Uma questão de escolha

Uma questão de escolha





Tiago Potter acordara naquela manhã de sexta-feira decidido a falar com Lílian. Teriam apenas mais uma semana de aula - ou melhor, de provas - e então sairiam de férias. Se não fizesse isso agora, que a via todos os dias, só teria outra chance quando começasse o próximo ano escolar. Como de costume, foi buscá-la na aula de Trato das Criaturas Mágicas, mas a ruivinha da Grifinória não estava mais lá. Um dos alunos tivera um problema com um ogro - criaturas baixinhas e corpulentas, capazes de fazer qualquer ser mágico desmaiar com um soco - e o professor dispensara o resto da turma, enquanto levava o menino à ala hospitalar. O rapaz achou melhor ir para a biblioteca, afinal, já estava quase na hora de suas aulas de reforço e, como os exames começariam na segunda-feira, ela lhe prometera uma dose extra de explicações. A verdade era que Tiago não conseguia prestar muita atenção ao que Lílian dizia; o som da sua voz era mais importante que as palavras em si. Mas não gostava de admitir isso para os amigos, pelo menos, não enquanto não soubesse se a recíproca era verdadeira. Entretanto a garota nunca dava sinais de que pudesse estar interessada. Por isso ele não podia esperar mais. Se a reposta fosse negativa, só teria que conviver com a vergonha por uma semana, depois estaria de férias. Se fosse afirmativa, ganharia uma namorada - e gozação por parte dos colegas, que ele aceitaria sem chiar.



O apanhador da Grifinória chegou à porta da biblioteca e olhou dentro da sala. Ela estava lá, concentrada num livro qualquer. Tinha que tomar coragem. Tirou os óculos e limpou-os nas vestes; porque estava tão nervoso? Não era assim tão difícil, era? Então Tiago sentiu um cutucão nas costas:



- Vai sair do caminho ou vou ter que passar por cima, Potter? - era Severo Snape.



- Bem, até onde eu sei, a biblioteca é de domínio público. - Tiago o encarou.



- Só que só há um acesso à biblioteca e você está bloqueando a passagem. - Snape continuou com a voz mal-humorada de sempre.



- Tá tendo algum problema, Tiago? - Remo, que estava dentro da biblioteca veio ajudar o amigo.



- Me deixe passar - o aluno do 6º ano da Sonserina empurrou Tiago Potter e entrou na sala. Os dois grifinórios continuaram acompanhando o rapaz de cabelos sebosos com o olhar, até que se deram conta de que ele estava indo em direção à Lílian. Tiago e Remo correram na mesma direção:



- O que é que você quer... - e então Tiago percebeu que não era Lílian que Snape estava procurando, mas a garota ao lado dela: Helen.



- Que foi, Potter? Esqueci de pagar o pedágio? - Snape disse com a voz mais cínica do mundo.



Helen, que estava com o rosto apoiado sobre o livro, olhou para os três garotos em pé:



- Ei, você não quer acabar com a minha tortura logo? Ainda tenho outras matérias pra estudar hoje. - ela reclamou para o colega de casa, com voz de quem acaba de acordar.



- É, Silver, dedicação não é seu forte. Só não venha me culpar se a reprovarem...



- É lógico que dedicação não é meu forte, ou então eu estaria na Lufa-lufa. - ela respondeu ríspida como sempre.



Tiago e Remo não puderam de deixar de pensar que namorados não se tratavam assim. Será que o plano de Sirius estava dando certo? Enquanto esse diálogo ocorria, Lílian olhava impaciente para Potter, com cara de quem pergunta "vamos começar?". Remo deu uma piscadela para o amigo e foi sentar-se em outra mesa, enquanto Tiago se sentava ao lado de Severo Snape:



- O quê? Você vai se entrar aqui?



Tiago fuzilou-o com os olhos:



- Volto a repetir: a biblioteca é de domínio público. - foi a vez dele de lançar um sorriso cínico.



- Tiago, talvez seja melhor nós irmos para a mesa onde está Lupin... - Lílian quis evitar encrencas.



- Não! - todos voltaram os olhos curiosos para Helen. Ela tentou consertar rapidamente. - O Potter está certo. A biblioteca é de domínio público. - e virando-se para Snape - Que diferença faz, Severo? Eles vão ficar estudando os trouxas; nós, poções. Nem vamos ouvir uns aos outros.



Snape olhou para a garota desconfiado. Depois parou o olhar em Lílian, que ficou roxa com a dissecação que Snape fazia com o olhar. Tiago sentiu o sangue ferver por dentro, mas não iria sair dali. Não ia fazer a vontade do Seboso Snape. Ele que saísse. Os quatro continuaram em seus lugares, e então começaram a estudar aos pares. Helen voltou a debruçar-se sobre mesa, entediada pelas explicações de Severo. De vez em quando dava uma espiada de rabo de olho para o casal ao lado. Remo assistia tudo do outro lado do salão. Sabia que Sirius chegaria a qualquer momento. O amigo escolhera aquele dia para dar seu golpe final em Snape, dando um beijo em Helen na frente de todos. Tiago continuava absorto na voz de Lílian e não entendeu quando ouviu uma voz interromper aquela doce melodia:



- Desculpa me intrometer - era Helen -, mas eu tava ajudando o Longbottom com essa mesma matéria outro dia, Evans. Fiz uma maquetezinha de como a corrente elétrica faz seu percurso até chagar a lâmpada. Ele gostou muito, se quiser, posso emprestar. Facilita a aula pra caramba pra quem não conhece o mundo trouxa... - a ruiva olhava surpresa para a sonserina, mas sua reação não era nem um esboço da indignação de Severo Snape:



- Você não está prestando atenção em mim?



Mas não foi Helen quem respondeu, e sim uma voz masculina atrás do rapaz:



- E quem consegue prestar atenção ao seu falatório sem dormir? Muito melhor ouvir a Evans. Tudo bom com vocês? - Sirius estava de pé entre Snape e Potter.



- Ora, eu não pedi sua opinião. - Snape não sabia de qual dos dois tinha mais ódio, se de Tiago ou Sirius. Remo se aproximava do bando acompanhado por Pedro, que chegara junto com Black.



- Você ainda não me respondeu, Helen? Como vai? - Sirius a olhava com um sorriso de arrasar quarteirões.



- Helen? Você anda dando intimidades a que não merece... - Snape desdenhou.



- Parem com isso, vocês dois. Isso não é lugar para brigas. - ao poucos, mais gente se aglomerava em volta do grupinho.



- Como se vocês e importasse com local para brigas, Helen... Não me lembro de você ter essas preocupações quando está se atracando com Narcisa. - Snape olhou-a com desprezo.



- Querem brigar, então briguem. Vocês que se danem, eu é que não vou ficar assistindo. - e começou a jogar o material dentro da mochila.



- Que é isso, querida, eu só queria lhe falar um "oi". Mas o seu amigo parece achar que é seu dono. - Sirius encarou Snape desafiadoramente. Estava prestes a concluir seu plano.



- Dono? Não, não tenho essa pretensão. Só acho que uma sonserina deveria escolher melhor suas amizades... - ele olhou novamente para Helen, que segurava a mochila de pé sem conseguir se mover. Os olhos dela diziam que as palavras de Snape conseguiram atingi-la. Vendo aquilo, Black não se conteve:



- E quem disse que ela é uma sonserina? Pois eu tenho certeza que o chapéu seletor errou nessa maldita escolha. Ela é muito melhor que qualquer um que faça parte daquela casa. - então uma voz adocicada e enjoativa surgiu no meio da muvuca:



- Viu só, querida? - a timbre da voz feminina era de um cinismo inigualável. - Até mesmo seus amiguinhos da Grifinória acham que você não é uma sonserina de verdade... - Narcisa conseguira jogar seu veneno mais uma vez, parando ao lado de Sirius.



Todos agora olhavam para a pequena Silver. Ela tinha uma expressão de raiva doentia; a boca e as mãos tremulavam. Ela subiu no banco, daí, para a mesa e em poucos segundos estava em frente aos três: Boggs, Black e Snape. Ela preparou a mãozinha delicada e - paf! - acertou em cheio o rosto de Sirius.



- Quê? Mas eu tava te defendendo...



- Eu não preciso que ninguém me defenda. E pra seu governo, eu tenho muito orgulho de ser uma sonserina. - e virando-se para Narcisa. - Mas tem uma coisa que ele disse que foi muito certa: eu sou realmente muito melhor que a ralé da qual você faz parte... - ela pôs a mochila nas costas e saiu, cruzando com Madame Sandys, a bibliotecária, na porta do salão. Esta olhou horrorizada para o tumulto na biblioteca:



- O que foi que aconteceu aqui?



Snape, que era monitor, respondeu olhando para Sirius, que ainda não estava acreditando no que havia acontecido:



- Acho que o Sr. Black vai adorar contar esta história para a senhora. - e recolhendo o material, fez o mesmo caminho de Helen.



* * *



Nenhum dos envolvidos no episódio da biblioteca foi obrigado a cumprir detenção. Aliás, uma estranha onda de silêncio fez com que cada um deles - Sirius, Helen, Severo e Narcisa - acreditasse que algo ainda estava por vir. A pivô da história passara a evitar os locais onde costumava esbarrar em Sirius, temendo que pudesse ser ainda mais grossa com o aluno da Grifinória. Ela gostava muito dele, mas não admitia que ninguém duvidasse de sua escolha. O irmão de Helen, Cameron, tentou convencê-la a fazer as pazes com o garoto, mas ela insistia que quem deveria lhe pedir desculpas era ele. O final de semana correu e na segunda-feira, todos estavam entretidos com os exames, esquecendo-se momentaneamente das preocupações com uma possível detenção. O mais nervoso com a situação era Severo Snape; uma mancha como essa poderia arruinar suas possibilidades de se tornar monitor-chefe no ano seguinte. Os dias e as provas iam passando, e na última sexta-feira o chamado que todos eles ansiavam chegou. Ao final dos exames de cada um, eles se dirigiram para a sala de Dumbledore:



- Vê no que a sua intromissão nos meteu? - Severo olhava para Sirius com mais raiva que nunca.



- Ora, Severo. Se não fosse essa anãzinha enfezada aí, nenhum de nós estaria aqui. Você tem que armar barraco com Deus e o mundo, é? - perguntou Narcisa com sua arrogância habitual a Helen.



Assim como Sirius ignorara o apontamento de Snape, Helen desprezou o comentário de Narcisa. Ela agora olhava para o retrato na parede:



- E então, Severo? Imagino que você sabia a senha para a sala do diretor...



- Eu? Quem costuma freqüentar a sala dele são vocês duas.



- É lógico que não. - Narcisa olhou incrédula. - Já faz mais de um ano que cumprimos detenção automática. Dumbledore se cansou de nós... Achei que seria igual dessa vez...



Sirius se sentou no chão, escorregando as costas pela parede. Estava com sede:



- Cerveja amanteigada... Daria tudo por uma caneca agora...



Como num passe de mágica a entrada se abriu. Os quatro se olharam:



- Bom, acho melhor subirmos, não é? - Helen sentenciou.



Sirius entrou primeiro, seguido de Narcisa. Logo depois entrou Snape e, por último, Helen. Dumbledore os esperava sentado atrás da mesinha onde um globo mágico girava lentamente. Algumas nuvens chuvosas sobrevoavam os países escandinavos, enquanto ondas fortes quebravam fortes no litoral da Austrália.



- Boa tarde! - e deu uma piscadela especial para Sirius.



Sirius cumprimentou-o com um sorriso, enquanto os outros respondiam com um "boa tarde" bastante desanimado.



- Vocês devem estar intrigados com tanta demora, não é mesmo? Creio que as garotas estivessem esperando pelas detenções automáticas. - elas acenaram afirmativamente com a cabeça. - Na verdade o motivo que me fez chamá-los até aqui não é a punição. Hoje é o último dia de aulas de vocês, não há motivo para castigos. No entanto, existe uma dúvida sobre a competência do método escolhido há séculos pelos fundadores da escola para selecionar os alunos nas quatro casas de Hogwarts. Creio que apenas a senhorita Silver saiba exatamente porque ela é uma sonserina, e não cabe a ninguém contestar tal decisão, por mais estranha que ela pareça às vezes.



Helen exibia um olhar de triunfo para os colegas. Dumbledore acabara de dizer que ela era uma verdadeira sonserina, e se eles duvidavam do chapéu, não poderiam fazer o mesmo com o diretor.



- Me desculpe, diretor, mas eu nunca duvidei disso. - Snape olhava dentro dos olhos de Dumbledore.



- Eu sei, Severo, foi por isso que pedi que a ajudasse. Talvez você pudesse dizer porque sempre concordou com a escolha do chapéu.



- Bem, - ele refletiu um pouco antes de começar a resposta - na verdade eu não vejo grandes diferenças entre as minhas duas colegas de casa aqui presentes. - as duas garotas arregalaram os olhos e só não começaram a ofendê-lo ali mesmo porque estavam diante de Dumbledore. - Ambas são ambiciosas e dispostas a qualquer coisa para atingir seus objetivos. Além disso, não costumam ser perturbadas por estúpidas crises de consciência. - ele fez uma pausa.



Sirius diria que Snape fizera a caveira das duas garotas para Dumbledore, mas com enorme perplexidade constatou que as meninas entenderam tudo como um elogio. Porém Snape ainda tinha mais a dizer:



- Os alunos da Sonserina, em geral, cultivam atritos com as outras casa por causa dessa determinação. Eu, em particular, - e olhou para Black - não consigo entender como alguém consegue crescer na vida sem ambição. A Sonserina prima por essa qualidade que os alunos de outras casas não tem. São desviados de seus objetivos por sentimentos menos importantes... Na minha opinião, o que difere Helen dos outros sonserinos é sua relação com o irmão. Ela associa o irmão aos alunos que não são da sonserina, - a garota franziu a testa e balançou a cabeça discordando do que estava ouvindo - e como não consegue detestar o irmão, optou por gostar de outros como ele. - Sirius segurava para não rir, mas foi de Narcisa que veio a alfinetada.



- Não sabia que você andava estudando psicologia, Severo - e deu um leve tapinha nas costas dele enquanto exibia o sorriso cínico.



- Obrigada pela consideração, Severo. - Dumbledore interrompeu. - Com certeza você não está totalmente errado, mas receio que Cameron não seja o culpado pelos "maus hábitos" de Helen - e piscou para a garota. - Realmente para fazer parte da Sonserina é preciso ambição e não há dúvida que a colega de vocês tem essa característica - Dumbledore não tirava os olhos da menina, que retribuía o olhar direto e franco. - Mas acredito que aquilo que realmente a torna uma sonserina é algo que nosso colega da Grifinória também tem de sobra: desprezo pelas regras. Inclusive as regras internas da própria sonserina.



- Na verdade, Dumbledore, eu escolhi ser uma sonserina porque não queria ser como os outros. - Helen resolvera falar. Apenas Sirius continuava mudo na sala.



- Escolheu? Ficou boba, pirralha? Ninguém escolhe a própria casa; é o chapéu seletor quem determina.



- Você tem certeza, Narcisa? - Dumbledore sempre chamava todos os alunos pelo primeiro nome. - Talvez vocês todos queiram fazer um teste. - e tirou o chapéu seletor de cima de uma estante e ofereceu-o a Narcisa.



- O que eu faço com isso? - Dumbledore não respondeu, Helen sim.



- Coloca na cabeça, dã! - e depois de alguns segundos de silêncio - E pensa em que casa você quer ficar... Narcisa obedeceu relutante; não gostava de aceitar ordens de quem quer que fosse muito menos de Silver. Enfim, "Sonserina!"



- Pensa em outra agora, mas tem que pensar com vontade...



- Mas eu não quero fazer parte de outra casa - a loura respondeu.



- Você não quer saber se dá pra escolher a casa? - Helen estava impaciente.



Narcisa colocou o chapéu outra vez. "Sonserina!"



- Eu falei pra você pensar em outra casa!!!



- E eu pensei! Você tá viajando! Lógico que não dá pra escolher a casa. - e elas teriam iniciado uma discussão ali mesmo se Dumbledore não interrompesse:



- Talvez a srta. queira passar o chapéu para Severo, Narcisa.



Ela entregou, fazendo muxoxo. Snape colocou o chapéu sobre os cabelos oleosos: "Sonserina!"



- Vocês não tão fazendo direito... Aposto que nem conversam com o chapéu...



- Conversar com o chapéu? - os dois alunos da Sonserina seguraram a risada...



Sirius lembrou-se de sua seleção, realmente, o chapéu conversara com ele, mas tinha certeza que ele não tinha pedido sua opinião. Até porque, se tivesse pedido, ele estaria na Corvinal, afinal seu time de quadribol preferido, o Yorkshire Fire, usava as cores azul e branco. Despertou do transe com Dumbledore entregando o chapéu a ele:



- Grifinória! - Helen agora trazia na face uma expressão desoladora.



- Por favor, tenta de novo! - ela pediu com os olhos quase em lágrimas.



Ele pensou com força na Corvinal; no azul e prata, nas meninas mais lindas de Hogwarts, que pareciam estar reunidas naquela casa. Então ouviu a voz do chapéu:



- Você sabe que pertence à Grifinória. Por que quer mudar?



- É, bem, eu não quero mudar. Mas, eu poderia?



- Se você desejasse muito, mas ainda não acho que estes sejam bom motivos para entrar na Corvinal. Quem sabe na Sonserina... Você tem algumas características dos alunos lá...



- Deus me livre! Pra ir pra lá prefiro largar a escola...



- Sr. Black, não há porque mudar, você se encaixa perfeitamente na Grifinória.



- Mas... - e Sirius olhou para Helen.



- Ah, por causa dela? Peça para ela mudar pra Grifinória... Ela pode.



- Quê? Por que ela pode mudar pra Grifinória e eu não posso ir pra Corvinal?



- Por que sim.



- Por que sim, não. Você vai ter que me explicar isso direi... - antes que terminasse a frase o chapéu gritou: "Grifinória!".



- Droga! - ele resmungou.



- Nossa, que demora, Black. Estava discutindo sua ida para a Lufa-lufa com o chapéu? - Snape desdenhou.



- Ah, cala a boca. - e lembrando-se que Dumbledore estava presente, ficou vermelho. Dumbledore era a única pessoa em toda Hogwarts que Sirius respeitava de verdade



- Helen. - Dumbledore encarou-a. Uma lágrima começava a rolar pelo canto do olho da menina. Ela não entendia porque eles não podiam... A primeira resposta do chapéu foi a esperada: "Sonserina!". Narcisa aparentava um certo desapontamento - queria mais que tudo no mundo que a rival não fosse uma sonserina de verdade - e Snape, tédio. Sirius olhava curioso, relembrando o diálogo com o chapéu. Helen tirou o chapéu e recolocou-o:



- Lufa-lufa! - ela olhou para Dumbledore, ofegante de entusiasmo. Os outros três olhavam incrédulos: "Coloque outra vez", disse o diretor.



- Corvinal! - a segurança voltara aos olhos de Helen, que agora não demonstravam qualquer vestígio de choro. Ele repetiu o movimento pela última vez:



- Grifinória!



- Isso é impossível! - Snape e Narcisa disseram ao mesmo tempo.



- Ela provou que não é. - Sirius respondeu e virou-se para a menina, que desviou o olhar. Ele percebeu que seria difícil reconquistar a confiança de Helen, mas ela mesma tinha lhe fornecido os argumentos de defesa e ele saberia fazer uso deles, mais tarde.



Dumbledore esperou todos se acalmarem e Silver lhe devolver o chapéu. Então chegou ao verdadeiro objetivo da conversa:



- O que eu queria mostrar a vocês é que não a motivo para duvidar da seleção de Helen.



- Como não, diretor, ela acabou de provar que poderia ir para qualquer casa...



- Não, Narcisa, ela acabou de provar, que ao contrário da maioria de vocês, ela tinha consciência exata da escolha que estava tomando. Ela é uma sonserina porque ela se sente uma sonserina. Você falou que seus colegas de casa seguem uma meta a todo custo, não foi Snape? Pois bem, acredito que a maior meta de Helen seja justamente provar que fez a escolha certa, e, ao meu ver, ela tem se saído muito bem nessa tarefa. Vocês dois podem ir. Preciso falar com Sirius e Helen em particular.



Narcisa murmurou um "Até que enfim!" que ninguém ouviu; Snape saiu descontente, que segredo era aquele que ele não podia ouvir? Quando os dois saíram Dumbledore continuou:



- Eu não pretendia fazer essa demonstração. Não me interessa espalhar a idéia de que se pode escolher a casa logo ao chegar, até por que, poucos conseguem fazer isso de verdade. Acredito que Sirius tentou convencer o chapéu, não foi?



Sirius balançou a cabeça afirmativamente:



- Mas ele disse que não havia modo, que eu era 100% Grifinória (ele nunca diria que o chapéu perguntara se ele gostaria de ir para a Sonserina...) - e lembrando-se do resto da conversa - mas ele também me disse que ela podia escolher. Por que você quis ir para a Sonserina?



Ela continuava sem encará-lo:



- Por que eu me sinto uma sonserina. Se você convivesse diariamente com um grifinório, uma corvinal, um lufa-lufa e uma trouxa e tivesse certeza de que você não queria ser igual a nenhum deles, o que você escolheria, Black? Eu sabia exatamente como era cada uma das casas antes de chegar a Hogwarts. Apenas a Sonserina era uma incógnita. E a idéia de desbravar aquele novo mundo que fascinou. Aliás, me fascina até hoje. E isso não me impede de manter relações com o pessoal das outras casas. Ser da Sonserina não significa ter que odiar as outras casas. O fato de o Cameron ser da Lufa- lufa ajudou um pouco, mas se fosse só ele, eu nunca teria falado com você, por exemplo. Afinal, você é da Grifinória.



- Eu queria pedir desculpas. Não quis te ofender, só que não consigo entender como alguém pode querer ser da Sonserina.



- É nisso que eu incomodo todo mundo, Black, não apenas o pessoal da Sonserina. Eles não entendem porque eu quero ser diferente deles, e vocês não entendem porque não quero ser igual a vocês. - agora ela o olhava nos olhos de Dumbledore. - Acho que já fiz minha parte, estou certa? - o diretor confirmou com a cabeça e a garota saiu.



- E por que ela tem que ser diferente de todo mundo? - o rapaz perguntou ao velho diretor.



- Cada um tem um objetivo na vida, Sr. Black. Ela está tentando descobrir o dela sem interferência de ninguém. Esse foi o meio que ela encontrou de fazer isso. Se não tiver mais nenhuma dúvida, você também pode ir.



Sirius tinha a cabeça cheia de dúvidas, mas não quis tomar mais tempo do diretor. Aquelas eram perguntas que seriam respondidas com o tempo e pela própria Helen. No momento a única coisa que queria saber é se tinha sido desculpado, mas ainda era muito cedo para isso.

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