A voz do Maroto





- Capítulo dois -


A voz do Maroto




- O que você faz aqui?

Harry se levantou meio tonto, ajeitando os óculos.

- Cochilando - disse espanando a terra da jeans.

- Cochilando? - falou a Sra. Figg erguendo as sombrancelhas - Harry, a senhora do 27 achou que eu estava o esgoelando.

A Sra. Figg sempre fora vizinha de Harry, mas só no verão passado ele descobriu que a velhota conhecia o mundo da magia; e que na verdade, a Sra. Figg era um aborto, ou seja, tinha dificuldades com a magia.

Harry permaneceu calado.

- E o que é que você está esperando? - disse impaciente puxando-o pelo braço - O pessoal daqui é desconfiado, sabe.

Não deu outra: quando deixavam a praça, Harry olhou para a janela de uma das casas onde sua moradora (que o lembrava muito sua tia Petúnia) os espiava fazendo menção de apanhar o telefone.

- Então, anda tendo visões novamente? - perguntou ela sem encará-lo.

- Como você...? - mas Harry não precisou terminar a pergunta, pois já sabia a resposta: Dumbledore!

Alvo Dumbledore era o diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Um alto miado cortou a noite, fazendo Harry saltar uns dez centímetros do chão.

- GAROTO, CUIDADO!

Um gato malhado na qual Harry pisara o rabo saiu em disparada para debaixo de um carro, rosnando. Até então Harry não tinha notado a presença de Tobias, o gato da Sra. Figg.

- D-desculpe - disse ele um tanto aliviado, pois ao ouvir o gato miando, pensou por uma fração de segundos em Bichento, sendo torturado.

- Então... estas visões - continuou ela como se nada os tivesse interrompido. - Anda tendo freqüentemente?

- Sim. Quero dizer, tive três só hoje.

Agora Figg lhe lançou um olhar assustado.

- Você devia estar evitando - falou alterada. - Dumbledore vai saber disso, ah vai.

- Ele já sabe, bem, minha tia disse que ia contar à ele.

- Sabe, é? - ela pareceu meio aborrecida.

- Então, tchau - despediu-se Harry quando chegaram na rua dos Alfeneiros.

- Até breve, garoto.

Harry entrou no número 4 e encontrou os Dursley na cozinha. Ele queria muito falar com sua tia para saber se já avisara Dumbledore, mas decidiu subir para o quarto já que ela estava com o marido.

Edwiges encontrava-se aninhada no peitoril da janela.

- Edwiges - disse ele pegando a carta que antes deixara na escrivaninha -, entregue esta carta à Hermione - e amarrou em sua perna.

Harry se debruçou na janela observando sua coruja partir, cortando o horizonte. A brisa noturna entrava por sua janela que vivia aberta. Ele não queria dormir ainda, mas ultimamente o sono o pegava desprevinido. Não queria ter outras visões...

Craque.

Alguém havia aparatado atrás dele. Ao susto, Harry berrou.

- Jorge! - exclamou ao ver a figura de um jovem de cabelos ruivos.

- Shhh, quer acordar a vizinhança? - disse Jorge sorrindo.

Craque.

Uma outra forma se materializou ao lado de Jorge, desta vez era Fred Weasley, seu irmão gêmeo.

- Vocês querem me matar do coração, é? - perguntou Harry, o coração martelando.

Fred fez uma reverência exagerada.

- Boa noite, Harry querido - disse Jorge imitando a voz da Sra.Weasley.

- Estamos encantadoramente surpresos em vê-lo aqui, Harry - Fred arregalou os olhos.

- E admiramos estes seus olhinhos verdes cor-de-vômito.

- Calem a boca - disse Harry rindo. - Querem que meus tios ouçam vocês?

- Ah, seus tios são bondosamente simpáticos. Não vão se importar. - Jorge sorriu maldosamente.

- Mas o que fazem aqui, afinal?

- Eu e Jorge decidimos fazer uma visitinha a você, para lhe devolver isto - Fred estendeu uma bolsinha retinindo-se de moedas.

- Mil galeões - completou Jorge sorrindo.

- Não precisa devolverem - disse Harry recusando a bolsinha que balançava alegremente.

Fazia mais ou menos um ano que ele ganhara o prêmio do Torneio Tribruxo: Mil galeões. Mas Harry achava que não precisava daquele ouro todo. Por isso resolveu passar tudo a Fred e Jorge, os gêmeos da família Weasley.

- Pegue ou nós azaramos você, lembra? - disse Fred fingindo sacar a varinha.

- Tá bem - disse ele recebendo o dinheiro e jogando-o na escrivaninha. - Pelo visto a loja de logros está realmente faturando, não é mesmo?

- Gemialidades Weasley - corrigiu-o Jorge.

- Graças a você, meu amigo. Bom, vou andando, muito o que fazer... - disse Fred dando um adeusinho e aparatando.

- Ah, é - Jorge tirou mais uma sacolinha do bolso. - Tome, é por cortesia.

Harry espiou dentro da sacolinha e viu uma grande quantidade em pó de alguma coisa que se assemelhava muito a comida de peixe.

- São Fogos Espontâneos Weasley. Sabe, aqueles fogos que soltamos pela escola para infernizar a Umbridge. - acrescentou Jorge ao ver a cara intrigada de Harry.

Ele se lembrou dos estragos que os gêmeos causaram no seu quinto ano em Hogwarts, quando soltaram fogos criados por eles mesmos, que tinham o aspecto de dragões e se multiplicavam quando a pessoa tentasse impedí-los.

- Só isso? - perguntou Harry olhando surpreso aquele pozinho. - Esse pozinho são os fogos?

- Pois é, de surpreender, não é. Uma pitada e um toque com a varinha é o suficiente para acendê-lo - informou Jorge.

- Obrigado, quem sabe eu precise este ano, quero dizer, ainda não faço idéia de quem vai ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas, dá de ser igual àquela sapa velha.

- Ah, fique tranquilo Harry; o cara que vai ensinar Defesa é gente fina, eu o conheço, é irmão do Lupin.

- Irmão do Lupin? - perguntou Harry franzindo a testa. - Não sabia que ele tinha um irmão.

- É, eles são meio distantes. Bem, até outro dia. - e aparatou.



No dia seguinte, Harry acordou com uma enorme surpresa ao ver a tia em seu quarto. Porém, a maior supresa foi a pessoa que a acompanhava.

- Prof. Dumbledore... !?

- Bom-dia, Harry.

Alvo Dumbledore, com suas elegantes vestes púrpura, longas barbas e cabelos prateados, observava Harry com seus olhos azuis penetrantes através de seus óclinhos de meia-lua.

- Creio que esteja se perguntando o que faço aqui a essa hora da manhã. - disse Dumbledore. - Bem, sua tia me avisou que você andava tendo visões, e decidi vir.

- Como é que você avisou ele tão rápido? - perguntou Harry espantado à tia.

- Temos nossos meios - sorriu Dumbledore conjurando uma confortável poltrona de chintz com a varinha e se sentando.

- Petúnia! - chamava Válter no andar de baixo.

- Não se preocupe, Evans - disse Dumbledore -, pode ir, obrigado. Deixe que agora eu cuido do Harry.

Petúnia saiu do quarto contraindo os lábios como sempre fazia.

- Bem, Harry, sobre suas visões com a Srta. Granger e com Voldemort, eu digo que não são reais no presente momento, pois conversei com os Granger e está tudo perfeitamente bem.

- Mas senhor, quando eu tive aquela visão em que o Sr. Weasley...

Dumbledore levantou a mão para interrompê-lo.

- Eu disse que não são reais no presente momento, Harry, mas não que elas não aconteçam.

Harry engoliu em seco.

- Contudo, a melhor maneira de agirmos é em cautela. Você não vai contar à Srta. Hermione o que viu. - Dumbledore lançou um olhar penetrante ao garoto.

- O.k. - concordou Harry. - Não vou contar. Mas professor, o senhor acha que Voldemort pegaria Hermione? Quero dizer, não era eu que ele queria?

- Eu receio que sim, ele seria capaz de atraí-lo como fez com Sirius. Uma cilada - disse Dumbledore, seus olhos cintilando. - Harry, quero a sua palavra de que vai se esforçar a praticar Oclumência.

- Mas quem vai praticar comigo? O Snape não quer me ensinar - disse Harry.

- O Professor Snape, Harry - corrigiu Dumbledore -, se recusa a lhe dar estas aulas pois ficou perturbado quando você vasculhou o passado dele na Penseira.

- Mas então quem vai praticar comigo? - repetiu a pergunta, ansioso.

- Eu - respondeu o diretor.

Harry sentiu-se aliviado. Com Dumbledore devia ser mil vezes mais fácil do que com Snape.

- Bom, sugiro que arrume suas coisas - disse ele se levantando e desconjurando a poltrona de chintz. - Quando terminar vá até a casa da Sra. Figg, com a lareira dela vá de Flu para o Largo Grimmauld, doze. E não se preocupe, a rede de Flu está segura por hoje, usei um simples Feitiço de Descongestionamento. Vou dar uma palavrinha com seus tios. À noite praticaremos Oclumência. Bom, até mais - Dumbledore saiu do quarto deixando um Harry surpreso arrumando seu malão.

Harry nunca abandonara a casa dos Dursley tão cedo, em verão algum.

Ele não tinha certeza se queria voltar para a velha casa de Sirius pois lá traria à sua cabeça tristes lembranças do padrinho.

Harry revirava o malão quando ouviu um barulho de trituramento, começou a jogar os livros na cama e viu no fundo do malão o espelho quebrado que Sirius lhe dera. Ele ficou por um minuto observando o espelho com uma leve pontada. Como pudera ser tão burro? Talvez se tivesse usado aquele espelho para se comunicar com Sirius, se ao menos tivesse lembrado, o padrinho não estaria morto.

Harry jogou os livros novamente no malão, guardou as cartas que estavam na tábua solta sob o soalho, junto com as penas, tinteiro e pergaminho. Pegou a gaiola de Edwiges (vazia) e saiu do quarto arrastando o malão.

Harry deu um aceno de despedida aos Dursley (que não retribuiram, embora Harry podia jurar que viu a tia lhe retribuir discretamente um aceno) e se dirigiu à casa da Sra. Figg que já o aguardava. Ela o conduziu para dentro de sua casa que cheirava fortemente a gatos.

- Quer alguma coisa antes de partir? - perguntou Figg bondosamente. - Chá? Bolinhos?

- Não, obrigado - disse Harry seguindo ela até a cozinha. - Hum, Sra. Figg, onde o Prof. Dumbledore foi?

- Não faço a menor idéia, garoto. Ele está sempre muito ocupado. - disse ela com polidez. - Um homem muito importante o Dumbledore, muito importante.

A velhota pegou um pote no console da lareira, Harry se serviu de pó de Flu, entrou na lareira e se despediu da Sra. Figg.

- Largo Grimmauld, doze - falou Harry claramente, fazendo as chamas verde-esmeralda o envolverem na curta viagem (longe de ser tranqüila) até a casa dos Black, onde se encontrava a sede da Ordem da Fênix.



- Harry! - uma voz o chamou quando ele escorregou da lareira na cozinha dos Black. Era um garoto alto e ruivo com sardas no rosto, Rony Weasley, seu melhor amigo.

- Cara, tomei um susto.

- E aí, como está? - perguntou Harry se levantando e tentando se livrar da fuligem.

Uma mulher de avental entrara na cozinha sorrindo bondosamente ao ver o garoto.

- Harry, querido! Como vai? - cumprimentou a Sra. Weasley o abraçando. - Chegou bem na hora do café. Rony, o ajude com a mala.

Harry e Rony subiram ao quarto cavernoso onde sempre dormiam quando permaneciam na Ordem.

- Hermione está aqui? - perguntou Harry se sentando na cama .

- Não - respondeu Rony. - Mione levou Gina para passar o fim de semana na casa dela.

Harry correu os olhos pelo quarto e pousou no quadro do bisavô de Sirius Black, no momento vazio.

- Então - disse Rony timidamente -, você já está melhor? Quero dizer, já superou... ?

- Que é que eu tenho que superar? - perguntou Harry com frieza. - Sobre Sirius, eh?

- Desculpa cara, eu não queria lembrá-lo de nada, so achei que...

- Vamos lá tomar café - cortou Harry.

Harry não queria ser agressivo com Rony, mas não gostava quando as pessoas o tratavam como se ele fosse um bebê.



No café da manhã, quando Harry e Rony chegaram à cozinha, muita gente já se encontrava lá.

- Olá Harry! - cumprimentou-o Remo Lupin.

- E aí Harry, beleza? - perguntou Ninfadora Tonks, uma garota que estava com os cabelos brancos, mas não por velhice, e sim porque ela era uma metamorfomaga e podia mudar a aparência quando quisesse.

- Como vai, Potter? - era Alastor Olho-Tonto Moody.

Moody tinha um olho normal e outro mágico, que girava em todas as direções e podia curiosamente enxergar através de paredes e objetos, inclusive atrás de sua própria nuca.

- Bom lhe ver, Harry - saudou Quim Shacklebolt um bruxo negro de careca reluzente.

- Sente-se, Harry - convidou a Sra. Weasley.

Harry se sentou e viu Moody jogando uma bolinha num copo de água. Moody olhou para Tonks com o seu único olho normal enquanto o outro boiava na superficíe do copo, Tonks o observava com expressão de nojo.

- Eh, desculpe, eu esqueci como isso pode ser nojento para vocês. - justificou ele se levantando.

Lupin e Quim conversavam aos sussuros do outro lado da mesa. Tonks comia seu mingau de aveia com interesse. A Sra. Weasley servia Harry de ovos e bacon enquanto este pegava sua xícara de chá.

- Ai! - quando Harry ia dar uma golada no chá, a xícara avançou para seu nariz e o mordeu, derrubando chá quente no garoto.

- Pelo amor de Deus! - berrou a Sra. Weasley correndo até Harry. - Quantas vezes eu já disse para o Mundungo não deixar estas porcarias largadas aqui.

Rony ajudou Harry a se desvencilhar da xícara mordente, mas esta agarrou a mão de Rony.

- Finite - exclamou Tonks deixando seu mingau de lado e apontando uma varinha para a xícara, que ao encanto se espatifou.

- MUNDUNGO ME PAGA! - gritou a Sra. Weasley limpando a sujeira com a varinha. - Harry, querido, deixe que eu cuide de seu nariz.

- Não, tudo bem Sra. Weasley - disse ele limpando o sangue com a manga.

A campainha tocou seguida de berros furiosos vindos do corredor.

- ... NOJENTOS, SANGUES-RUIMS, MEU FILHO TRAÍDOR DO PRÓPRIO SANGUE SE FOI E ESSA RALÉ CONTINUA AQUI...

- Pra que é que você foi tocar a campainha? - gritou a Sra. Weasley para um bruxo ruivo de olhos ligeiramente vermelhos que acabara de chegar à cozinha.

- Acalme-se, Molly. - resmungou ele em resposta.

- ME ACALMAR? VOCÊ ANDOU DEIXANDO ESSA PORCARIADA DE COISAS SUAS AQUI NA ORDEM, OLHA O QUE ACONTECEU COM O HARRY E O RONY...

- ... DESONRANDO A FAMÍLIA DE BRUXOS MAIS PURA QUE SE PÔDE IMAGINAR EM SÉCULOS, SEUS IMUNDOS... - os berros continuavam vindo do corredor em que o quadro da mãe de Sirius estava.

- É melhor eu ir fechar a cortina - apressou-se Lupin saindo da cozinha.

Craque.

Craque.


Fred e Jorge haviam aparatado ao lado da Sra. Weasley.

- Olá mamãe. Sabe, estávamos a um raio de cem quilômetros e pensamos ter ouvido a sua doce voz. - disse Fred passando o braço ao pescoço da bruxa, que lançava um olhar perigoso à Mundungo.

- Mas não se intimide, mamãe, continue a estravasar sua raiva, sua voz é um colírio para nós. Ah, e quando a senhora matar o Mundungo não se esqueça de que tem menores de idade aqui - disse Jorge lançando um olhar malicioso à Rony.

Harry aproveitou a confusão para subir com a desculpa de que iria cuidar do corte, embora este não o preocupasse muito.

Nem comera direito, mas na verdade não tinha fome, e não tinha um pingo de vontade de fazer mais nada e nem de ver ninguém. Quando pôs a mão na maçaneta para entrar no quarto que dividia com Rony, parou. Ouvia vozes distantes, além dos berros que vinham no andar de baixo. As vozes vinham de uma porta defronte a escada no andar de cima. Harry, curioso, subiu até a porta e pôs o ouvido à escutar as vozes estranhamente conhecidas.

- ... que eu não tive intenção - dizia uma voz à que o garoto reconheceu ser a de Lupin, embora estivesse estranhamente diferente, como se o homem estivesse com a voz rejuvenescida.

Harry concluiu que ele deveria ter subido após calar a Sra. Black. Mas ouviu uma segunda voz e aqui seu coração bateu violentamente.

- Ora Aluado, existem certas coisas que não temos a intenção de fazer mas mesmo assim a fazemos, não é mesmo.

- Olha Pontas, eu acho que você deveria escutar o Aluado - disse uma terceira voz fazendo o coração do garoto revirar. - Aliás você nunca teve realmente alguma coisa com ela.

- Eu acho... - começou uma quarta voz.

- Não se meta, Rabicho - retrucaram as outras três ao mesmo tempo.

Harry conhecia todos aqueles apelidos e vozes, e sabia a quem pertenciam cada uma delas, mas não podia ser...

- Qualquer um de vocês, até mesmo o Rabicho - recomeçou a voz do pai de Harry -, sacaria que eu sou louco pela Lílian.

- Pontas - disse Lupin em tom de quem se desculpa -, eu sabia disso, sabia que você gostava de Lílian, mas eu já disse, não era para acontecer, não sei o que me levou a fazer isso. Eu lamento de verdade.

- Pois que lamente sozinho, homem-lobo - retrucou James Potter com agressividade.

Harry não aguentava mais, seu estômago explodia de excitação, seu pai estava naquele quarto discutindo com seus amigos de escola. Apesar de saber muito bem que dois deles (incluindo seu pai) estavam mortos. Abriu a porta.

Ele nunca havia entrado naquele quarto. Os donos das vozes não eram visíveis, somente Lupin se encontrava sentado na cama com um livro aberto no colo, e embora a sua boca estivesse fechada, sua voz continuava a falar.

- Harry! - disse ele assustado. - Você aqui - e se levantou fechando o livro apressado. - Deseja alguma coisa? - disse após enxugar uma lágrima em seu rosto cansado.

- Ah - disse Harry procurando uma desculpa. - Desculpe, não queria incomodá-lo... é que não sabia de quem era esse quarto e meio que entrei...

- Tudo bem, Harry - e guardou o livrão num armário ao lado da cama. - Não precisa se desculpar, eu estava somente... lendo um livro.



Harry ficou a tarde inteira no quarto jogado à cama, pensando. Rony tinha o chamado para ir com ele na loja de logros dos gêmeos, mas Harry disse a ele que não tinha dormido direito e que iria descansar.

Que é que o Lupin estava escondendo?, pensava ele, porque com certeza estava escondendo alguma coisa dele, embora não tenha tido muito sucesso em fazer isso com sigilo.

E aquele livro. As vozes de seu pai, de Sirius Black e de Peter Pettigrew (sem falar na de Lupin) vinham daquele livro. Então Harry se decidiu, ia arrumar um jeito de invadir o quarto de Lupin para ver qual era a daquele livro. Mas o problema era entrar no quarto sem que fosse visto, porque não era bobo de fazer isso perto de Moody, pois sabia que com seu olho mágico ele com certeza veria Harry invadindo o quarto do amigo.

Horas depois a porta do quarto se abriu e Alvo Dumbledore entrou sorrindo para Harry.

Engoliu em seco. Iriam praticar Oclumência. E se Dumbledore vasculhasse sua mente e visse que ele, Harry, estivera espionando o quarto de Lupin. O garoto começou a tentar esvaziar a mente, mas seria quase que impossível.

- Imagino - disse Dumbledore se pondo à frente de Harry - que queira um tempo extra para esvaziar a mente.

Os cinco minutos que passaram, Harry descobriu que foram em vão. Não conseguira tirar as vozes dos Marotos de sua cabeça.

- Se estiver pronto então - disse Dumbledore.

Harry balançou a cabeça tirando a varinha do bolso.

- No três - alertou Dumbledore serenamente. - Um... dois... três... Legilimens!

Harry fugia do enorme basilisco... um Comensal da Morte fazia um X no ar com uma varinha atingindo Hermione no peito... Cho vinha em sua direção, chorando... Hermione encontrava-se petrificada na ala hospitalar...

O quarto voltava em foco.

- Protego!

- Eu daria nota 8 - sorriu Dumbledore.

Talvez o fato de Dumbledore ser bem mais agradável que Snape, tornava a Oclumência menos desagradável. Harry progredira bastante. E para o seu alívio nada sobre o quarto de Lupin fora revelado.

- Acho que já é o suficiente por hoje - disse Dumbledore após Harry ter conseguido quase que por completo evitar que o diretor penetrasse em sua mente. - Esvazie a mente antes de dormir - lembrou ele quando ia saindo - Boa-noite!

Harry sentou-se na cama e abriu o Sapo de Chocolate que Dumbledore lhe dera.

- Harry, está tudo bem? Mamãe está preocupada. Diz que você não almoçou e nem comeu nada no café.

- Estou bem - disse Harry. - Mas como está a loja dos gêmeos.

- É incrível, Harry. Você tinha que ver quanta coisa eles criaram.

- Rony - Harry, que não aguentava mais, desabou a contar o que ouvira no quarto de Lupin.

- Caracas - foi a reação de Rony. - Bom, se o seu pai está no meio da história então acho que não faria mal em dar uma espiadinha, não é. Imagino que seja um Diário de Lembranças. Em todo o caso, o Lupin tem andado estranho ultimamente, parece triste.

- Ele está com saudade deles. Dos Marotos.

- Sabe, eu estive pensando, Harry - disse Rony pensativo. - Aquele véu; você acha realmente que Sirius pode ter morrido só atravessando ele?

- Pode - disse Harry com firmeza. - Se estivesse vivo eu saberia.

Rony ergueu as sombrancelhas.

Harry sentiu uma vontade enorme de contar à Rony sobre suas visões com Hermione, mas se conteve quando o assunto do amigo se voltou à loja dos gêmeos.

Harry tivera uma noite de sonhos tranqüila. Nada que pudesse chamar de "perigoso". Tivera um sonho bobo em que devorava uma montanha de Sapos de Chocolate com Rony, até que os dois inflaram enquanto Draco Malfoy dava risadas. Ele acordou ainda de madrugada, mas não pelo sonho e sim pela fome que fazia seu estômago roncar incomodamente.

Harry ia descendo para a cozinha tapear a fome com qualquer coisa, mas parou. Olhou para o alto da escada, parecia tudo tranqüilo no quarto de Lupin. Subiu lentamente as escadas, hesitando. Colocou o ouvido na porta, estava tudo calmo lá dentro, nem ao menos ouvia-se o ronco de alguém dormindo.

Lupin devia ter saído a serviços da Ordem, concluiu Harry, espero que tenha saído.

Levou a mão à maçaneta e a girou, abrindo a porta devagarinho.

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