Bruxa e trouxa



Quando Lílian Evans acordou na manha de dois de agosto de 1971 ela não imaginava o quanto sua vida iria mudar.


Eram nove horas da manhã quando a senhora Evans resolveu que já era tarde o suficiente para tomar café e foi acordar sua filha caçula. O dia estava claro e quente, típico do verão. A pequena garotinha de onze anos acordou empolgada, pois cada vez estava mais perto o dia em que ela iniciaria o ensino secundário em uma escola qualquer no fim da rua, mas a escola realmente não importava. Para Lílian Evans a coisa mais importante era aprender. Sua escola era pequena e velha? E daí? O importante era a quantidade de coisas novas que ela descobriria.


Seu desjejum estava delicioso. Sua mãe havia feito panquecas e havia morangos frescos a mesa, que ela comeu acompanhados por suco de laranja lima. Excelente.


Ao terminar sua refeição, Lílian e sua irmã mais velha Petúnia arrumaram a cozinha e saíram para brincar no quintal dos fundos.


A amizade entre as duas garotinhas era evidente. Segurando nas mãos de Túnia, Lily girava e girava para depois se jogar no gramado fofo com os cabelos ruivos se embaraçando em seu rosto.


- Vem Túnia, vamos brincar na árvore. – Lílian pedia a sua irmã.


- Não Lily. É perigoso. Podemos cair e mamãe acabaria culpando a mim por você se machucar. – Petúnia falava de um jeito seco e autoritário com sua irmã caçula. Às vezes Lílian ficava magoada com isso, mas Tunia fazia isso para o seu bem não fazia?


As irmãs continuaram brincando no quintal durante toda a manhã e na hora do almoço comeram bife com batata, mas Lílian não estava contente. Queria algo diferente, queria coisas inusitadas e emocionantes acontecendo. Para uma criança de onze anos o que poderia ser emocionante? Uma idéia lhe ocorreu.


- Papai, posso ir ao parque hoje? – Lílian perguntou manhosa.


- Que parque Lily querida? – O senhor Evans perguntou docemente.


- Perto da Rua da Fiação tem um pequeno parque com balanços, escorregas e gangorras.


O senhor Evans estava relutante em permitir que sua filha saísse sozinha. Essa rua era meio longe e Lily tinha apenas onze anos. Muito nova ainda para andar por ai.


- Acho melhor que você não vá querida. – Ele começou não querendo que ela ficasse triste. – Essa rua fica meio distante e tem muitas pessoas estranhas por lá.


- Mas papai. Não gosto de ficar o dia todo no quintal. Túnia pode ir comigo.


Petúnia que estava na mesa sem se intrometer lançou um olhar feio que Lílian não viu. Não queria ficar acompanhando sua irmã por ai. Ainda mais naquela rua de esquisitos. Ela na verdade não entendia por que Lílian vivia querendo fazer essas coisas estranhas. No fundo ela se perguntava se sua irmã era meio louca.


Senhor Evans pensou por alguns instantes. Petúnia já tinha treze anos, seria capaz de cuidar de Lílian então se elas não voltassem tarde não haveria problemas.


- Se Petúnia concordar em lhe acompanhar podem ir. – Ele deu seu sorriso mais característico, aquele que formava rugas em volta dos olhos e se retirou da mesa. Pobre Petúnia, nem teve tempo de dizer que não queria ir, já estava sendo arrastada pela irmã para o quarto com intenção de pegar chapéus.


Logo Lily já havia pegado um pequeno chapéu e trocado sua roupa suja de terra por um vestido florido e junto com uma relutante Petúnia se encaminharam ao parque que Lílian observara quando passava de carro com seu pai.


O parque era pequeno e nada bonito. A grama estava seca e tinha vários arbustos espalhados por lá. Ao longe se via uma grande chaminé que dominava a paisagem deixando o lugar ainda mais estranho do que já era, mas isso não importava muito, pois a pequena ruiva assim que chegou sentou-se em um balanço e começou a pegar impulso. Cada vez mais alto ela ria enquanto seus cabelos voavam. Seu chapéu já havia caído, mas ela não ligou. Depois de muito insistir conseguiu fazer Túnia se juntar a ela e juntas riam enquanto brincavam.


Depois da balança foram para um escorregador de madeira lisa onde Petúnia machucou a mão e Lílian ralou os joelhos. Também ficaram bastante tempo na gangorra onde conseguiram não se machucar nem um pouco. Já estavam lá a um bom tempo e logo teriam que voltar para casa, mas não sem antes se balançarem mais um pouco.


Cada uma em um balanço novamente começaram a ganhar impulso. Joga o corpo para frente e puxa para trás. Cada vez mais alto.


- Não faça isso Lílian. – Petúnia advertiu a irmã que empolgada estava indo alto demais, porem Lílian não queria ser prudente e continuou e ir cada vez mais rápido até que atingiu a altura máxima do balanço. Sentindo o vento forte a pequena desejou mais que tudo que pudesse voar e então soltou suas mãos da corda sendo arremessada para frente. No começo ela gritou, mas logo estava rindo feito louca quando viu que o impacto não venho. A pequena ruivinha estava flutuando no ar e com delicadeza foi chegando até o solo como se fosse uma pluma ao invés de uma menina.


- A mamãe disse para você não fazer isso!


Petúnia parou o seu balanço, fazendo um barulho agudo e arranhado ao fincar os calcanhares das sandálias no chão, e saltou, com as mãos nos quadris.


- Mamãe disse que você não tem permissão, Lílian!


- Mas eu estou bem. – Lílian ria feito alguém que ganhara o melhor presente do mundo. Ela não se importava que sua mãe não permitisse que ela fizesse essas coisas. Para falar a verdade ela nem sabia como conseguia fazer isso, apenas sabia que era certo, que isso fazia parte de quem ela era e a falta de explicações deixava seus pais apreensivos.


- Túnia olhe isso. Olhe o que eu posso fazer.


Lílian atravessou o parque e pegou uma flor que estava caída perto de um arbusto. Petúnia parecia assustada e olhava ao redor se certificando que elas estavam sozinhas. Ela não queria se aproximar de sua irmã, mas sua curiosidade acabou vencendo e relutante ela chagou mais perto.


A pequena flor na mão de Lílian abria e fechava as pétalas. Petúnia não queria acreditar no que seus olhos viam. Era quase como... magia.


- Para com isso. – Petúnia gritou. A menina estava corroída de inveja.


- Não está te machucando. – Lílian respondeu brava, mas acatou a ordem da irmã e soltou a flor.


- Não é certo. – Petúnia olhou para a pequena flor caída no chão. Seus olhos mostravam o tamanho da cobiça que ela sentia. – Como você faz isso? – Ela perguntou sem conseguir se conter.


- É obvio, não é?


As meninas levaram um tremendo susto. De trás de um dos arbustos havia saído um menino que tinha a aparência mais estranha possível. Seus cabelos negros muito compridos estavam tão desalinhados que parecia ser de propósito, usando uma calça jeans muito curta, um casaco muito grande e esfarrapado que deveria ter pertencido a um homem adulto e uma estranha camiseta que parecia um avental. Ele era magricela e pequeno com uma pele clara meio amarelada.


Petúnia gritou e correu para trás dos balanços. Lílian apesar de assustada permaneceu onde estava e observou o rosto do garoto ficar levemente corado enquanto a encarava.


- O que é obvio? – Lílian perguntou ao garoto esquisito. Não deixava transparecer, mas odiava não saber das coisas.


O garoto parecia meio nervoso. Baixou um pouco o rosto e olhou para Petúnia na direção dos balanços antes de falar para Lílian num sussurro.


- Eu sei o que você é.


- O que quer dizer? – Lílian estava irritada. Esse garoto deveria ser louco. Como assim sabia o que ela era? Ela era Lílian Evans ora. Porem ninguém esperava pelas próximas palavras dele. Palavras que mudariam a vida dela para sempre.


- Você é... Você é uma bruxa.


Na hora tudo o que Lílian conseguiu pensar foi em mulheres malvadas com narizes grandes e com verrugas e isso ela sabia não era jeito de chamar as pessoas.


Isso não é uma coisa muito agradável de dizer para alguém! – Lily respondeu e saiu andando até onde estava sua irmã. É claro que ela não esperava ser seguida pelo menino. Francamente ele parecia um morcego com aquele casaco enorme e estava mais esquisito ainda com o rosto completamente vermelho.


Ambas as irmãs estavam segurando um dos postes do balanço e unidas lançavam ao garoto um olhar de desaprovação.


- Você é. – O garoto disse. – Você é uma bruxa. Eu estive te observando por um tempo. E não há nada errado nisso. Minha mãe é uma e eu também sou um bruxo.


A risada que Petúnia deu era fria e cortante. Era quase perversa.


- Bruxo! – Túnia não parecia mais assustada com a presença do menino. – Eu sei quemvocê é. Você é o filho do Snape! Eles moram lá embaixo na Rua da Fiação, perto do rio, - seu tom de voz mostrava o tamanho do seu desprezo. – Por que você estava espionando a gente?


- Não estava espionando. Nunca espionaria você, de qualquer forma. Você é Trouxa.


Lílian não entendeu de que o garoto estava chamando Petúnia, mas pelo seu tom de voz teve certeza que ele não a estava elogiando e ela não gostava que insultassem as pessoas que ela amava.


- Lílian, venha, nós vamos embora. – Petúnia disse com a voz aguda e Lílian prontamente obedeceu a irmã saindo pelo portão, mas ela não deixou de olhar para trás. Para o menino tão esquisito, com roupas tão esquisitas e não pode evitar seu próximo pensamento. “Ele realmente parece um bruxo”.


****


O resto do dia se passou tranquilamente. Nem Petúnia, nem Lílian mencionaram o desagradável encontro no parque. Túnia parecia nem mesmo se lembrar do garoto, mas Lílian não havia parado de pensar na estranha conversa.


Não parecia intenção do menino ofender Lílian. Talvez ele tivesse intenção de ofender Petúnia, mas ela foi grossa com ele e depois quando a mais jovem dos Evans chegou em casa ela já não achava que “bruxa” fosse uma palavra ofensiva, afinal, bruxos eram capazes de fazer mágica não é? E Lílian conseguia fazer coisas que ninguém mais era capaz. Talvez aquilo fosse um tipo de magia, talvez ela realmente fosse uma bruxa daquelas dos contos de fadas que podiam transformar ratos em cavalos, fazer feitiços e ter uma varinha mágica. É isso não seria ruim, seria fantástico olhando por esse ponto de vista. Quanto mais pensava mais ela queria que aquilo fosse verdade.


O jantar foi tranquilo. Seu pai havia trazido alguns doces quando voltou do trabalho e depois de comerem salada de brócolis obrigadas, Túnia e Lily fizeram a festa comendo jujubas e chocolates.


Senhora Evans fez com que as meninas fossem para a cama cedo, pois o dia tinha sido cansativo, mas Lílian não conseguiu dormir. Ela pensava em quanto havia se arrependido por ter saído do parque sem pedir explicações, ela pensava o quanto as coisas que faziam eram estranhas, ela pensava em como arrumaria repostas, ela pensava em como as jujubas estavam deliciosas, ela pensava... ela pensava... ela pensava... ela de repente estava dormindo e a próxima coisa em que conseguiu pensar foi que já era de manhã novamente
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Essa fic já vem sendo postada a algum tempo no site fanfiction.com.br
Então ficam avisados que isso aqui não é plagio 

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