Transfigurando Penas
Marlene McKinnon
Assim que a Lily pisou no quarto eu senti que a coisa ia ficar bem feia pro meu lado.
-Marlene, O QUE VOCÊ FEZ?!
O dormitório inteiro estava repleto de penas e algodão. Não havia nada naquele ambiente que não tivesse uma pena em cima. Meu colchão estava destruído, e pelo meu estado – que incluía arranhão no rosto e cabelo bagunçado – qualquer um que entrasse ali saberia que seja lá o que tenha acontecido, coisa boa não foi.
-Calma Lily – eu pedi, levantando as mãos enquanto eu observava a ruiva mudar de cor – eu posso explicar.
-Marlene, eu não estou preocupada com o quarto – ela afirmou, sem olhar pra mim, porém passando os olhos cirurgicamente pelo estrago em volta – eu me preocupo com o que passou pela sua cabeça antes de fazer isso! – e então ela se virou pra mim. Seus olhos tinham um brilho assustador, que eu reconheci como o brilho que aparece quando ela está tentando deduzir alguma coisa. Aquele maldito olhar parece olhar através de mim. Me senti exposta.
Abaixei a cabeça, para evitar o olhar dela, e disse:
- Lily, o que aconteceu foi isso:
Flashback
Eu caminhei na direção dos Corvinais que se aproximavam.
-Hey, Daniel! – eu chamei o menino de cabelos castanhos que se espetavam em várias direções, por causa do vento.
-Marlene? – ele perguntou, não muito certo do meu nome.
Prendi a respiração.
Ainda dá pra voltar atrás.
-Eu mesma. – respondi com um sorriso.
Ele se separou do grupo de colegas gritando um: “encontro vocês depois”, e veio para perto de mim.
Não dá mais para voltar atrás.
- O que posso fazer por uma menina tão bonita? – ele questionou, com um sorriso tímido.
O sorriso dele não era daqueles típicos de meninos que são bonitos desde criança – James, por exemplo – que vem cheio de convencimento, por saber que é bonito. O sorriso do Daniel era o sorriso de quem fica surpreso que você sequer tenha se dado ao trabalho de olhar pra ele.
- Eu ouvi por aí que você é um dos melhores alunos de Transfiguração de Hogwarts - eu comecei, parando para colocar meu cabelo atrás da orelha – e eu sou uma das piores...
- E? – ele perguntou, erguendo a sobrancelha.
- E que eu queria pedir sua ajuda – eu concluí, sorrindo amarelo.
Por algum motivo pedir ajuda pra um garoto que era praticamente um desconhecido – tirando uma ou outra aula que tínhamos juntos – era uma coisa desconfortável de se fazer.
-Claro! – ele respondeu, abrindo um sorriso nada tímido – lindo por sinal – que me deixou mais confortável.
- Então podemos começar hoje? – eu perguntei, inclinando a cabeça pro lado e apertando os olhos, por causa do vento – eu ando meio preocupada em ficar atrasada na matéria, então quanto mais rápido melhor.
-Pode ser – ele assentiu – só preciso ir no meu dormitório pegar umas coisas. Te encontro na biblioteca fechou?
-Beleza – eu sorri.
~~~X~~~
Eu cheguei na biblioteca, Daniel já estava lá, com alguns pergaminhos e livros na sua frente. Algo sobre aquilo tudo me assustava um pouco. Tudo bem que o plano em si era bem simples, na teoria. Ele consistia em fazer o Daniel precisar de mim pra ir na festa, o que me obrigava a partir do princípio que eu não conseguiria fazer ele precisar de mim e que eu consequentemente não iria. Um pouco complicado, eu sei. Mas ainda assim, eu precisava acreditar em mim mesma.
Marlene, você consegue.
-Cheguei – eu acenei, sentando ao lado dele numa mesa redonda.
- Okay – ele sorriu – e no que você anda tendo dificuldade?
- Basicamente tudo – eu torci a boca numa careta – mas a matéria mais recente é mais importante, não?
-Certo – ele direcionou o olhar para o livro que ele tinha aberto em cima da mesa – que seria por um acaso, transfiguração de animais?
- Exatamente – eu confirmei, abrindo um pergaminho na minha frente. Eu estava pronta pra prestar atenção em cada palavra dele. Apesar de isso ser tudo um plano pra eu ir à festa, eu realmente tinha dificuldade em Transfigurações.
Parabéns Marlene. Vai conseguir uma entrada pra festa, com o bônus de estudar pra Transfigurações.
É, eu sou mesmo um gênio.
~~~X~~~
Depois de um tempo praticando Transfigurações, nem de nós dois aguentava mais repetir feitiços. Ele principalmente, porque ficou corrigindo meus erros, e me ensinando truques pra facilitar.
- Marlene, você melhorou muito! – Daniel falou estupefato depois que eu transfigurei com total sucesso uma pena em um rato.
- Muito obrigada – eu agradeci, acompanhando o ratinho com o olhar.
Algo naquela bolinha de pelo branco me fascinava. Ele era pequeno, e de certa forma feio, mas mesmo assim ele vivia a vida dele, não ligando para o fato de que 90% da população mundial tem nojo dele.
- Uma pergunta – Daniel começou, me puxando de volta pra terra – E eu preciso que você seja sincera na sua resposta.
Eu assenti. Uma sensação ruim sobre essa pergunta começou a me incomodar, porém eu arrastei esse pensamento pra um canto qualquer na minha mente.
- Você pediu ajuda com a matéria só pra que eu te convidasse para a festa do Amos, não foi?
Minha garganta deu um nó, e minha língua simplesmente travou. Aquela era uma mentira necessária, não? Era. Totalmente necessária.
- Claro que não. - eu neguei com a cabeça.
Merda, porque raios eu fui mentir? Agora eu vou ficar com o peso dessa mentira na minha consciência, me incomodando até que eu conte a verdade.
Porém, aquilo poderia não ser uma mentira. Eu poderia estar apenas omitindo esse fato, vendo que eu também precisava de ajuda na matéria. Então pronto, eu estava omitindo. Não mentindo.
- Eu nem vou à festa – eu acrescentei, apoiando a pena que eu segurava no livro, e me virando para olhá-lo.
Bosta, Marlene! Você só está piorando a situação.
-Tem certeza? – ele ergueu as sobrancelhas, claramente duvidando da minha inocência.
-Tenho. Afinal, sou totalmente contra essa coisa machista de meninas precisarem de meninos para ir na festa.
-Vendo por esse lado, a festa não deixa de ser feminista também – ele ponderou, me encarando enquanto eu evitava seu olhar – porque veja bem, nós meninos também precisamos de vocês, meninas, para irmos à festa.
- Eu não tinha pensado por esse lado – eu disse indignada, um pouco mais alto do que deveria.
E então aparecendo do nada, Madame Pince chegou perto de mim e disse num tom severamente assustador:
-Quieta senhorita McKinnon. Biblioteca não é lugar de conversa.
Bufei. Odiava aquela mulher. Desde o pequeno incidente que eu tivera com um berrador dentro da biblioteca no 3° ano ela não tinha se esquecido do meu nome. E duvido que jamais o faria. Fiquei observando seus cabelos crespos enquanto ela se afastava, e me perguntei se algum dia na vida ela experimentou o amor.
-Sendo assim – Daniel sussurrou me puxando(de novo) de volta para a terra. Ele se inclinou pra frente até colocar os lábios perigosamente perto da minha orelha – você faria um acordo comigo?
Eu apenas aquiesci como resposta, respirando o perfume dele, e rezando pra que ele não percebesse o quão vermelha eu estava.
-Vamos à festa juntos? Sem compromisso, só para podermos entrar. – dessa vez ele encostou os lábios no glóbulo da minha orelha, causando arrepios no meu corpo.
Onde mesmo que foi parar o tímido Daniel Mason que estava aqui cinco minutos atrás? Parecia até o Sirius em seus ataques diários de safadeza e... Parou por aí Marlene! Esse aí é o Daniel.
- Vamos. – eu consegui dizer, sentindo minhas bochechas esquentarem ainda mais, se é que isso é possível.
-Beleza. – ele sorriu aquele mesmo sorriso relativamente tímido novamente – te vejo amanhã então, “senhorita feminista”.
-Sonhe comigo “machista”. – eu provoquei, piscando pra ele.
Mas assim que ele sumiu de vista, me deixando sozinha na mesa eu afundei na cadeira, sentindo meus pensamentos voltarem como uma onda que lambe a areia da praia.
Eu tinha mentido para o menino que tinha feito um enorme favor pra mim. Aliás, dois favores. Depois, esse menino tinha conseguido destruir todos os conceitos que eu tinha criado, baseada no fato da festa precisar de acompanhantes. E o pior de tudo: eu não tinha nenhuma roupa pra usar na porcaria da festa.
Suspirei, apoiando a cabeça nos cotovelos. Os dias antecedentes à festa iam ser difíceis.
Me levantei da cadeira, em direção ao Salão Comunal da Grifinória. Estava mais do que na hora de eu e as meninas trocarmos histórias.
Fim do Flashback
-Foi isso que aconteceu Lily – eu ergui os braços como quem uma criança que percebe que fez coisa errada.
-Okay – uma pausa - Primeiro: aaaaaaaaaaah! – ela deu um berro, correndo pra perto de mim e pulando igual a uma louca.
-Você vai com o Daniel Mason!! – ela continuou pulando, e eu me juntei à ela, sorrindo como uma idiota.
-Yaaay! – demos gritinhos juntas, ignorando o estado em que o nosso dormitório se encontrava.
-Mas, peraí – Lily disse, parando repentinamente de pular – o que isso tem a ver com o estado desse quarto?
-Eu resolvi treinar algumas das transfigurações que ele me ensinou hoje – eu comecei, colocando a mão na cabeça instintivamente abaixando meu cabelo – e deu errado.
Ela revirou os olhos, mas não parecia mais irritada.
- E você, já resolveu o problema do seu acompanhante? –questionei, me jogando numa das camas. Uma nuvem de penas levantou quando eu fiz isso, resultando em algumas penas na minha boca. Eu as cuspi, com nojo.
Lílian riu da minha desgraça, e ao perceber meu olhar de “você não escapou do assunto” ela sussurrou:
-James.
Arregalei os olhos e sentei rapidamente na cama, não acreditando no que eu tinha ouvido.
- O que? – eu gritei, tão agudamente que a pobre Lily fez careta.
-James – ele repetiu, corando até ficar da cor dos próprios cabelos.
-O Potter? – eu fiz questão de perguntar de novo, só pra ter certeza de que estávamos falando da mesma pessoa.
Ela assentiu, olhando pro chão.
Confesso que eu levei alguns minutos pra registrar a informação. Lily aceitou o convite do James. A Lílian Evans aceitou o convite do James Potter. Tem algo muito errado aí. Ou algo que ela não está me contando. Ou então ela finalmente ouviu o que eu a e Dorcas e a Alice insistíamos em dizer: “dá uma chance pra ele!”. É, ela definitivamente não está me contando algo.
-Como assim? – eu gritei, ainda tentando entender.
-Eu vou na festa com o James. Potter.
-Quem é você, e o que você fez com a Lily? – eu perguntei, brincando com ela.
- Como foi que você descobriu?! – ela perguntou, entrando na brincadeira – sou eu o Sirius, só que eu tomei poção polisuco. – e então ela fez uma pose típica de Sirius Black, que por um minuto me fez pensar que talvez, só talvez, ela – ou ele – estivesse falando a verdade. Mas logo afastei esse pensamento.
-Sério mesmo Lils? – eu perguntei de novo, só pra ter certeza.
Ela assentiu, e disse:
- Eu cheguei à conclusão de que o jeito mais fácil de me livrar dele é dar à ele o que ele quer. Então eu aceitei ir com ele na festa.
Eu tive que soltar uma risada de quem não acredita. Porque vamos combinar, ela vai acabar se apaixonando.
-Que foi? – Lily perguntou, depois que eu ri.
-Espera só a Dorcas e a Alice saberem disso – eu respondi, sorrindo.
É, as coisas estavam para mudar.
~~~X~~~
N/A: Mil desculpas pela demora. Sério, desculpa mesmo. Espero que tenha ficado bom, porque eu não revisei muito esse capítulo antes de postar. To sem tempo de agradecer comments, então deixarei um "Muito Obrigada" à todos aqueles que acompanham a fic! :D Prometo que o proximo capitulo terá pelo menos o começo da festa. Fuuui! *nox* Ah, eu atualizei os capítulos de apresentações, então lembrem de dar uma olhada! ^.^ E lembrem de passar lá no tumblr da fic: http://quebrando-regrasfic.tumblr.com/
Comentários (1)
Eu amei o capitulo e fiquei feliz por ter postado. Tava com saudades da fic, vou dar uma olhadinha de novo no tumblr \o/ ver o que atualizou *-* Bem... A Lene é muito louca, mas gosto disso nela... E essa Mason em ? Pra mim ele vai aprontar alguma... Não sei porque, mas estou achando isso. E realmente capitulo maravilhoso *-*Beijoos!
2013-03-23