Sentimentos Verdadeiros

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CAPÍTULO 4 – SENTIMENTOS VERDADEIROS



“Você. O que? Você não... Então...”

“Ah, não. Não. Não”, interrompeu a falsa Granger.

“Por que fez isso?”, o espanto do rapaz era verdadeiro, nem mesmo a sua frieza costumeira conseguiu esconder a surpresa.

“Não tem motivo, Malfoy. Simplesmente fiz. Nada do que eu disser agora vai mudar o que aconteceu. Pode declarar seu ódio e seu nojo”.

“Você é louca? Não pode ser você, Granger. Levou algum feitiço que fritou o seu cérebro? Por que continuou a responder as cartas?”, perguntou, soltando-a. “Você sabia que era eu! Você sabia! Por que fez isso?”

“Pelo mesmo motivo que você”, respondeu.

“Curiosidade?”, perguntou com simplicidade.

Ginny sentiu vontade de chutá-lo ao ouvir o que ele tinha dito. Malfoy estaria apenas curioso? Não havia sentimento?

“Não, Malfoy. Foi por burrice”, ela berrou.

“E ainda se gaba de ser inteligente”, resmungou.

“Você é idiota? Foi por estar apaixonada”.

Malfoy gargalhou.

“Não me venha com essa, Granger! Você não pode estar apaixonada por mim”, rebateu o slytherin. Simplesmente não entrava em sua cabeça que a sangue-ruim, metida a sabe tudo, era a garota que conhecera na festa. “Eu não quero que esteja”.

“E por que não?”

“Como por que não? Será que o fato de ser você não basta, sangue-ruim?”, Malfoy falou com agressividade, mas no momento seguinte se arrependeu.

Por que estava fazendo aquilo se gostava dela? Gostava dela? Da sangue-ruim? Teve ódio de seus pensamentos. Sentiu nojo. O que diabos ela pensava que estava fazendo? O que ela pensou quando respondeu as cartas. Era alguma armadilha? Alguma trama do Potter? Ela gritou e ele não conseguiu mais pensar.

“Como você pode ser tão burro? Você acha que eu estou feliz com isso?”, Ginny gritava e podia ouvir a voz de Hermione saindo de sua garganta. Sentiu-se suja. Como podia mentir daquela maneira, se passando por sua amiga. “Eu sei que sente nojo de mim”.

“E o que você queria que eu sentisse?”, perguntou o garoto. “Queria que eu saísse cantando e dando pulos de alegria ao descobrir que era você?”

“Não! Porque eu já sabia que seria assim. Eu avisei”, Ginny estava de cabeça baixa. Lutava contra a vontade de chorar. Jamais mostraria essa fraqueza na frente de Malfoy. “Muito bem... Acho que não temos mais nada a falar, não é mesmo? Tudo volta a ser como antes e esquecemos que isso aconteceu, com licença, Malfoy.

“Fique a vontade para me deixar em paz, sangue-ruim”, ele fez uma reverência debochada e Ginny passou por ele. Com passos apressados, chegou até a porta da sala que estava iluminada apenas pela luz da varinha do loiro.

“Pode ter certeza que nunca mais olharei para você, por mais que isso seja difícil para mim”, falou entre os dentes

Ginny abriu a porta, mas não saiu. Não pôde sair. Ele a segurou pelo pulso, impedindo que ela fosse embora. Colocou a varinha no bolso e fechou a porta, sem largar o pulso dela, trazendo-a novamente para o interior da sala. Ginny tentou lutar e ele a soltou, mas a curiosidade e o orgulho ferido a fizeram permanecer parada. Iria escutar. Queria revidar.

“Por que não me deixa ir?”, perguntou confusa.

Mais uma vez Malfoy não podia ver seu rosto, mas percebia a desconfiança em seu tom de voz.

“Por que fui burro o suficiente para me apaixonar você, mesmo sem saber quem era”, ele revirou os olhos. “Não acredito que eu vou dizer isso. Eu realmente não acredito, mas enfim... Granger, eu aceito você”, falou rápido e tão baixo que Ginny mal pode ouvir. Foi quase um sussurro. O garoto parecia ter raiva e vergonha de suas palavras.

“Gostaria de poder acreditar, mas depois de tudo que você falou-”

“Que fique bem claro que eu não estou pedindo para que acredite”, interrompeu. “Estou apenas informando. Não pense que é fácil admitir que eu sinto qualquer coisa por uma sangue-ruim como você. Mas não era você! Como eu poderia adivinhar?”

“Eu não acreditava que você pudesse ter sentimentos”.

“Acredite, eu também não imaginava que alguém tão impuro pudesse ser capaz de sentir”.

“Está me ofendendo”.

“Se acostume com isso, não vou aceitar essa sua condição imunda tão facilmente. Eu tenho vontade é de explodir sabia? Como eu pude deixar acontecer? Eu beijei você! Beijei uma sangue-ruim! Se eu soubesse que era você nunca teria me envolvido e-”

“Eu também não, Malfoy”, ela também não deixou que ele terminasse.

Ele realmente parecia estar gostando da garota que conheceu na festa, mas agora estava lutando contra aquele sentimento por descobrir que era Hermione. Imaginou como ele reagiria se em vez de ter visto a Granger tivesse visto ela... Uma Weasley. Provavelmente a reação não seria diferente.

“Mas agora é tarde demais. Simplesmente não conseguia tirar você da cabeça, mesmo sem conhecer teu rosto. Fiquei imaginando qualquer garota, mas nunca pensei em você! Até a Weasley eu cheguei a pensar que fosse e-”.

“Ginny?”, ela interrompeu mais uma vez.

“O idiota do irmão dela é que não seria, não é mesmo?”, perguntou irônico.

“Por que pensou que fosse ela?”, a curiosidade despertou na garota. Que motivos ele teria?

“Foi por causa do jeito que ela me olhou hoje pela tarde. Era o mesmo olhar mal criado e atrevido que conheci atrás daquela máscara que você usava na festa”, respondeu.

“O mesmo olhar?”

“Idêntico, por isso acreditei que era ela”, ele se aproximou. “Só que seus olhos não são da mesma cor dos dela”, falou desconfiado e segurou-lhe as mãos. “Isso é o que me intriga” tocou-lhe a face. “Não eram os seus olhos que eu vi por baixo da máscara, Granger, só que no final das contas era você. Você não sabe o tamanho da vontade que eu tenho de te esganar”.

“Vai com calma”, pediu a garota, dando um passo para trás.

“Você não devia ter feito isso. Não está certo”.

“Quem é você para falar sobre o que é certo ou errado, Malfoy?”, ela perguntou, mas percebeu que não fizera a coisa certa.

Ele sorriu debochado. Mesmo não podendo ver a expressão do rosto do rapaz podia ouvi-lo muito bem.

“Sabe, Granger, você pode realmente achar que eu não posso falar sobre o que é certo ou errado, mas você também não pode. Você não é ninguém! Não pode vir me dar lição de moral. Só porque leu as regras em algum livro, não quer dizer que saiba alguma coisa e eu aposto que não leu em nenhum livro sobre a nossa situação, portanto, não me venha com essa história. Estar com você aqui é um erro, mas... É um erro que eu pretendo cometer de novo”.

Ela ficou parada, não conseguia proferir nenhuma palavra. Estaria ele sendo sincero? Não acreditava muito nisso. Mas essas palavras não soaram tão falsas como as outras. Ele estava estranho. Não era o Malfoy caricato que conhecia das conversas na torre ou n’A Toca. Ele estava inseguro. Gostou disso, gostou de saber que ele poderia ao menos agir como uma pessoa decente de vez em quando.

“Nós estamos loucos, essa é a explicação”, Ginny pegou-se pensando alto e mais uma vez escutou aquela risada debochada, mas dessa vez ela estava muito mais próxima. Próxima demais.

“Se você contar isso pra alguém, eu te mato”, sussurrou.

Foi tudo o que Malfoy falou antes de beijá-la novamente e a ameaça não parecia ser uma brincadeira. Ele a encostou na parede, enquanto a beijava no pescoço e ao mesmo tempo, tentava afastar do pensamento que estava beijando a Granger. Era nisso que se concentrava. Tentava esquecer que estava beijando a sangue ruim, a amiga do Potter, a intragável sabe-tudo, a...

Ele se afastou. Não ia ser tão fácil. Ginny agradeceu, pois só naquele momento percebeu quanto tempo já havia se passado. Quase uma hora. Precisava sair dali, ou Malfoy teria outra surpresa desagradável.

“Tenho que ir”, falou séria, já se encaminhando para a porta.

“Granger”, Malfoy a chamou.

“O que é?”, perguntou com a mão na maçaneta da porta já aberta.

“Sabe de uma coisa?”

“Se não falar não vou saber”.

“Não fiquei nem um pouco satisfeito por ser você, mas até que foi tranqüilizador descobrir que não era a Weasley”.

“Por quê?”, perguntou sem conseguir disfarçar a decepção na voz.

“Ela namora o Potter, e seria problemático demais se ele descobrisse que estou pegando a namorada dele”.

“Pegando?”, ela achou que não tinha ouvido direito.

“Você ouviu! Sei muito bem que não é surda e eu não vou repetir”, respondeu mal criado.

Ginny não conseguiu sorrir, mesmo que aquela fosse a idéia que Malfoy fazia de uma piada. Não iria ir, não havia graça. Apenas acenou para ele, fechou a porta e saiu correndo. Tinha que dar tempo.

Uma Hermione apressada voltava pelo mesmo caminho que Ginny que tinha feito mais cedo e, entrando na sala comunal da Gryffindor, deu de cara com Harry, que estava com aquela costumeira cara de preocupado. Era uma expressão que não o deixava nunca e isso, ela pensou, era irritante. Ela tentou fingir que não tinha visto o garoto, mas ele dirigiu-se até ela.

“Mione! Você viu a Ginny?”

“Não. Eu não a vi, Harry”, respondeu ríspida e passou direto por ele. Correndo como uma louca e subindo as escadas de dois em dois degraus.

“Certo”, respondeu baixo e foi tudo que Harry conseguiu dizer, atônito, mas a garota já havia sumido pelas escadas.

Hermione entrou no dormitório feminino do sexto ano e se encostou a uma parede, tentando respirar tranqüilamente. Por sorte o dormitório estava vazio e agradeceu por não ser muito tarde e todas as meninas ainda estarem fazendo os deveres de casa. Tirou a capa e se jogou na cama logo em seguida. Esticou-se e apanhou um pequeno espelho em seu criado-mudo, apenas para conferir como estava. Logo percebeu que quem olhava de volta para ela agora era Ginny Weasley novamente, o efeito da poção tinha passado.

“Muito bem... Outra mentira, garota. E essa está fora de seu controle”, falou sozinha, enquanto colocava o espelho de volta no lugar.

O buraco do retrato abriu-se mais uma vez e por ele passaram Hermione e Ron. Ambos estavam rindo muito e pareciam satisfeitos com alguma coisa.

“Oi, Ron. Olá, Mione... MIONE?”, ele gritou.

“Er... Oi? O que foi?”, perguntou desconfiada.

Harry ficou confuso no primeiro momento, mas claro que logo uma idéia do que estava acontecendo surgiu em sua cabeça. Ele sabia da história, sabia dos meios que Ginny tinha para continuar a esconder o seu segredo. Suspirou, torcendo para que mais ninguém, naquela sala lotada, tivesse percebido que existiam duas Hermiones rondando pela torre de Gryffindor.

“Nada. Eu ia perguntar se vocês viram a Ginny”, improvisou.

“Não vimos, nós estávamos na biblioteca. Ela sumiu de novo?”

“Não, ela disse que ia procurar você. Disse que precisava te falar algo, mas não entrou em detalhes”, mentiu.

“Ah, melhor assim! Fala pra ela que estamos na biblioteca, caso pergunte novamente. Viemos aqui apenas para pegar umas coisas”, disse a verdadeira Hermione saindo com Ron e com um monte de livros na mão, pelo buraco do quadro.

Ginny descia as escadas naquele exato momento.

“Você me dá medo às vezes, Ginny”, falou se aproximando. “Usou a Hermione dessa vez, não foi?”, Harry sussurrou em seu ouvido, enquanto abraçava-a.

Ginny se sentiu como uma espécie de imã ambulante, porque todos os olhares se voltaram para eles naquele momento. Harry desejou que todos se explodissem, mas não comentou aquilo no primeiro momento, mesmo que continuasse se perguntando por que eles não podiam cuidar de suas próprias vidas?

Ginny suspirou e o segurou pela mão, conduzindo-o para um canto menos tumultuado da sala. Sentaram-se no chão de forma que um ficou de frente para o outro, em um canto da parede, pois era o único lugar que poderia ser considerado mais reservado ali.

“Não foi de propósito”, defendeu-se. “Coloquei o fio de cabelo errado”.

“Duas Hermiones andando por Hogwarts é algo sério, Ginny. Não pensou nisso? E se o Malfoy visse o seu rosto? Ele ia achar que a Mione...”

“Ele viu”, interrompeu.

“O que?”

“Ele pensa que eu sou ela. E pensa que está saindo com a Hermione”.

“Que?! Ele quer continuar? Mesmo pensando que era a Mione ele...”

“Sim. O Malfoy realmente parece estar apaixonado”.

“Não dá para acreditar. Isso é sério. É muito sério! É um verdadeiro problema. Ele pensa que está... Meu Deus! Ele vai acabar descobrindo mais cedo ou mais tarde que não é a Mione”.

“Mas ele desconfiou de mim começo”.

“Sério? Por quê?”, Harry segurava as mãos de Ginny entre as suas.

“Disse que eu tinha o mesmo olhar da garota da festa”.

“Mas é claro que tem! A garota da festa é você!”

“Eu sei e você também, mas ele não”.

“OK, OK. E o que aconteceu?”

“Quando ele viu o rosto da Mione, quase teve um ataque, mas no final das contas confessou que era mais tranqüilizador ser ela e não eu... A Weasley”.

“Por quê?”

“Ele disse que você já era problemático o suficiente sem que ele estivesse pegando a sua namorada”, falou imitando a voz debochada de Draco.

“Não dá para acreditar que ele gosta mesmo de você”, pensou alto.

“Não, realmente. Ele agora gosta da Mione”.

“Esquece ele, Ginny”, Harry encarou os olhos cor de chocolate e sentiu que estava ficando vermelho de novo.

“Por que esquecer? Eu gosto daquele imbecil, mesmo que ele seja um idiota completo”.

“É incrível como você não consegue falar uma frase sem ofendê-lo. Não que eu não goste disso, mas pense que poderia ser diferente”, disse olhando para as mãos de Ginny que estavam entre as suas.

“Diferente como?”

Harry inclinou-se um pouco para frente, de maneira que quase encostou seu nariz no dela.

“Você me desculpa de novo?”, perguntou baixinho

“Desculpar o q-”

Ele interrompeu a pergunta que ela estava fazendo com um beijo. Harry levou uma de suas mãos ao rosto dela e apesar de saber que ela estava tentando se desvencilhar, dessa vez, ele não permitiria. Ginny não poderia fazer nada, se quisesse manter aquele segredo a salvo e talvez por esse motivo ela não tenha se mexido. Sentia-se um idiota por estar beijando-a a força, mas simplesmente estava fora de si. Ela tentou se livrar discretamente mais uma vez, mas Harry a segurou com firmeza.

Irritada, Ginny usou toda sua força e conseguiu empurrá-lo. Se eles estivessem de pé com certeza ele teria caído, tornando aquela cena ainda mais espetacular aos olhos curiosos. Por sorte, ninguém parecia ter notado então ele voltou a olhar para ela e viu que estava vermelha. Sua expressão não era nada feliz.

Ele suspirou, baixou a cabeça, desviando seus olhos do dela e levantou-se rápido. Estendeu a mão para Ginny se levantar, ela aceitou. Levantou e, segundos depois, Harry sentiu a mão dela ferir seu rosto. Sentiu uma ardência no local e levou sua própria mão até sua face e, ao tirá-la de lá, percebeu que estava suja de sangue. Ela tinha feito um pequeno corte com um anel que usava desde o ano anterior.

“Você não devia ter feito isso”, sussurrou.

Tentava se controlar. Não iria gritar no meio daquela gente toda, principalmente agora que todos estavam olhando. Não faria escândalos, apenas o deixou parado naquele mesmo canto e dirigiu-se para as escadas. Mas Harry não queria que fosse assim. Não desejava que ela ficasse brava, queria se explicar e logo a seguiu, segurando-a pelo pulso, com muita força.

“Me solta”, ela gritou, não conseguindo manter a calma. Até mesmo quem tentava disfarçar que estava olhando, esqueceu o pudor e passou a observar descaradamente.

“Mas eu gosto de você”, falou o garoto.

Ginny o fitou surpresa. Ele estava se declarando para ela? Não podia ser verdade. Definitivamente, não era verdade.

“Você devia ter dito isso há mais tempo. Cansei de esperar por você”, sussurrou. “Quer me soltar, por favor?”, dessa vez seu tom de voz foi normal. Sem escolha, Harry a soltou.

Ginny subiu as escadas deixando Harry aos pés da mesma. Em uma sala cheia de gente, mas que acabara de ficar totalmente silenciosa.


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Histórias originais em: www.abafadordecha.wordpress.com


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