O Começo de Uma Amizade



Capítulo 2 – O Começo De Uma Amizade


 


Nós o conhecemos na estação King Cross e o coitado estava tão perdido que, quem quer que o visse nunca desconfiaria que se tratava do Grande Harry Potter, o Menino-Que-Sobreviveu ou qualquer outro dos nomes com letra maiúscula que ele tenha recebido posteriormente.


Para ser sincero, ele era bem patético. Não que um garoto alto, desengonçado, ruivo e com uma mancha no nariz pudesse falar muita coisa, mas que aquele garoto era estranho, ele era.


Os cabelos eram pretos e bagunçados, óculos remendados, roupas grandes demais, ele era baixo e magro. Muito magro. A única coisa legal que ele tinha era aquela coruja branca – que era bem mais legal que o meu rato fedido.


Como se tivesse ouvido meus pensamentos, Perebas se agitou no bolso interno do meu casaco. Senti-me imediatamente culpado. Perebas era chato, é verdade, e inútil, e velho... mas era um bom animal de estimação.


Eu sentia um tipo deturpado de afeição por aquele roedor imprestável.     


Quando o garotinho se aproximou, timidamente, minha mãe logo presumiu que era o primeiro ano dele, e informou-o como fazer para passar do trem. Pediu, então, que ele fosse antes de mim.


Mamãe, Gina e eu o observamos avançar rapidamente em direção à plataforma.


- Pobre garoto, me pergunto que tipo de pais deixariam um garotinho sozinho num dia tão importante quanto esse! - ela suspirou, passando distraidamente a mão pelos cabelos de Gina.


- Vai ver eles estão trabalhando - comentei, enquanto empurrava o carrinho, - Como papai - acrescentei.


- Bem, presumo que sim - mamãe me acompanhava, puxando Gina pela mão, - Mesmo assim, é uma pena... Por que não se senta com ele? Vocês podem ser amigos - sugeriu, enquanto eu lançava um olhar de esguelha para o garoto que parecia encantado com tudo à sua volta, como se nunca tivesse visto um trem e tantas pessoas antes.


- Eu estava pensando em me sentar com os gêmeos, e... - nesse instante, um Fred animadíssimo me interrompeu.


- O Lino trouxe uma tarântula gigante, mãe! É o máximo, você devia ver! - ofegou, os olhos brilhando de animação, enquanto me corpo se encolhia instintivamente.


E lá se vão meus planos.


Odeio aranhas.


- É, mãe! Uma das pernas dela é do tamanho do meu braço! - Jorge vibrou, os olhos tão brilhantes quanto os de Fred, - Podemos ter uma tarântula gigante, mãe? Por favor? - suplicou.


“Só se for por cima do meu cadáver”, pensei, enquanto lançava um olhar incrédulo para os meus irmãos, que não passou despercebido.


- Ah, é, esquecemos que o Roniquino tem medo de aranhas - Fred apertou minha bochecha com força que dei-lhe um soco no antebraço, para que ele me soltasse.


- Pare de encher seu irmão, Fred - mamãe lançou-lhe um olhar severo.


- Mamãe, posso ir ver a tarântula gigante? - os olhos castanhos de Gina brilharam, suplicantes - Por favo-o-or?


- Não - mamãe balançou a cabeça, lançando um olhar de ‘estão satisfeitos agora?’ para meus irmãos - Eu te conheço, vai aproveitar que Lino está bem do lado da entrada do vagão e vai pular lá para dentro, assim como fez ano passado!


Gina cruzou os braços.


- Eu só quero ver a aranha – sibilou, teimosa.


- Te conheço melhor do que isso, Ginevra - mamãe rebateu, em tom definitivo, segurando a mão de Gina com força - Você não sai do meu lado hoje.


Ouvi Gina murmurar algo baixinho e tenho certeza de que a nossa mãe não gostaria nem um pouco de ouvir o que ela falou – mas acho que é uma das conseqüências inevitáveis de se viver com seis irmãos mais velhos.


Fred e Jorge disseram alguma coisa sobre entrar no trem para procurar pelo pessoal ‘do time’, deixando nós três sozinhos.


- Mamãe, eu não posso mesmo ir? - Gina insistiu.


Revirei os olhos.


- Gina, você ainda não tem onze anos - respondi.


- Mas vou ter logo - ela respondeu, num tom desafiador - Além do mais, que diferença faz? Eu já sou mais forte que você.


- Gina, não vamos começar essa discussão de novo, está bem? - mamãe revirou os olhos, enquanto se voltava para mim, - Agora, Ronald, escute com bastante atenção o que eu vou dizer... – interrompeu-se, analisando-me com uma cara estranha, então tirou um lenço da bolsa, levou-o aos lábios umedecendo-o com... ah, meu Merlim, que nojo, o que ela ia fazer com aquilo? - Rony, você está com uma coisa no nariz.


Ah, não.


Tentei subir no trem, mas ela me puxou pelo cotovelo e esfregou aquele lenço no meu rosto e...


- Mamãe, sai para lá! - resmunguei, conseguindo me soltar bem quando os gêmeos desciam do trem. Meu nariz estava dolorido, então eu sabia que provavelmente tinha um vermelhão nele. Lógico, os gêmeos não deixariam esse momento passar batido.


Então, Percy apareceu e os gêmeos começaram a zombar dele. Não que Percy fosse chato – bem, ele era, mas a questão não era essa -, mas ele tinha a irritante mania de esfregar na nossa cara o quão inteligente ele era, enquanto nós... bem... somos inteligentes, suponho... Só que não tanto.


Percy ficou o verão todo falando sobre como tinha se tornado um monitor. Na verdade, ele dava um jeito de inserir o assunto em qualquer conversa. Se Fred e eu estávamos falando sobre Quadriboll, ele dava um jeito de enfiar – de alguma forma – um ‘por falar nisso, vocês sabem, é lógico, que recebi uma carta...’.


Quando Percy mandou que eles se calassem, mamãe começou o seu discurso para os gêmeos, pedindo que eles não explodissem o banheiro – ano passado ela pediu para que eles não ateassem fogo às cortinas (o que eles fizeram duas vezes) e o anterior a esse, pediu para que eles ‘por tudo que é mais sagrado’ não se metessem em encrenca (o que eles fizeram muito mais do que duas vezes).


E então, eles finalmente chegaram ao ponto. Contaram que tinham encontrado com Harry Potter. Pior, ele era o garoto patético que eu estava perdido na estação.


- Ah, mamãe, posso subir no trem para ver ele, mamãe, ah, por favor... - Gina começou a pular de um pé para o outro.


Mamãe lançou um olhar de ‘boa tentativa’ para minha irmã caçula e disse algo sobre ela já tê-lo visto e o – óbvio – fato de que ele era um garoto, e não um animal do zoológico. Depois, perguntou como eles sabiam se era ele mesmo.


Fred disse que tinha visto a cicatriz e tudo o mais; fiquei repentinamente animado. Quero dizer, é óbvio que eu sabia quem era Harry Potter – era a nossa história favorita, a minha e a de Gina, costumávamos pedir para papai contá-la todas as noites -, mas o fato de que ele estava em algum lugar não muito longe da gente era muito legal.


Vendo que a hora das despedidas se aproximava, Gina começou a fungar – eu nunca sei se ela está chorando de verdade ou se é só fingimento, ela é boa de verdade para essas coisas -, Jorge prometeu que escreveriam para ela, enquanto beijavam sua bochecha.


E Fred prometeu uma privada, o que deixou minha mãe lívida.


Parei na frente de Gina e sorri.


- Você volta para o Natal, certo? - ela sussurrou, me dando um abraço.


- Volto - prometi.


Ela sorriu, as lágrimas descendo pelas bochechas, e eu sorri de volta, sem graça. Entrei no trem, seguido pelos gêmeos, acenamos uma última vez, enquanto observávamos Gina correr, acompanhando o trem e seguimos pelo corredor.


Fred e Jorge passaram por mim, mas duvido que fossem me chamar para dividir um compartimento com eles. Mesmo que me chamassem, eu não ia me sentar a menos de um metro de uma aranha nem que fosse pago para isso.


Aliás, nem mesmo sei o que tem de tão fascinante em uma coisa peluda, nojenta e cheia de pernas. Sem falar naqueles olhos. Quinhentos milhões de olhos, olhando para você, querendo seu sangue... Apesar de nunca ter conhecido nenhuma aranha carnívora.


Mas deve ter.


Abri a porta de um compartimento e fiquei surpreso ao constatar que Harry Potter voltava-se para mim, sobressaltado.


- Tem alguém sentado aqui? - perguntei, apontando para o assento vago à sua frente - O resto do trem está cheio - o que não era necessariamente verdade, mas me pouparia do trabalho de ter que abrir porta a porta e tentar ser simpático com pessoas que eu não conhecia.


Ou pior, ter que implorar para Fred e Jorge que me aceitassem em seu compartimento e ficar por horas sentado a um raio de um metro de distância de uma tarântula.


Ou pior ainda... ter que ficar com Percy.


Então, suponho que vocês podem imaginar o meu alívio quando o garoto sacudiu as cabeças, indicando que ninguém estava usando-o. Rapidamente chutei meu malão para dentro da cabine e sentei-me.


E então o observei.


Para o Grande Harry Potter, ele era bem pequeno. E magro. E não parecia nem um pouco poderoso. Quero dizer, que bruxo tão poderoso ficaria com os óculos remendados? Existe magia para arrumar isso, não existe?


E então, ele voltou os olhos verdes na minha direção, e desviei os meus rapidamente, lembrando-me do que mamãe tinha me dito. Mas era muito difícil, quero dizer, era o Harry Potter... e ele estava sentado bem na minha frente.


Eu estava curioso, caracas.


Mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, a porta do compartimento se abriu e os gêmeos surgiram, informando que iam ficar com o Lino. Aproveitaram para se apresentar – e me apresentar, também. Depois disso, saíram.


- Você é Harry Potter mesmo? - perguntei, antes que conseguisse me segurar. Ao que ele aquiesceu, prossegui - Ah, bom, pensei que fosse uma brincadeira do Fred e do Jorge. E você tem mesmo... sabe... - e, sem saber como me expressar, apontei para a testa dele.


Relutante, ele afastou a franja para me mostrar a cicatriz no formato de raio. Engoli em seco, era ele mesmo.


- Então, foi aí que Você-Sabe-Quem...? - comecei.


- Foi, mas não me lembro - Harry me interrompeu, parecendo incomodado com o assunto.


- De nada? - insisti, porque era fascinante demais.


- Bom, lembro de uma luz verde, mas nada mais... - ele encolheu os ombros.


- Uau - soltei, porque imaginei como devia ser... ser um dos maiores bruxos do seu século, fazer um feito tão... gigantesco... e não lembrar de nada. Percebi, então, que continuava o observando como se ele fosse... bem, um animal no zoológico... e rapidamente desviei os olhos para a janela.


Ficamos alguns segundos em silêncio.


- Todos na sua família são bruxos? - Harry perguntou, parecendo interessado no assunto, então lhe respondi. Comentei que, sim, a maioria era, embora eu não tivesse muita certeza em relação a um primo de segundo grau da mamãe.


- Ouvi dizer que você foi viver com os trouxas. Como é que eles são? - perguntei. E Harry respondeu.


E foi assim que nos tornamos amigos.


 


Continua...

N/A: Pronto, aqui estão os dois primeiros capítulos! Espero que estejam gostando da fanfic! 
Se sim, não esqueçam de comentar e indicar, para me fazer uma autora feliz, que tal? ;)
Com carinho,

Gii Zwicker. 

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