Hello Stranger!



   Final de agosto. Nem era preciso olhar nos calendários para ter certeza que o esplendoroso sol que se exibia em um céu azul sem nuvens era conseqüência do verão.


   Apesar do visual, morar na Itália tem suas desvantagens. Férias escolares, turismo em alta; as cidades italianas ficam tão apinhadas de gente que mal se consegue andar.


  - Só isso pra acabar com o meu humor, mesmo! – Resmunguei, esbarrando sem querer em uma turista completamente fantasiada com sua blusa florida, chapéu e câmera pendurada no pescoço – Não vejo a hora de agosto acabar!


   Com esforço, sai da Piazza Del Campo, a principal praça de Siena, que atraia muitos visitantes por suas construções medievais, prédios arredondados ou ornados por torres.


   Tudo o que eu queria era paz! Mas estava impossível.


   Subi pela Vicolo di S. Pietro, entrando na Via di Cittá e procurando o caminho mais rápido, rumo à Piazza Del Duomo. Essa já não era tão grande quanto Piazza Del Campo, mas mantinha o mesmo estilo, e pelo jeito, a mesma quantidade de gente.


  Frustrada e vencida, decidi sentar em uma das escadarias, tentando ficar o mais longe possível das pessoas, e puxei um livro da minha bolsa.


  Em dias normais, logo depois das aulas, é o que eu costumava fazer. Adorava sentir o calor em minha pele, o aroma dos restaurantes e a música clássica que tomavam conta de cada parte da cidade, enquanto lia um bom livro, sentada em uma das praças.


  Mas em agosto, quase tudo era diferente. Ao invés da música clássica que acariciavam meus instintos, apenas o falatório alto dos turistas; as escadarias? Apinhadas, assim como qualquer canto da cidade. Irritada, levantei em um salto, sem me ligar que atrás vinha gente.


 - Ai – Gemi, xingando logo em seguida, após bater o topo da minha cabeça no queixo de alguém. Provavelmente mais um turista ridículo – Pelo amor de Deus, será que ninguém aqui respeita o espaço do outro?


 - Desculpe – Ele respondeu em um inglês britânico perfeito.


 Só então levantei o olhar para o estranho. Bem, em uma coisa eu estava certa, ele era um turista, mas definitivamente NÃO era ridículo. Muito pelo contrário. Agradeci pelo fato dele não ter entendido uma só palavra do que eu tinha dito ou não estaria sorrindo com tanta intensidade.


  - Você fala inglês? – Perguntou, acanhado.


  - Sim, eu falo. – Respondi, na sua língua. O inglês não era problema para mim.


  - Ah, que bom. Bem, desculpe-me.


  - Tudo bem, a culpa foi minha, não olhei antes de levantar, e essa cidade está tão cheia... – Disse, ainda com certa irritação.


  - Pois é, por isso mesmo me perdi de minha família... Você mora aqui?


  - Sim, moro.


  - Poderia, por favor, me ajudar a procurá-los?


 Olhei-o desconfiada


  - Não sei se devo...


  - Por favor, não tenho a mínima idéia de onde estou. – Ele sorriu, sem graça.


   Pensei um pouco


  - Tudo bem. Vamos.


   Observei-o por mais um instante. Ele mantinha lindos cabelos negros e compridos, e olhos muito verdes. Parecia ter a mesma idade que eu, 17 anos. Nunca tinha visto alguém tão bonito, em nenhuma parte da Itália que já visitara, ou do mundo. Ele vestia uma blusa branca de um tecido fino com gola em V e mangas longas arregaçadas até a altura do cotovelo – o que destacava os músculos que já se formavam - calça jeans clara e tênis marrom.


   - Ahm, a propósito, me chamo Alvo – Disse-me. Como reação imediata desviei o olhar, fingindo desinteresse.


   - O meu é Cecília, prazer.


   - Então, Cecília, para onde está me levando? – Ele riu do próprio comentário, o que só me deixou mais constrangida.


   - Bem, estou te levando para Piazza Del Campo, ou na sua língua, Praça do Campo. É a praça mais famosa da cidade, é sempre o primeiro ponto da visita.


    Ele tentou, inutilmente, repetir o nome da praça. Eu ri.


  - Não, Piazza Del Campo.


  Novamente ele tentou, mas apenas arrancou mais risos de mim.


  - Ah, qual é, não ria de mim, italiano é difícil!


  - Não tem nada de difícil.


  - Você diz isso porque já sabe, pra mim é super difícil. Fácil mesmo é o inglês.


  Eu apenas sorri e tentei desviar do assunto quando percebi que já havíamos chegado ao nosso destino.


  - Chegamos! – Estendi a mão, mostrando a multidão.


  - Nossa! Mas vai ser impossível achá-los no meio de tanta gente!


  - Tem uma idéia melhor?


  Ele parou por um instante, analisou mais uma vez o tumulto à nossa frente, e virou sua atenção para mim, avaliando-me dos pés à cabeça. Instintivamente, levei as mãos aos meus cabelos ondulados castanhos e que no instante estavam soltos, tentando arrumá-los.


  - O que foi? – Perguntei, vendo o sorriso maroto que se estampou no seu lindo rosto.


  - Simples, não vamos achá-los... – Disse, como se essa fosse a conclusão mais óbvia do mundo.


  - Como assim, não vamos achá-los? E o que você vai fazer, então? – Não estava entendendo mais nada.


  - Esta não é a pergunta certa, a mais apropriada seria: Você tem alguma coisa a mais para fazer? – Seu sorriso se alargou e eu me derreti.

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