Preparação Psicológica
- É mentira! - teimei, tentando esconder meu rosto com o cobertor, mas Fred não deixou, puxando-o para baixo e me revelando do meu esconderijo.
- Rony, alguma vez nós já enganamos você? - Jorge, com treze anos e uma expressão diabólica, fez sua melhor careta ofendida - Só queremos o seu melhor.
- Imagine a nossa surpresa quando tivemos que lutar com um trasgo para poder entrar na Grifinória - Fred acrescentou, sentando-se na beirada da minha cama.
Sentei-me na cama, de braços cruzados, olhando feio para os dois.
- Não é verdade – teimei - Ninguém consegue lutar com trasgos com onze anos. Muito menos vocês dois.
- Oh! - Fred levou a mão ao peito, e deixou o lábio inferior tremer - Ronald Weasley, assim você magoa nossos sentimentos.
- Assim não vamos te dar dicas de como vencer os trasgos - Jorge ocupou o outro lado da cama, enquanto embaralhava, distraidamente, as minhas figurinhas dos sapos de chocolate.
- A mamãe mandou vocês pararem de me encher o saco - sibilei, não querendo deixar na cara que eu estava com medo de que o que eles estavam falando fosse verdade - E eu sei que é mentira!
"Tudo bem", Fred ergueu as duas mãos para o alto, como quem se rende, "Tuuuudo bem. Nós vamos para o nosso quarto. Mas não diga que a gente não avisou", acrescentou, pesaroso.
Os dois pularam da beirada da minha cama para o chão, e começaram a caminhar. Sem conseguir me controlar, pigarreei, chamando a atenção deles de volta para mim.
- Digamos que seja verdade - concedi, fazendo uma careta - O que acontece se eu não vencer o trasgo?
Fred e Jorge se entreolharam.
- Você cai na Sonserina - disseram, juntos.
Estremeci, enquanto observava os dois saírem, rindo baixinho, e fecharem a porta às suas costas. Soltei um gemido esganiçado e me escondi embaixo dos cobertores.
E se eu não conseguisse vencer o trasgo? E caísse na Sonserina?
Alguém bateu de leve na porta e entrou.
- Rony, querido? Como você está? - era a mamãe.
- Bem - resmunguei, abaixando o cobertor, enquanto a observava se sentar no canto da minha cama - Mas acho que não vou conseguir dormir.
- Animado para amanhã, é? - ela sorriu e apertou minha bochecha, com afeição, "Você vai se sair bem. E não se esqueça: não importa em que casa você cair, nós ainda o amaremos".
- Nós não! - os berros de Fred e Jorge vieram do outro lado da porta.
Lancei um olhar carrancudo em direção à porta.
- Fred. Jorge. Cama. Agora! - mamãe berrou, e ouvi os passos apressados dos meus irmãos - Não ligue para eles, Rony. Só querem se divertir às suas custas. Você conhece seus irmãos", começou a alisar meu cabelo; soltei um grunhido em resposta, "Você vai se dar muito bem, você vai ver...
- Mas e se eu não conseguir derrotar o trasgo? - perguntei, num fio de voz, desesperado.
- Derrotar quem? - ela piscou os olhos, aturdida.
- Ninguém - murmurei, aliviado.
Então, era mentira.
Quero dizer, eu sabia, mas era bom ter alguém para confirmar, e mesmo que minha mãe tenha ido pra Hogwarts há muito tempo atrás, as coisas não deveriam ter mudado, pelo menos não esse tanto.
Eu acho.
Eu espero.
- Tente dormir, está bem? - mamãe voltou a ajeitar meu cabelo - Amanhã acordaremos cedo para ir à estação.
- Está bem – suspirei - Boa noite.
E não reclamei quando minha mãe me deu um beijo na testa. Na verdade, eu até senti um aperto estranho no peito, porque sabia que não receberia outro beijo daqueles por um bom tempo.
Mamãe saiu e o quarto ficou em silêncio.
Por alguns minutos.
- Rony? - Gina entreabriu a porta e enfiou a cabeça no vão, sorriu quando viu que eu estava acordado e entrou, os cabelos bagunçados como se ela estivesse correndo... ou voando - Que bom, você está acordado.
- Eu estou com uma sensação estranha na barriga - segredei, enquanto ela se sentava na minha cama, ao lado dos meus pés - Acho que não vou conseguir dormir.
Nós dois ficamos em silêncio, nos encarando.
- Você vai mesmo para Hogwarts? - perguntou, finalmente.
- Ah, Gina, sem drama - revirei-me, incomodado, na cama. Odiava ver meninas com os olhos brilhando, cheios de lágrimas. Fazia com que eu me sentisse um verdadeiro inútil e entrasse em pânico - Você vai para lá o ano que vem... E vai ter o papai e a mamãe só para você por um ano todo!
- Mas não vai ter ninguém para brincar comigo - ela fungou.
Sentei-me na cama, com um suspiro, e fitei-a.
- Eu vou voltar para o Natal, está bem? - prometi, e vi quando ela balançou a cabeça, como quem diz 'mesmo assim, não vai ser a mesma coisa' - E prometo que vou te humilhar no xadrez.
Isso fez com que ela desse um sorrisinho desdenhoso. Eu nunca conseguirei entender porque as pessoas não levam xadrez de bruxo a sério, é um jogo fascinante.
- Está certo - disse, por fim - E você vai escrever cartas para mim? - perguntou, voltando os olhos para mim, enquanto passava a mão pelos cabelos, tentando arrumá-los.
- Detesto escrever e você sabe disso - fiz uma careta - Onde é que você esteve?
Gina arregalou os olhos e tirou as mãos dos cabelos.
- Eu estava... eu... vou dormir - sorriu, pulando da cama - Durma bem - estava saindo do quarto, quando voltou, com um sorrisinho maroto - Ah, me esqueci, boa sorte com o trasgo.
Soltei um gemidinho e me escondi embaixo das cobertas. De novo.
E só saí de lá debaixo na manhã seguinte, sentindo meu estômago se revirar de ansiedade, afinal, tudo mudaria.
Eu só não sabia o quanto.
N/A: Olá, queridos fãs Pottermaníacos!
Infelizmente, abandonei a maioria dos meus projetos, por falta de tempo e, até mesmo, de perspectiva. Mas esse projeto em especial, de contar toda a série do ponto de vista do meu personagem favorito, o Rony, sempre me foi visto com muito carinho e afeição.
Por isso, resolvi voltar a desenvolvê-lo.
Espero que o fato da fanfic não ser fixa não afaste os leitores e que vocês se divirtam tanto lendo-a como eu me diverti ao escrevê-la.
Não esqueçam de comentar!
Com muito carinho,
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