplesmente não prestou atenção em mais nada.
“Granger?”, ele não conseguiu esconder o tom de surpresa na voz.
“Sim eu mesma. Surpreso por seus amigos ainda não terem me matado?”, respondeu mal humorada.
“Por favor, Malfoy, sai daqui!”, falou Ginny sem olhá-lo.
Ela também não olhava para a amiga. Simplesmente fechou os olhos e abaixou a cabeça. “Coragem”, gritava para si mesma em pensamento, mas sabia que encará-lo seria muito mais difícil.
“O que foi, Weasley? Está com medo de olhar para mim?”
“Malfoy, você ouviu a Ginny, cai fora!”, gritou.
Ela raramente tinha ataques de fúria, mas já estava completamente cheia das atitudes de Malfoy. Queria vê-lo sofrer, pagar por tudo o que já tinha feito, queria provas suficientes para desmascará-lo, mas não conseguiu nada além de um olhar confuso, naquele momento.
Ela retribuiu o olhar com ódio, mas ele pareceu se divertir com aquilo e apenas soletrou algumas palavras para a monitora, sem emitir som algum.
Draco mexia os lábios exageradamente, Mione pode lê-los. Confusa. Definitivamente ele estava louco. Malfoy a encarou por mais alguns segundos intermináveis, enquanto Ginny se esforçava para não olhá-lo.
“Até mais, namoradinha do Potter. Cuidado com suas amizades, porque é provável que o verdadeiro motivo para o fim do romance de vocês esteja bem na sua frente, não é mesmo sangue-ruim?”, debochou.
“Ora, seu...”, Hermione tirou a varinha das vestes e avançou para cima do garoto, mas Ginny a interrompeu.
“Não, Mione! Não faz isso... Por favor”.
“Mas...”
“Ele... Ele não merece que você faça isso. Pense nas conseqüências. Vale a pena ser punida por causa... Dele?”
“Tem razão”, ponderou, guardando a varinha.
“Obrigado, Weasley. Salvou a minha vida, porque eu estava realmente morrendo de medo”, Draco falou, sorrindo.
“Sai daqui, Malfoy”.
“Calminha, já estou indo”, falou, lutando contra seus próprios pensamentos.
Era uma situação divertida e, apesar de ter sido ameaçado pela melhor aluna do colégio, ele não poderia perder a oportunidade. Queria saber como Ginny reagiria. E a Granger? O que faria? Sentiria ciúmes? Ficaria brava? A curiosidade o incitava a brincar com os sentimentos delas.
“Vamos embora, Ginny! Ele não vai nos deixar em paz”, Hermione passou pela amiga.
Ginny respirou fundo e juntou toda a sua coragem para dar meia volta e passar por Draco. Não teve dificuldades com essa parte, conseguiu se sair bem, mas teria sido muito mais fácil se ele não a tivesse segurado pelo braço, impedindo que fosse embora.
“Onde você pensa que vai, Weasley?”
“Solta ela, Malfoy!”, gritou Hermione.
“Por que deveria? Pode me dar um bom motivo?”, ele pediu.
Ela tirou a varinha do bolso mais uma vez.
“Solte-a, ou eu farei a você o mesmo que você fez com o Neville”.
“Ótimo. Já que eu não fiz nada mesmo, pode ficar aí parada observando”, o loiro, que segurava Ginny com força pelo braço, puxou a garota e a beijou.
Encostou seus lábios nos dela e Ginny não ofereceu resistência. Resistir era um verbo que ela não conseguia conjugar na presença de Draco. Como poderia? Não pensava. Não queria pensar. Ela apenas cedeu as investidas que o rapaz fazia. Fraca, totalmente entregue, mas sem se importar com o que ele pensaria. Apenas se beijaram enquanto Hermione observava atônita. Queria aproveitar aquele momento, pois era a primeira vez que ele a beijava sem mascaras, sem mentiras, sem disfarces...
Draco a largou. E sorriu debochado para Hermione, que ainda estava com a varinha apontada para ele, paralisada pela surpresa, totalmente sem ação.
“O que você ia fazer mesmo, sangue-ruim? Ah! Tinha esquecido, você não ia fazer nada mesmo”, em seguida voltou-se para Ginny. “Ah! Weasley...”, suspirou em um tom nada agradável. “Beijar você não foi tão mal e, para uma garota são sem graça como você, até que beija bem. Eu até estive pensando... Se você não fosse uma Weasley, não fosse amiga dos sangues-ruins, não fosse uma pirralha chata e insuportável, não fosse a ex-namorada do idiota do Potter, não fosse pobretona e não tivesse essa cor de cabelo horrível, eu até olharia pra você, de vez em quando”, então, mais uma vez, se dirigiu à Hermione. “Vê se guarda essa coisa que você chama de varinha. Sei que você não vai ter coragem de usá-la contra mim, meu amor!”
Ele beijou a própria mão e lançou o beijo para a garota. Um gesto de deboche, que só fez o garoto se divertir mais. Hermione estava vermelha, furiosa. Queria socá-lo mais uma vez. Lembrava-se perfeitamente da sensação de enfiar a mão no rosto bem cuidado do slytherin, mas ele simplesmente passou pelas duas e foi embora, rindo alto.
“Monstro”, ela sussurrou entre os dentes, com raiva. “Um monstro, é isso que ele é, Ginny, mas por que você não reagiu?
“E por que você não reagiu, Mione?”
“Não sei! Desculpe-me. Poderia ter evitado que ele te beijasse, mas fiquei tão chocada que...”
“Não precisa se desculpar. Vamos entrar, sim?”
“Sim, tudo bem”.
Elas foram andando devagar em direção as escadas que davam para a grande porta de carvalho. Em silêncio, até o momento em que a ruiva resolveu falar.
“Mione”.
“Que?”
“Não conta nada para o Harry, por favor”.
“Tudo bem, não fique preocupada. Será um segredo nosso”, respondeu a garota sorrindo.
Ginny suspirou e balançou a cabeça, concordando. “Mais um segredo”, foi tudo que conseguiu pensar naquele momento. Diferentemente de Hermione, onde mil pensamentos dançavam simultaneamente, mesmo que não soubesse realmente o que a maioria deles significava, quando se sentou à mesa para jantar.
"Na Biblioteca de noite", eram as palavras formadas sem som e aquilo martelava a cabeça da garota. Por que o Malfoy pediria aquilo? Deveria ser mais um plano, alguma brincadeira de mau gosto como a feita pela tarde. Mas o modo estranho como ele vinha agindo deixou a curiosa. Precisava saber o porquê de tudo aquilo e, ficar sem entender alguma coisa, era uma tortura. Precisava entender. Precisava... “Encontrá-lo. Eu devo me encontrar com o Malfoy”. Pensava enquanto olhava para a comida, sem encostar em nada.
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