Reality
Capítulo II – Reality
Londres, Inglaterra – 1827
Hermione abriu os olhos.
E a primeira imagem que viu naquela manhã foi a de um rato correndo entre as telhas do telhado de seu quarto. Ergueu uma de suas sobrancelhas e fechou os olhos na tentativa de fingir que realmente não tinha visto aquela cena. Não que tivesse medo de ratos, já estava acostumada a viver entre eles. Mas, o fato é que não era nada agradável começar uma manhã assim.
Virou-se de lado ainda deitada na cama e suspirou ao ver o seu quarto. Os poucos móveis que tinha, uma cômoda onde guardavam suas roupas surradas e a cama onde estava deitada e que era coberta de palha para ficar mais “agradável”, estavam velhos e sem cor, sem vida. O quarto era mal iluminado e sempre cheirava a mofo e ácaros. Olhou para o retrato de seus pais que ficava em cima da cômoda ao lado da escova de cabelo velha e do pedaço de vidro que usava como espelho. Se eles estivessem vivos, ah se eles estivessem vivos, nada disso estaria acontecendo. Nesse exato momento ela estaria em seu antigo quarto bastante iluminado e cheio de vida com sua antiga cama macia e quentinha.
Desde que seu pai morrera, sua madrasta passou a trata-la de forma cruel. Não que Bellatriz gostasse dela quando seu pai era vivo, mas pelo menos não era obrigada a morar no quartinho dos fundos e a cuidar dos serviços domésticos de casa. Bellatriz tomou para si todo o dinheiro e bens que seu pai havia lhe deixado e tinha dito que se Hermione quisesse continuar a morar naquela casa, ela deveria contribuir com os afazeres domésticos.
Hermione não ligava, quer dizer, ela até gostava de cozinhar e cuidar da casa, meninas na sua idade eram acostumadas a esses tipos de serviços. Mas a questão é que Bellatriz a “matava” de trabalhar. Por mais que fizesse, Bellatriz nunca estava satisfeita. Sempre faltava alguma coisa, sempre fazia algo de errado. Sem contar que um pouco mais de conforto seria bom, afinal, era seu dinheiro não era?
Resolveu começar os trabalhos daquele dia. Ficar pensando em como seria a sua vida caso seus pais estivessem vivos não iria mudar a realidade em que vivia. Sem contar que gostava de caminhar pelos campos ao amanhecer, mas para isso teria que voltar antes mesmo que Bellatriz desse por sua ausência. Não seria bom ouvir os gritos de sua madrasta logo cedo.
Trocou os pijamas pelas habituais roupas de trabalho, prendeu os longos cabelos pretos em um rabo de cavalo frouxo, fez sua higiene pessoal e saiu. Subiu as escadas e foi até o quarto de sua madrasta e abrindo a porta bem devagar, não escondeu sua alegria ao ver que Bellatriz ainda dormia. Passou pela cozinha e abriu a porta dos fundos para a liberdade. Esse era o único momento do dia em que Bellatriz não podia lhe dar ordens. Era o único momento em que podia fazer o que quisesse. Correu pelos campos verdes, colheu algumas flores para colocar em seu quarto e dar um pouco de vida aquele local mórbido. Depois de alguns minutos sentou na sombra de uma árvore grande, encostou a cabeça no tronco e fechou os olhos enquanto aspirava o perfume do bosque. Sorrindo, abriu os olhos e deu de cara com uma raposa a encarando.
- Oh Deus! – Murmurou amedrontada.
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Dois cavalos apostavam uma corrida.
Bom, dois garotos montados em cavalos apostavam uma corrida.
Um era loiro e de pele clara, com olhos cinzas e o outro era moreno, também de pele clara e de olhos verdes. Tinham vestes bonitas e caras e seus cavalos eram belos e suntuosos, mas, apesar da riqueza que transpareciam, não passavam de dois garotos brincalhões.
- Você não vai me vencer Potterzinho! – Exclamou o loiro rindo enquanto fazia seu cavalo correr mais. – O Apolo nunca perdeu uma corrida!
- Não se engane Malfoy! O meu Maurice não vai comer poeira do seu pangaré! Haha! – Disse o moreno. – Vamos Maurice! Vamos garoto!
- Tudo bem Potter, você que pediu! Apolo mostre o seu melhor! – O loiro e seu cavalo chamado Apolo saíram em disparada e só pararam quando chegaram perto de uma macieira.
Rindo, o loiro desceu de seu cavalo enquanto o moreno se aproximava de cara amarrada.
- Não acredito que perdemos outra vez para o príncipe Draco Malfoy I! – O moreno desceu de seu cavalo emburrado.
- Já disse que o Apolo é invencível! – Draco falou enquanto tirava cenouras de uma bolsa de couro que estava amarrada na cela de Apolo e o entregava. Maurice relinchou em desaprovação. – Tome uma seu cavalo feio! – Draco colocou uma cenoura na boca do cavalo e alisou sua crina.
- Maurice! Não jogue no lado inimigo! - Exclamou o moreno perplexo. – Esses cavalos de hoje em dia não são mais leais...
Draco riu gostosamente.
- Poupe-me de suas crises de ciúmes príncipe Harry.
- Cíumes? Eu? Até parece.
Draco pegou uma cenoura e jogou no amigo.
Levaram seus cavalos até um riacho que tinha ali perto e enquanto os mesmo bebiam da cristalina água, os dois garotos sentaram-se na grama.
- Acho melhor voltarmos Draco. A rainha deve está preocupada...
- Eu sei Harry, mas a verdade é que por mim eu não voltava nem tão cedo para aquele palácio.
- Como você pode dizer uma coisa dessas? O palácio é maravilhoso Draco! Temos tudo o que queremos e conforto. Eu realmente não entendo você.
- Não é disso que estou falando Harry. – Draco revirou os olhos. – O que estou querendo dizer é que assim que eu pisar no castelo, meus pais voltaram com aquela história de casamento...
Harry ergueu as sobrancelhas.
- Ahhh... Mas casar é uma ideia maravilhosa Draco! Já estamos na idade certa, afinal, temos 19 anos. É normal que nossos pais queiram que formemos uma família. Em breve assumiremos o trono real, mas para isso devemos estar casados. Eu particularmente acho uma boa ideia.
Draco deitou-se na grama com os braços cruzados atrás de sua cabeça.
- Eu sei disso e nada mais me agradaria do que ter uma boa mulher ao meu lado. Mas...
- Mas? – Perguntou Harry curioso.
- Bom, eu acho que um casamento só deve ocorrer quando tiver amor entre os nubentes, um amor verdadeiro Harry. O problema é que eu ainda não encontrei a garota que eu possa dizer que amo.
- E a filha do Duque Parkinson? Pansy?
- Hmmm... É só uma boa amiga, nada mais que isso e... – Draco parou de falar.
- Amiga? Pensei que...
- Silêncio Harry! – Exclamou Draco. – Você ouviu isso?
- Ouvi o que? – Harry Perguntou confuso. – Não estou ouvindo nada.
- Um pedido de... – Draco ficou em pé rapidamente - ...De socorro! Alguma donzela está em perigo! – Draco montou em seu cavalo e saiu em disparada.
- Draco! Onde você está indo? – Perguntou Harry, mas não obteve resposta do primo.
Draco cavalgou na direção dos gritos e encontrou uma garota sentada nos galhos de uma árvore enquanto uma raposa feia tentava ataca-la. Desceu de Apolo, desembainhou a espada e foi para perto da raposa.
- Chô raposa! Chô! – Falou com a espada apontada em direção ao animal.
- Não a machuque! – Exclamou Hermione de cima da árvore.
Draco não conseguiu entender a garota. Estava ali para ajuda-la e ela pedia para que ele não machucasse o animal que tentava ataca-la? Continuou a apontar a espada para a raposa, que com medo de ser ataca, fugiu. Guardou a espada em sua bainha e olhou pela primeira vez para a garota e ficou sem palavras. Era a garota mais bonita que já tinha visto em toda sua vida. Ela tinha os cabelos mais pretos que já tinha visto. A pele, de tão clara parecia à neve em uma noite de inverno, e os lábios, ah os lábios! Eram tão vermelhos que pareciam gotas de sangue. Ela era linda.
- Quer ajuda? Para descer? – Draco estendeu a mão, mas Hermione não aceitou. – Pode confiar, não irei lhe fazer mal.
Um pouco insegura, Hermione aceitou a mão de Draco e ele a ajudou a descer da árvore. Assim que colocou os pés no chão, Hermione se afastou dele. Não era certo uma moça como ela ficar a sós com um garoto, ainda mais um garoto desconhecido.
- Calma, eu não vou lhe fazer mal. – Draco falou enquanto observava a garota lhe lançar olhares de medo e reprovação.
- Desculpe, eu lhe agradeço pela ajuda, mas não é certo uma garota ficar a sós com um garoto então, fique longe! – Hermione falou se escondendo atrás da árvore em que segundos antes estava sentada em seus galhos.
Draco riu.
- Você está certa, posso pelo menos saber o nome da garota que salvei?
Hermione suspirou. Tinha mesmo que está vestida com suas piores roupas? Olhou de relance para o garoto de cabelos loiros e o viu sorrir. Voltou a esconder-se atrás da árvore. Ele era lindo. Seus olhos cinzas eram os mais lindos que Hermione já tinha visto. Passou as mãos nos cabelos, tentando arruma-los e depois ajeitou suas vestes. Olhou de relance para o garoto mais uma vez, mas este tinha sumido. Onde ele tinha ido parar? Sentiu alguém tocando em seus ombros e quando olhou para trás, deu de cara com Draco.
- Ah! – Exclamou assustada e se afastou.
- Calma, eu não queria assusta-la! – Draco disse nervoso quando percebeu que a garota o olhava com medo e recolhia umas flores caídas no chão. – Não vá... Diga-me pelo menos seu nome... Por favor.
Hermione olhou mais uma vez para Draco.
- Hermione, esse é o meu nome. – Disse antes de correr de volta para casa.
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Hermione entrou correndo em casa e fechou a porta dos fundos. Parou para respirar e acalmar o coração. Sorrindo, pegou um jarro, encheu de água e colocou as flores dentro. Enquanto separava as flores, pensou nos olhos cinzas do garoto desconhecido. Ele era lindo, o mais bonito garoto que Hermione já tinha visto em sua vida!
- Posso saber onde você estava? - Levou um susto ao ver Bellatriz aparecer na cozinha. Suas vestes pretas fizeram a cozinha adquirir um ar triste e pesado. Hermione sentiu medo ao ver o ódio estampado no rosto pálido de sua madrasta. – Faz horas que acordei e espero meu café da manhã chegar até meu quarto. Por que você não o levou? Você não o preparou? O que você esteve fazendo menina tola?!
- Senhora, eu...
- Não quero saber de suas desculpas mentirosas! – Bellatriz olhou para o jarro que Hermione tinha nas mãos. – Então foi por isso que você não preparou o meu café? – Ela foi até Hermione e tomou o jarro de suas mãos, jogou-o no chão e pisou nas flores da garota.
- Senhora, não! Por favor! Não! – Pediu Hermione com lágrimas nos olhos.
- Dá próxima vez que você atrasar o meu café, será o seu rosto no lugar dessas malditas flores. – Bellatriz falou com desprezo. Saiu da cozinha ignorando os soluços de Hermione. Já estava farta dessa garota desrespeitosa e mal agradecida. Tinha dedicado sua vida a cuidar dela nesses últimos oito anos e era assim que ela retribuía? Deixando-a com fome?
Subiu as escadas até o segundo andar e foi em direção à porta que abria todos os dias. Com a varinha em mãos, sussurrou um feitiço e a porta foi aberta. Ao entrar, seguiu os mesmos movimentos que fazia dia após dia em todos os anos que morava naquela casa. Tirou o lençol branco que cobria o seu velho e grande espelho, murmurou um feitiço e com isso, uma mancha preta surgiu e em segundos ficou do formato de um rosto e fez a pergunta que tinha decorada em sua mente.
- Espelho, espelho meu, quem é a mais bela de todas?
A boca do rosto abriu-se e a voz grave que já estava acostumada disse:
- Você é bela, senhora, isso é verdade, mas Hermione Black possui beleza maior.
Os olhos negros de Bellatriz se abriram o quanto podiam se abrir e seu rosto pálido ficou rígido e imóvel, com uma expressão de ódio e maldade.
Comentários (2)
muitooo bom,que pena da Hermione,coitadinha........quero mais pleaseeeeee
2012-05-06oh, god why? Tinha q ser maior! Ótimo capítulo! Pelo jeito vc não demora a postar! Quero só ver quando Draco e Hermione vão se ver de novo *-* Bjo
2012-05-03