Recordações lupinas
- Capítulo três -
Recordações lupinas
O quarto de Lupin estava vazio e mais uma vez Harry entrou sem ligar para mais nada. Queria logo ouvir as vozes de seu pai e Sirius. Foi até o armário roído a traças e o abriu com um rangido.
O armário estava cheio de coisas que em outra ocasião Harry teria achado interessante, mas agora só o que interessava a ele era abrir aquele livro. Harry o pegou, foi até a cama e sentou com o livro apoiado no colo.
Diário de Lembranças, lia-se na capa, em letras douradas. Harry o abriu. Na primeira página tinha uma foto do próprio Lupin talvez uns dez anos mais novo, sorrindo. Abaixo da foto brilhavam em letras prateadas o nome do dono. Harry virou a página e viu uma espécie de janelinha se formar, e dentro dela dois garotinhos que aparentavam nada mais do que onze anos discutiam em uma saleta.
- É verdade, Remo! - dizia desesperadamente um garotinho muito parecido com Remo Lupin. - Papai pretende envenená-lo.
- Porque ele faria isso? - berrava Remo furioso a meio de lágrimas. - Porque ele mataria o próprio filho?
- Porque você é um lobisomem, oras - berrava o outro em resposta.
- Espera aí, Rômulo, deixa ver se entendi - Remo parecia fora de si. - Ser um... um lobisomem me torna algum tipo de aberração, é isso?
- Ora Remo, você conhece o papai, ele não aceita... bem... - Rômulo parecia estar escolhendo bem as palavras - ninguém meio humano. E você devia me agradecer, eu estou lhe contando isso, Remo. Você precisa acreditar em mim, sou seu irmão ou não sou...?
A página virou automaticamente fazendo Harry sobressaltar-se.
Um filhote de lobo corria veloz atrás de um homem gorducho de cabelos grisalhos. Era noite de lua cheia, e eles se encontravam num quintal muito grande.
- Eu sou seu pai, criatura imbecil - berrava o homem.
Tarde demais, Remo Lupin, o lobisomem, pulou em cima de seu pai, e numa tentativa sangrenta do homem escapar do lobo, este o derrubou no chão e fechou a mandíbula nele.
Harry, o coração saltitando, virou o rosto para o lado; já sabia o que aconteceria ao homem após ver sangue jorrar para todos os lados.
A página virou e Harry voltou a contemplar o Diário. Lupin agora conversava com uma garotinha de cabelos acajús e olhos muito verdes. E pelo o que Harry pôde notar eles estavam nos terrenos de Hogwarts.
- Não se preocupe, Remo - dizia a bruxa que não parecia ter mais do que doze anos. - Você não está sozinho nisso, eu vou te ajudar. Acho que vi um caso bem parecido num livro, e no final o lobisomem saiu livre. Minha tia é muito respeitada no Ministério, tenho certeza de que ela poderia nos ajudar.
Harry sorriu, aquela menina era sua mãe.
- Obrigado, Lily. - agradeceu Lupin corando.
- Mas eu acho que você deveria parar de andar com eles - disse Lílian Potter lançando um olhar de desaprovação em algum ponto atrás de Lupin. Ele se virou e Harry pôde ver dois garotos que duelavam com varinhas, próximo ao lago.
Harry sorriu outra vez, eram seu pai e Sirius.
- Não posso, Lílian, são meus amigos.
- Só achei que você merecia companhia melhor - disse ela parecendo desapontada.
A página virou novamente fazendo Harry soltar uma exclamação de surpresa ao ver a cena. Lílian e Lupin, que aparentavam quatorze anos, se beijavam. Uns 3 metros ao lado esquerdo de Lupin, Harry pôde ver seu pai olhando a cena, horrorizado.
A página virou.
A cena a seguir era tensa. James Potter, Sirius Black, Peter Pettigrew e Remo Lupin se encontravam no velho dormitório dos meninos, na torre da Grifinória.
- Será que o fato de você ser um lobo o impede de ter consciência? - gritou James.
- Controle-se, Pontas - bradou Sirius.
- Almofadinhas, tente adivinhar como você ficaria se soubesse que o seu melhor amigo andou encostando a boca na garota que...
- James, eu já lhe disse que foi repentino - cortou Lupin com firmeza.
- REPENTINO UMA OVA - berrou James.
- Você sabe que não tive intenção - disse Lupin calmamente.
- Ora Aluado, existem certas coisas que não temos a intenção de fazer mas mesmo assim a fazemos, não é mesmo.
- Olha Pontas, eu acho que você deveria escutar o Aluado - disse Sirius. - Aliás você nunca teve realmente alguma coisa com ela.
- Eu acho... - começou Peter.
- Não se meta, Rabicho - retrucaram Lupin, Sirius e James ao mesmo tempo.
- Qualquer um de vocês, até mesmo o Rabicho - disse James com a voz fraca -, sacaria que eu sou louco pela Lílian.
- Pontas - disse Lupin em tom de quem se desculpa, agarrando desesperado o braço do amigo -, eu sabia disso, sabia que você gostava de Lílian, mas eu já disse, não era para acontecer, não sei o que me levou a fazer isso. Eu lamento de verdade - uma lágrima solitária brotou nos olhos de Lupin.
- Pois que lamente sozinho, homem-lobo - retrucou James com agressividade se desvencilhando do braço de Lupin.
- É, Aluado - disse Sirius dando um tapinha de consolo em Lupin após James ter saído do dormitório -, acho que nosso Pontas não vai te perdoar tão cedo...
- ... DESASTRADA, E AINDA A CHAMAM DE BRUXA...
Harry congelou. Era a Sra. Black gritando. O garoto fechou o Diário com violência e o guardou no armário.
Harry meteu a cabeça para fora do quarto. Os gritos da Sra. Black cessaram; mas pessoas no andar inferior se aproximavam, falando em vozes baixas.
- ... que eu tropeço naquele maldito porta guarda-chuva.
- Não se preocupe, Tonks. Amanhã eu o tiro de lá. - era a voz de Lupin.
Harry não teve opção senão sair do quarto de Lupin e subir para o quarto de Sirius, pois se ele voltasse para o quarto que dividia com Rony, provavelmente Lupin e Tonks o veriam.
O quarto de seu padrinho era igualmente, senão mais cavernoso que os outros quartos da casa. Harry encontrou Bicuço, o hipogrifo, solitário na cama de Sirius.
- Bicuço - cumprimentou Harry o acariciando após fazer uma reverência.
Bicuço parecia ter ficado muito contente ao ver Harry. Devia estar muito solitário após a morte de Sirius.
- É muito bom que você venha fazer companhia à ele - disse uma voz atrás de Harry.
Era Lupin. O bruxo trazia uma saca de ratos na mão. Harry pediu para deixar que ele mesmo alimentasse o hipogrifo... se arrependeu quando o cheiro podre de rato o invadiu.
- Harry.
Harry abriu os olhos, estava deitado perto de Bicuço na enorme cama de casal do ex-quarto de Sirius.
- Harry! - uma garota, de cabelos cheios e castanhos o acordara. Era Hermione Granger.
Após o garoto levantar Hermione o abraçou, quase o derrubando de volta à cama.
- Tá tudo bem? - perguntou ela com um olhar maternal após o abraço.
- Tá - disse ele com um estranho desejo de abraçá-la novamente. -, tudo o.k. E com você?
- Harry - disse ela preocupada. - É verdade que você e o Rony levaram bomba em Poções? Vocês não passaram?
Harry engoliu em seco. A verdade era que na carta ele dissera à Hermione que não tinha ido bem pois sabia que a amiga ficaria preocupada e retornaria uma resposta o mais rápido possível. Mas sua nota fora, na verdade, Aceitável; e não tirou nada abaixo disso em nenhuma outra matéria.
- Eu disse isso? - perguntou tentando parecer displicente. - Bem, acho que não ecrevi direito... tirei Aceitável em Poções... bem, claro que poderia ter sido melhor... em todo o caso.
- Harry - disse ela desconfiada. - Tem certeza de que está tudo bem?
- Está... quero dizer, estou.
Coisas passaram pela cabeça de Harry naquele momento.
Conte a ela! - desafiou uma vozinha em sua cabeça.
Devo...?
Conte! - insistiu a voz teimosa.
Não! - disse outra com firmeza, e esta parecia-lhe estranhamente familiar.
Harry sacudiu a cabeça. Hermione o fitava, preocupada.
- Ah. Mione, eu acho que vou descer para comer alguma coisa, sabe.
- É, a Sra. Weasley me disse que você não comeu quase nada ontem. - disse ela ainda lançando olhares preocupados ao amigo, o que o deixou irritado.
O café da manhã de sábado foi tranqüilo, pelo menos nenhuma xícara tentara arrancar o nariz de Harry.
No almoço muitos membros da Ordem entravam e saíam da casa, o que deixava a Sra Weasley muito zangada.
- Acalme-se, Molly - Arthur Weasley, um bruxo de cabelos ruivos iguais aos do Rony, sentou-se à mesa ao lado de Harry - 'Dia, Harry - e abriu com uma sacudidela um exemplar do Profeta Diário.
- E aí, querido. Resolveu aquele caso dos Espelhos Alteradores? - perguntou Molly.
- Não - disse o Sr. Weasley ainda atrás do Profeta. - Kate e Myler enganam os trouxas direitinho, alguns acham que precisam de regime, outros acham que enlouqueceram.
- O que são Espelhos Alteradores? - perguntou Harry, intrigado, ao Sr. Weasley.
- Ah, os trouxas se olham nos espelhos e nunca se vêem refletidos exatamente como são. Por exemplo, uma mulher se atirou do quinto andar de um edifício ao olhar no espelho e ver seu reflexo pelo menos duzentos quilos mais gorda, e olha que ela não era nenhuma fadinha.
- E ela acreditou no espelho? - perguntou Harry espantado.
- É esse o problema - disse Arthur virando uma página do jornal -, os trouxas acreditam e às vezes acabam cometendo loucuras.
- Mas isso é uma burrice - falou Gina Weasley, uma garota de cabelos muito vermelhos que acabara de cumprimentar Harry e se sentar ao lado de Hermione.
- Eu já vi desses espelhos - comentou Hermione. -, os trouxas usam em parques.
- É mesmo? - perguntou o Sr. Weasley interessado, abaixando o jornal e olhando a garota. - Eles usam em parques? Aqueles parques de dimensão?
- De diversão - corrigiu Hermione. - É, mas eles se divertem com os espelhos.
- Kate e Myler - suspirou o Sr. Weasley. - Me lembram Fred e Jorge.
- Acho que ouvi meu nome - disse Jorge que acabara de aparatar em uma cadeira defronte a Hermione.
Fred aparatou sentado em cima da mesa derrubando uma jarra de suco de abóbora.
- VOCÊS DOIS QUEREM FAZER O FAVOR DE PARAR COM ESSA MANIA DE APARATAR EM TUDO QUE É LUGAR? - berrou a Sra. Weasley impedindo a jarra de cair no chão com um aceno de varinha.
- Desculpe, mamãe - disse Fred desaparatando e aparatando novamente numa cadeira ao lado de Jorge. - Calculei errado, bom, não foi nada tão grave como daquela vez, lembra Jorge, quando você aparatou no vaso sanitário.
- Eu acabei de dizer que vocês dois me lembram muito Kate e Myler - disse Arthur, sério.
- Ah - suspirou Jorge. - Eles são nossa fonte de inspiração.
- É claro que são - disse a Sra. Weasley lhe lançando um olhar zangado.
- São os Espelhos outra vez? - perguntou Fred entre risinhos.
- É - disse o Sr. weasley voltando à leitura.
- Os trouxas têm cada mania - comentou Rony pensativo. - Mione disse que eles se divertem com os espelhos em parques, mas não vejo graça nenhuma em ver o meu corpo todo deformado.
- Ora, Ronyquinho, e quem disse que pra isso você precisa de espelho? - caçoou Jorge. - Você tem é que tomar cuidado para não quebrá-los com a sua "beleza".
- Mamãe, quando Rony nasceu a senhora por acaso não viu se a enfermeira o espancou? - perguntou Fred fingindo preocupação. - Isso explicaria o porquê ele tem essa cara de pamonha.
Todos riram, até mesmo Rony. Porém o Sr. Weasley fitava agora o jornal com maior interesse.
- Que foi papai, alguma notícia sobre Você-Sabe-Quem? - perguntou Jorge.
- Ou é só aquele cara metido a profeta? - perguntou Fred. - Aquele que preveu a morte dos Robishis.
- Na verdade maninho, os Robishis preveram a morte dele primeiro, coitado. - disse Jorge cômicamente.
- Não, não é sobre os Robishis - disse o Sr Weasley, preocupado.
- Mas afinal o que são Robishis? - perguntou Rony, intrigado.
Harry viu o Sr. Weasley lhe lançar um olhar preocupado pelo canto do olho.
- É sobre mim? - perguntou Harry sem emoção.
- Se for não pode ser novidade, pode? - perguntou Gina lançando um olhar ansioso à Harry. - Quero dizer, ultimamente você aparece em todas as colunas. Claro que agora não são coisas tão ruins assim, muita gente acredita em você e Dumbledore. - acrescentou Gina.
- Vai papai, desembucha - pediu Fred. - Harry pode ser um bebê ainda, mas não precisa esconder dele.
- Ou se o senhor quiser a gente tapa o ouvido dele com um Feitiço Antiperturbante - acrescentou Jorge.
- É, bem... nada tão grave - disse Arthur quando Rony puxou o Profeta Diário da mão dele.
Rony franziu a testa após ler e passou o jornal à Hermione.
- Francamente - disse ela indiferente passando o jornal aos gêmeos. - Que monte de bobagem!
- O-menino-que-sobreviveu - riu Jorge passando o jornal à Fred.
- Não sei porque - disse Fred pensativo -, mas isso me lembra a morcega velha.
- É porque Cassandra Trelawney é a morcega velha - lembrou Jorge.
- É mesmo - sorriu Fred.
- Já que é sobre mim será que eu posso ler? - perguntou Harry, desanimado.
Jorge passou o jornal por cima da mesa à Harry que viu uma foto sua sorrindo tolamente na matéria principal.
Há dezesseis anos, a vidente Cassandra Trelawney fez a profecia sobre o assunto: Estava para nascer aquele que poderia acabar com o reinado de Você-Sabe-Quem. Nasceu Harry Potter, filho de Lílian Evans e James Potter; bruxos muito respeitados na comunidade bruxa.
O menino Potter resistiu a maldição Avada Kedavra quando bebê, lançada pelo Lorde das Trevas. Ele foi o primeiro e único da história a sobreviver essa maldição, mas saiu da batalha com uma cicatriz em forma de raio na testa, e com o grande pesar de que teria de viver sem seus pais.
Hoje videntes de todos os lugares fazem profecias sobre a morte de Harry Potter.
A cicatriz dele representa seu maior dano, declarou hoje um vidente que preferiu não revelar o nome, pois as cicatrizes em geral carregam as dores até a pessoa não aguentar mais. Acredita-se que a cicatriz do pobre Potter não vá aguentar muito mais do que um ou dois anos. As linhas da morte traçam o destino do nosso Potter, e está muito claro em qualquer profecia, por mais triste que seja, que o menino Potter, será morto pelo Lorde das Trevas.
Harry correu os olhos pelo resto da matéria que fazia uma exagerada descrição da vida dele.
- Que comovente - disse Harry devolvendo o jornal ao Sr. Weasley. - De "heróizinho trágico e mentiroso" eu passo a ser um adorável bebê que corre perigo de morte. Acho melhor eu tomar cuidado ao sair nas ruas já que tem um maníaco atrás de mim... hm, como se eu não soubesse.
Todos trocaram sorrisos com ele.
- Fico contente de saber que você não dá ouvidos a essas bobagens, Harry - disse a Sra. Weasley maternalmente.
Como Hermione, Harry achava tudo aquilo um monte de bobagem. E não tinha nada daquilo que ele não soubesse, aliás, Harry sabia mais do que aqueles repórteres idiotas. Harry sabia mais do que todos que agora almoçavam com ele. Sabia tanto quanto Dumbledore, pois o bruxo lhe contara sobre a profecia da Trelawney.
Enquanto um viver o outro não poderá existir - Dizia o fim da profecia. Portanto, ou Harry virava assassino e acabava com Voldemort; ou virava vítima sendo assassinado por Voldemort. Não podia escolher, mas na profecia estava claro que um dos dois tinham que morrer.
Harry não contara sobre a profecia a ninguém. Imaginava a reação dos amigos se contasse aquilo e preferia guardar a preocupação para si mesmo.
Harry passava a maior parte do tempo no quarto de Sirius, longe de todos, fazendo companhia somente à Bicuço e a Bichento, o gato de Hermione, que permanecia esperançoso de lhe sobrar algum rato. Tanto que já se acostumara com o cheiro de animal morto.
O garoto não conseguia tirar as cenas que vira no Diário de Lembranças do Lupin. Como Rômulo, o irmão de Remo, o alertara de que o pai pretendia envenená-lo. De como Lupin, em forma de lobo, assassinara o pai. De como Lílian, a mãe de Harry, pretendia ajudar Remo em alguma coisa relacionada ao assassinato do pai. De como Lupin beijara a mãe de Harry; e James, o pai de Harry, ficara louco de ciúmes de Lílian.
Harry só saía do quarto de Sirius para uma ou outra refeição, ou ainda para praticar Oclumência com Dumbledore, que só dava as caras na Ordem para isso.
Uma averssão de coisas o esbofetavam no coração. Sentia vontade de chorar. Mas sentia vontade também de gritar. Sentia raiva de si mesmo. Sentia falta de Sirius. Sentia falta de (apesar de nunca ter os conhecido) seus pais.
Rony, Hermione e Gina tentavam de vez em quando animá-lo, mas na opinião de Harry estavam somente perdendo tempo.
Na noite de segunda-feira, após praticar Oclumência com Dumbledore, Harry subiu exausto para o porão de Sirius. Hermione o seguiu.
- Não está certo, Harry!
- Que é que não está certo? - perguntou Harry sem encará-la.
- Não adianta fingir que não sabe do que estou falando. - disse Hermione se sentando na cama. - Isso só vai tornar as coisas mais difíceis.
- Do que é que você está falando, afinal? - perguntou Harry com rispidez.
- Ora, você se tranca aqui, se isola de todo o mundo. Você não pode deixar que a morte de...
Harry olhou para os olhos amendôados de Hermione.
- Vamos, fale - desafiou Harry. - A morte de Sirius, eh? Eu não sou bebê, sabe, posso ser meio lerdo como muitos já disseram, mas acho que não sou burro.
- Olha, Harry - disse Hermione em tom de quem se desculpa. - E não precisa perder as estribeiras - acrescentou ao ver o olhar do garoto. - A questão é que você não deve ficar nesse ânimo por causa do Sirius.
- E o que é que você acha que eu devo fazer? Sair pela rua distribuindo balinhas?
- Bem, não isso, sabe, balas dão cáries. - disse Hermione abrindo um belo sorriso, deixando à mostra dentes branquinhos.
- Está tentando me fazer rir? - retrucou Harry. - Porque eu não estou vendo graça nenhuma.
- Olha, Harry - disse ela pegando a mão do garoto. - Eu sei como deve ser difícil. Fiquei triste com a morte de Sirius também, mas na verdade eu...
- Não, você não sabe - cortou Harry procurando manter a calma.
- Não sei o quê? - perguntou Hermione acariciando as mãos geladas dele.
- Você não sabe - disse Harry -, ninguém sabe o que é ser Harry Potter.
- Acho que não estou entendendo aonde quer chegar, Harry.
- Ora, Hermione - disse Harry, sentindo que estava prestes a desabar suas mágoas na garota -, vai me dizer que esqueceu o motivo pelo qual Sirius está morto?
- Sirius está morto porque atravessou aquele véu - disse Hermione com dignidade.
- Péim - fez Harry imitando o som de uma campainha. - Resposta errada. Sirius está morto porque o infeliz do Harry não deu ouvidos a Hermione e foi para aquele maldito Ministério.
- Não se culpe pela morte de sirius - retrucou Hermione com severidade.
- Aliás - continuou Harry não dando ouvidos à garota. - Viver com Harry Potter é assim. Meus pais me tiveram e morreram logo depois. Cedrico Diggory me conheceu, oh, mas que honra, caiu estatelado no cemitério. E quando encontro o meu padrinho que por acaso já foi amigo do meu pai, ele também morre. Vai ver eu estou amaldiçoado. - terminou com amargura.
- Pára, Harry - disse Hermione irritada. - Você não está sob maldição nenhuma. E se tem alguém que você deve culpar, esse alguém é Voldemort.
- Ótimo - disse ele admirado que esquecera que sua amiga não temia mais pronunciar aquele nome. - Sabe, isso me faz lembrar que videntes do mundo inteiro fazem profecias sobre a minha morte.
- Harry! Eu estou chocada. - disse ela ainda segurando as mãos do garoto. - Pensei que você não desse a mínima àquelas matérias idiotas.
- Eu não dei a mínima. Mas sabe, talvez seja melhor.
- Talvez seja melhor o quê? - perguntou ela, as mãos tremendo nas de Harry.
- Eu morrer - falou Harry com simplicidade.
- Harry - Hermione se levantou soltando a mão do garoto. -, por mais que seja difícil eu acho que você já está exagerando.
- NÃO ESTOU, NÃO - Harry também levantara - VOCÊ ACHA QUE SABE, ACHA QUE É FÁCIL, É?
- Harry, eu entendo, eu só... - implorou Hermione.
- NÃO ENTENDE NÃO, SRTA. SABE-TUDO. VOCÊ ACHA QUE SABE DE TUDO, NÃO É? AH, E TALVEZ A SENHORITA NÃO TENHA NOTADO, MAS ISSO NÃO É A HISTÓRIA DE UM LIVRO - continuou ele a berrar, ignorando Bicuço que parecia zangado. -, É-A-REALIDADE!
Hermione também se zangara.
- Olha, Harry... e por favor pare de gritar... Mas caso você não se lembre, eu... meio que tive razão quando disse para você não ir procurar por Sirius, disse que poderia muito bem ser uma cilada do Voldemort.
- Ah, me lembro sim, Srta. Razão. E obrigado também por me lembrar da minha burrice - disse Harry entre dentes. - Mas receio que a sua estúpida inteligência não vai nos servir de nada agora.
- Eu... eu só... - Hermione parecia prestes a cair no choro. - Eu só queria...
Mas o quê exatamente Hermione queria Harry não chegou a saber, porque a garota saiu correndo do quarto se debulhando em lágrimas.
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