A visita inespera



Capítulo 3 - A visita inesperada





Já havia seis anos que Tiago conhecia aquela sensação: retornar a sua casa após um longo período em Hogwarts. A viagem de Londres, onde ficava a Estação King's Cross, até Winchester, no estado vizinho de Hampshire, era rápida e agradável. Os pais de Tiago, Richard e Judy Potter, tinham uma grande loja de alquimia na cidade, além de alguns negócios espalhados pelo Reino Unido. Isso lhes proporcionava uma vida bastante confortável e alguns pequenos luxos ao garoto, como boas vassouras de corrida. Mas o bem mais precioso de Tiago era uma relíquia de família: uma capa da invisibilidade. Ela pertencera a seu pai, e antes ao seu avô que a adquirira em circunstâncias misteriosas após uma viagem ao extremo Norte. Nem mesmo sua mãe sabia da existência da capa: era um segredo que Tiago só dividira com seus colegas de casa e armações, Sirius Black, Remus Lupin e Pedro Pettigrew.



Era nessa história que Tiago pensava enquanto transferia suas coisas do malão para o armário. O pai viajaria para o Norte em uma semana, em companhia de Bernard Figg, um grande amigo da família. Tiago conhecia os Figg desde pequeno; a mãe e a Sra. Figg tinham sido grandes amigas em Hogwarts e quando ela se casou com o bruxo francês, cerca de uns 15 anos antes, Bernard entrou para a lista de freqüentadores da família Potter. O Sr. Figg e o pai de Tiago iam em busca de novos ingredientes para fórmulas mágicas que, mais tarde seriam vendidas na loja. O rapaz gostaria de poder acompanhar o pai; gostaria de saber se as histórias fantásticas que o avô lhe contara quando ainda era pequeno tinham algo de verdade. Então algumas leves batidas na porta o desviaram de seus pensamentos:



- Tiago? Já arrumou suas coisas?



- Tô acabando...- ele mentiu; ainda faltavam dois malões cheios que ele olhou com desânimo.



A mãe entrou e olhou para as coisas esparramadas no chão. Deu um suspiro e então continuou:



- Bem, eu só queria saber se seu amigo Sirius vem mesmo para cá esse mês.



- Acho que sim. A não ser que aconteça alguma coisa que o impeça. Sirius vem em todos os verões, por que não viria neste?



- Ouvi dizer que o pai dele está tendo alguns problemas no Ministério... Seu pai quer dar uma passada por Newcastle durante a viagem para ver se pode ajudar em alguma coisa. Pensando bem, esse é um motivo a mais para Sirius vir para cá. Por que não escreve a ele pedindo para antecipar a viagem, filho?



Escrever a Sirius para que viesse antes. Ah, por que todos os pedidos da mãe de Tiago não era agradáveis como esse?








- Hmmm... - Sirius avaliava o quarto de Tiago. - Você insiste em manter esse pôster do Winchester's Brooms, mesmo com eles na décima divisão do campeonato britânico? Já lhe disse que devia torcer pro Yorkshire Fire. Onde coloco? - perguntou levantando os malões.



- Onde quiser... o quarto vive bagunçado mesmo, - e se jogou na cama. - E então, já superou a fossa? - Tiago zombou do amigo.



- Fossa? Que fossa? Eu não tava de fossa. - Sirius disse amarrando a cara e jogando os malões num canto do quarto.



- Ah, não, claro.



- Não, mesmo. Fiquei... hmmm. Chateado... ah, não foi bem isso. Digamos que eu tinha me acostumado com a baixinha, só isso. E, sei lá, me senti meio culpado pelo rolo todo. - Sirius não tinha contado a ninguém sobre a conversa com Dumbledore e Helen. - Mas quem deve estar curtindo uma fossa, não sou bem eu... E aí, não vai mandar uma cartinha romântica pra florzinha escarlate?



- Ah, pára de chamar ela assim! - Tiago reclamou. Sirius riu divertido, tinha conseguido mudar o rumo da conversa. - Mandar uma cartinha.. Cê tá louco, é? E eu ia olhar pra ela com que cara depois?



- Cara, juro que não sei o que tá acontecendo. Você não costumava ter problemas com as garotas.



- Elas é que não tinham problemas comigo. Não precisava nem mostrar que tava interessado e tinha sempre umas três atrás de mim...



- Daí você começou a dar fora em todas elas, porque tava apaixonado. Foi nisso que deu. Mulher tem que ser bem tratada, amigo! - Sirius deu uma piscadela. - Agora cê tá sem nenhuma.



- Dane-se, eu não quero qualquer uma. Só que a Lílian não dá um sinal... Não sei mais o que fazer. Eu tinha pensado em arriscar, mas o idiota do Snape estragou tudo... - Tiago concluiu com raiva.



Sirius olhou para o amigo. Alguém tinha que fazer alguma coisa logo que voltassem a Hogwarts ou estariam deixando a escola sem que Tiago dissesse à menina o que sentia.



- Tiago! - a mãe do rapaz entrou no quarto - Ah, vocês estão aqui. Estou lhe chamando já faz um tempão, porque não responde?



- Não ouvi, mãe? Que houve?



- Nós vamos ter visita hoje. Quero os dois prontos lá embaixo por volta das sete, está bem?



- Visita? Quem?



- Arabella. Além disso, seu pai me prometeu que entraria em contato hoje. Você não quer falar com ele?



Os olhos de Tiago brilharam. Já fazia umas duas semanas que o pai tinha viajado, deixando-o sozinho com a mãe. Essa, aliás, fora a desculpa do pai para que o rapaz não seguisse viagem com ele. Agora que Sirius chegara, as férias prometiam ser mais animadas, mas Tiago continuava a sentir falta do pai.



- Às sete, entenderam bem?



- Sim, senhora - e os dois bateram continência rindo.








- Tiago, Sirius, vocês não vão descer?



Já eram sete em ponto. Judy Potter estava atrapalhadíssima tentando apagar um pequeno incêndio iniciado pelo elfo-doméstico da casa. Com ela tão ocupada e os meninos demorando tanto para se arrumar, quem iria receber sua convidada?



- Já estamos aqui. - ela olhou para trás e viu os dois rapazes dentro das calças jeans e camisetas mais limpas (e menos amassadas) que encontraram.



- Vocês estão parecendo trouxas! Podem se vestir normalmente quando recebemos bruxos, sabiam?



Tiago revirou os olhos. A mãe tinha que reparar sempre em tudo? E depois, só usava vestes de bruxos na escola ou em recepções muito formais. E aquele não era o caso. Achou melhor ignorar o comentário. Então os três ouviram um barulho vindo da sala de estar:



- Arabella! - Judy Potter saiu correndo, enxugando as mãos com um pano de prato. Os garotos seguiram a passos lentos. Tiago gostava da Sra. Figg, mas achava que a mãe estava exagerando dessa vez. A senhora Figg era quase da família, por que tanto frenesi?



- Judy, espero que não se importe, mas resolvi trazer companhia... - eles ouviam a conversa das duas enquanto entravam no corredor que dava na sala.



- Sua sobrinha?



- Não, ela resolveu acompanhar o pai na viagem. Esta é minha vizinha... - nesse momento os rapazes entravam na sala. Sirius segurou o queixo de Tiago, que estava prestes a tocar o chão. - ... Lílian Evans.



A ruiva de olhos verdes, que dava aulas de reforço em estudo dos trouxas para Tiago estava ali, bem na sua frente, sorrindo. O sorriso mais lindo do mundo, ele pensava. Não conseguia nem responder ao "oi" da garota. A mãe já estranhava o comportamento do filho, quando Sirius tomou a iniciativa.



- Sra. Potter, o Tiago roubou umas rosquinhas de dentro do armário. Acho que se engasgou. - e virando-se para a colega de casa. - Tudo bom, Evans?



- Tudo, Black! Você deve ter comido muito rápido, Tiago. Por que não toma um pouco d'água?



- Rápido, sei! - a mãe lançava olhares de repreensão. - Quantas vezes tenho que dizer pra não comer doces antes do jantar? Já é quase um homem e não aprende, Tiago?



Levar uma bronca da mãe em frente à garota que ele gostava não era a idéia que Tiago fazia de transmitir uma boa imagem. Tentou consertar:



- Eu tava com muita fome. Era isso... - ficando vermelho - Oi, Lil'.



- Ora, então vocês já se conheciam? - Arabella teve uma agradável surpresa.



- Ah, sim. Eu ajudo o Tiago com Estudo dos Trouxas. Pra mim é fácil.



- Hmmm... Agora eu estou entendendo toda aquela insistência da minha sobrinha pra trazer você comigo, mesmo sem ela vir junto...



Foi a vez de Lílian ficar roxa de vergonha. Tiago sentiu um friozinho percorrer a espinha. Será que Arabella Figg dera o sinal que ele estava esperando? Resolveu falar rápido.



- Com certeza sua sobrinha devia saber que eu e Lílian nos damos muito bem e que ela seria uma ótima companhia. - Sirius lhe deu umas palmadinhas de aprovação nas costas. - Aliás, quem é ela? É da Grifinória também?



- Não, Tiago, a sobrinha da Sra. Figg - e então Lílian olhou sem graça para Sirius - é Helen Silver.



Os dois garotos ficaram desconcertados. Mas as duas adultas da sala não perceberam e continuaram a conversar.



- Então, Henry resolveu levar Helen com eles?



- Pois é, imagine a loucura... Apareceu hoje de manhã e com uma chave de portal lá em casa. Helen ainda não tem idade para aparatar... Ele pensa que ela pode ajudá-los. Eu achei um absurdo. Como uma bruxa que ainda nem completou os estudos pode ajudar três bruxos experientes com Henry, Richard e Bernard?



- Peraí, a Silver tá na mesma viagem que meu pai? Então por que eu não pude ir? - Tiago estava indignado e mãe olhou assustada para a amiga. Arabella, porém, aparentava a calma de sempre:



- Ora, Tiago, e o que você iria fazer nunca viagem de comerciantes? Henry levou Helen porque cismou em abrir uma loja de animais mágicos e acha que ela pode ajudar na escolha dos bichos. Eu ainda acho tudo uma grande besteira. Além do mais, ela não vai seguir viagem com eles...



- Judy, Judy, você está aí? - uma voz grossa chamava a mãe de Tiago da Lareira.



- Richard!



Em meio às chamas esverdeadas a cabeça de um homem de cabelos curtos, porém bastante espetados, flutuava:



- Olá, Judy. Tiago! Tudo bem, filho? Hmmm... Vejo que Sirius já chegou. - disse cumprimentando o garoto com uma piscadela. - Arabella, Bernard quer falar com você depois que eu terminar aqui. E quem é essa gracinha de menina? - o pai de Tiago olhava para Lílian.



- Ah, é nossa vizinha, Lílian Evans, da casa dos trouxas ao lado da minha... Parece que estuda com seu filho, Richard.



- Helen acabou de me dizer a mesma coisa, Arabella. - a cabeça suspensa nas chamas sorriu.



- Querido, vocês ainda vão demorar muito? - Judy Potter parecia angustiada.



- Ah, sim, querida! Ainda há muitos... hã... artigos para procurarmos. Amanhã mesmo deixamos Newcastle rumo à Escócia.



- Vocês estão em Newcastle? - Sirius entrou na conversa.



- Estamos sim. Conversei com seu pai hoje de manhã, Sirius. Talvez ele siga conosco.



- Meu pai? Mas ele não é comerciante...



Então a cabeça se virou para trás. "É, Sirius Black, sim, querida, você quer falar com ele?" e voltando-se para a sala dos Potter novamente:



- Desculpem-me, onde eu estava mesmo?



- Quem perguntou por mim? - Sirius não deixou que nenhuma das mulheres perguntasse outra coisa antes.



- A pequena Silver. Parece que ela achou que era outro Sirius... - a fala de Richard Potter veio complementada por um cutucão de Tiago "Outro Sirius, sei..."



- Mas vocês não tem nenhuma previsão de quando voltam?



- Não, querida, ainda mais agora. Sabe, Helen notou alguns fatos muito curiosos em que não tínhamos prestado atenção. Acreditamos que devem haver mais ocorrências quanto mais ao norte.



- Ei, pai, por que eu não posso ir também? Eu também poderia ajudar...



- E quem tomaria conta da sua mãe, Tiago? Nós já conversamos sobre isso.



- Mas você disse que ninguém da minha idade iria e, no entanto...



- Tiago. - a mãe do garoto olhou-o com impaciência. - Por que você não vai mostrar a casa para sua coleguinha? Quando seu pai terminar eu te chamo para que você possa se despedir.



- Mas, mãe...



Ela o olhou zangada e ele subiu as escadas emburrado. Sirius olhou para Lílian e pediu para que o seguisse. Pouco depois estavam no quarto de Tiago, bagunçado, como sempre...



- Nossa! Como é que você consegue achar suas coisas aqui? - ela olhava cada cantinho, divertindo-se.



Só então Tiago percebera sua presença no quarto. Olhou bravo para Sirius que lhe respondeu com um olhar que dizia claramente "O que você queria que eu fizesse? Deixasse ela lá em baixo?":



- Ah, não repara, Lílian. É que não deu tempo de arrumar hoje... - ele não sabia onde se esconder de tanta vergonha.



- Lógico, porque você deve ter muito que fazer durante as férias. - disse ela rindo.



- Hmm.. eu tô morrendo de sede. Acho que vou lá na cozinha. - Sirius arranjara uma desculpa para deixar os dois a sós. - Algum de vocês quer água?



Nenhum deles queria. Antes de sair, aproveitando que Lílian estava de costas para ele, Sirius deu seu último recado ao amigo, sem emitir um único som. "Manda bala!", Tiago leu nos lábios do companheiro de aventuras. Enfim sós. E agora? Será que ele conseguiria falar? A Sra. Figg dera a entender que Lílian queria vir a casa dele. Será que isso queria dizer...



- Tiago - a garota olhava-o nos olhos - você não tem nada pra me dizer?



Ele não esperava aquilo. Ela estava tomando a iniciativa...



- Ah, Lílian, é, bem... eu fico meio sem jeito...



- Então você ia passar as férias inteiras sem me dizer que foi reprovado em Estudo dos Trouxas?



- Quê?



- Acho que eu vou pedir pra outra pessoa te ajudar. Eu devo ser uma péssima professora. Depois de tantas aulas de reforço você não conseguiu aprender nada?



Tiago não tinha reação:



- Eu-eu...



- Sinceramente. Eu não sei mais o que fazer. Estudo dos trouxas não é tão difícil assim.



- Ah, peloamordedeus! - Sirius que estava escutando atrás da porta, entrou batendo-a com força - Você quer saber porque é que ele vai tão mal, Evans? Porque ele não presta atenção numa palavra do que você diz...



- Sirius! - Tiago estava perplexo.



- Ah, Pontas, agora ela vai me ouvir. Ele fica tão abobalhado na tua frente que não consegue prestar atenção a uma palavra do que qualquer um diz. Acho que ele pensa que é música estrangeira, sei lá. - Tiago ia ficando roxo, azul, verde, à medida que o amigo ia falando. - E tem mais: meu amigo aqui se estragou. Não consegue mais chegar numa menina, porque na frente dele só existe a florzinha escarlate do quinto ano. E ele não consegue falar nada pra você, parece que trava! Então acho que é melhor você falar alguma coisa pra ele. Se você acha que o Potter tem alguma chance, ótimo, vocês vão formar um lindo casal. Senão, quem sabe ele não desencana de uma vez por todas! Pronto! Acabei. E aí?



Lílian ficou olhando para Tiago, de olhos arregalados... Mas não por muito tempo.



- Fora daqui, Black. - a menina ordenou sem tirar os olhos do dono da casa.



- Ãh?



- Saia daqui, agora.



- Tá bom, então.



Sirius se retirou. Encostou a porta e procurou o local onde poderia ouvir melhor a conversa: o buraco da fechadura. Já tinha encontrado a melhor posição quando quase caiu, pego de surpresa pela abertura da porta:



- Eu mandei você dar o fora, Black. - Lílian olhava para o chão, onde Sirius estava caído.



Ele nunca vira a ruivinha tão brava. Achou que devia rever o apelido de florzinha escarlate. Ela estava mais para pimenta ardida. Não teve outra escolha senão começar a descer as escadas... Talvez fosse mesmo melhor pegar um copo d'água (e se Lílian jogasse um feitiço incendiário no quarto de Tiago?). Mas o som da voz de Judy Potter fez com que parasse a uns cinco degraus do fim da escada:



- Vou deixar vocês a sós, querida. Até porque tenho que ver o andamento das coisas na cozinha...



- Obrigado, Judy.



Nenhuma das duas tinha percebido o rapaz ali, parado. Ele resolveu se sentar e tampar os ouvidos. Não queria se intrometer em conversas particulares. Ou queria? A verdade é que por mais que tentasse evitar, ele não pôde deixar de ouvir a primeira pergunta de Arabella Figg a seu marido:



- Quando é que Henry vai mandar Helen de volta? Ele me disse que não seriam mais que três dias, agora vocês já estão falando em uma semana.



- Cherrie, ela está bem. Não vai acontecer nada com ela. Além do mais, ela está se divertindo à beça.



- Lógico que ela está se divertindo! Ela não tem idéia do perigo que corre. Que Henry seja um inconseqüente, isso é normal. Achei que você e o Potter conseguiriam pôr um pouco de juízo na cabeça dele. Mas parece que vocês estão incentivando essa maluquice.



- Cherrie, nós precisamos da garota. Você sabe muito bem que um shadowcat só obedece a seu dono, e tivemos avanços maravilhosos hoje. E Helen também nos trouxe novas pistas...



- Novas pistas? Ela nem sabe o que vocês estão procurando, como pode trazer pistas?



- Na verdade são observações. Bem, o fato de Henry e Marianne terem criado os filhos como trouxas dá algumas vantagens à menina. Ela consegue passar desapercebida entre eles. E ela escutou algumas conversas... Helen não sabe que está nos ajudando; faz isso sem perceber. O fato é que os trouxas andam desconfiados de que há algo inexplicável acontecendo no mundo deles e estão comentando. Black está ficando careca de tanto nervoso que já passou desde que assumiu o departamento de Sigilo do Mundo Mágico. O mundo da magia pode se comprometer seriamente se não conseguirmos abafar esses rumores.



- E para isso vocês têm que envolver uma criança inocente?



- Arabella, eu acho que Helen ficaria muito feliz de saber que está ajudando a desvendar o assassinato da mãe de dela e o de tantos outros trouxas. Soubemos que os primeiros boatos surgiram no extremo Norte e é para lá que iremos amanhã.



- Por favor, mandem ela de volta. Não arrisquem a vida da garota.



- Não há perigo, Arabella, até agora só soubemos de assassinatos de trouxas...



- E você me diz que não há perigo, Bernard? Pedem que ela finja ser uma trouxa e acha que ela não corre perigo?



- Não pedimos nada, Arabella. Ela age assim porque foi criada assim. Ela foi criada no meio de trouxas, e por uma trouxa, não se esqueça disso. Helen é natural e é por isso que consegue as informações com tanta facilidade. Mas acho que Henry não deve segurá-la por mais de uma semana. Seria difícil mantê-la conosco por mais tempo sem contar nada.



Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da bruxa. Tinha prometido à cunhada que cuidaria dos filhos dela como se fossem seus. Mas ela não podia passar por cima da autoridade do irmão, afinal, ele era o pai.



- Então... então me mantenha informada. Caso não possa usar uma lareira, me mande corujas.



- Eu mandarei, cherrie. - e o rosto sumiu, assim como a chamas esverdeadas.



Arabella cobria o rosto com as mãos. Chorava baixinho. Black andou até ela sem ter consciência do que estava fazendo:



- Por favor, Sra. Figg não chore.



Ela levantou o rosto assustada:



- Você-você ouviu?



- Ouvi o quê? - Sirius sabia mentir como ninguém - Não ouvi nada. Desci para pegar um copo d'água e vi a senhora chorando... Presumo que é porque eles ainda vão se demorar na viagem, estou certo?



Ela olhou para ele um tanto aliviada. Talvez o garoto tivesse ouvido, mas ela preferia acreditar que não. Logo em seguida Judy Potter apareceu na sala:



- Sirius! Então vocês já desceram... Mas onde estão Tiago e a amiguinha de vocês?








Lílian fechou a porta do quarto de Tiago sem bater. Seus gestos eram sempre delicados e era essa delicadeza que vinha encantando o filho único dos Potter havia mais de um ano. O rosto dela ainda estava bastante vermelho e parecia irradiar calor. Tiago pensou que pudesse ser raiva. É, com certeza ela tinha raiva dele. Então ela começou a encará-lo novamente. Mas ele não tinha força para agüentar a verdade contida naqueles olhos verde-esmeralda. Não, ele perceberia só pelo olhar que ela repugnava a idéia de ser namorada dele. Não podia olhar. Não iria agüentar. Antes, pelo menos, ela era sua amiga. Ele nunca perdoaria Sirius.



- Então, é verdade? - ela perguntou com a voz baixa.



- É.



O silêncio voltou a tomar conta do quarto. Devem ter passado pelo menos uns quinze minutos até que Tiago reuniu toda a coragem que tinha e perguntou:



- Bem, você não sente nada, não é? - e olhou-a nos olhos.



- Eu não sinto nada? Nada, Tiago?



- Pode dizer. Eu agüento. Só quero que você continue minha amiga, por favor. Só tenho mais um ano em Hogwarts, depois será mais fácil te esquecer...



- Me esquecer? Você quer me esquecer?



- Bem, é minha única alternativa, não é? - e então ele baixou os olhos outra vez.



- Sabe, Tiago faz exatamente cinco anos que eu gosto de você, sabia? - ele olhou para ela, surpreso. - Desde que eu entrei em Hogwarts. No começo você nem sabia que eu existia. Normal, vivia com seus amigos de lá pra cá, como é que ia reparar numa primeiro-anista nascida trouxa... Depois você virou o fenômeno do quadribol. O melhor apanhador de todos os tempos, era o que diziam. Eu que odiava quadribol passei a assistir todos os jogos, mas com certeza, eu era só mais uma das suas centenas de fãs espalhadas por todas as casas de Hogwarts.



- Peraí, não é bem assim...



- É assim, sim. E eu ainda não acabei. Eu sempre passei desapercebida e então, um belo dia, Tiago Potter, o apanhador da Grifinória, me procura para que eu o ajude com Estudo dos Trouxas. Entrei em êxtase, achei que finalmente você tinha me notado; mas a Melissa Jones, sua namorada na época, me fez cair na real: "Nada melhor que uma nascida trouxa pra ajudar a gente nessa matéria besta" - disse ela esganiçando a voz para imitar a outra menina. - Aquilo me deu um ódio, uma raiva por dentro, que eu tinha decidido a desfazer o acordo. Não ia dar reforço nenhum. Mas aí o Frankie... o Longbottom, da minha sala... Ele disse que eu não podia desistir, que tinha pelo menos que tentar. Que ele usou a mesma tática pra chegar numa garota e que eu ia perceber se você estava interessado em mim ou não. E que, além disso, essa era uma maneira de eu conhecer você melhor, descobrir se eu gostava do verdadeiro Tiago Potter, não do jogador de quadribol por quem todas as meninas babavam...



Tiago ouvia em silêncio. Se ele soubesse que sua fase galinha traria tantos problemas no futuro, teria pensando duas vezes antes de chegar numa garota.



- E eu descobri um Tiago ainda mais legal do que eu podia imaginar. Mas eu realmente não sabia quais eram suas intenções a meu respeito. Porque Frankie sempre fora um bom aluno em Estudo dos Trouxas; as aulas, isso era óbvio, só serviam para chamar a atenção da "professora". Mas você... Você era péssimo, Tiago. Então eu só podia achar que seu interesse era realmente não ser reprovado.



- Não, eu... Eu nem fazia Estudo dos Trouxas, Lílian. Comecei esse ano porque foi a única maneira que encontrei de chegar perto de você.



-É, mas eu não sabia disso - ela ainda não tinha acabado. - Então eu fui alimentando em mim a idéia de que você podia ser só meu amigo. E agora vem o Sirius e fala tudo isso. Eu não tava preparada...



- Já entendi. Então só me resta uma opção...



- É, só resta uma opção, Tiago: me pedir em namoro. Porque se você não fizer isso, aí sim é que eu vou ficar muito, mas muito brava. E eu lhe garanto que os escândalos que Helen Silver apronta são fichinha perto do tumulto que eu posso causar. Ah, e você também vai perder suas aulas de reforço em Estudo dos Trouxas...



Tiago Potter não cabia em si de tanta felicidade. E novamente não conseguia falar. Ele ensaiara aquele momento tantas vezes...



- Então, não vai falar nada? - ela o olhava com um sorriso petulante.



- Não. - e se aproximou da garota, tirando os óculos. Olhou dentro dos olhos dela, enquanto segurava o queixo delicado da menina com uma das mãos. Lílian devia ser pelo menos uns 20 cm mais baixa que ele. Mas isso não era um problema. Já podia sentir a respiração da garota, cada vez mais ofegante. Os segundos pareciam eternos quando, finalmente, seus lábios se colaram na boca macia da sua "florzinha escarlate"...



Os dois foram acordados abruptamente daquele sonho pela voz de Sirius, que gritava da sala:



- Tiago? Mas ele estava aqui agorinha mesmo. Ele deve ter precisado ir ao banheiro, juro. Só assim pra alguém sumir tão rápido...



Potter percebeu que sua mãe havia dado falta deles e, encontrá-lo no quarto, aos beijos com a visita, não era o que a mãe considerava bons modos. Apesar de toda a liberdade defendida nos anos 70, Judy Potter ainda era uma mãe extremamente conservadora. Ele se dirigiu a Lílian:



- Eu vou descer, me espere aqui. - e quando estava quase saindo - Não, saia daqui a pouco, encontre a gente lá embaixo. Diga que... hã... que se perdeu. É diga que foi ao banheiro e que achou que meu quarto era do outro lado e então se perdeu, é acho que serve...



Lílian olhava para o namorado com um sorriso maroto no rosto. "Ah, Tiago, por que você demorou tanto", ela pensava enquanto o garoto saía chispando pelas escadas.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.