Orgoch
A casa vista de dentro era tão estranha e bizarra quanto vista de fora. Móveis rústicos de madeira muito semelhantes aos da cabana de Hagrid, a luz fraca tornava difícil distinguir se havia alguém ali, Sophia ergueu a varinha e várias velas se acenderam, iluminando uma cozinha bagunçada e mal cheirosa, candelabros feitos de ossos, pratos sujos e canecas de barro e um tapete mais do que horrendo no chão.
- Olá! – Sophia gritou.
- Calma, calma minha pequena já estou indo – Harry ouviu uma voz rouca resmungar, e quando uma porta lateral se abriu, sua surpresa foi ainda maior.
Entrou mancando uma velhota baixinha de cabelos grisalhos, o rosto coberto de cicatrizes e grandes olhos azuis faiscantes, que vestia uma suja túnica cinza adornada por um cordão onde pendia uma pequena pedra da mesma cor de seus olhos.
- Ohhh – se assustou quando viu Harry – não vai me dizer que teremos mais uma criança não é – olhou para Sophia inquisitiva.
- Não, este é Harry Potter, um amigo – disse Sophia corando.
- Eu sei muito bem quem ele é – resmungou – ou você acha que a velha Orgoch perdeu o jeito – terminou com um sorriso rasgado em sua boca torta, mostrando dentes amarelos e desalinhados.
- Onde estão os outros? – perguntou ela apressadamente.
- Orddu e Orwen foram tratar de alguns assuntos e seu filho está dormindo agora, teremos que esperar – Foi até um armário e tirou três xícaras de barro – aceitam um chá?
- Não obrigada.
- Pra mim também não – Disse Harry, sentia-se como um peixe fora da água ali.
- Tubo bem então – guardou novamente as xícaras – Sentem-se – Assim os dois fizeram – O que os trás até aqui?
- Harry disse que sonhou com Voldemort matando Gustave, quis saber se tudo estava bem – disse Sophia secamente.
- Mas que feio menino Potter – disse Orgoch depois de penetrar os olhos de Harry parecendo ler seus pensamentos – mentir para a minha menina desse jeito!
Sophia o encarou com puro escárnio, levantou-se num salto e pegou-o pela gravata, os olhos faiscando.
- Você mentiu para mim, Potter! – gritou.
- Você não entende....me desculpe, mas....mas era o único...- Sophia abriu a boca para interrompe-lo, mas foi calada por Orgoch.
- Não o julgue Sophia, ele queria apenas ver o seu filho – disse ela com um sorriso impróprio para a situação.
Inesperadamente, Sophia calou-se e voltou a se sentar, não cruzou seus olhos com os de Harry por vários minutos.
- Você contou a ele sobre o frasco não contou? – perguntou Orgoch
- Não.
- Acho melhor mesmo, já basta ter que aturar Dumbledore, se mais alguém viesse aqui atrás do frasco juro que arrancaria suas entranhas e as comeria no café da manhã – riu ao notar os olhos arregalados de Harry voltados para ela – Foi apenas modo de dizer.
- Ah...que...que frasco? – gaguejou harry, sua curiosidade havia sido despertada
Sophia levantou de súbito derrubando a cadeira e andou a passos duros até a porta pela qual Orgoch havia entrado e a bateu com força. Orgoch o encarou novamente, e lançou-lhe outro sorriso.
- Não ligue pra isso, sei o quanto você a ama, ela está apenas com raiva pelas coisas que você sabe sobre ela, é realmente uma pessoa difícil de lidar, mas voltando ao que você me pediu, não vejo problema em dizer já que só, bom...não terão muito tempo juntos no futuro...
- O que...Isso é verdade? Como a senhora sabe...? – a interrompeu confuso.
- Apenas sei minha criança – pigarreou e tomou um fôlego exagerado antes de falar – Como você já deve saber, Sophia engravidou no ano passado e fugiu para a floresta, não sei como, mas de alguma forma ela andou todos os 50km de floresta que separam esta casa de Hogwarts e por sorte eu a encontrei, estava quase morta. Eu e minhas irmãs cuidamos dela sob os olhos entrometidos daquele velho chato, o Dumbledore, que não nos deixava em paz. Conforme os meses foram passando e a barriga de Sophia crescendo nos demos conta de que nem ela nem o bebê poderiam sobreviver ao parto, então – fez uma pequena pausa, Harry se concentrava de tal forma na velha que nem se quer piscava – para que os dois vivessem, eu já estava envolvida demais para simplesmente deixa-los morrer, fiz um feitiço. Algumas gotas do sangue dela misturadas a uma poção cuidaram do recado mais do que esperávamos, o efeito colateral foi além das nossas expectativas, mesmo sofrendo todos os dias ela sobreviveu.
- E....
- Bom, você não esperava que eu fizesse isso sem pedir nada em troca, como disse a profecia, Sophia deu sua vida a mim, não da forma como você está pensando, ela aceitou trocar o direito de viver com o filho pelo poder de mantê-los vivos, mesmo que separados. Uma troca muito boa para mim, esse lugar é muito triste sabe, os risos felizes de uma criança alegraram um pouco as coisas.
- Mas que poder...que poder é esse?
- Ela nunca lhe mostrou? Não acredito, tantas coisas extraordinárias que ela consegue fazer e não mostrou ao namorado! De qualquer forma, a deixo vir aqui às vezes para ver o garoto.
Harry estava boquiaberto, não sabia o que dizer, não sabia o que pensar, nada daquilo parecida fazer sentido, só conseguiu sussurrar uma ultima pergunta?
- E o que tem no frasco?
- Bom, o anti-feitiço, é extremamente perigoso, se Sophia o tomar, ela perderá o que lhe dei e ela e o bebê morrerão.
- Então é disse que Voldemort está atrás? – arriscou perguntar.
- Claro que não...aquele bobo jamais saberá, ele e Dumbledore acham que matando Sophia, matarão o bebê...mas não podem – começou a gargalhar – ela é imortal.
- Imortal?
- Sim a vida dela e a da criança estão interligadas, a única coisa que pode mata-los é o anti-feitiço – disse entre risos, mas Harry não via graça nenhuma naquilo.
- Já está na hora Potter, vamos – Sophia reapareceu na cozinha e o puxou para fora com tanta força que ele só conseguiu desvencilha-se das mãos dela quando já se encontravam no córrego na Floresta Proibida.
Já fora da casa, quando Harry olhou para trás ela já haviam sumido e a ultima coisa que se lembrava de escutar era a gargalhada de deboche de Orgoch. Não se atreveu a falar com Sophia durante o caminho de volta, ela apenas andava a uma distancia considerável dele e mantinha seu olhar neutro, congelado.
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