A Londres do caos
Harry, Hermione, Gina, Rony, Max e Daisy chegaram a Londres aos cuidados de Olho-Tonto e Tonks, e tiveram uma surpresa ao ver como as ruas estavam desertas a caminho da estação.
Os poucos trouxas que andavam pela rua lançavam olhares de esguelha ao grupo. Moody obviamente era o centro das atenções, eis que andava com uma cartola preta e uma capa, escondendo seu rosto nas sombras e mancando, como um pirata. Tonks hoje estava disfarçada de estudante. Vestia uma saia xadrez e mascava um chiclete continuamente desde que saíram de Northshore.
- Gostei das tranças - resmungou Moody para a garota. - Mas seria bom se disfarçasse menos, porque este chiclete está chamando atenção demais.
Tonks lançou-lhe um olhar de censura.
- Quem é que está chamando atenção? - disse ela, fingindo mancar.
Na rua 43, a poucos passos da estação, Harry lançou um olhar rápido a Hermione para ver se ela estava bem. Na verdade, involuntariamente, ele repetiu isto umas três ou quatro vezes. Como ainda queria estar com ela, pensou Harry, distraído...
Harry trombou com Moody, que havia parado à sua frente.
- Que diabo...? - rosnou o bruxo, erguendo os braços para os lados para que todos parassem.
O garoto percebeu que algo estava errado. Estrondos distantes... Todos olharam à frente, adiante da rua longa e cinzenta. Eram dementadores? Não... Mas eram figuras negras se aproximando.
Um jorro de chamas vermelhas brilhou ao longe e se aproximou, com a velocidade de um raio, na direção dos garotos.
- Se abaixem - gritou Tonks, empurrando quantas costelas conseguiu alcançar, para que eles se deitassem no chão.
Harry pulou para o lado de Hermione, protegendo-a, e sentiu sua orelha arder quando o jorro passou raspando por ele e acertou um ônibus trouxa logo atrás deles.
KA-BOOOM!
Foi o que todos ouviram, quase ficando surdos com a explosão do ônibus. Os vidros se estilhaçaram voando para todos os lados, ferindo Harry, que se incumbiu de usar seu corpo para proteger o de Hermione.
O fogo ateava atrás deles e Tonks, o rosto sangrando, empurrou-os para frente, erguendo a varinha. Por azar, Moody não conseguira manter distância entre ele e o fogo e, a capa pegando fogo, ele a chutou para o lado, bem como a cartola, revelando o verdadeiro auror de aspecto suspeito que ele era. Mas os trouxas, assustados, mantinham os olhos à frente, naquele mar de capas pretas que se aproximavam, causando o caos na cidade.
- Corram, vocês! - gritou Tonks, agitando a varinha. - Expecto Patronum!
A pantera prateada saltou da ponta da varinha da moça e se pôs entre mais um jorro que ameaçou acertar dois trouxas que observavam a cena, paralisados, encostados na parede do prédio. O jorro saiu ziguezagueando para o céu e quebrou a janela do prédio mais próximo, fazendo chover mais cacos.
- VAMOS, SAIAM DAQUI, PIRRALHOS! - gritou Moody, alucinado, seu olho mágico girando loucamente em todas as direções, devido ao impacto da explosão, enquanto o normal estava fixado à frente, ameaçando soltar-se.
Moody pronunciou o feitiço e o lançou contra os Comensais da Morte, que se aproximavam, lançando feitiços para os lados, destruindo carros, prédios e tudo o mais que conseguiam mirar. O feitiço voltou para Moody e o bruxo rolou pelo chão. Levantou-se quase que imediatamente, massageando a barriga.
- Malditos - resmungou.
- Não temos chance, eles são muitos - berrou Tonks, pálida. - Precisamos de reforços...
- Deixa comigo - gritou Moody. - Leve eles para a estação. Agora!
O bruxo conjurou um anel prateado no ar e o mandou para o espaço, murmurando: "Ordem Alerta".
Tonks agarrou Harry e Hermione e chamou os outros. Mas, ao grupo virar-se, notaram mais uns vinte Comensais, também lançando feitiços adoidados, soltando gargalhadas sinistras.
Tonks virou para um lado e para o outro, perdida, desesperada... Para onde iriam? Estavam encurralados. Comensais se aproximavam dos dois lados da rua.
- Ali! - alertou Harry, empurrando os amigos - Um beco...
Tonks e os garotos entraram no beco escuro que existia entre um prédio e outro. A moça os empurrou até o fundo do beco, atrás de umas latas de lixo, e disse:
- Não saiam daqui por nada...
- Mas Tonks... eles são muitos! - exclamou Hermione, desesperada. - Espere a Ordem chegar...
- Preciso ajudar aqueles trouxas - desconsiderou-a Tonks, correndo para a batalha.
- Meu Deus - gemeu Daisy, roendo as unhas. - Meu Deus; meu Deus; meu Deus... Que está havendo? O mundo está acabando?
- É o que parece. Os Comensais estão atrevidos, não acham? - comentou Rony. - Saindo assim à luz do dia, destruindo a cidade... Será que eles não temem voltar para Azkaban?
- Talvez seja porque eles aumentaram - disse Hermione, cujo lábio inferior sangrava levemente, mas continuava quase tão inteira quanto antes, se comparada aos outros, que levaram cortes maiores por causa dos cacos. - Voldemort dobrou o número de alistados. Estamos perdidos... Aonde é que você vai, ficou maluco? - acrescentou ela, segurando o braço de Harry com força.
- Só vou dar uma olhada - acalmou-a o garoto. - Solta, Mione, eles não vão me ver.
Harry olhou para fora do beco em que se encontravam. Via feitiços voando para lá e para cá, por vezes acertando paredes e as desmoronando. Ele viu um trouxa correndo ali perto, mas caiu estatelado quando um jorro verde o atingiu pelas costas. Morrera.
Hermione agarrou novamente o braço de Harry. Na verdade ela o puxou e o abraçou, chorando.
- Isso é horrível... Tem muitos inocentes morrendo...
Harry acariciou o topo da cabeça dela, sem graça, enquanto ela chorava em seu ombro.
- Tudo... tudo vai ficar bem - falou Harry, duvidando muito do que dizia. - Ok... Eu quero ver se o pessoal da Ordem já chegou...
Ele se desvencilhou dos braços dela e foi cautelosamente até a ponta, para espiar. Um bruxo negro e careca chegou à cena, correndo, com a varinha no ar, conduzindo o espectro de um cavalo. Era Quim Shacklebolt.
Severo Snape entrou na briga também. Conseguira paralisar dois Comensais ao mesmo tempo, mas levou uma chave de braço de um terceiro, e este levou uma forte pedrada na cabeça, que viera da direção do beco onde Harry se encontrava.
- Max, foi você? - disse Harry. - Boa telecinesia!
Snape dominara novamente a situação, não notando que seu combatente levara uma pedrada. Bruxos e mais bruxos que Harry já vira na Ordem vinham chegando. Muitos ele desconhecia.
Remo Lupin e Arthur Weasley aparentemente chegaram à cena levando a pior. Lupin recebeu uma Cruciatus no peito e o Sr Weasley fora desarmado. A varinha voou da mão dele para a mão do Comensal... Evidentemente o Comensal jamais esperou que ela saltasse da mão dele e espetasse-lhe o olho com toda a força, como ela fez.
- Isso, Max! - exclamou Rony, que agora também espiava. - Boa tacada!
- Meu olho! - berrou o Comensal, às cegas, que em seguida levara uma voadora nas costas de um membro japonês da Ordem da Fênix que Harry jamais vira.
- Hey - disse Rony. - É o Jackie Bru-Chan!
- Rony, não é hora para piadas - censurou-o Gina, que espiava com Hermione e Daisy.
- Mas que parece...
- Meu deus, que caos! - sussurrou Hermione, tapando a boca com as mãos. - Como isso vai acabar?
- Suponho que muito mal - comentou Daisy. - Os caras já estão deixando as varinhas de lado, olha só... Tá parecendo luta livre...
- Dá uma de direita nele... Vai! - torcia Rony, observando a luta furiosa de dois homens próximos ao beco. - Não! Seu imbecil! Como ele caiu num truque tão velho como este? Vixi! Olha o outro chegando, parece o Sylvester Esttalonge...
Mas Harry já não olhava para "Bru-Chan's", tampouco para "Esttalonge's" que poderiam haver ali. Não, ele olhava para o topo de um prédio defronte ao beco que se encontravam. Havia um homem lá em cima, vestido de preto.
- Quem é aquele? - perguntou, cutucando Rony.
Ele também olhou o homem.
- Um espertinho, provavelmente - disse o amigo. - Ele lá, no bem-bom, enquanto os outros estão aqui embaixo, arrancando couro...
O homem lá em cima soltou uma gargalhada alta. Alta e sem vida. Cruel. Uma daquelas risadas sinistras que fazem nossa espinha se arrepiar a ponto de saltar para fora.
A cicatriz de Harry explodiu. Era Voldemort.
Alto. Magro. Olhos vermelhos e ofídios. Voldemort parecia mais feliz do que nunca. Observava a guerra, satisfeito.
Ele falou, sua voz fria magicamente ampliada:
- Meu exército! - e abriu os braços para o ar. - O que acham disso, seus trouxas nojentos? E o pessoal de Dumbledore está aqui! Que honra! Por Merlin, Snape, tsc, tsc, teria se dado bem se não fosse um traidor...
Snape travava uma batalha furiosa com Lúcio Malfoy.
- Estou aqui para decretar o glorioso dia! O dia em que Lord Voldemort, herdeiro de Slytherin, comanda o caos e elimina trouxas nojentos! O dia de Voldemort! O Dia das Trevas - ele apontou a varinha para o alto e a girou, falando uma língua diferente. - E agora começa...
O dia se tornou mais cinzento que antes. Nuvens negras surgiram por todo o céu da cidade. Nuvens negras com formas sinistras.
- O número seiscentos e sessenta e seis chama-se Salazar Slytherin - gritou o bruxo. - Ou vocês se juntam a ele e viverão honrados, ou não se juntam, e... Morrerão!
Ele desenhou dois S's vermelhos no céu e riu malignamente. Voltou a observar paternalmente o trabalho que seus seguidores faziam.
- Harry Potter! - berrou Voldemort, de repente, triunfante.
Harry rapidamente levou a mão ao bolso, mas, no mesmo instante, algo se apoderou dele. Uma força invisível fazia seus pés saírem do chão. Ele estava sendo levitado por Voldemort, que apontava a varinha para baixo e o fazia subir cada vez mais, sem o menor esforço.
- Harry! - Max e Rony tentaram puxá-lo para baixo pelos pés, que já estavam acima da cabeça deles, mas caíram.
Harry sentiu o vento tomar-lhe e já estava centímetros acima da frente do edifício em que Voldemort estava. Ele ficou ali, flutuando, cara a cara com o bruxo das trevas mais temível depois dos tempos de Grindewald, Lord Voldemort.
- Potter, que honra encontrá-lo aqui. Dando uma voltinha aos ares? - gritou, rindo da própria piada. - Vejam vocês... Eu tenho Harry Potter!
Quem conseguisse, lá embaixo, levantar a cabeça para olhar, estaria se arriscando demais, pois a briga continuava, pelo menos era o que os feitiços errantes indicavam.
- Está gostando de minha festinha, Harry? - perguntou o bruxo. - Você é o meu convidado especial! Contemple as trevas! Junte-se a mim, Potter...
- Para eu morrer, é? - gritou Harry, se balançando no ar, mesmo que com receio de despencar lá embaixo. - Como aquelas pessoas lá embaixo?
- Cuidarei para que você não morra - falou Voldemort, malicioso. - Afinal, como diz Dumbledore, "você é especial", não é?
- Não! Você matou os meus pais! - berrou Harry. - Você é um assassino!
- Ora, ora, Potter, veja bem. O que há de bom em ser bom? - exclamou Voldemort. - Olhe ao seu redor. Todos são inúteis. Ninguém presta. Ninguém pode fazer tantas coisas inimagináveis e poderosas quanto eu e você, juntos...
- Não! - negou-o Harry, pela terceira vez. - Jamais!
Voldemort o encarou. Seus olhos vermelhos brilhavam perigosamente.
- Então terei de matá-lo...
- Mas, para o seu próprio bem, você não pode - disse uma voz calma atrás de Voldemort.
Harry sentiu seu coração bater dolorosamente a ponto de tentar sair pela garganta. Alvo Dumbledore estava ali, também em cima daquele edifício, logo atrás de Voldemort. Mas, o que fez o garoto gritar desesperado, era o fato de o diretor estar desarmado.
- Não! - gritou. - Dumbledore, sua varinha...
- Não precisa se preocupar, Harry - disse Dumbledore. - A varinha de Tom está ocupada e, como ele bem sabe, não poderá te soltar. Seria um erro grave.
Voldemort continuou segurando a varinha apontada para Harry, mas sua cabeça estava virada para Dumbledore.
- Você... - rosnou.
- Eu - confirmou Dumbledore. - E, a menos que queira que eu saque a minha varinha, é melhor você ir embora e largar o Harry bem aqui.
- Como você é tolo, Dumbledore - riu Voldemort friamente. - Tolo...
- Como disse? - perguntou o velho, erguendo as sobrancelhas.
- Você acha mesmo que vou fazer isso? - zombou o bruxo. - Potter está em minhas mãos, Dumbledore, em minhas mãos...
- Você não pode soltá-lo para a morte, ou irá junto também, creio que já saiba disso - disse Dumbledore.
- Eu não vou matá-lo! Vou levá-lo comigo!
- Quero ver você tentar...
Voldemort olhou para Harry acima, para a própria varinha, para Harry novamente e voltou a contemplar Dumbledore.
- Então? - pressionou-o Dumbledore, animado, como se conversasse com um amigo. - Como pretende fazer? Aparatar em cima do Harry e desaparatar daqui como um covarde? Ou deixar que o Harry desça para tentar aparatá-lo, altura em que eu, certamente, já terei utilizado uma de minhas artimanhas.
Voldemort olhou para Dumbledore, com o maior desprezo que poderia transmitir, mesmo que em sibilos baixos.
- Você é patético, Dumbledore - censurou-o Voldemort. - Seu lado está perdendo. Veja, as trevas dominam esta cidade, e logo o mundo. Este é o indício de que nós, os adoradores de Slytherin, estamos concluindo com êxito o trabalho já começado por ele.
- Só o que vejo - falou Dumbledore, em tom de quem comenta o tempo - é que você está obcecado, Tom, obcecado...
- DUMBLEDORE, ATRÁS DE VOCÊ! - berrou Harry. - A COBRA!
Dumbledore, que já sacara a varinha antecipadamente, projetou no ar um círculo de fogo e o selou ao redor de Nagini, a cobra de Voldemort.
- Não sou ofidioglota, mas reconheço a língua de cobra quando ouço uma - exclamou Dumbledore. - Agora chega, Tom, largue o Harry. Acabou... Você não pode matá-lo. Não pode levá-lo também, a menos que queira um duelo... Então, acabou...
Voldemort balançou a varinha com violência, fazendo Harry cair de cara no chão do edifício, ao lado de Dumbledore, e aparatou, para dentro do círculo de fogo, agarrando sua cobra e sumindo em seguida, mas não antes de dizer:
- Você é maldito, Dumbledore! Saiba que não acabou...
Quando o círculo de fogo, Voldemort e Nagini sumiram, Dumbledore estendeu a mão para Harry.
- Você está bem? - perguntou.
Harry segurou a mão do diretor e se ergueu.
- Estou sim, senhor...
Vários estalos ecoaram pelo ar sinistro que encobria Londres.
Harry e Dumbledore foram até a ponta do prédio, para espiarem lá embaixo.
Destruição. Sangue. Fogo. Pessoas mortas, jogadas aqui e ali. Não havia mais guerra, mas esta era a nova Londres. A Londres do Caos.
Carros e mais carros de polícia chegavam à cena.
Harry sentiu uma lágrima escorrer em seu rosto. Porque tudo aquilo? Para quê tanta maldade?
- Preciso fazê-lo, senhor - disse Harry. - De uma vez por todas, preciso fazê-lo.
Dumbledore o contemplou, e, com toda a leveza na voz, disse:
- Você morrer, Harry, pode eliminar Voldemort, mas não fará com que os Comensais desapareçam. E, como você bem viu, eles estão em um número muito maior.
- Mesmo assim, adiantaria bastante - teimou o garoto. - Sem Voldemort...
- Você viu o dilema em que ele se encontra, Harry. Ele não poderá te matar enquanto não realizar o ritual. E acredito que ficará claro para você quando ele estiver pronto para realizá-lo. Os elementos básicos para o ritual, acredito eu, levará um tempo para consegui-los, embora eu ainda não tenha certeza de quais são os elementos. Mas tudo se resolverá - interrompeu-o Dumbledore, segurando o ombro do garoto. - Tudo se resolverá quando você menos esperar, Harry...
Harry olhou para Hermione, lá embaixo. Será que tudo realmente voltaria a se resolver algum dia?
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