Capítulo Único
Harry caminhava pelas ruas calmas de Londres.
Calma, pois passava da meia-noite, mas ele não tinha vontade de voltar para o Largo Grimmauld, número 12 e passar o resto da noite sozinho, pensando… pensando o quão estúpido estava sendo em não pedir logo Gina em casamento.
Três anos haviam se passado desde que concluíra Hogwarts. Ele estava estável financeiramente, ocupava o cargo de Auror no Ministério, como sempre quis. E Gina, ah, essa estava se especializando na Arte das Varinhas.
Sim, depois de muito pensar, gritar e chorar, a ruiva foi fazer uma visita a Olivaras, no Beco Diagonal, onde o velho senhor continuava com sua antiga loja de varinhas. A visita foi causada em decorrência da ruiva, após um leve acesso de raiva, rachar sua varinha. Posteriormente àquele dia, ela não mais chorou. Descobriu o que gostava.
Ao pensar no Ministério, Harry sentiu uma leve pontada na cabeça. Discutira com Candson, chefe do sexto nível, e sua cabeça estava dolorida do choque que levara batendo contra a parede quando esse revidou seu feitiço.
Onde estava com a cabeça ao discutir com Candson? Na verdade, onde estava com a cabeça para chegar ao ponto de brigar com qualquer pessoa que fosse?
Deu um suspiro baixo. Não estava se concentrando muito bem nas coisas nos últimos dias.
Passou a mão no pescoço tentando diminuir a tensão, e então ouviu um grito fino vindo do beco logo a sua frente. Aguardou apertando a varinha ao lado do corpo e se aproximou, tentando enxergar corretamente o que acontecia.
- Cala a boca, vadia. – um homem segurava uma mulher junto à parede pelo pescoço e Harry estava pensando em entrar como um trouxa no beco, ou simplesmente lançar um feitiço dali mesmo.
- Tobias, por favor… - ela parou de falar quando ele a ergueu, a mão apertando ainda mais seu pescoço.
- Perdi 10 mil, Carter. 10 MIL. – ele gritou finalmente a soltando.
A mulher caiu no chão, a mão no pescoço enquanto tossia.
O homem chamado Tobias andou de um lado a outro em frente à mulher.
- Quer saber, pouco me importa se eles gostam dessa sua cara. – e ele chutou o rosto da mulher ao mesmo tempo em que Harry finalmente intervinha, lançando Estupefaça em sua direção e correndo em direção a mulher.
Agachou-se notando que ela estava desacordada. Olhou para os lados conferindo que ninguém os olhava, ergueu-a em seus braços e aparatou diretamente em sua casa.
Correu para a sala, depositando a mulher com cuidado no sofá. Com a luz, pôde finalmente ver suas feições e apertou os lábios, incerto. Nunca fora muito bom com Poções, mas teria que se ajeitar. O rosto da tal mulher estava com um corte alongado, que ia desde o maxilar até o lado do olho.
Com um feitiço, ele fez todas as poções que tinha em casa se projetar ao seu lado. Olhou de um lado a outro os vidros em dúvida. Se não fosse tão tarde, pediria ajuda a Hermione.
Pegou um vidro escuro lembrando-se que já vira a amiga utilizando aquele quando viera ali e cortara o dedo, meses antes.
- Monstro! – chamou o elfo de má vontade. Logo ouviu os resmungos enquanto ele aparecia na sala.
- Sim, meu senhor. – abaixou a cabeça continuando a resmungar.
Harry ignorou aquilo pedindo que o elfo lhe arranjasse uma bacia com água limpa e uma toalha, também limpa.
Ele se afastou quando terminou de jogar a poção no corte da mulher e finalmente a observou.
Usava um pedaço de roupa, literalmente. Uma saia jeans, a qual não devia ter nem um palmo direito, e uma blusa vermelha que não chegava ao umbigo, abarrotada de coisas brilhantes. Raciocinou um pouco lembrando-se onde estivera.
Foi em um bairro que era preenchido por casas noturnas. As mulheres que faziam o show podiam simplesmente ser dançarinas ou, o que ele pensou que aquela a sua frente fosse, prostitutas.
Engoliu em seco imaginando Gina sabendo daquela mulher ali, estirada em seu sofá.
Mostro chegou entregando a bacia e a toalha a Harry.
- Aqui está, meu senhor.
- Monstro, quero que saia dessa casa, não conte a ninguém sobre essa mulher e só volte quando eu chamar.
O elfo fez o que lhe foi mandado sem parar de resmungar.
Harry molhou a toalha na água da bacia e começou a limpar o rosto da mulher. O corte agora não passava de uma linha avermelhada.
Após limpá-la, percebeu que também estava sujo de sangue. Xingou um pouco subindo as escadas para seu quarto com a maleta de poções na mão.
Quando resolveu se mudar para a velha casa de Sirius, Harry decidiu não se desfazer de nada que pertencesse à família Black. Pegou todos os pertences mais importantes – principalmente o velho quadro da senhora Black – e os organizou no quarto onde havia a árvore genealógica da família.
Na verdade não fora ele quem arrumara, mas sim Hermione. A amiga o convenceu a não se desfazer daquelas coisas, que seria falta de tato e coisas assim. O homem então deixou por conta dela e, além de organizar os pertences dos Black, tratou de deixar a casa com uma aparência mais nova também.
Fora a semana mais terrível que Harry tivera em tempos. A morena remodelou toda a casa. Pintou, alongou, quebrou, de tudo um pouco, mas por fim deixara a casa linda e com mais vida. Sem as paredes escuras, fez tudo a seu modo.
O térreo da casa estava todo em branco, já os quartos ela deixara nas mãos de Harry. O homem agradeceu e acabou por deixar tudo branco. Não tinha cabeça para ficar pensando em cores para quarto, desejava ter logo Gina ali com ele, para que a ruiva pudesse organizar tudo.
Desceu rapidamente as escadas após trocar a roupa trouxa que usava, por outra do mesmo estilo e, para sua surpresa, viu a mulher em pé, próxima a estante no canto da sala.
Ela se virou para ele forçando um sorriso, os braços cruzados, envergonhada.
- Ah, fico feliz que esteja bem. Fiquei preocupado que pudesse… sabe. – falou apontando de sua cabeça para a da mulher.
Ela riu e apontou a bacia ao lado do sofá que estava preenchida por uma mistura de sangue e água. Harry xingou-se internamente. Devia ter tirado aquilo dali.
- Ah, é… acho que foi um canivete, não sei… - ele viu o desespero nos olhos da mulher, que deu um passo em sua direção.
- Ai meu Deus, você está bem? Não devia ter se envolvido, Tobias é um psicótico…
- E se envolve com ele porque… - ela balançou os ombros displicente.
- Não tive muita escolha. Mas e você, está bem? Onde ele te machucou? – ele riu apontando a porta em direção a cozinha para a mulher.
- Estou bem. A fragilizada aqui foi você. – os dois caminharam em silêncio.
Harry apontou a torta em cima da mesa enquanto pegava pratos e talheres.
- Não sei o nome de meu herói. – ela falou um pouco emocionada. Nunca recebera aquele tipo de tratamento.
A não ser quando criança. Sua mãe sempre fora gentil e agradável, mas faleceu cedo, deixando-a sob os cuidados do padrasto, que na primeira dificuldade financeira, fez dela uma de suas “garotas”. Tobias era um grande cafetão, mas não sabia administrar o que ganhava e ela, Raphaela, era uma de suas preciosidades. Umas das poucas que ainda não chegara aos vinte anos.
Por isso aquela noite havia se irritado. Ele resolvera fazer um leilão na sala da administração do clube, com cerca de cinco homens. Raphaela era a última da lista e, para surpresa de todos, um dos homens ofereceu dez mil libras para poder desfrutar de três dias interruptos com a jovem.
Tobias aceitou na hora, mas então Raphaela disse a palavra proibida: não. E ela não sabia a razão. Seria tão melhor, ao menos por três dias, ser apenas de um homem. E logo Tobias já a levara para fora da boate e começava a discussão.
Mas então aquele homem desconhecido a salvara. A última coisa de que lembrava era de um clarão e de Tobias ser arremessado ao longe.
Olhou então para o homem a sua frente. Era bonito. Os cabelos negros e os olhos verdes expressivos. Mas não parecia ter força suficiente para fazer Tobias voar, como aconteceu.
- Harry. – ele respondeu a ela. Cortou um pedaço da torta, colocando-a no prato e entregando a jovem.
- Raphaela. – ela acrescentou estendendo a outra mão para ele que a apertou. – Não sei como agradecer.
- Nem precisa. – Harry cortou sentando-se à sua frente. – Só preciso saber onde é sua casa para levá-la de volta.
Ela o encarou receosa com o comentário e ele pareceu compreender.
Engoliu rapidamente a torta.
- Desculpe, sei que estou incomodando…
- Não, não está. Coma devagar, não precisa pressa. – ele falou observando-a. – Disse isso apenas porque achei que fosse querer voltar.
- Não tenho para onde voltar. – falou de boca cheia, os olhos em agonia.
- Nenhum parente? – ela negou. Ele agora também não sabia o que fazer. – Em outra cidade…?
Começou a negar mais uma vez, mas então uma luz pareceu se acender e ela falou agitada.
- Tenho uma tia em… ah. – suspirou desanimada. – Ela não mora em Londres, me esqueci disso.
- Onde mora então? – ele precisava tirá-la dali diretamente para um lugar.
Observou-a enquanto pensava. Era bonita, mas não daria mais que dezoito anos a ela. O cabelo escuro e liso parecia ter sido cortado de qualquer forma, percebia-se isso pela franja em formato incorreto.
- Ahn… é próximo daqui, na verdade. Na saída da cidade, ao norte. – ele concordou. – É um sítio. Se ainda estiver como me lembro, há uma placa escrita “Strawberry Fields” ainda próxima da estrada. Não há morango algum lá, mas minha tia é uma grande fã dos Beatles. – ela voltou a comer.
- Quantos anos você tem? – não evitou a pergunta.
- Faço dezoito na semana que vem. – respondeu animada. – Me levará até minha tia? – ela pediu esperançosa e Harry concordou duvidoso.
Como faria para tirar a garota dali?
Pensou em Hermione e sorriu.
- O senhor pretende se casar, não é? – Harry se virou surpreso para ela, que apontou em direção à sala. – Desculpe, mas vi a caixinha lá fora e não evitei. O anel é lindo.
Riu.
- É, não sei quando terei coragem de pedir. – resmungou mais para si.
Aquilo o estava chateando. Rony, Rony já pedira a mão de Hermione. Ele sempre pensou que o amigo demoraria muito para fazer aquilo, mas então os dois estavam noivos e já falavam em marcar a data do casamento.
Gina sempre o olhava ranzinza quando tocavam nesse assunto na frente dos dois.
- Ora, o que importa é pedir, não? O senhor é tão bom, ela o aceitará de qualquer jeito. – tentou animá-lo, não obtendo muito sucesso.
- Sei que ela aceitará, mas é que não sei como pedir, entende? – olhou a garota como se esperasse que ela lhe desse uma solução. Ela sorriu.
- Faça algo simples. Não importa a época, é sempre lindo quando o pedido é feito na frente da nossa família. Era assim que eu sonhava. Eu, mamãe, meu padrasto e meu grande amor sentados na mesa de jantar. Ele então se levantaria, viria até o meu lado, se ajoelharia com a mão estendida e me pediria em casamento. Aí então eu diria sim e seríamos felizes para sempre. – a garota concluiu com um olhar sonhador direcionado ao dedo penúltimo da mão direita. E então o brilho se apagou e ela se virou para Harry, forçando mais uma vez o sorriso. – Mas não vai mais acontecer assim. – ela deu um suspiro cansado.
- Venha, vou lhe mostrar onde vai dormir. – Harry falou ao ver que ela terminara de comer. Levantou e ela o seguiu, animada. Subiram as escadas mais uma vez e Harry abriu a porta do quarto ao lado do seu. Ela sorriu verdadeiramente quando ele apontou a cama.
Pegou as roupas de cama em um guarda-roupa velho ali mesmo no quarto e entregou a ela.
Antes que Harry saísse do quarto, ela o abraçou agradecida.
Sim, agradecida demais. Havia muito que não se sentia tão bem ao lado de alguém.
Harry saiu do quarto indo direto para o seu. Puxou um pergaminho, molhou a ponta da pena no tinteiro e começou a escrever à Hermione. A amiga disse a ele que passaria aquela noite na casa dos pais.
“Hermione,
Preciso que venha aqui o mais rápido que puder. Pela manhã. Estou com um probleminha. Não aparate aqui em casa, entendido? Entre pela porta da frente.
H.P”
Esperava que a amiga fizesse exatamente como ele pedira.
E não deu outra. Às seis da manhã Hermione entrava em seu quarto.
Olhou o amigo dormir tranquilamente e puxou sua coberta. Se ela não dormira mais ao receber a coruja às duas da madrugada, também não o deixaria dormir tão bem. Harry se assustou e deu um pulo da cama, pegando a varinha e apontando-a na direção do vulto à sua frente.
- Hermione? – falou incerto. Ele sem os óculos era igual a nada.
- É. – ela respondeu rindo e ele bufou chateado. Buscou o óculos ao lado da cama e o colocou. – E então?
- Venha aqui. – ele a guiou para fora do quarto, parando em frente à porta onde Raphaela dormia. – Abra silenciosamente e veja. – avisou.
Hermione o fez. Fechou a porta olhando em dúvida para o amigo.
- Tem uma desconhecida na sua cama. Quero dizer, quase.
Ele concordou voltando ao seu quarto. Os dois entraram e ele fechou a porta atrás de si.
- Gina sabe que tem uma mulher daquelas na mesma casa que você?
- Menina. É praticamente uma criança, Hermione. – o amigo começou.
- Sério, é melhor explicar, porque não estou pensando coisas muito legais. – avisou se jogando na cama do amigo. Acomodou a cabeça nos travesseiros e o encarou, esperando a explicação.
Ele contou tudo o que havia acontecido até ali.
Ela analisou suas palavras.
- Isso significa que ela é… uma prostituta?
- Mione, não importa, não devemos julgá-la…
- Harry, Gina não pode sonhar que essa menina está aqui. – ela sentou na cama.
- Eu sei, eu sei. Por isso preciso que me ajude. Ela não tem parente algum aqui na cidade e, mesmo que tivesse, não sei se é exatamente recomendável ela ficar por aqui.
- Claro, se ela estava apanhando, temos que afastá-la daqui. – concordou.
- Exato. Perguntei de algum parente e ela disse que tem uma tia que mora em uma fazenda, acho, na saída de Londres, ao norte. Disse que há uma placa escrita “Strawberry Fields” próxima a estrada.
- Straw… epa, eu conheço quem mora ali! – Hermione deu um salto na cama. – É tia Winnie, a louca e adorável Winnie.
- Co…
- Qual é mesmo o nome dela? – questionou agitada apontando para o outro quarto.
- Raphaela. – respondeu observando a amiga se levantar pulado da cama.
- Sim, Harry, ela é minha prima! – falou veemente. – Mamãe perdeu uma irmã cerca de sete anos atrás e a filha dela sumiu junto com o padrasto! – ela parecia estupefata com o que ocorria. – Merlin, já sei o que fazer. Quando ela acordar vamos dar alguma coisa para ela dormir… onde estão as poções que lhe dei? – ele apontou para o lado da porta vendo-a correr até a bolsa e voltar em direção à cama, jogando tudo em cima dela. – Aqui. Damos isso a ela e a levamos para minha casa…
Harry sempre se impressionava com a rapidez que Hermione possuía para montar um plano.
A jovem só veio a acordar às nove da manhã. Desceu incerta encontrando uma mulher sentada no sofá em que ela estivera no meio da madrugada. Sentiu-se envergonhada com o que usava, a mulher não pensaria coisas boas a seu respeito.
- Olá. – Hermione a cumprimentou animada.
- Oi. Deve ser a namorada de Harry, não? Você é muito bonita. – Hermione corou com o comentário.
- Ah, não, ele é apenas meu amigo. A namorada dele é uma amiga minha.
As duas foram para a cozinha e Harry acabara de colocar o suco com a Poção do Sono na mesa.
Raphaela mal deu o primeiro gole e caía sonolenta em cima da mesa.
- Sou mesmo eficiente. – Hermione falou orgulhosa de si.
- Me lembre… - arquejou enquanto levantava a garota nos braços. – por que exatamente tem uma poção do sono aqui em casa?
- Te dei de tudo, Harry. Eu falei. – passou os braços ao redor do corpo do amigo e logo estavam na casa dos pais de Hermione.
- Hermione? – sua mãe apareceu na porta da cozinha, que era onde eles estavam. Assustou-se vendo a jovem desacordada nos braços de Harry.
- Está tudo bem, mãe, só preciso da chave do carro. – falou apontando para fora dali e chamando Harry para segui-la.
Passaram pela frente da casa e logo estavam do lado de fora, ao lado do carro.
Harry colocou a garota no banco de trás, enquanto a Srª Granger vinha ansiosa até os dois.
- O que está acontecendo?
- Mãe, calma. – Hermione respondeu ligando o carro. – Logo a senhora vai saber. – deu marcha à ré e logo desapareceu ao virar a esquina.
O caminho foi percorrido em silêncio. Logo saiam de Londres e após, mais ou menos, meia hora, Harry avistou a placa que Raphaela lhe dissera.
Hermione entrou na estreita estrada de terra e logo estavam em frente a uma casa minúscula, um pouco torta, e Harry teve a leve impressão de estar vendo A Toca, mas sem os andares superiores.
Acompanhou a amiga sair do caso e bater na porta da casa. Logo uma mulher que devia estar beirando os sessenta anos a abriu. Puxou Hermione para um abraço longo e forte. Demoraram um pouco conversando e logo Hermione voltou na direção do carro.
- Venha Harry, traga-a junto.
O homem fez o que ela mandou.
- Que rapaz bonitão, Hermione. – a senhora falou fazendo Harry corar e murmurar um agradecimento inaudível enquanto entrava na casa.
- É verdade, titia. – Hermione concordou revirando os olhos quando Harry lhe deu um olhar confuso. – Apenas concorde com tudo o que ela disser, sério. – sussurrou para ele. – E então tia, onde podemos deixá-la?
A velha Winnie pediu para que a seguissem e começou a ir para o fundo da casa. Harry já arfava no meio do caminho, fazendo Hermione rir.
Ele resmungou olhando Raphaela que dormia tranquilamente em seus braços. O porto seguro que ela encontrara.
Winnie abriu porta do quarto e Harry entrou, colocando a garota na cama e ajeitando delicadamente sua cabeça no travesseiro. Olhou-a por mais um tempo acariciando seu cabelo. Puxou a colcha que estava aos pés da cama e cobriu o corpo de Raphaela.
Suspirou e se virou para sair, parando ao encontrar o olhar da amiga.
Ela o encarava, séria, os lábios encrespados e ele indicou que saíssem logo dali. Estava incomodado com o cheiro de ervas que se alastrava por toda a casa.
Logo estavam dentro do carro com Winnie acenando animadamente da porta enquanto se afastavam.
Harry olhou a amiga duas vezes antes de falar:
- O que foi? Fala logo. – não gostava quando ela tinha vontade de dar um sermão e permanecia em silêncio.
Preferia que ela soltasse logo.
- Você. – falou simplesmente, o olhar na estrada.
- O que tem?
Hermione desviou rapidamente para ele.
- Vi como a olhou. – falou com um suspiro.
Harry aguardou que continuasse, mas ela parou por ali.
- Como? Não estou entendendo, Hermione. – ela movimentou as mãos agitada.
- Sei lá, todo carinhoso…
- Tomei apreço por ela, o que há demais nisso? Você não viu o estado em que a encontrei…
- Ta, olha só, já sei o que vai dizer. – cortou o homem que voltou a olhar a estrada, meio confuso, meio chateado.
- Não consigo te entender, sério mesmo.
- Certo. O que importa é que ela está entregue. – foi a última palavra trocada entre os dois.
Harry a acompanhou até a casa dos pais e de lá, cada um tomou seu destino.
Ao chegar em casa, Harry encontrou Gina sentada no sofá enérgica.
- Onde estava? – se levantou indo até ele e o abraçando.
- Por aí. – beijou-a rapidamente. Colocou para trás o cabelo vermelho dela e sorriu.
Gina passou os braços ao redor do pescoço dele.
- Acho que quer me contar algo. – sussurrou acariciando o rosto da ruiva, que sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo.
- Não nos encontramos ontem, então não sabe da novidade. – pendeu a cabeça para um lado com um sorriso ainda maior. – Terminei minha primeira varinha ontem!
- Que bom, Gi. – primeiro a abraçou e depois beijou-a longamente.
Amava a ruiva e já sabia como faria o pedido.
A sala da Toca estava lotada. O barulho de todos conversando ao mesmo tempo misturado ao som do vento forte do lado de fora da casa estava deixando o homem nauseado.
Levantou-se quando ninguém o olhava e saiu pela pequena porta da cozinha.
Respirou profundamente apertando a caixinha dentro do bolso. Fechou os olhos quando esse ardeu pela ventania e aguardou.
Passou-se um minuto em que ele tentava acalmar o coração que batia acelerado contra o peito, como se tentasse sair.
- Harry, vem. – ouviu a voz de calma de Hermione atrás de si, mas permaneceu quieto.
Ela se aproximou apoiando a mão em seu ombro. Avaliou a expressão do amigo que parecia assustado e nervoso. O rosto pálido.
- É hoje? – ele se virou para ela, sem compreender. – Vai fazer o pedido hoje? – ele concordou.
Não precisava perguntar como Hermione sabia. Ela o conhecia bem demais para acertar o que se passava em sua cabeça.
- Vou te deixar sozinho então, sei como deve estar nervoso. – ele apertou sua mão antes que se afastasse.
- Obrigada. – sussurrou a ela que apenas sorriu.
Esperou mais um pouco. Molly gritou dentro da casa para que todos se sentassem e ele entrou, se sentando frente à Gina.
Sorriu para a ruiva, que retribuiu, os olhos brilhando.
Harry não se cansava se olhá-la. Era reconfortante e não deixava de pensar o quão sortudo era por tê-la ao seu lado.
Todos estavam comendo normalmente, com exceção dele. Na única garfada que deu, a comida desceu com mais dificuldade do que achou possível.
Então levantou, do nada.
- Não vai jantar, Harry? – Molly perguntou meio surpresa, já que o rapaz era sempre um dos primeiros a terminar.
Todos acompanharam Harry caminhar tenso até a cadeira de Gina. Respirou fundo mais uma vez e se ajoelhou para ela, que virara em sua direção.
- Gi… - ele demorou um pouco para pronunciar o nome dela. Jorge já estava preparado para soltar uma piada, mas Hermione segurou sua mão balançando a cabeça e o homem se aquietou.
Harry limpou uma gota de suor que surgiu em sua têmpora. Apertou ainda mais a aliança entre os dedos e olhou Gina. A ruiva sorria enquanto as lágrimas desciam desmedidamente por seu rosto.
O homem limpou a garganta, tentando ser firme dessa vez.
- Gina Weasley, aceita se casar comigo? – e as palavras saíram facilmente. Ele sorriu ao final enquanto a via balançar a cabeça positivamente.
Colocou o anel em sua mão direita e a ruiva se lançou em sua direção, o abraçando.
E então o silêncio se rompeu na cozinha com os assovios de Jorge. Logo todos se aproximavam dos dois e cumprimentavam.
Harry sorriu feliz. A tensão fora embora e um sentimento de gratidão o tomava.
Estava inteiramente agradecido à Raphaela por ter lhe dado aquela solução tão simples e fácil.
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