Detenção de Sean
Detenção de Sean
Lily POV:
A semana foi passando depressa, e nunca fiquei tão ocupada no castelo em todo meu período letivo. Trabalhos, redações, funções de monitoria, e agora, coral. As aulas de quarta e sexta foram tão agradáveis quanto a primeira. Não fizemos mais números, Moreau apenas ficou aquecendo nossa voz, nos mandava cantar um verso de uma música, e essas coisas. A aula de sexta foi a mais desconfortável, pois ele frisou bastante a dança. John, é claro, foi o melhor, e percebi que Franco não era tão mal quanto na hora de cantar. Emelina também parecia dançar bem, e eu me esforçava o máximo.
Os dias correram tão depressa, com tantas ocupações na cabeça, que nem percebi o fim de semana próximo. Para meu azar, tive que fazer a ronda de sexta à noite no lugar de Remo – ele parecia ter adoecido, e pra meu pesar percebi que os últimos dias eram noites de lua cheia. Sabe, eu não me importo muito, mas já estava cansada na monitoria. Com mais um desgosto, recebi a notícia que tinha que supervisionar a detenção de James, e tive que sair a procura de outro monitor para cobrir a detenção de Sirius, já que Remo não estava em condições.
E então lá estava eu, sexta a noite, na sala de troféus observando James limpar cada peça, os vidros e o chão. Ele parecia já acostumado com aquilo, pois limpava tudo com precisão.
- Faz tempo que não te vejo, Lily. – ele comentou com um sorriso torto. – Às vezes penso que está fugindo de mim.
- Ando muito ocupada. – eu ri. – Tarefas de monitoria, coral, redações... Andam me enchendo a cabeça.
- E como está indo lá? – ele perguntou, torcendo o pano no balde. – Aluado não fala muito.
- Bem divertido. – falei com entusiasmo. – É algo diferente sabe? Acho que é por isso que estou gostando.
- Quem diria. – ele riu. – Outro dia estava aos prantos por ter se inscrito.
- É claro, eu pensava que era a pior coisa do mundo, que todo mundo ia rir da minha cara. – dei de ombros. – Quero dizer, ainda comentam uma vez ou outra, mas aprendi a lidar com isso.
- Fico satisfeito com isso. – ele deu aquele sorriso "oi, tenho 30 dentes", e ficou de pé. – Já terminei de limpar, estou dispensado?
- Sim. – sorri para ele, e ele sorriu de volta mais uma vez.
Depois de trancar a sala de troféus devidamente, começamos a caminhar juntos pelo corredor, ele falando das passagens secretas que conhecia pelo castelo. Fiquei me perguntando como ele sabia de tudo isso, até me lembrar que ele é um maroto e que vivia perambulando pela escola a noite. E é isso que provavelmente ele faria hoje (em questão de Remo) quando nos despedimos na entrada do buraco do retrato.
- Aonde você vai? – perguntei.
- Er... procurar Sirius. – era tão divertido saber quando as pessoas estavam mentindo.
- Certo, mas não volte tarde. – pedi, mordendo o lábio. – Sabe como é, sou uma monitora. Se alguém ficar sabendo que permito você de ficar acordado e andando por aí muito tarde...
- Fica tranquila, Lily. – ele disse com um ar convencido. – Nunca ninguém me pegou.
- O que explica então a detenção de hoje? – cruzei os braços com veemência.
- Aquilo foi culpa de Almofadinhas. – mais uma vez aqueles apelidos estranhos. Se não fosse Remo para me explicar...
- Aham. – falei irônica, e ele riu.
- Então até mais. – ele disse, curvando-se para mim. Quando eu estava me preparando para o que vinha a seguir, fiquei surpresa quando ele apenas deu um leve beijo em meu rosto.
Corei.
- Até. – falei sem graça. Ele piscou e vi sua figura sumir rapidamente entra a pouca luz dos candeeiros.
Não sei por que, mas fiquei bem abalada. Deve ser o fato de que eu estava muito cansada, e nesse fim de semana eu tinha que parar e descansar um pouco.
É, era isso.
David POV:
Eu estava na sala dos professores, lendo algumas redações dos alunos do segundo ano, quando me deparo com alguém me observando. Ergo os olhos, e suspiro. Lá vem Stanley com um olhar de desdém.
- O que você quer? – perguntei aborrecido.
- Vejo que você não passou o gel como mandado, tsc tsc. – ela fez um muxoxo. – Você realmente deveria me ouvir.
- E você realmente deveria me deixar em paz. – respondi seco, sem erguer os olhos dos trabalhos.
- Então Moreau – ela se sentou na cadeira ao meu lado, pra minha infelicidade –, já achou mais dois membros para seu coral de perdedores?
- Veremos quem serão os perdedores. – falei, e ela soltou uma risada sarcástica.
- Pelo que eu soube do seu... coralzinho – ela frisou a palavra, e fiz força para não me descontrolar -, eles estão bem despreparados. E incompletos. Acho que você vai acabar por não participar pela falta de pessoas dispostas a cantar.
- Escute, por que faz isso? – lancei-lhe um olhar irritado. – Você está tratando isso como um jogo de vida ou morte, não sei. Tenho plena consciência que está fazendo isso porque quer me intimidar, mas saiba que não está conseguindo. E saiba também que você é uma péssima competidora.
- Meu sangue é banhado de vitória. – ela falou balançando seus cabelos loiros, exalando um enjoado perfume de shampoo. – Pode ser a mais mísera e insignificante competição, mas eu tenho que ganhar.
- Pois vá se desacostumando. – falei com o melhor sorriso irônico que pude fazer, e recolhi minhas coisas. Pelo visto ali eu não conseguiria ficar em paz.
- Ei, Moreau. – ela me chamou antes que eu saísse da sala. Me virei. – Odiei aquela sala, inclusive a decoração. Por isso pedi para que Dumbledore providenciasse outra para mim.
- Ótimo. – sorri do mesmo jeito que ela sorria ao dizer aquilo: ironicamente.
Dorcas POV:
- Pare de atormentar Jason! Você não percebeu que ele não está nem aí pra você? – Sophie xingava.
- Você é que pensa, minha amiga. – falei com uma risada. – Ele ainda não tem ideia do quanto está apaixonado por mim.
Sophie bufou.
- Ele é muito mais novo que você!
- Um ano no máximo. – cortei, bebericando naturalmente meu suco de abóbora.
- Um ano é muito! – ela ficou vermelha.
- Pare com isso. Deixe seu irmão ser livre. – resmunguei.
- Ele é livre. Mas não pra você. – Sophie suspirou mais uma vez. – Ele não está interessado em você.
Estreitei os olhos para ela, irritada, então me levantei.
- É o que veremos. – dei uma risada desafiadora, e então caminhei entre a mesa da Grifinória, procurando pelo dito cujo.
Pra minha sorte ele estava sozinho, lendo um livro de Poções qualquer. Sentei ao seu lado.
- Oi, Jason. – sorri o mais meiga possível, e ele também sorriu.
- Olá, Dorcas. Tudo bom?
- Tudo ótimo! E você? – mais uma vez sorri.
- Também. – ele falou enchendo a boca de cereal.
- Então, eu estava pensando se você não quer ir a Hogsmeade comigo no próximo passeio que vai ter. – falei depressa. Enrolação não é comigo, como eu e Maria sempre dissemos.
Ele se engasgou, e dei leves tapas em suas costas. Várias tossidas depois, ele recuperou o fôlego.
- Desculpe? – francamente, ele é surdo?
- Próximo passeio a Hogsmeade. Comigo. – repeti. – Topa?
Ele ergueu as sobrancelhas, confuso.
- Er...
- Não aceito não como resposta. – cortei antes que falasse. – Nós podemos falar sobre o coral, afinal, eu percebi que você canta bem.
- Canto? – ele arregalou os olhos.
- Claro! – mentira. Nem ouvi ele cantar pra falar a verdade, só ficava olhando para ele pelo canto do olho, mas nem percebi se ele cantava bem ou não. Ótima vantagem, esse coral.
- Não sabia. – ele disse mais pra si mesmo do que para mim.
- Então? Marcado? – perguntei, ansiosa.
- Marcado. – ele sorriu. Dei um pequeno beijo em seu rosto – parte do charme – e saí caminhando vitoriosa, onde Sophie, incrédula, parecia ter feito o pescoço crescer para poder nos espiar.
- Feito. – eu disse simplesmente, e Sophie parecia ter levado um choque.
- VOCÊ É LOUCA? – gritou, espantando os terceiranistas sentados ao nosso redor. – Completamente louca?
- Estou apenas garantindo o que é meu. – dei de ombros, sorrindo perversamente.
Sophie parecia que ia explodir, mas não disse nada ao longo da refeição. Logo Emelina chegava, andando devagar por estar lendo – ela lê o tempo todo, é incrível.
- Oi garotas. – disse meio avoada, ainda concentrada na sua leitura. Li o título, e pra minha surpresa não era relacionado a nenhuma matéria.
- Shakespeare? – perguntei.
- Sim. Autor trouxa. Os romances dele são incríveis, vocês tem que ler. – ela disse entusiasmada, enfim colocando o livro de lado para puxar um prato de torradas.
- Romances? – falei. – Romances? Desde quando você lê romance?
Ela deve ter percebido meu modo malicioso de falar, pois corou.
- Não estou apaixonada por ninguém, Dorcas. – disse depressa. – Só acho bem legal.
- E o que explica sua momentânea amizade com Lupin? – perguntei.
- Eu o ajudei, e ele apenas me agradeceu. E uma vez ou outra fazemos os exercícios juntos.
- Aham. – falei pouco crente, e Emelina revirou os olhos.
- Não ligue para ela, Lina. – Sophie interveio com uma expressão de poucos amigos. – Dorcas não escuta ninguém. Aliás, não me escuta.
- O que aconteceu? – Emelina olhava de mim para Sophie.
- Essa aí simplesmente começou a ter crise de ciúmes por causa que eu vou sair com o irmãozinho dela.
- Você vai sair com Jason? – Emelina arregalou os olhos.
- Porque ela mesma o convidou! – Sophie protestou.
- E ele aceitou, ou seja, vou sair com ele. – sorri cinicamente.
- Droga. – Sophie xingou. – Você me paga, Meadowes.
- Querida, você deveria agradecer por eu não estar totalmente vingativa depois que você me fez isso. – eu disse, apontando pra minha cabeça onde o pano, hoje azul turquesa, cobria meu cabelo que ainda crescia. Notei que ele já estava nos ombros hoje, e acho que mais tarde vou à enfermaria pedir para que Madame Pomfrey dê um jeito nele.
Sophie apenas bufou, pois eu sabia que ainda se culpava pelo incidente capilar. Emelina parecia intrigada ainda, e eu apenas sorria, já pensando com que roupa usar no meu encontro.
Alice POV:
- Olá, Franco. – sentei-me ao seu lado no café. Ele engoliu rapidamente para me responder.
- Oi, Alice. Dormiu bem? – perguntou.
- Não. – franzi a testa. – Tive uns pesadelos estranhos. Parecia que eu estava sofrendo, e estava doendo muito. E... você estava no sonho!
- Eu? – ele arregalou os olhos, mas não deixando de sorrir.
- É. Estranho, não? – falei, enchendo meu copo de leite.
- Minha mãe diz que pesadelos são sinônimos de algo bom vindo pela frente. – ele comentou.
- Tomara. É o que mais ando querendo agora. – respondi.
Enquanto eu comia, Franco folheava seu jornal. Fiquei observando-o pelo canto do olho, enquanto fingia me entreter com meu prato. Hoje seus cabelos estavam meio bagunçados – talvez estivesse pegando a mania de James. E estava meio corado também, sabe-se lá por que.
Nesse instante Maria e Lily se aproximavam, Maria parecia meio irritada e vermelha, enquanto Lily ria de alguma coisa extremamente engraçada.
- Bom dia, garotas. O que aconteceu? – fui direto ao ponto, e parecia que eu ia demorar um pouco para saber, pois Maria não estava calma suficiente para isso, e Lily séria o suficiente.
Passado algum tempo, onde eu e Franco esperávamos por uma resposta, Lily finalmente tomou fôlego para conseguir falar.
- Bom, tem boatos correndo e... – ela riu mais uma vez. – E esses boatos andam dizendo que Dorcas Meadowes terá um encontro com...
- Com? – perguntei curiosa. Quem será? James? Sirius? Remo?
- Jason McKinnon! – Lily guinchou, e Maria bufou. Apesar de surpresa, ainda não estava entendendo.
- Caramba, ele é louco? – dei meu apoio a Lily, que ainda ria. – Mas por que você está assim, Maria?
- Porque Lily é uma idiota, simplesmente por isso.
- Eu? – Lily respondeu ofendida. – Eu sou uma idiota?
- Sim. Fica aí, falando besteiras... – Maria parecia uma garotinha emburrada.
- O quê? – perguntei novamente. Lily mais uma vez recuperou o fôlego.
- Eu e Maria estávamos caminhando pelo corredor, vindo pra cá, quando soubemos por altas vozes de Veronica Gravelle – Lily fez uma careta – sobre o tal encontro. Então eu olhei para Maria.
- E?
- E aí é que Lily é uma idiota e fica fazendo suposições sem sentido! – Maria reclamou.
- Shhhhh, deixa Lily continuar. – falei, e ouvi Franco rir ao meu lado. – Prossiga Lily.
- E Maria estava simplesmente vermelha! Estava quase bufando de raiva, você tinha que ver a cara dela! – Lily gargalhou, e Maria bufou.
- Idiota. – murmurou.
- Maria... – comecei, e ela fingiu não me ouvir. – Por que ficou com raiva?
- Não está óbvio? – Lily disse entre risos. – Maria tem uma quedinha por Jason McKinnon!
Maria ignorou mais uma vez, e eu ergui as sobrancelhas.
- Mas não era você que disse que o odiava? – perguntei.
- E odeio! Com todas minhas forças!
Mas isso só fez que Lily risse mais ainda, e Maria se empertigou.
- Eu vou provar pra você, Lílian Evans. – ela disse e pôs-se de pé. Merlim, aí vem encrenca.
Maria pegou firmemente seu copo de suco de abóbora e caminhou entre as mesas, e parou atrás de Jason. MERLIM! Ela não vai fazer isso!
E fez. Com um urro geral das pessoas que assistiam a cena, viram o líquido laranja escorrer entre o cabelo castanho claro de Jason. Seus olhos se arregalaram ao ver Maria, que apenas sorriu e caminhou de volta até onde estávamos. Os risos eram gerais, inclusive de Lily.
- Pronto. – Maria disse satisfeita, mas pelo menos Lily sossegara um pouco.
- Você não me engana, Maria MacDonald. – ela disse. – E você tem sorte de ter a mim como amiga, porque senão teria lhe aplicado uma detenção.
- Haha. – Maria riu com descaso.
Só sei que pelo resto da refeição eu via Jason lançar um olhar irritado em direção a Maria, ainda mais depois da chegada dos marotos, que riram de sua atual situação.
Acho que nunca vou entender o que passa na cabeça de Maria, a Néscia.
Sirius POV:
James tranquilo, Aluado recuperado da última transformação, Rabicho ainda roncando na cama dele. Era tudo o que eu precisava para ter um sábado tranquilo, porém com afazeres. Não, não me preocupo com lições e redações ou qualquer coisa do tipo, não. Eu tinha que ir a caça hoje.
Desci para o salão comunal e avistei logo de cara quem eu sempre procurava.
- Bom dia, Cox! – sentei-me ao seu lado, enquanto ela lia a tal revista para bruxas, O Semanário das Bruxas. Era disso que eu estava falando, garotas despreocupadas quanto a tarefas escolares e sim para com sua beleza agradável a nós, homens. – Você está linda hoje...
- O que você quer Black? – ela foi seca, enquanto levava a boca um sapo de chocolate.
- Sair contigo, aceita? – fui direto. Ela não pareceu surpresa, então continuei. – Teremos um passeio semana que vem.
- Já fui informada de seus interesses, Black, e não estou nem um pouco animada a ir a lugar nenhum com você. – ela disse.
- Receio que não irá se arrepender. – insisti, usando minhas melhores táticas de conquista.
Ela não respondeu, apenas levou a mão no lugar onde estavam seus sapos de chocolate, e percebi seu desapontamento ao perceber que ali só havia embalagens.
- Er... Podemos ir a Dedosdemel. – sugeri, e ela sorriu.
Ah Sirius Black, você é tão esperto.
Lily POV:
Não me surpreendo que passei o dia inteiro na biblioteca, afinal, eram tantos deveres! Mas sabe, sempre achei o lugar muito calmo e chamativo para mim, inspirando cultura, sem aquelas sonserinas irritantes ou Dorcas Meadowes – afinal, elas devem ficar o dia inteiro fofocando sobre coisas que do fundo do meu coração não desejo saber. Ali era meu refúgio, de qualquer alma insignificante para me atazanar. Sem Alice e Maria tentando me tirar dali a forças, me ameaçando resgatar com um camburão. Ou Potter. Claro, ele anda meio amigo por esses dias, mas eu ainda recordava o número de expulsões de Pince causadas por meus ataques histéricos e gritos de "não quero sair com você, me deixa em paz" para ele. Vinte e sete. Sim, eu contei porque pra mim é algo que devemos sempre nos lembrar. E nos vingar também, quem sabe.
E lá estava eu, sentada na mesa de uma das últimas fileiras, encostadas na janela. Ali era bom porque eu tinha uma ótima visão dos campos totalmente verdes e o céu azul claro, aquele aspecto bem natural, sabe. Mas hoje o dia estava nublado, um nublado estranho. Parecia haver uma briga entre o sol e as nuvens para quem tomaria conta do céu; as nuvens ganhavam porque eram muitas, mas o sol era persistente e estava dando um jeito de clarear nem que seja um pouco. Pode parecer ridículo da minha parte ficar imaginando níveis de relacionamento entre nuvens e o sol, mas eu gostava disso. Assim como gostava de ver nuvens e tentar achar alguma figura, era coisa que sempre fiz desde criança. Costumes são difíceis de largar.
E enquanto eu escrevia mais um pouco na minha redação de Aritmancia, às vezes pausava e olhava lá fora pra ver a altura da briga. A nuvem era tão negra e tão teimosa... Sempre negando o sol, mas que parecia não querer desistir... Isso era tão familiar...
...
Droga, eu e minhas comparações ridículas. Vou parar de olhar pra fora da droga da janela e tentar terminar essa redação o mais rápido possível.
E sabe aquela sensação de calma, tranquilidade e longe de tudo o que é mais desagradável no mundo? Aquela linda emoção de se sentir sozinha para pensar na vida e esquecer-se dos outros? Sabem? Pois é, eu não sei.
Ainda terminava meu parágrafo complexo sobre um longo gráfico passado por Vector ontem, quando escuto vozes terrivelmente conhecidas.
- ... mas é claro que ele aceitaria, afinal você é Veronica Gravelle! – escutei a voz nojenta de Elliot bem perto, perto demais.
Corram para as montanhas! Tentei guardar meu material o mais depressa possível e sair dali num rasante, quando foi tarde demais. Estava prestes a pegar minha mochila, quando as duas figuras apareceram no meu círculo de visão. Suspirei.
- Veja, se não é a caranguejo-de-fogo sangue ruim. – Elliot disse com um sorrisinho curvado. Argh, que nojo. Será que Merlim poderia me matar naquele instante? Seria tão bom e agradável no momento que eu nem me importaria.
- Olá Elliot, Gravelle. Bom ver vocês. – soltei um sorriso cínico, e desejei saí dali o mais rápido possível, antes que as consequências sejam grandes, como no terceiro ano.
Ah sim, o terceiro ano. Foi ali, naquela mesma biblioteca. No dia estava lotada, para minha infelicidade, pois era véspera dos exames finais. E Gravelle estava ali, acho que pela primeira vez em todo o ano. Eu estava estudando junto com Alice quando ela e sua turminha desagradável chegam e começam a nos irritar. Devo dizer o tanto que eu era estressada naquela época? Mais do que hoje, é claro. Simplesmente fiz uma estante cair na cabeça dela. Juro que foi acidente! Mas foi um pandemônio, livros para todos os lados, Madame Pince gritando em espanhol (até hoje me pergunto quantos idiomas essa mulher fala), Alice rindo como a maioria dos alunos. Aí me perguntam se eu levei uma detenção ou se levei broncas. Pois não. McGonagall (pasmem) riu da situação. Ela riu. ELA RIU! E então simplesmente mandou Gravelle para a ala hospitalar e balançando a cabeça me mandou para o dormitório. Até hoje não entendi nada, apenas supunha que ela não havia tomado os medicamentos corretamente, ou estava de muito bom humor.
- Veja como mente mal. – Gravelle riu com desdém; Merlim tinha que fazer isso comigo não é mesmo? – Mas então Evans, ouvi dizer que está se saindo bem naquele... coral.
Elliot fingiu um engasgo – não parecia bem um engasgo, e sim uma hiena tomando gardenal; Gravelle sorriu.
- Pelo menos eu sou boa em alguma coisa não é mesmo? – retruquei sem perder a classe. Nunca perca a classe! – Quantas vezes já vi você roubando respostas de Erick Willians...
- Para que ser boa em cantar? Cantar qualquer um consegue. – Elliot falou, e eu franzi a testa.
- Por acaso você canta, Elliot? Você? – perguntei com uma risada. Merlim sabe o tanto que eu quero sair daqui.
- Eu não perco meu tempo entrando em corais. – ela bufou. – Tenho um namorado com quem me preocupar. Diferente de você... Descabelada, usando essas roupas largas e feias... Com certeza porque seus pais trouxas não tem condições de dar-lhe algo melhor. Ou, quem sabe, esconder toda suas gordurinhas a mais, não é?
- Gordurinhas? Lucy, já a viu de calça? – elas gargalharam, visivelmente esquecendo que eu estava escutando a conversa.
Sabe quando seus olhos chegam a arder de raiva? Ah sim, era isso que estava acontecendo. Estava usando toda força contida para não dar um tapa nela olhando para estante, concentrando-me para fazê-la cair agora. Elas ainda não paravam de rir, e o que eu fiz, já que a estante não desmoronou?
Corri.
Mas corri mesmo. Eu sempre me mostrei tão superior e forte, sempre acabo me lamentando com coisas sem sentido, como Gravelle e Elliot. Tudo por quê? Porque eu estava num momento sensível observando aquela droga de céu!
Mas eu ainda não parava de correr, as lágrimas ainda escorrendo sem parar. Droga, porque eu tinha esses momentos tão revoltantes? Por sorte todo mundo parecia sossegar na tarde de sábado e aproveitar as salas comunais, pois os corredores estavam totalmente vazios. Ou, pelo menos, eu pensava que estava.
- Ai! – empurrei alguém para o lado, mas não me importei. Eu estava precisando urgentemente de um banheiro, precisava descarregar minha raiva em um lugar silencioso. Ah claro, o banheiro do segundo andar. Era ótimo, pois só havia um fantasma emburrado lá, a Murta. Mas eu nem ligava muito pra ela, e às vezes ela até chorava comigo. Aliás, ela até gostava de mim, menos quando eu estava com Maria e Alice.
Pro meu desespero a voz me chamou. A pessoa era conhecida! Meu Merlim, me ajude a criar rapidez nessas minhas pernas tortas! E, incrivelmente, a pessoa corria mais que eu.
- Lily! – me chamavam. Ah, não.
O desespero momentâneo me deixou totalmente desgovernada, e por pouco não entrei na sala de Flitwick por engano. A pessoa não desistia, mas fiquei calma ao finalmente adentrar o banheiro. Seja qual for a pessoa – nesse caso é homem, para melhorar a situação -, não se atreveria a entrar ali. Ninguém entra.
- Olá, Lily. – Murta falou. – Veio chorar um pouquinho?
- Tô precisando. – desabei no chão, jogando minha mochila de lado. Ainda estava arfante pela corrida, mas as lágrimas ainda estavam ali, secas.
O único barulho era da pia barulhenta onde o cano havia estourado. Murta devia estar em seu momento estressado, sempre acontecia isso. Por fim, entrei em um dos boxes, sentando na minha privada e pensando.
Merlim sabe o tanto que eu já sofri por ser uma "sangue ruim", nascida trouxa, que seja. E Murta sabe o tanto que já corri pra cá aos prantos. Eu sou uma das poucas nascidas trouxas dali, conhecia no máximo uma ou duas pessoas... Mas pra mim era tão difícil entender isso quando pequena, pois já sofria de tudo aquilo sem mesmo saber o porquê. Sempre conseguia algum apoio, mas internamente isso machuca. Machuca muito, e acho que ninguém me entenderia. Eu confesso ter orgulho de ter nascido na família que nasci – muito melhor que qualquer outra -, mas sabe quando as pessoas insistem em te derrubar? Sempre foi assim, como um soco no estômago. E quanto a minha aparência? Quantas vezes vou ter que dizer que pouco me importo com essa droga de cabelo? Ou se sou mais gorda do que deveria? Mas as pessoas falam. E falam mesmo para acabar com você, e pior que conseguem.
Ainda fungava profundamente, lutando contra as lágrimas para não descerem, quando ouço o grito agudo da Murta.
- GAROTO! SAI DAQUI! – ela disse, e parecia que a porta do banheiro havia sido aberta. – LILY!
Cagueta. Dedo-duro. Delata. Precisava dizer que eu estava aqui? Não, isso não bastava. Ela ainda por cima atravessou meu boxe! Ou melhor, me atravessou! Irritada com aquela sensação terrível (e por ela ter me dedurado), dei descarga nela. Sou má algumas vezes, confesso.
Mas ainda tinha o tal garoto... Tenho quase certeza que foi ele que estava me seguindo. Como posso dizer? Fiquei em pé na privada, mas sabia que se tentasse espiar o ser ele com certeza me veria.
- Lily? – ouvi passos. Me preparei.
- AAAAAAH! – gritei quando a pessoa abriu a porta do boxe. Dei o bote feito uma louca, mas eu não ligo. Devo dizer que foi horrível a parte em que eu agarrei o colarinho da blusa dele e o derrubei no chão? E devo dizer também que quis dar descarga em mim mesma quando percebi que ele era ninguém menos que James Potter?
Emelina POV:
- É incrível como os boatos correm rápidos, não é? – Dorcas comentou, e mesmo que os boatos fossem sobre ela, parecia que não estava nem um pouco incomodada. – Todo mundo sabe que Jason e eu vamos sair.
Sophie soltou um barulho esquisito, pois estava com a boca cheia de feijõezinhos, mas Dorcas simplesmente ignorou.
- E vocês sabem da melhor? – Dorcas foi dizendo.
- Nem queremos saber. – Sophie retrucou de boca cheia, mas isso não impediu que Dorcas dissesse.
- Sirius Black vai sair com Beth Cox.
Sophie engasgou. Comecei a dar leves tapas em suas costas, enquanto Dorcas se divertia.
- Por que o espanto, querida Sophie? Até parece se importar.
- Não. Eu só... – ela engoliu em seco. – Fiquei surpresa.
- Sei. – Dorcas disse. – Mas que seja, eu não estou surpresa que ele tenha conseguido, afinal, ele é um maroto.
- E daí? – Sophie parecia irritada, o que instigou ainda mais a curiosidade de Dorcas.
- Bom. A fama é grande. – ela deu de ombros. – Sempre disseram que Black e Potter são ótimos no quadribol, são gostosos, beijam bem, são inteligentes e engraçados.
- E galinhas. – Sophie soltou.
- Espera aí – Dorcas se curvou sobre a mesa, os olhos brilhando -, você e Sirius já...
- Não! Você está louca? Aquele... pervertido desgraçado. – ela disse, e até eu estava curiosa para saber o motivo de tanto incômodo. – Nunca nem me aproximaria dele.
- Aí tem coisa. E você vai contar. – Dorcas exigiu.
- Ele gosta de me importunar. – Sophie falou com indiferença, e pra mostrar que não iria mais responder, encheu a boca novamente.
- Parece que temos uma incógnita aqui. – Dorcas franziu a testa, mas logo deu de ombros. – Vocês são bobas de cair em papo de maroto.
- Vocês, vírgula. – interferi, erguendo a contragosto os olhos da minha redação. – Remo é legal, mas temos no máximo amizade.
- Esse negócio de "é só amizade" nunca colou bem, sabia?
- Francamente Dorcas, você consegue nos irritar muito facilmente. – Sophie reclamou.
- Vocês estão apaixonadas e a culpa é minha? – ela perguntou com falsa indignação. – Vocês são amigas ingratas que não aceitam o fato que eu estou certa, e apenas estou dando uma luz para vocês.
Eu e Sophie nos entreolhamos, e simultaneamente balançamos a cabeça em reprovação.
Dorcas bufou, e insistiu em continuar a encher nossa cabeça com isso. E ignoramos, como sempre. Eu tenho certeza que Remo é apenas meu amigo, mas colocar isso na cabeça de Dorcas parecia impossível. A única coisa que me intrigava, porém, era o fato de Sophie corar tanto ao apenas mencionar o nome de Sirius Black.
Lily POV:
- Lily? Está louca? – ele me olhava estranhamente, e foi aí que me dei conta que eu estava por cima dele, as pernas sobre seu peito enquanto ainda me agarrava a sua camisa.
Tive vontade de chorar mais ainda, mas apenas corei e me levantei, escondendo meu rosto.
- Lily, você está bem? – ele perguntou cauteloso, levantando-se com dificuldade do chão. – Aconteceu alguma coisa?
Toda vez que eu sentia ele se aproximar, tentava de todas as maneiras fugir. Ele parecia preocupado.
- Estava chorando? Por quê...?
- Vai embora! – gritei. Droga, eu e minha educação nunca nos combinamos em certos momentos. – Por favor.
E adivinha o que ele fez? Não, ele não foi embora.
- Só me diga o que aconteceu pra você ficar assim. Eu só... – ele hesitou. – Estou querendo ajudar.
Já recuperada da vergonha que minha personalidade bipolar causa a mim, respondi mais calma possível.
- Ajudaria muito, sabe, se você fosse embora. Aqui é um banheiro feminino, você não deveria estar aqui.
Ele incrivelmente sorriu, e eu não gostei nada disso.
- Pelo visto ele não é muito popular. – disse despreocupado, dando uma olhada ao redor. – Ainda mais por causa daquele fantasma chato...
- Não fale assim dela. – ótimo, comecei a defender a Murta. Realmente, as coisas não estavam lá normais.
- Certo, não está mais aqui quem falou. – ele ergueu as mãos em defesa, e eu ainda me perguntava o porquê de tudo aquilo. Quero dizer, por que ele estava ali? Tentando ser amigável e agradável? Hum. Deve ser porque agora acho que somos amigos, não sei.
- O que você quer? – perguntei tentando, disfarçadamente, tirar as lágrimas secas do rosto. Minha cara deve estar horrível.
- Saber porque você está assim. – falou subitamente sério.
Não respondi. Queria sair dali o mais rápido possível. Eu podia ler a mente dele, que dizia freneticamente que eu sou louca e com sérios problemas mentais. Mas também não quero sair daqui e consequentemente me encontrar com Alice e Maria ou pior, Gravelle e até mesmo Meadowes. E eu sabia que James não sairia dali porque do mesmo jeito que ele insistia sem parar naquela história de sair comigo com certeza não ia arredar o pé tão cedo.
Suspirei, e acabei por sentar no chão de pedra frio, num lugar seco comparado a poça de água que se formara por conta da enchente de Murta. James atravessou o banheiro e juntou-se a mim. Fingi não me importar.
Ficamos um tempo em silêncio, onde ouvia-se apenas o barulho da água da torneira respingar. Não ousei olhar pra James, mas eu tinha a leve impressão que as vezes ele se virava para me olhar.
- Eu...
- O que...
Falamos ao mesmo tempo, e surpresos demos risadas juntos, risadas que ecoaram pelo banheiro vazio.
- Pode falar. – falei entre risos, e James suspirou para começar.
- Bom, eu ia te fazer a pergunta crucial. – ele mordeu o lábio. – O que aconteceu, Lily?
Eu não sabia por onde começar, e nem se teria condições pra isso. Sabia que ele esperava minha resposta e devia estar muito curioso, julgando meu comportamento. Mas ainda estava indecisa quanto a isso, até olhá-lo novamente. Seus olhos mostravam um profundo afeto, como se estivesse tirando um raio-X de mim, não sei dizer. Mas foi aquilo que me convenceu a desabafar. Coitado, acho que se arrependeu. Porque quando eu desabafo, eu desabafo mesmo, falando rapidamente e em todos os detalhes. Lhe contei sobre Gravelle, sobre os fatos que andam ocorrendo em minha vida, sobre o fato de tudo parecer conspirar contra mim – sim, acho que exagerei, mas era o que eu estava sentindo no momento. Falei sobre o fato de não suportar secretamente todo esse preconceito por eu ser nascida trouxa e pela exaustão de sentir julgada o tempo todo pelas pessoas. Contei sobre o acontecimento da biblioteca e a conversa fala por fala, desde a chegada de Gravelle até minha correria louca. Ele, é claro, ouvira tudo calado, não ousando interromper nenhuma vez, sua expressão concentrada no que eu dizia. E na altura que eu contava os fatos, acabei por voltar a chorar. Sou assim, quanto mais penso nisso mais vontade me dá de chorar demoradamente. Às vezes penso que sou emotiva demais, mas acho que são os hormônios.
E ali, naquele chão do banheiro interditado, sujo, molhado e geralmente assombrado por uma fantasma chorona, James Potter me consolava. Acabei por deitar em seu ombro – macio e acolhedor, devo dizer – enquanto ele acariciava de leve o topo da minha cabeça. Era bem útil, e fui melhorando aos poucos. Alice e Maria também faziam o mesmo comigo, a diferença é que elas me entupiam de comida enquanto me abraçavam falando palavras incentivadoras. Mas eu preferia James, porque além de manter-se calado durante grande parte do tempo, não me dava comida e assim eu não vou ficar mais gorda do que já estou atualmente.
- O-obrigada. – gaguejei quando consegui me controlar. Droga, molhei sua camisa. Mas vou fingir que não percebi.
- De nada, Lily. – ele deu um pequeno sorriso consciente. – Está melhor?
- Sim. – falei enxugando as drogas das lágrimas do meu rosto com as costas da mão. Depois de tanto desabafo e tudo mais foi o bastante pra me deixar escorrida de molhada.
- Acho que você deve parar de se preocupar. – ele falou baixo. – Não deve ligar para o que os outros pensam. Só... seja você mesma.
- É fácil falar. – bufei.
- Ora Lily, há várias pessoas desse castelo que me odeiam. Odeiam mesmo! – ele acrescentou quando viu meu olhar desdenhoso. – Os sonserinos, principalmente. Mas eu ignoro de todas as formas possíveis.
- Mas eles não odeiam você tecnicamente pelo que você é, e sim pelo que você faz. Quero dizer – tentei explicar -, eu sei, você é da Grifinória e eles da Sonserina, mas eu digo de... você. Sua aparência física.
- Todo esse problema por causa da sua aparência? – ele ergueu a sobrancelha. – Lily, você é linda.
Corei fervorosamente, e corria abaixar a cabeça, fingindo olhar para minhas mãos. Ele esperou minha resposta.
- Mas é ruim ouvir as pessoas falarem. Eu... não sou popular, não sou bonita, não uso maquiagem e roupas chiques. – falei com desgosto. – E ainda mais por eu ser nascida trouxa. Eu sei que as pessoas chegam a falar de tudo isso sobre mim, e isso machuca.
- Você é melhor que muitos sangues puros por aí, pode ter certeza disso. – James respondeu.
- Mas eles insistem em jogar na minha cara o contrário! – falei, tentando o convencer que eu estava com a razão. – Fazem de tudo para me fazer mal, por que fazem isso?
James franziu a testa.
- Eu não sei. Característica do ser humano, talvez? – ele deu de ombros. – Sempre te julgarão Lily, não importa o que você seja, o que você faz. As pessoas nunca estarão satisfeitas e o único jeito é ficar ao lado das pessoas que gostam de você de verdade.
O idiota conseguiu me deixar sem resposta, e ainda pensativa, voltei a olhar para minhas mãos, onde – oh, que surpresa – minhas unhas estavam lascadas, ao contrário de Gravelle que parece uma princesinha perdida. Quero dizer, como uma ágil preparadora de poções não posso deixar de quebrar as unhas uma vez ou outra, não é?
- Queria levar a sério o que você diz. Mas é difícil. – falei sem emoção, e dessa vez James não respondeu.
Quanto tempo em silêncio ali eu não sei quanto ficamos, até eu decidir me por de pé. Ele me imitou.
- Tenho que ir. – falei.
- Certo. Eu te acompanho.
Caminhamos até a saída, eu quase escorregando na poça mesmo com James pronto para evitar minha queda caso eu caísse – cavalheiro não? Droga, vírus James Potter agindo...
Por fim, me virei para ele já do lado de fora do banheiro.
- Obrigada, não sei como agradecer.
- Eu sei. – ele sorriu. – Ganhe nas competições do coral por mim, ok?
Mais uma vez eu não esperava por isso. Apenas assenti, rindo.
- E como vai o quadribol? – perguntei.
- Bom, por ora não vou poder treinar nem arranjar novos membros. – ele disse com amargura. – Detenção.
Ri mais uma vez de sua cara de cachorro abandonado.
- Bom, nós pagamos pelos nossos atos. – pisquei.
Ele bufou com descrença, e ri mais uma vez de sua expressão.
- Acho que estou indo. Vou tomar um banho e descansar um pouco. – falei.
- Pense no que eu te disse, Lily. – ele falou com tranquilidade.
- Certo. Obrigada mais uma vez... James. – completei para que ele soubesse minha gratidão. Quero dizer, isso não significa intimidade, só... gratidão.
- De nada Lily. – ele sorriu novamente, e deu as costas indo para outra direção.
Com um suspiro involuntário, tomei meu caminho para a torre, pensando fortemente em como Merlim me odeia se me fizesse encontrar com Gravelle outra vez.
Emelina POV:
- Novos membros. – Moreau repetiu pela... décima oitava vez? – Precisamos de mais membros, senão não poderemos competir.
- Repito que ninguém vai querer entrar. – Dorcas disse despreocupada, olhando para as próprias unhas sentada de um jeito descontraído em sua cadeira.
- Você ao menos tentou achar alguém? – Lily perguntou com desagrado.
- Não. E tenho certeza que você também não. – Dorcas enfrentou.
- Garotas, o importante não é quem encontrou ou não, o importante é acharmos alguém. – Moreau olhou-as seriamente.
- Eu estou de acordo, mas precisa achar alguém que tenha talento. – Maria falou com entusiasmo. – Pra mim é fácil chamar qualquer um, mas tenho certeza que nesse castelo há alguém que saiba cantar afinadamente.
- O que não é o caso de Brown. – Dorcas sorriu com desdém, indicando Alice com a cabeça. Hoje ela estava impossível.
- Ah, claro. – Alice sorriu. – Cale a boca.
- Garotas. – Moreau alertou com um suspiro. – Certo, vamos treinar.
- Faz tempo que não cantamos nada. – Sophie comentou, e Moreau deu um pequeno sorriso enquanto mexia em sabe-se lá o que em sua maleta. – Só estamos aquecendo e aquecendo, muito chato...
- Chato, mas devo dizer que anda melhorando muito bem a voz de vocês. – Moreau tirou vários papéis, e começou a nos entregar. – E enquanto ainda não achamos mais membros, podemos já pensar na música que cantaremos na primeira competição.
- Está brincando! – Jason reclamou, passando os olhos incredulamente pela folha. – Não vou cantar Amy Winehouse!
- Você não vai, todos vão. – Moreau corrigiu. – É claro, teremos a voz principal enquanto os outros fazem a voz de fundo.
Jason pareceu muito mais tranquilo, diferentemente de Lily.
- Por favor, não me chame. – ela disse depressa, e Moreau sorriu.
- Tudo bem Lily, eu sabia que negaria. – ele disse. – Por isso pensei em Maria.
- EU? – Maria exclamou surpresa. – Eu? Tem certeza?
- Ora, você é a mais afinada aqui.
- Er... – Maria hesitou. – Tá, tudo bem.
- Espere aí! – Dorcas se adiantou com um olhar ofendido. – Como o senhor é capaz de chamar alguém sem nos perguntar se queremos?
Moreau, visivelmente surpreso, ergueu as sobrancelhas.
- E vocês querem? – ele perguntou com um sorriso enviesado, e muitas cabeças balançaram, exceto a de Dorcas.
- Bom, adoro ser o centro das atenções, todos os olhares voltados a mim. – ela disse, convencida. Troquei um rápido olhar entediado com Sophie.
- Com esse pano na cabeça isso será fácil. – Lily deixou escapar.
Dorcas se virou pra ela com um sorriso falso.
- Ah sim, claro. Falou a que penteia os cabelos.
- Parem com isso. – Moreau repreendeu. – Dorcas, achei que...
- Achou errado, meu querido professor. – ela disse levantando-se e andou até o centro da sala, sendo seguida por olhares dos músicos. – Eu quero fazer a voz principal.
Seguiu-se o silêncio, onde todos nós viramos a fim de fitar Moreau, que adquirira uma expressão indecisa.
- É ótimo da sua parte querer isso Dorcas, mas... – ele mordeu o lábio. – Eu já havia pensado em Maria.
- Nãaaaaao, sem problemas. – Maria sorriu amarelo. – Não me importo de trocar de lugar com Dorcas, posso ficar no fundo sem problemas.
Moreau encarou Maria, que corou. Depois olhou mais uma vez indeciso para Dorcas, que agora tinha um sorriso vitorioso.
- Está decidido, serei a voz principal. – ela sorriu.
Moreau suspirou, e assim seguiu a aula. Foi realmente difícil aguentar Dorcas falar de seu solo, mas Sophie e eu tentávamos ignorar. Começamos a cantar a tal música, "Valerie", que por sinal era bem divertida. Dorcas, por incrível que pareça, interpretava bem, porém o problema era na voz de fundo. Além de escutarmos algumas vozes desafinadas no meio das outras, tinha o problema das vozes femininas ganhar mais destaque que as masculinas. Afinal, parte dos garotos dali não cantava! Então tivemos que trabalhar e adaptar isso, e quando quase conseguimos algum progresso, já estava bastante tarde e concluí que estava morta de fome.
Acompanhei Remo até o Salão Principal, e toda vez ele fugia do assunto de seu sumiço. Decidi não insistir, afinal, todo mundo tem seus segredos.
Maria POV:
- Não acredito que desistiu do solo, Maria – Alice balançou a cabeça. – Poderia ser a chance da sua vida.
- Nossa, quanto exagero. – revirei os olhos. – Na verdade eu não estava a fim de cantar o tempo todo, por isso cedi.
Alice ainda insistia comigo sobre esse assunto de solo e tudo o mais. Mas era algo bem insignificante pra mim por enquanto, então concentrei apenas na sobremesa a minha frente. O Salão fervia com as conversas altas, e Alice e Lily estavam ali comigo, junto com dois visitantes que nunca haviam jantado com a gente antes: James Potter e Sirius Black. Lily conversava com James com um entusiasmo diferente, e não deixei de soltar um sorriso malicioso. Sirius Black era uma piada, não calava a boca num minuto, mas pelo menos era agradável, o que me surpreendeu. E agora vem Alice puxar esse assunto do coral.
- Ei, e como vão as coisas lá? – Black perguntou entupindo-se de pudim. – Pelo visto não estão tão medrosas assim.
- Está indo ótimo, tirando o fato de Dorcas Meadowes adorar encher nosso saco. – Lily reclamou com uma careta.
- Aquela garota é louca e perturbada. Depois falam de mim! – Black bufou.
- Vocês formam um ótimo casal. – zombei, e ele me lançou um olhar que só eu entendi.
- Um dia eles já foram um. – James completou com um ar de riso. – Quinto ano.
- Haha. – Black olhou para o outro lado, enquanto eu e os outros riam.
- Ei, correspondência! – Alice apontou para uma coruja que vinha em direção à mesa da Grifinória, assim como outros perceberam também.
E caiu em frente à Lily.
- Correio de noite? – estranhei, e Lily meio espantada pegou o envelope, abriu e começou a ler.
- O que diz? – Alice perguntou curiosa.
- McGonagall. – Lily fazia uma cara desanimada à medida que passava os olhos pela carta. – Droga.
- O quê? – perguntei. Lá vem Lily Evans me deixar curiosa.
- Vou ter que cobrir uma detenção. – ela bufou com desânimo. – Mais uma.
E olhou de cara feia para James e Sirius, que fizeram uma cara culpada.
- Quem? – Alice questionou.
- Um tal de... Sean McBouth. Conhecem? – ela franziu a testa.
Balançamos a cabeça simultaneamente, e Lily voltou a guardar o papel no envelope.
- Estranho. – ela disse, então suspirou. – Vou ter que cobrir a semana inteira, argh.
Não tínhamos mais o que comentar, então seguimos o jantar falando sobre o coral e ocasionalmente sobre quem seria o tal menino.
Coitada de Lily. Agradeço a Merlim todos os dias por não ter sido chamada para ser monitora, credo.
Alice POV:
Assim como o fim de semana, o dia de segunda-feira passou voando, quase imperceptível. Lily estava louca, não parava um minuto. Ora fugindo de Gravelle, ora fazendo monitorias, ora estudando, ora treinando sua voz – fiquei até surpresa ao ver seu esforço, acho que estava cansada de ouvir Meadowes zombar dela a cada vez que ela desafinava. E eu também, caramba, como aquilo irritava. Mas eu tinha mais experiência de ignorância do que Lily, e entendia seu lado. Maria continuava reclamando de coisas fúteis, inclusive de Jason McKinnon. Eles brigavam praticamente todo dia, e Sirius chegara a comparar os dois com Lily e James no ano passado. Agora com o coral, eles brigavam mais vezes, e sempre corríamos a sair de perto.
E agora estamos caminhando para as masmorras para a aula de Poções. Maria, bufando de raiva com a última briga (ela e Jason sentaram perto um do outro na aula de Feitiços, e Maria o acusava de ter feito seu livro desaparecer de propósito), foi para a aula de Runas Antigas, e eu, Lily, Sirius, Remo e Franco já estávamos nos ajeitando em nossas carteiras. É incrível como Lily e James eram vistos juntos com frequência, e agora eu sentia pena de Lily por Maria aproveitar a situação e caçoar da sua cara. Merlim sabe o tanto que já passei por isso, por conta de certo Herbólogo...
- Olá, se acomodem! – Slughorn apareceu minuto depois das conversas cessarem. – Perfeito. Hoje vamos preparar uma simples Poção do Morto-vivo, para vocês aperfeiçoarem a técnica que aprenderam ano passado. Página 14. Vocês farão em dupla...
Olhei rapidamente para Franco, meu parceiro de aula, quando Slughorn continuou a falar.
- ... sorteadas por mim. – ele falou com um sorriso divertido. – Cheguem até minha mesa para ver seu parceiro de trabalho, e mãos à obra!
- Só pode estar brincando com a minha cara. – Lily reclamou.
Fizemos uma fila até a mesa de Slughorn. Espichei o pescoço a afim de ver o parceiro de Lily, pois esta fez uma cara de desagrado.
- Argh. Douglas Reynolds, Sonserina. – ela resmungou. – Que droga.
E meu companheiro, ou melhor, companheira, era Veronica Gravelle. Pelo menos não era com Lily, tenho certeza que isso a chatearia muito.
Peguei minhas coisas e sentei do outro lado da sala, por sorte na frente de Lily e do tal Reynolds. Gravelle me lançou um olhar falso, e eu retribuí. Espero não ter motivos para essa loura falsificada encher minha paciência.
Sirius POV:
Sophie McKinnon.
Foi o que eu li quando cheguei entediado até a mesa de Slughorn pra ver meu parceiro. Esperei que fosse alguma garota qualquer que fosse fazer tudo enquanto eu apenas me ocupasse com alguma coisa. Mas não. Foi esse o nome que eu li. Pontas havia saído com Penny Stanton, e Remo com Franco. E eu com Sophie McKinnon. Me aproximei dela quando a vi olhando ainda chocada para a lista.
- É melhor nos apressarmos, o tempo passa e temos que terminar essa poção. – falei, e ela se sobressaltou por eu estar tão perto.
Corou um pouco, mas depois adquiriu um olhar irritado.
- Vamos. – falou com desagrado.
Nos sentamos um ao lado do outro na carteira, e ela fez questão de arrastar sua cadeira o mais longe possível de mim, até o limite da mesa.
- Certo, por onde começar? – perguntou.
- Não sei. – dei de ombros.
- Não sabe? – ela fez uma cara de reprovação, mas por fim suspirou. – Nem eu.
- Que aluna exemplar você, não é mesmo? – falei com ironia, e ela estreitou os olhos.
- Querido, você não tem nenhuma permissão para reclamar de mim. – disse em tom irritado, e eu apenas ria. – É pior do que eu.
- Nananinanão, senhorita McKinnon. Já chegou a ver minhas notas de Transfiguração e Defesa?
- Não, e nem quero ver. – cortou com indiferença, puxando seu livro de Poções da mochila e folheando até encontrar a página certa. Leu as instruções, ou pelo menos tentou, porque percebi que estava grande parte do tempo apenas fitando um único lugar da folha.
A sala começou a se encher de fumaça vinda dos caldeirões, e nessas alturas Sophie já havia se debruçado na carteira, apenas fitando o livro.
- Não é por nada não, mas o livro não vai fazer a poção pra você. – falei com sarcasmo, e ela ergueu os olhos pra mim como se eu tivesse chamado sua atenção enquanto assistia a uma partida de quadribol.
- Quando Slughorn disse que era em dupla, pensei que meu parceiro faria isso por mim! – ela reclamou sem saber que eu havia pensado o mesmo.
- Pois ele nunca sorteou tão mal. Quem faz minhas poções é sempre Aluado.
- Quem? – ela ergueu as sobrancelhas.
- Apelido de Remo. – expliquei sem me demorar. – E agora?
- Agora pedimos a ajuda de alguém. – ela mordeu o lábio, olhando ao redor. – Hum...
- O que está pensando em fazer? – perguntei quando a vi levantar e andar sorrateiramente entre as fileiras de carteiras. Andava meio que disfarçadamente, dando uma espichada aqui e ali, até a mesa de Slughorn, que a acompanhara com o olhar. Falou alguma coisa com ele, que sorriu respondendo mais alguma coisa, e logo caminhava de volta à nossa mesa.
- O que você fez? – perguntei com interesse, enquanto ela desdobrava na mesa um pedaço de pergaminho rabiscado.
- Pedindo ajuda. – ela disse, lendo, agora entusiasmada, o que estava escrito no papel. Pelo visto tinha toda a receita explicada ali, mas de um jeito muito mais fácil e simplificado.
- O que você fez? – repeti agora me mordendo de curiosidade.
Sophie suspirou.
- Peguei isso com Emelina, e pra disfarçar fui até a mesa de Slughorn perguntar se o terno dele era de Madame Malkin. – ela disse depressa.
Ainda atônito, pisquei.
- Você perguntou pra ele sobre o terno, é isso?
- Ele sabe que Madame Malkin é prima da tia da amiga da irmã da minha mãe. – ela deu de ombros. – Falei pra ele que ela mandou lembranças.
- Caramba, você foi incrível. – falei com uma risada, e ela corou, disfarçando com a fumaça que começava a sair do nosso caldeirão. – Muito incrível para uma garota tão chata.
- Ah, sim. Obrigada pelo elogio. – ela deu um sorriso cínico. – Eu agradeceria se você me passasse os ingredientes.
- Sim, senhorita. – pisquei, e ela girou os olhos.
Nossa poção, por fim, ficou do jeito que demonstrava no livro, e mesmo que tivéssemos começado muito tarde, fomos um dos primeiros a terminar, o que nos deu tempo para ficar a toa olhando para o nada.
- Se recuperou do estresse daquele dia? – perguntei com um sorriso malicioso, e ela fez uma cara de repulsa.
- Sim. Mas ele sempre volta quando você está por perto. – respondeu.
- Pelo menos eu consigo alguma coisa com você. – falei, sorrindo mais abertamente. – É divertido.
- Por que você não cala a boca? – suspirou.
- Porque não tenho nada melhor pra fazer.
- Sei, sempre previsível. – ela sorriu. – Pois logo a maldita dessa sineta irá tocar e eu não vou falar com você nunca mais. Está sentindo? Será a última vez que terei contato visual ou oral direto com você. Não é maravilhoso?
- Você é uma piada quando quer, McKinnon. – eu ri, e ela olhou em outra direção. – Seria ótimo ter algum tipo de amizade com você.
- Há, vai esperando. – ela bufou. – Pode ter certeza que o dia que eu tiver algum tipo de nível de relacionamento com você será o dia em que Dumbledore sairá de Hogwarts.
- Nunca se sabe. – dei de ombros. – Já ouvi falar que muitos o querem no Ministério.
- Ele nunca sairá. – insistiu, enquanto consultava o relógio com pressa. – Droga, essa hora que não passa...
- Não precisa fugir de mim. Pode ter certeza que você vai conversar comigo depois disso.
- Nunca. – ela sorriu em desafio.
- Quer apostar quanto? – me aproximei mais dela, e só agora percebi que o tempo todo eu havia me curvado em sua direção.
- Você é desprezível. Pessoas assim não estão na minha lista de contatos.
- Talvez você esteja na minha.
- Pode ir tratando de me retirar. – ela se aproximou mais, mal percebendo o quanto estávamos próximos.
- Você é ótima. – falei com sarcasmo.
- Por que não vai atrás da saia de Beth Cox? – ela disse ao mesmo tempo que a sineta tocava, e eu fiquei surpreso com aquelas palavras.
- Como sabe?
- Querido – ela olhou para o teto. – Toda a escola sabe.
E falando isso a acompanhei com o olhar, enquanto se juntava a Vance e Meadowes. James, Aluado e Rabicho se aproximaram.
- Rolando algum clima com McKinnon, Sirius? – Pontas riu.
- Quantas pessoas sabem que vou sair com Beth? – perguntei sem rodeios, ainda olhando incrédulo para o portal da sala.
- Ahn... o castelo inteiro. O que você esperava? – Aluado falou com uma risada. – Você é um maroto.
- Assim como estão desconfiando de Pontas estar com Lily. – Rabicho completou.
- Estão falando isso é? – James perguntou nem um pouco incomodado. – Que idiotas.
- Sim, idiotas. – concordei, e saí da sala acompanhado dos três, sentindo algo parecido a... remorso?
Dorcas POV:
Estávamos na aula de História da Magia. Momento perfeito.
Pode falar agora, McKinnon. – DM
Falar o quê? – SM
O que foi aquilo com Sirius Black? Eu estava fazendo minha poção com o lerdo do Pettigrew quando olho pra trás e vejo vocês no maior dos papos, quase se beijando! – DM
O quê? Ficou louca? Beijando aquele traste velho e esquelético, credo! – DM
Devo discordar. Sirius Black não é esquelético. Como não é! – DM
Para mim é. E não estava havendo nada. Ele estava me atormentando, como sempre. Foi uma droga fazer par com ele. Nunca mais na minha vida. Prefiro me atirar do sexto andar. – SM
Credo, pare com isso. – EV
Essa história está muito mal contada. Sirius Black tem coração de pedra, ele não liga pra ninguém a não ser aqueles amigos dele e as garotas que ele pretende agarrar pelos corredores. – DM
Você foi uma delas, né Dorcas? – EV
Não vem ao caso. Dá para explicar, Sophie McKinnon? – DM
Ai Dorcas, quanto alarde. Eu quero distância daquele indivíduo. – SM
Mas o que aconteceu? O que vocês conversaram? – DM
Discutiram, seria a palavra perfeita. Ele me chamou de chata, e começamos a brigar. – SM
Concordo com ele. – DM
Haha. – SM
Ele parece ser legal. Já o vi várias vezes com Lily. – EV
Deve estar implorando para a caranguejo-de-fogo retirar sua detenção. Ou, quem sabe, trair seu querido amigo inseparável e agarrar ela por aí. – DM
Você é tão horrível, Dorcas. – SM
Estou apenas falando o que penso, e como eu interpreto a realidade. Nunca se sabe. Sirius Black é um idiota. – DM
Mas você não achava isso dois anos atrás, não é mesmo? – EV
DOIS anos atrás. Tempos remotos, águas passadas. – DM
Teu passado te condena. – SM
E quem sabe se não há um sentimento guardado aí dentro ainda? – EV
Parem com isso! O caso agora é com Sophie! Ao contrário de Black, sou fiel a minha querida amiga e não vou agarrar o cara que ela está interessada. – DM
Pelos calções de Merlim, Dorcas, eu NÃO estou interessada em Black! – SM
Então me explica porque você está feito uma beterraba nesse exato momento. – DM
Porque Binns está olhando para nós. Jogue essa droga de bilhete fora. – SM
Lily POV:
Me despedi de James e os outros e segui para a biblioteca para me encontrar com McBouth, curiosa. O dia correu tão depressa que até me perdi. Está sendo ótimo manter amizade com Sirius e James, sei lá, é mais alguma coisa diferente na minha rotina. Ele era bom em várias matérias, e não sei como chamam a mim de nerd! E pelo visto eles ficaram bem íntimos de Maria e Alice também, e agora normalmente tomávamos café da manhã sempre que podíamos.
E agora, oito horas, eu já estava totalmente atrasada. Devo dizer que McGonagall quer me matar de cansaço dando detenções mais detenções para eu cobrir, sendo que não existe só eu de monitora nesse castelo. Mas tudo bem, espero que o garoto não esteja possuído pelo Demônio Maroto como John. Contei o que ele fez no coral esse dia? Colocou vários tronquilhos dentro do violoncelo! Charles, o carinha que toca o instrumento, por sorte era bem humorado, mas Moreau ficou realmente bravo quando os bichos atacaram algumas das planilhas de notas musicais. Então eu rezava para Merlim ter feito McBouth bem bonzinho e comportado.
Chegando lá só havia Madame Pince, como sempre, com um ar bem irritado. Ela odiava que alguém possuísse pelo menos por um dia de sua querida biblioteca, e agora que a detenção seria lá ela não podia estar mais brava. Passei longe dela, mesmo sabendo que ela me fuzilava com o olhar, e comecei a procurar o sujeito.
- Olá? – perguntei me sentindo uma idiota. Parecia tudo deserto, e a única coisa que eu via era a escuridão dos corredores.
"Ele ainda não deve ter chegado" pensei, então me sentei a uma mesa próxima da entrada quando ele chegasse, então um vulto se materializou do meu lado.
- AH! – gritei quase caindo da cadeira. – Oh Merlim, ai...
- Me desculpe. – uma voz doce e calma falou, constrangida. Levantei os olhos para ele.
Sean McBouth era nada mais nada menos do que um simples garoto de quinze anos meio acanhado. Bom, pelo menos era isso que sua cara constrangida mostrava. Tinha uma pele totalmente branca, olhos azuis claríssimos e cabelos negros penteados arrumadamente. Ele deveria dar algumas aulas para James. Mas, sinceramente, não acreditei que era a ele que eu ia cobrir a detenção.
- Sean McBouth é você? – perguntei só pra ter certeza. Ele apenas balançou a cabeça, afirmando.
Merlim, o que é isso? Como esse garoto tão tímido e com aparência encantadora havia feito alguma travessura? Será que ele era psicopata bipolar que tinha tendências marotas atrás da fachada angelical? Será que havia algum outro Sean McBouth no castelo e haviam o confundido trazendo ele pra cá? Tem que haver alguma explicação, tem que haver! Porque não podia ser ele. Ele não tem nenhuma cara que faz algo digno de uma detenção, não mesmo.
- Er... certo. – falei ainda indecisa. – Sou Lily Evans, vou cobrir sua detenção.
Mais uma vez, ele assentiu educadamente. Acho que não vou ter coragem de mandá-lo fazer alguma coisa, é crueldade demais. Mas tomei fôlego.
- Sean, sua tarefa é limpar as prateleiras. – eu disse, estendendo-lhe o espanador com evidente culpa. – Er... todas.
Coitado do garoto. Era incontável o número de prateleiras, e todas eram altas e lotadas de livros. Meu Merlim, acho que vou me matar.
- Certo. – ele concordou e caminhou até a primeira, no fundo da biblioteca. Para não deixar ele sozinho porque, cá entre nós, lá era bem escuro e pode ser amedrontador para ele, o acompanhei levando comigo uma cadeira. Ele começou a limpar, e até que limpava bem, enquanto eu me sentia uma carcereira do mal vendo tudo sentada numa cadeira.
Sou uma pessoa inquieta, confesso. Porque passaram-se quinze minutos e o silêncio era mortal, e eu precisava dizer alguma coisa ainda mais com esse dúvida me atormentando! Eu ainda não acreditava que aquele garoto podia ter feito alguma coisa.
- Er... – comecei, sem graça. – Sean?
Pronto, já o chamei pelo primeiro nome. Era o que acontecia quando uma pessoa atiçava minha curiosidade daquele jeito.
- Sim? – ele disse baixo, virando-se para me olhar e voltando rapidamente a atenção para as prateleiras imundas.
- Bom, você me deixou intrigada. – falei com um pequeno sorriso. – O que você fez pra estar aqui?
Ele visivelmente estava incomodado com a pergunta, porque me ignorou por alguns instantes. Eu me sentiria mal por deixá-lo ainda mais envergonhado, mas a curiosidade havia tomado conta da minha mente.
- Eu... botei fogo no cabelo de Filch. – falou num sussurro.
Não respondi, boquiaberta. Não, não foi ele. Ele não tinha cara, nem voz de culpado. E por falar em voz, a dele não me era estranha...
- E por que fez isso? – perguntei.
Eu sabia que ele estava corando, mesmo sua figura estar oculta pelo breu do corredor.
- Porque... porque eu quis. – disse pouco convincente. Tudo isso me levou a suspeita de que era mentira. Não foi ele, eu tenho certeza.
- Não foi você. – deixei escapar. Eu e minha boca idiota, sempre falando involuntariamente.
- Foi sim. – ele respondeu depressa, como se temesse que eu não acreditasse.
- Não parece. – eu disse vagamente, e ele não tornou a responder. Ele continuou a limpar, e era bem rápido. Na altura que o tempo de sua detenção acabava (e onde o silêncio se instalara também), ele já tinha terminado a terceira fila de prateleiras.
- Muito bem, amanhã você continua. – falei. Quanta injustiça, eu tinha certeza que não foi ele!
- Tudo bem. – respondeu com a voz cansada, desanimado, e mesmo assim sorriu fracamente.
- Tchau. – acenei enquanto ele se afastava. Sou tão antissocial que nem o acompanhei, pois ele era também da Grifinória.
Só sei que fiquei encucada com essa história pelo resto da noite, e quando contei isso a Alice e Maria apenas deram de ombros, dizendo que eu não tinha como provar sua inocência. Me senti uma advogada, foi incrível. Mas ainda tinha outros dias de detenção, e até lá eu ia retirar a verdade dele.
Sophie POV:
Perdi a noção da hora na sala comunal. Depois do jantar a sala se encheu e eu estava estudando. A sala se esvaziou e eu estava estudando. Um garoto do quinto ano entrou pelo buraco do retrato e eu estava estudando. Lily entrou logo depois, me lançou um pequeno sorriso e me desejou uma boa noite e eu estava estudando. Pois é, a vida não é fácil. Pessoas lerdas como eu tem que aumentar sua carga de estudo.
Era meia-noite e meia eu estava estudando. Era uma hora e eu estava estudando. Eram quase duas e eu estava estudando. Escutei passos descendo a escada e eu estava estudando...
Olhei rapidamente para as escadas vendo quem estaria acordado a essas horas feito eu, quanto vejo a última pessoa do mundo que eu queria ver nesse instante.
Quem? Ah sim, a pessoa que fez com que eu começasse a recolher minhas coisas rapidamente.
- Pare de fugir de mim, vou pensar que sou assustador. – o indivíduo riu. Estava apenas com uma calça de pijamas, sem camisa (!), todo descabelado. Fingi não perceber seu corpo definido, Merlim, tirai-me da tentação! Livrai-me do capeta!
- Argh, vai embora. – reclamei com desgosto, e enfim recolhidos meus livros, caminhei sem olhá-lo em direção à escada circular do dormitório feminino.
Não adiantou. Ele segurou meu braço.
- Me solta senão quiser morrer. – ameacei.
- Ui, morri de medo agora, McKinnon. – Black gargalhou. – Não fique com medo, eu não mordo. – ele riu como se houvesse alguma piada interna, e eu estreitei os olhos.
- Me larga agora, vou começar a gritar aqui e agora! – falei tentando me desvencilhar.
- Por que tanta raiva? Só porque perdeu a aposta?
- Me larga Black! Vou começar a gritar, é sério! – eu falei e ele chegou a rir. Idiota, não me subestime. – AAAA...
Eu nunca imaginaria o que viria a seguir.
Nunca em toda minha vida... Ó Merlim, porque fizestes isso comigo?
Sirius Black simplesmente...
Ele... me...
Ele...
Ele me beijou.
Aquele traste nojento retardado inescrupuloso horrendo desgraçado me beijou! E era um beijo... Não, não vou dizer o que é esse beijo, tenho medo da definição que eu daria. Mas ele me agarrou ali mesmo, me segurando firmemente para que eu não fugisse, o que foi injusto; como eu competiria com um batedor de quadribol?
Mas quando tomei consciência do que estava fazendo, mordi sua boca. HAHAHA! Eu o mordi! E com força. Força suficiente pra ele me soltar.
- Você é louca? – ele perguntou surpreso, passando a mão na boca pra ver se não estava sangrando. Por azar não estava.
- Louco é você! – falei com raiva. – Como ousa... como ousa fazer... isso! Seu... nojento!
- Confesse que gostou, McKinnon. – ele sorriu vitorioso.
Eu não tinha palavras para expressar aquilo, então atirei meu tinteiro nele. Droga, desviou.
- Você me paga! – gritei, e corri a subir as escadas, nervosa.
Pelo menos as meninas estavam dormindo. Imagina o que Dorcas diria! Fiquei perdida, atordoada com o que tinha acabado de acontecer. Então apenas joguei minhas coisas de lado procurando apoio. Não podia acordar Emelina, porque na verdade eu queria que ninguém soubesse...
Então meu apoio estava no meu malão. Peguei minha gigantesca caixa cheia de caldeirões de chocolate e comecei a comer vorazmente. Comer mesmo, um atrás do outro. Era a solução para eu esquecer e por fim não ter pesadelos. Isso com certeza me traria espinhas, gorduras, e mais um tanto de consequências, mas eu cuidaria disso depois. Eu ia esquecer daquele beijo quente, das carícias instantâneas na minha nuca, esquecer da minha mão deslizando naquele peito nu... Coma! Coma! COMA!
Vou tirar de qualquer coisa aquilo da minha cabeça. E não importa como.
Lily POV:
Segundo dia da detenção de Sean, e eu ainda me mordia com a vontade de perguntar tudo o que tinha pra perguntar. Ele estava ainda na quarta prateleira, quando eu não resisti.
- Pode falar. Eu não vou contar pra ninguém.
- Falar o quê? – perguntou sem olhar pra mim.
- Você não fez isso a Filch. Eu sei que não. – falei constrangida, mas falei. Ele se empertigou, e tentou me ignorar.
- Claro que fiz.
- Como?
Mais hesitação. Eu sabia que ele devia pensar que sou louca, mas quando algo assim me chama a atenção é difícil eu desistir.
- Usando um feitiço. – falou depressa, a voz trêmula.
- É sério. Eu tenho certeza que não foi você, você não está com cara de culpado. – disse, mordendo o lábio. – Tenha consciência de que se você foi injustiçado tinha que ter falado.
- Não fui injustiçado. – falou pouco convincente. – Não sei o que me deu na cabeça pra... fazer aquilo.
- Aham, e você fez do nada? – cruzei os braços, me apoiando em uma prateleira que ele já havia limpado. – Assim, você olhou para o Filch e pensou "Caramba, que vontade de tacar fogo da cabeça desse velho!"?
Sean riu baixo, balançando a cabeça.
- Talvez foi algo assim.
Ao mesmo tempo em que eu tentava retirar-lhe a verdade, eu também tentava me lembrar da onde eu o conhecia. Quero dizer, nunca o tinha visto antes, mas já aquela voz...
- Olha, você pode contar pra mim. – falei com firmeza. – Prometo não contar a ninguém.
- Não há nada pra ser contado. – ele disse agora mais calmo; talvez por eu ter o distraído um pouco. – Eu estou pagando pelos meus atos.
- Ah sim, com certeza. – falei sarcástica. – Ainda acho que você está mentindo.
- Hum, por que eu mentiria pra você? – ele sorriu.
- Deixe-me ver – coloquei a mão no queixo teatralmente. – Talvez por eu ser uma garota desconhecida e também monitora-chefe que poderia te encrencar facilmente?
- Está me ameaçando? – ele também fingiu espanto.
- Não subestime uma monitora grifinória. – falei com veemência, e acabamos por rir juntos; para um garoto de início muito tímido, estava bastante sociável.
Decidi não tocar mais no assunto da injustiça que fizeram com ele até o fim da detenção. Ao invés disso ficamos falando de coisas vagas, como aulas e professores, livros e até mesmo musicais (quando ele se lembrou que eu participava do coral). E ele sabia muito, assistiu praticamente todos que eu citei, e descobri que ele gostava de vários cantores que eu também gostava. Falou da família, que era filho único e vivia com os pais em algum lugar na Escócia, e, pra minha surpresa e total afeto, descobri que ele é nascido trouxa também.
- Sério? – arregalei os olhos, e ele assentiu com um pequeno sorriso. – Caramba, pensei que eu era uma das únicas da Grifinória...
- Acho que isso não é uma coisa ruim – ele deu de ombros. – Somos muito melhores que qualquer sangue puro por aí.
Ele falou exatamente como James havia me falado, e lembrando disso soltei uma risada involuntária pelo nariz. A detenção passou muito depressa, acho que por a conversa ter rendido. Dessa vez fomos juntos para a torre da Grifinória, conversando e rindo bastante, e a medida que a conversa se seguia, percebi que Sean ficava cada vez menos tímido, mostrando uma pessoa divertida e muito bem humorada.
Depois de nos despedir, me juntei a um pequeno grupo que me observava no canto da sala comunal; tinham parado de escrever em suas redações para me observar com certo olhar confuso. E nesse grupo tinha pessoas como Maria, Sirius e James.
- Olá! – falei entusiasmada me espremendo pra sentar ao lado de Sirius. – Muita lição?
- Quem é aquele lá? – Maria já pergunta.
- É o Sean McBouth, o garoto que estou cobrindo detenção, lembra?
- Ah sim. Nunca o tinha visto. – Maria falou vagamente. – Parece que surgiu do além.
- Bom, pelo menos ele é legal. – falei. – Já fizeram a redação que McGonagall passou?
O assunto não foi tocado mais, e enquanto isso terminávamos o mutirão de deveres. James me ajudou. Ele era realmente bom, sabe. E quando dei conta, já estava bem tarde e minha cama deliciosa e confortável me esperava.
Sophie POV:
Agi o mais normal possível na manhã, tentando não deixar na cara minhas marcas roxas de ontem. Porque foi isso o que me aconteceu. Depois de me entupir de chocolate comecei a chorar feito louca, fiquei até com medo da minha reação. Chorei entre a raiva profunda de Sirius Black e a repulsa de comer tanto assim. Tenho certeza que engordei uns cinco quilos. E pra acabar com parte do sofrimento, corri para o banheiro, peguei qualquer coisa conveniente – no meu caso uma escova de dente – e enfiei goela abaixo. Não literalmente. E vomitei muito, até agora um gosto horrível está na minha boca. Mas tudo isso sem Emelina e Dorcas perceber, é claro.
Enfim, estava tudo normal, até encontrarmos com ele no almoço. Droga! Estava tudo tão bem, passei o café e as aulas o mais longe possível daquele traste, quando ele entra no salão e caminha, acenando pra algumas pessoas.
E sabe o que ele fez quando passou perto de mim?
Nada.
Simplesmente nada! Me ignorou completamente, não olhou na minha direção, parece ter esquecido tudo o que aconteceu ontem!
Idiota! Idiota, idiota, idiota, idiota, idiota! Não sei qual é o mais idiota, eu ou ele. Ele por me ignorar e eu por ligar pra isso.
O vi sentar junto com o resto dos marotos e começaram a rir alto de alguma coisa sem importância com certeza, e percebi que eu segurava o garfo com mais força que o necessário.
- ... então ele disse que um dia cantaria pra mim! – eu escutei Emelina rir, novamente falando do Remo. Será que ela estava interessada nele? Não sei, ainda estava me controlando para não ir até ele e enfiar o garfo em seus olhos.
- Cara Emelina, se você continuar a falar de Lupin, minhas suspeitas que você gosta dele vão se confirmar. – Dorcas falou um pouco entediada, e Emelina corou.
- Só estou falando que foi engraçado. – ela deu de ombros, indiferente. – É sério, estou contando isso porque achei interessante pra contar pra vocês. Só somos amigos.
- Me poupe de suas explicações. – Dorcas disse seca.
- Continue Emelina, o que você respondeu quando ele te disse isso? – encarei Dorcas, a repreendendo depois de deixar Lina com uma cara chateada.
Emelina se recuperou e continuou a contar. Mas eu até duvidava, afinal, ela não contava com entusiasmo o bastante para eu pensar que ela estava realmente interessada por Remo, talvez seja só amizade. Ou não. Nunca se sabe, não vou pressionar a coitada. Se for paixão, uma hora ela me conta.
E enquanto eu forçava a rir junto com ela quando terminava de falar, ainda estava planejando o ataque a certo maroto ali na frente.
David POV:
- Olá, pessoal! – cumprimentei ao entrar na sala do coral, quarta-feira, onde uma conversa agitada tomava conta de todos. Alguns me cumprimentaram entre risos, e, é claro, não pude deixar de sorrir de satisfação. E todos estavam presentes, pelo que vejo.
- Olá professor Moreau, está lindo como sempre. – Dorcas disse. Acompanhei a risada, meio sem graça, mas decidi prosseguir.
- Obrigada Dorcas, você é adorável. – respondi, e Dorcas assentiu. – Muito bem galera, antes de treinarmos mais um pouco, temos que voltar a questão da primeira competição. Dorcas, você está treinando?
- O máximo possível. – falou sem me convencer muito. Não que ela precise de muito treinamento, percebi nos aquecimentos que ela era uma das mais afinadas ali.
- Certo. Está livre sexta? Preciso ver como está indo. – alertei, e ela sorriu.
- Está me chamando para um encontro, professor? – falou para o riso geral. – Sinto muito, mas já vou acompanhada de Jason à Hogsmeade.
- Bom, na verdade era só pra ver como está indo seu ensaio. – franzi a testa teatralmente. – Mas devo ressaltar que o convite ainda está de pé.
Mais risos, enquanto percebia Jason corar.
- E a partir da semana que vem vamos nos reunir no auditório para começarmos o ensaio de coreografia, posicionamento entre outras coisas.
- Eu já disse que cuido das roupas. – Maria se adiantou.
- Eu te ajudo. – Alice sorriu, e eu concordei, entusiasmado.
Tudo ocorreu normal, e era bom ver como cada vez mais eles se divertiam. Acho que esse era o principal motivo de Dumbledore ter criado isso, e penso em como foi inteligente da parte dele. Era totalmente animador ver Dorcas e Sophie fazer um pequeno dueto, enquanto Lily e Alice aqueciam no mesmo ritmo, fazendo com que saísse um som interessante. Maria e Jason estavam discutindo; já não é a primeira vez que tenho que separá-los, mas parece agora que Maria pisou em seu pé de propósito. Remo e Emelina riam de alguma coisa com John, e Franco conversava com Brad, o pianista (N/A: eu sei, roubei o nome, mas se é pra misturar, vou misturar direito).
Então logo estavam se despedindo de mim com o mesmo entusiasmo, ainda entre risadas, enquanto eu terminava minhas anotações:
• Franco definitivamente não tem dom para cantar, mas até que dançava bem;
• Alice e Maria cantam bem juntas;
• Ainda há alguma esperança para Jason;
• Lily estava ficando realmente afinada;
• A voz de Sophie é encantadora;
• Minhas cuecas são azul-petróleo (certo, coisas de John);
• Emelina dança bem.
Despedi dos músicos, que também pareciam ter se divertido, e caminhei pra fora da sala, ainda ajustando as notas musicais de Valerie, quando o papel repentinamente some da minha mão.
- Hum, Valerie de Amy Winehouse. – aquela... vaca disse. – Interessante.
- Você não pode fazer isso! – falei com irritação, retirando bruscamente o papel de sua mão.
- Por que não? – ela disse com falso choque. – Achei isso perdido e apenas li.
- Perdido? – me controlei. "David, ela é uma mulher, apenas uma mulher". – Você praticamente tirou da minha mão!
- Não há provas. – ela deu de ombros. – Mas foi uma boa escolha, claro! Não tão boa quanto a minha, mas foi boa.
- Sua...
- Opa! – ela fez uma cara de espanto. Uma cara bem nojenta, asquerosa, repulsante... – Olha bem o que vai dizer, vou ficar ofendida.
E soltou um sorriso desdenhoso. Merlim, me ajude a me controlar.
- Olha aqui, porque você não vai ver se eu estou na esquina? Ou melhor, vá lá e nunca mais volte. Fará um grande favor para mim.
- Suas palavras me comovem. – ela disse, e fez um gesto que quase fez com que eu perdesse a cabeça: apertou minha bochecha em um tom sarcástico. Por pouco não agarrei sua mão e a torci. – Me comovem mesmo.
- Vai embora. – falei entre os dentes, fechando os olhos e mantendo minha respiração regular.
- Nos vemos por aí. – ela piscou, e deu as costas, balançando novamente aqueles cabelos loiros, daquele modo nojento.
Merlim, peço paciência. Paciência pra aguentar gente louca.
Louca. Aquela mulher é louca.
Remo POV:
- VOCÊ O QUÊ? – James praticamente gritou pra todos no salão ouvir, e Sirius soltou sua risada canina.
- Isso mesmo. – ele confirmou, e James trocou um olhar chocado comigo.
- Mas e quanto Beth Cox? – Rabicho ergueu as sobrancelhas.
- Oras, enquanto não consigo meu intuito, tenho que arrumar outra forma de me divertir. – Sirius deu de ombros com indiferença.
- Mas você já conseguiu chamá-la pra sair. – lembrei.
- Eu sei. – ele sorriu.
- Caramba, você é muito idiota. – James balançou a cabeça. – Sophie McKinnon é legal demais pra você fazer isso.
- E como é que você sabe?
- Ela não faz seu estilo... – James disse vagamente, até abrir adquirir uma expressão boquiaberta. – Espera aí! Era por isso que aquela vez você estava todo chocado? É por isso que agia estranho perto dela? Você estava interessado nela também?
- Estava. – Sirius frisou o verbo. – Agora meu negócio é com a Beth.
James ainda parecia meio abobado.
- Você é um idiota – falei. – Tudo bem que gosta de beijar não sei quantas garotas, mas as vezes você exagera. Coitada da Sophie...
- Você diz isso porque ela é melhor amiga da sua namoradinha. – Sirius zombou, e eu revirei meus olhos.
- Não vou nem te responder – falei em tom irritado.
- Porque eu tenho razão, fala aí! – ele bateu no meu braço. – Eu sabia que você não era tão ingênuo, Aluado.
- E se Sophie acabar espalhando e cair nos ouvidos de Beth? – Rabicho perguntou.
- Caro Rabicho, você acha que ela faria isso? Quero dizer – Sirius se espreguiçou –, ela não quer ficar com fama de fácil, pega por Sirius Black.
- Você é estúpido. – eu e James dissemos ao mesmo tempo.
- Vocês só falam isso porque um está apaixonado a anos por uma garota que não está nem aí pra ele – Sirius indicou James com a cabeça, e depois a mim – e o outro está encantado por sua melhor amiga.
- Pelo menos as duas são respeitadas por nós. – soltei um sorriso cínico. Os olhos de Sirius brilharam.
- Então você admite que tem certa queda por Vance?
- Almofadinhas, por favor. Cale a sua boca. – disse irritado, e Sirius apenas gargalhou.
Graças a Merlim tenho certo dom de ignorar as pessoas. Eu acho.
Lily POV:
Foi no quinto e penúltimo dia de detenção que me lembrei da onde conhecia a voz de Sean.
Ele estava sendo totalmente amigável, e era bem divertido conversar com ele. Falávamos de assuntos diversos, música era o principal deles. Por sua insistência tive que cantar uma música da Barbra; desafinei nas últimas notas, mas ele pareceu gostar. E eu nunca tive uma detenção tão divertida assim, e Sean se mostrava uma ótima pessoa cada vez mais. Ainda mais quando acabei por revelar minha raiva por Gravelle.
- Por que vocês brigam tanto? – ele perguntou enquanto limpava uma prateleira. Acabei por perder a conta de todas que ele havia limpado.
- Na verdade é ela que briga comigo. – dei de ombros. – Tudo começou quando ela arranjou a mania de falar do meu cabelo e por causa de um menino da Corvinal.
Sean riu.
- Entendo.
- Entende? É raro meninos entender nossos motivos. – lhe lancei um pequeno sorriso.
- Você não deve ligar para o que essa garota diz. Seu cabelo é muito bonito. O corte, principalmente. – ele disse firme, e não deixei de sorrir.
- Obrigada – falei. – Acho que é só você que acha isso.
- Que nada, acho que isso tudo é inveja. Você sabia que apenas 4% da população mundial é ruiva? – ele falou.
- Sério? – eu me divertia. – Caramba, isso é tão honroso.
- Você deveria valorizar essas raízes, garota. – ele piscou.
Rimos juntos mais uma vez, até eu me lembrar.
- Sabe Sean, eu te conheço de algum lugar. Acho que sua voz.
- Conhece, é? Não é o que parecia no primeiro dia de detenção – ele respondeu.
- Ainda tento me recordar... – falei.
Ficamos um tempo em silêncio enquanto Sean continuava seu trabalho. Meu cérebro agia rapidamente. Chegava a ser mesmo uma sensação de djavú, porque parece que ali mesmo na biblioteca eu já falara com ele antes. Será em outra vida?
- Eu te conhecia – ele me acordou dos pensamentos. – Já ouvi seus gritos.
E virou-se pra sorrir metodicamente para mim, e eu corei.
- Ah... é?
- Geralmente Potter estava por perto. E se não estivesse era você xingando algum aluno bagunceiro – eu podia perceber o humor em sua voz.
- Nossa, eu gritava tanto assim? – falei com certo temor.
- Digamos que o castelo inteiro ouvia – ele zombou, e eu dei um leve tapa em seu braço. – Ou Hogsmeade?
- Bobinho – resmunguei.
- Mas afinal, por que tanta raiva por Potter? – ele perguntou.
- Aah, ele me irritava muito. Me chamava pra sair o tempo todo. Mas agora ele pareceu sossegar um pouco, e já somos praticamente amigos.
- Talvez ele quisesse mesmo sair com você – Sean falou. – E talvez todo esse ódio que levava a gritaria na verdade seja uma... grande atração.
Era para mim ficar chateada com suas palavras, mas meu cérebro fez um alerta. Grande atração!
Me lembrei!
Já sei da onde eu o conhecia!
- Sean, você é amiga de Jennifer Schain? – perguntei mais alto que eu pretendia, tal entusiasmo. Ele pareceu surpreso com a mudança de assunto.
- Sim. – confirmou.
- Então já sei da onde te conheço! – deixei escapar. Mas que droga, boca! Agora ele vai se perguntar como sei disso, sendo que a resposta é que eu estava espiando a conversa atrás da prateleira!
- Da onde? – ele perguntou.
- Eu já... ouvi você conversar com ela. – tentei esquivar. – Pelos corredores, não sei...
- Ah. – ele falou repentinamente cabisbaixo.
- Er... tem algum problema com ela? – perguntei.
- Nenhum. Mas somos muito amigos, nossas famílias se conhecem. – falou simplesmente.
Decidi não tocar no assunto mais, porque percebi que o deixara incomodado. E essa era a última coisa que eu queria no momento. Tentei puxar outros assuntos, e parece que ele foi se esquecendo. Continuamos conversando até o tempo de detenção acabar. Nos despedimos na sala comunal atualmente vazia e eu subir para meu dormitório, as coisas bombardeando na minha cabeça.
Como foi mesmo a conversa? Lembre-se Lily...
Ah sim! Eles pareciam discutir sobre suas amizades, e que eu me lembre Sean respondera que eles estavam por aí azarando as pessoas. E pareciam falar sobre alguma garota também.
"Eu não gosto dela! Estou te dizendo que é apenas uma... grande atração." Foi isso mesmo que ele disse. Pareciam falar sobre uma garota que ele talvez goste.
Isso não faz sentido pra mim, mas eu já estava encaixando os fatos. Seus amigos gostavam de azarar as pessoas, certo? Tipo um James e Sirius da vida. E agora ele, uma pessoa calma e com a aparência totalmente sossegada, aparece pra cumprir uma detenção, e quando eu o acuso de não merecê-la tenta confirmar de várias formas! É isso!
Acho que uma injustiça está sendo confirmada aqui... E eu vou averiguar.
Emelina POV:
Noite de quinta-feira. Dorcas fofocava sabe-se lá o que com Audrey Johnson e Geovana Kummer entre risadinhas, provavelmente felizes pelo cabelo dela ter voltado relativamente ao normal. Sophie estava em sua cama, deitada com um livro sobre o peito, totalmente entediada. Eu sei que ela não percebeu que eu percebi que ela está estranha desde terça, se não me engano. Fiquei com receio de lhe perguntar, mas sabia que ela não ia responder. E tenho a impressão que tem certo maroto envolvido nisso.
Fui até o banheiro escovar os dentes, ainda pensando sobre o assunto, quando percebo uma grande caixa de caldeirões de chocolate jogada a um canto, vazia. Reconheci que era de Sophie, ela sempre mantinha guardado montanhas delas, mas era raro vê-la comer. Sabe, ela se preocupava muito com o peso, mesmo sendo magra.
Olhei mais uma vez pra caixa, e depois para o portal. Peguei a caixa e parei perto na sua cama, minha testa franzida.
- Quando foi que você comeu tudo isso? – perguntei.
Ela ergueu os olhos lentamente, depois voltou a "ler" o livro.
- Faz tempo. – apenas resmungou.
- Eu não vi. – falei vagamente. Na verdade nem sei porque eu estava perguntando isso pra ela, só achei estranho.
- Desculpa, guardo pra você na próxima. – ela sorri um pouco, típico sorriso desanimado.
- Queria saber o seu segredo, Sophie. – Geovana diz. – Comer tanto e continuar assim, magra.
Sophie bufou.
- Sou magra porque o uniforme milagroso de Hogwarts esconde.
- Que nada. A gente dorme aqui com você e percebe o tanto que você é magra até mesmo por trás das vestes. – Audrey insiste, invejosa.
Sophie não volta a responder, apenas dá de ombros. As garotas voltam sua conversa, e eu volto para o banheiro.
Sem dúvidas, estranho.
Remo POV:
- Olá, Lina. – chego cumprimentando a mesa do café. Ela sorri.
- Bom dia, Remo. Como está?
- Eu estou bem, mas parece que você não. – percebo quando vejo sua expressão intrigada por trás do sorriso. – Algum problema?
- Er... Sophie. – ela fala com um suspiro. – Anda estranha, pra baixo...
- Ahn... é? – solto um sorriso amarelo.
- É, e eu tento descobrir mesmo que ela não fale. Porque sabe, eu sei que ela não vai falar. – ela suspira novamente. – Mas eu sei que é com Black.
Sem ela perceber, engulo em seco. Vai sobrar pra mim.
- Por que acha isso? – pergunto relutante.
- Ela ocasionalmente, ou melhor, raramente reclama dele. Diz que ele a incomoda. E ela as vezes lança um olhar meio fulminante pra ele, mesmo que ele não veja.
- Por que será?
- Também quero saber. – ela diz, mordendo o lábio. – Você não sabe de nada?
Ai, droga. Sabia. E agora? O que eu digo?
- Não. – respondo, disfarçando o olhar para os ovos com bacon no meu prato.
- Mas se souber, me conte. Preciso ajudá-la. – ela diz em uma forma meio desgostosa e doce. Levanto os olhos para vê-la, e em seu rosto está um sorriso meio grato.
Me sinto um idiota, vendo ali toda sua sinceridade e crença, mas mesmo assim respondo:
- Contarei.
Maria POV:
A aula foi um tédio total. Não sei, mas aulas de sextas-feiras são um saco, as piores, acho que pra compensar o fim de semana. Como se já não houvesse pilhas de deveres! Uma droga. Era sempre assim: Lily ficava o tempo todo ou prestando atenção ou anotando a matéria. Alice fazia o mesmo, embora com menos energia, e as vezes olhava de relance para Franco. Trocavam sorrisos. Francamente, quando esses dois vão se agarrar de uma vez? E James as vezes sorria para Lily, e logo juntava os dois numa longa conversa. Sirius e Remo vinham também, e raramente Emelina. Confesso que o coral nos juntou um pouco, exceto por Dorcas e sua antipatia por Lily, e vice-versa.
Enfim, depois de um dia cansativo e tedioso, caminhamos felizes e saltitantes para o salão principal. Certo, não literalmente. Mas eu estava feliz, adoro sextas. Sentamos e atacamos a comida.
- O que será que Moreau preparará pra gente hoje? – Alice pergunta animada.
- Caramba, é mesmo! – Lily arregala os olhos e bate na testa. – Hoje tem reunião, mas não poderei ir...
- Por que? – perguntei.
- Cobrir a detenção do Sean. Hoje é o último dia. – ela diz com pesar.
- Que horas será? – Alice pergunta degustando seu rosbife. – Dependendo da hora você pode fazer os dois. O coral é daqui a duas horas.
Lily franzi a testa, pensando. Então ela sorri e se levanta.
- Só um instante. – diz e sai correndo pela mesa da Grifinória, procurando por alguém, e pelo visto acha. Me levanto um pouco do banco pra espiar, e vejo ela conversar com o mesmo menino branquelo de olhos azuis que eu havia visto ela chegar acompanhada no salão comunal.
Eles trocam sorrisos, e ele se levanta. Despediu-se de alguns amigos, mas achei estranho Lily não ir embora. Ela começa a falar não sei o que com os amigos dele, parecendo muito irritada. O branquelo parece chocado. Troco um olhar intrigado com Alice.
Depois de um tempo que apenas a vi falando e falando alguma coisa com os moleques, que agora estavam vermelhos e pareciam estar com a língua presa, Lily caminha com o menino do lado, e ele ainda parece atordoado.
- Vou cobrir a detenção agora. – ela sorri, pegando sua mochila. – Vocês por favor avisem Moreau que talvez eu me atrase.
- Tá... – falei meio perdida. – Mas o que foi que...
- Depois. – ela dá uma piscadela, e sai com o garoto nos calcanhares. Menino estranho.
- Mas o que foi aquilo? – Alice pergunta, e eu me pergunto o mesmo.
- O que tá acontecendo? – uma voz sussurra no meu ouvido, e quase caio da cadeira.
- James! – reclamo. – Nunca mais se atreva...
- O que foi que aconteceu ali? – ele pergunta indicando onde os meninos amigos do branquelo ainda parecem muito atônitos.
- Não sei, mas Lily vai me contar. – falo confiante, bebericando meu suco.
Continuamos o jantar normalmente, enquanto fazíamos suposições sobre o que diabos Lily estava aprontando. Só sei que aquele garoto branquelo é muito estranho.
Lily POV:
- Lily, não acredito que você fez aquilo! – Sean ainda protestava. – Não acredito!
Sabe o que eu fiz? Bem, até que foi bem feito. Alice me deu a ideia de mudar meu horário de cobrir a detenção, e fui dizer isso a Sean. Eu expliquei, ele aceitou. E então olho para seus amigos.
E que amigos.
Pareciam o capeta em forma de gente. Sabe aqueles garotos que você olha e vê que são eles que colam chiclete embaixo da mesa? Então. Mas também são do tipo que tem medo de broncas dos mais velhos e superiores, e claro, usei aquilo ao meu favor. Soltei tudo.
- Ah, então vocês são os amigos de Sean, hein? Prazer, sou Lily Evans, tenho 17 anos e sou monitora-chefe. Provavelmente vocês já sabem disso. Mas enfim, eu estou cobrindo a detenção de Sean por uma semana, e percebi que ele não tem cara de quem faz isso. E agora olho para vocês. Sabe como eu sei que foram vocês? Porque vocês são do tipinho que adora acusar os outros injustamente, ou o tipo de gente que se aproveita da inocência dos outros. Pois fiquem sabendo que eu sei. E que vocês deveriam agradecer a Merlim por eu ser uma pessoa boa e não contar tudo a McGonagall. Então tomem vergonha na cara e vão estudar pra droga dos seus N.O.M.'s, porque pela cara de vocês parecem que vão reprovar daqui a pouquinho. Você, loiro. Já te vi chutando Madame Nora, e isso não é legal. Gatos são animais puros e que não merecem esse tipo de tratamento, e tenha certeza que se eu ver você mais uma vez aprontando eu não vou hesitar a contar pro Filch! E você, moreninho, pode parar de andar com aqueles sonserinos, pois com certeza eles estão fazendo a cabeça de vocês. E por último você, fique esperto. Nunca te vi fazer nada, mas você tem cara que joga aquela gosma verde nos outros. Nunca mais façam isso! E respeitem o Sean! Vou ficar de olho em vocês, e se vocês encostarem o dedo nele ou ele aparecer em outra detenção injustamente, vou contar para Dumbledore, seus hipócritas. Nunca ousem a fazer nada nesse castelo, pois podem receber detenção pelo resto de suas vidas! Tenham um bom jantar.
Disse isso tão depressa que acho que eles ficaram chocados. E saí de lá com Sean, mais satisfeita que nunca. Mas Sean infelizmente não estava.
- Eu sei que foram eles. – olhei de soslaio para ele, e ele não negou, parecia envergonhado. – Olha Sean, acho que você já é um amigo pra mim, e eu não aceito que façam isso com meus amigos.
Ele pareceu chocado, mas depois sorriu timidamente.
- Você também é minha amiga Lily, mas não precisava daquilo...
- Eles mereceram, você sabe que sim. – respondi, enquanto caminhávamos até a biblioteca; suspirei. – Veja bem, não importa o que aqueles idiotas fazem com você, acho que eles não são seus amigos. E eu sei que eles azaram as pessoas.
- Potter e Black azaram também, e você é amiga deles. – ele respondeu.
- Eles pararam um pouco. – franzi a testa lentamente. – Ainda mais comigo por perto. Mas enfim, eu percebi que você não parece confortável em relação a eles. Mesmo que Schain ache isso.
Ele me olhou espantado, então mordo o lábio. Decido contar. Contar que eu sou uma futriqueira e acabei ouvindo sua conversa. Sou uma idiota, mas ele não se ofendeu, por sorte.
- Daí que você me conhecia, então? – ele disse, e já pegava seu habitual pano pra terminar as prateleiras restantes.
- Sim. E sabe, Schain não pode te obrigar a ter aqueles amigos, ou a ficar com a garota da qual vocês diziam.
Ele corou.
- Sabe quando você não tem certeza sobre... seu gosto? – ele pergunta meio hesitante.
- Consigo imaginar. Mas veja bem se gosta dela mesmo.
Ele não respondeu, apenas assentiu.
Mais uma vez aquele silêncio horrível, então puxei o assunto do meu discurso para seus amigos, e acabamos por rir do meu ataque. As pessoas dizem que falo demais, mas isso é quando minha adrenalina sobe, e quando minha boca está descontrolada.
- Nossa, estou com fome. – falo de repente. – Não comi direito no jantar. Você fica aqui limpando enquanto vou na cozinha pegar alguma coisa pra gente?
- Claro. – ele sorri. – Mas se eu fosse você trancava a porta, sabe como é, se eu quiser fugir...
Rimos mais uma vez, então disparei biblioteca afora, correndo em direção a cozinha. Foi bem rápido, os elfos são bem eficientes. Logo estava eu andando pelo corredor com os braços cheios – é, os elfos exageram. Então estava meio difícil para eu andar com aquele excesso de comida. Entro na biblioteca e acidentalmente deixo uma toalha que envolvia os pratos cair. Me abaixo para pegar, quando escuto.
Ouvir: I want to hold your hand (Versão Acapella)
- Oh, yeah, I'll tell you something, I think you'll understand. – a voz era simplesmente… fantástica. - When I say that something, I wanna hold your haaand, I wanna hold your hand, I wanna hold your hand…
Andei incrédula até a voz, seguindo-a silenciosamente. Estava ciente que meus olhos estavam arregalados, e que minha expressão deveria estar hilária, mas ainda caminhava. Cheguei até lá, e a voz vinha de Sean. Ele cantava enquanto limpava, com certeza não notando minha presença.
- Oh, please, say to me, you'll let me be your man – ele continuava, e limpava. - And please, say to me, you'll let me hold your hand…
Me aproximei mais, quase pulando de alegria.
- And please, say to me, you'll let me hold your hand.
- PARA TUDO! – gritei, e ele gritou comigo, fazendo alguns livros caírem no chão. – MERLIM DO CÉU!
- Merlim do céu digo eu, Lily! – ele fala assustado, mais branco que o normal, acariciando o peito. – Quer me matar de susto?
- SEAN! SEAN! – quase peguei ele no colo. – SEAN, SEAN, SEAN!
- Eu. – ele disse achando que eu sou louca, então o apertei com força. – Lily, você tá me... sufocando!
- Não importa! Merlim! – vibrei.
- Ai! – ele começou a acariciar o braço depois que o solto. – O que aconteceu?
Não respondi. Continuei a dar pulinhos – isso foi idiota, espero que Sean não conte a ninguém. Ele me olhava esquisito enquanto eu voltava ao normal, ofegante.
- Pronto, agora pode me dizer por que essa felicidade toda? – ele ergueu as sobrancelhas.
- Ai. – suspiro. – Bem, é que... – olho para o relógio – NOSSA! JÁ É TUDO ISSO?
O coral já deve estar no fim. Tenho que correr.
- Vem comigo. – puxei o braço de Sean, e corremos pra fora da biblioteca.
- Espera aí... – ele pergunta arfante.
- Parabéns Sean McBouth por concluir sua detenção, está dispensado e espero que não volte a fazer isso. – falo enquanto corremos. – Agora vem!
- Pra onde você está me levando? E as coisas na biblioteca? Lily...
- Estou te levando para o coral, oras! Moreau vai vibrar quando te ouvir cantar, você não tem ideia do quanto que...
- Peraí! – ele para bruscamente. – O quê?
- Você! Coral! – falo com tom óbvio. – Sean...
- Não sei do que você tá falando. – ele me olha perdido, então suspiro.
- Sean, eu te ouvi cantar. – tento explicar. – E sua voz é maravilhosa! E... bom, eu queria que você entrasse.
Ele não mostra reação.
- No coral. – completei pra ter certeza que ele entendeu.
- Er... acho melhor não. – ele diz, hesitante. – Quem sabe... er... Deixa pra lá.
- Sean... – droga, acabando com minha felicidade. – Por favor. Você tem uma voz ótima, e precisamos urgentemente de novos membros.
- Lily, eu não posso. – ele respondeu, com uma cara desapontada. – Simplesmente não posso.
- Por causa dos seus amigos? Por causa de Schain? – pressionei, e ele abaixou a cabeça.
- Porque eu não quero. – falou, então começou a se afastar. – Vou arrumar tudo na biblioteca. A gente se vê.
E sumiu de vista, me deixando ali, boquiaberta. Não acredito que vou perder aquela oportunidade! Quero dizer, olha a voz dele! É muito melhor que a minha, é afinada, é...
Droga, mais atrasada do que nunca. Corri em direção às masmorras, e quando cheguei lá Moreau mais uma vez mandou fazer aquecimento da voz. Me desculpei pelo atraso, e acabei por decidir não comentar com ninguém sobre a voz, pelo menos até tentar convencê-lo.
Maria e Alice me fitavam, fazendo perguntas mudas, e não acredito que vou ter que contar toda a história. Então permaneci avoada durante todo o coral, pensando numa forma de convencer Sean.
E eu vou.
James POV:
- Agora diga, o que aquela ruiva havia dito pra você? – Sirius pergunta, e os garotos se entreolham, mas decidem responder.
- Um grande discurso. – o garoto loiro falou.
Minha curiosidade não esperou, portanto decidi encurralar os garotos em um corredor um pouco afastado da torre da Grifinória. Eles pareceram surpresos, mas é claro, somos os marotos conversando com meros garotos do quinto e quarto ano.
- Discurso? Sobre o quê? – perguntei sem entender.
- Eu não me lembro. – ele cora. – Mas ela estava falando sobre uma...
Ele olha para o amigo, e eu pra Sirius, simultaneamente.
- Sobre uma mentira. – o mais baixo deles responde. – Ela é louca.
- Não fala assim dela. – reclamo.
- Vai Pontas, vai me dizer que ela não é um pouco louquinha? – Sirius ri, e então com meu olhar fulminante acaba por voltar a dar atenção aos garotos. – Que mentira?
- Sobre... er... – eles se entreolhavam rapidamente. – Sobre a gente ter colocado a culpa no Sean causando que ele levasse uma detenção. Mas é mentira! É claro!
- Tem certeza? – perguntei lentamente, ciente que o garoto estava mentindo.
- S-sim. – ele gaguejou, e Sirius bufou.
- Escuta aqui rapazinho, você está falando com Sirius Black e James Potter, e não há ninguém nesse mundo que saiba mentir melhor. E assim como sabemos mentir, sabemos identificar uma mentira.
Os três engoliram em seco ao mesmo tempo, então...
- Ed? – uma voz chama, e quando olhamos para o lado vejo o tal do Sean, carregando nas mãos um balde cheio de coisas que reconheci rapidamente, tal minha experiência em detenções, e pratos de comida e duas mochilas. Bom, pelo menos foi o que eu vi. – O que tá acontecendo?
- Estamos perguntando sobre Lily. – Sirius responde no lugar do Ed, que a propósito não sei quem é. – Amigo, por acaso foi você que aprontou pra levar a detenção ou foi seus amigos aqui?
O menino ficou encabulado com a pergunta, a testa franzida. Olhou para os amigos e depois para nós, e olhou de volta.
- Er...
- Responde aí. – falei para o menino moreno, que até agora havia ficado calado. – O que aconteceu?
- Eu coloquei fogo no cabelo do Filch. É tão difícil de entender isso? – Sean disse levemente irritado. – Parem de pressionar...
- Fomos nós. – o moreno soltou finalmente, e todos olhamos surpresos para o garoto. – Me desculpe, Sean, mas você estava lá dando bobeira, não tivemos outra escolha senão te culpar, sinto muito. E... aquela ruiva tinha razão! Eu fui injusto!
O garoto parecia desesperado, e também parecia ser o mais novo e pelo visto mais decente dos três. Os outros dois abriram a boca, assim como o Sean.
- Há, sabia! – Sirius exclamou. – Muito injusto isso, hein meu camarada.
- Por favor, não faça nada com a gente! – implorou o mesmo garoto que se entregou. Troquei um olhar e uma risada com Sirius.
- Acho que fazer isso já perdeu a graça, mas... – falei, tendo uma ideia súbita. – Terá que nos acompanhar.
- P-pra onde? – o loiro perguntou.
- Apenas nos acompanhe. – Sirius disse, lendo meus pensamentos. – E você também, Sean.
Todos pareciam muito amedrontados e surpresos, mas decidiram nos seguir.
- Muita sorte a de vocês não ter nos conhecido ano passado. – Sirius disse olhando para trás onde a carreata nos acompanhava silenciosamente.
Então chegamos ao nosso destino, e ouvia-se o primeiro protesto.
- Nem pensar! Isso não! – o baixo reclamou.
- Cale a boca Ed! – gritou o moreno. Ah, então Ed era ele. – Não vê que estamos encrencados de qualquer jeito? Sean cumpriu detenção durante uma semana inteira sem ao menos ter feito alguma coisa, nada mais justo.
- Falou tudo. – Sirius deu um tapinha em suas costas, se divertindo. O garoto sorriu.
Estávamos na porta da sala de McGonagall. Batemos, entramos, e ela pareceu assustada com a visita. Então explicamos a ela toda a história, com a ótima ajuda do nosso amigo moreno que não sei o nome. O tal do Sean não falou nada, apenas manteve-se calado. E no fim da história, McGonagall ficou chocada e deu aquela sua infinita bronca, e duas semanas de detenção pra cada um. Nos agradeceu pela ajuda e saímos da sala. Os dois garotos ficaram meio furiosos e chateados, e o outro parecia mais satisfeito que nunca. Sean parecia pensativo.
- Valeu, me ensinou uma grande lição. – o garoto moreno disse, e Sirius riu.
- Não há de que, amigo. Como é mesmo seu nome?
- Carthy. Jack Carthy. – ele apertou nossas mãos, sorrindo.
- Prazer. – falei, enquanto os outros apenas observavam.
- Er... James? Posso te chamar de James, né? – ele hesitava. – Eu estava pensando em fazer o teste para o time de quadribol, sabe...
- Ah, é claro. – confirmei. – Quando eu marcar, logo saberá. Vou ter prazer em te avaliar.
- Muito obrigado, cara. – ele disse, satisfeito.
- Tá bom, tá bom. – o Ed macabro e mal humorado interveio. – Vamos indo, Jack.
- Vejo vocês. – ele falou animado. Era um garoto legal. – Você vem, Sean?
- Er... sim. – ele pareceu ser acordado de alguma espécie de transe. – Bem, Potter, eu...
- James, assim como seu amigo. – corrigi, e ele sorriu fracamente.
- James. Bom, poderia entregar para Lily? – ele me estendeu uma das mochilas que ele segurava. – Ela esqueceu na biblioteca...
- Ah sim, claro. – peguei a mochila. Ele sorriu e se afastou.
- É bom fazer uma boa ação, não é? – Sirius sorriu e andou, sorridente.
Um idiota mesmo.
Lily POV:
No café da manhã do dia seguinte eu estava tão perdida em pensamentos planejando uma maneira de convencer Sean a entrar no coral que acabei por perceber que faltava alguma coisa...
Minha mochila. Ah, claro. Eu sempre tenho que esquecer alguma coisa. Mas, afinal, isso até que era bom. Assim eu podia usar essa desculpa para falar com ele, já que ele tinha voltado para biblioteca e assim recuperado o que eu havia abandonado lá, inclusive minha mochila.
Mas não foi preciso. Tinha acabado de me lembrar disso quando James chega carregando o objeto familiar, com um sorriso travesso.
- Alguém andou esquecendo os pertences por aí. – ele fala com seu sorriso satisfeito, e eu pego a mochila estendida.
- Obrigada, acabei de notar que tinha esquecido. – agradeci, e decidi verificar se não faltava nada depois. Sabe como é, características marotas as vezes podem voltar... – Sean entregou pra você?
- Foi, e por falar nisso – ele se sentou ao lado de Maria, de frente para mim -, não sei se ficou sabendo da novidade.
- Qual?
- O amiguinho do Sean enfim declarou a culpa. – ele disse, e meus olhos se arregalaram instantaneamente. Isso fez com que ele ficasse ainda mais convencido. – E eu e Sirius demos um jeito de leva-los até McGonagall e eles foram devidamente punidos.
- Não! Sério? – eu vibrava, e quase pulei em cima da mesa, mas achei impróprio para a ocasião. – Não acredito!
- Pois é. Encurralamos os garotos e não tinha como eles não revelarem. – ele sorriu mais abertamente. – Foram eles, na verdade, que colocaram fogo no cabelo do Filch e...
- James, você é o máximo! – falei quase aos pulos, e então me levantei.
- Eu sei. – ele disse.
- Tenho que ir. – agarrei minha mochila, e antes de sair correndo não deixei de dizer. – Te devo uma.
- Vou cobrar. – ele respondeu, e por fim ouvi Maria comentar.
- Se precisar da minha ajuda estarei aqui. Sou ótima para cobrar essas coisas...
Sabe, as vezes me surpreendo com minha capacidade de persuasão.
Não devo negar que James salvou minha vida fazendo o que eu mais queria ter feito – inocentar o pobre Sean, e também provar que eu estava correta. E também me surpreendi por ele ter feito isso, afinal, a ação daqueles amigos bobos de Sean é bem típica do próprio James. Mas não posso reclamar, apenas agradecer a Merlim que tenha dado certo.
Agora tenho que encontrar Sean e convencê-lo a entrar para o coral. Me pergunto porque todo esse desespero, já que semanas atrás eu estava é desesperada por simplesmente me inscrever. Mas eu quero ganhar, sei lá. Descobri esse espírito competitivo agora, algo que eu nunca tinha tido chances. Afinal, eu não jogo quadribol, não participo de competições de xadrez bruxo que as vezes alguns alunos organizavam e muito menos participava dos raros Clube de Duelos. Mas agora acho que era algo bom e diferente, e eu queria ganhar – ainda mais que não fui muito com a cara da Nina Stanley. Sem falar que Moreau todo santo dia do coral enchia nossa cabeça com isso, dizendo que era importante para Grifinória ter mais um reluzente troféu em sua estante, mesmo que James se encarregava disso todo ano.
E pra mim, sabe-se lá porque, estava sendo importante, e era algo que (eu acho) eu sabia fazer bem.
E ainda precisamos de dois novos membros. Sean canta bem. Tudo se encaixa.
E eu não conseguia o encontrar em lugar nenhum. Simplesmente desapareceu. Fui na biblioteca e nem sinal dele, ou no salão comunal. É claro, ele deve ter se escondido, mas talvez não. Antes dessa detenção eu nunca o tinha visto na vida, decerto ele fica em algum lugar próprio, escondido o bastante para eu não cogitar a ideia de vê-lo.
Mas é claro que eu não ia desistir, e acabou que o encontrei por acaso.
Decidi descansar um pouco da expectativa de achá-lo, então achei melhor relaxar. No dormitório com certeza Maria deve estar tagarelando com Beth, e a sala comunal deve estar o caos de conversas, já que hoje é sábado. E não há melhor maneira de esfriar a cabeça em Hogwarts do que passear pelos jardins ou descansar embaixo de alguma árvore perto do lago. E é isso que eu fui fazer, quando avistei Sean.
Fiquei surpresa e ao mesmo tempo estupefata com tal sorte. Andei devagar em sua direção, mesmo que ele esteja de costas pra mim, lendo alguma coisa concentrado.
- Olá – saudei quando me aproximei. Ele ergueu a cabeça e sorriu.
- Lily! Olá – respondeu, e me sentei ao seu lado.
- Estudando muito? – apontei para o livro de Poções em seu colo.
Sean deu de ombros.
- Não há nada melhor pra fazer, não é mesmo?
- Como uma perfeita monitora-chefe, concordo com você – falei com falsa autoridade, e rimos juntos.
Ficamos um bom tempo em silêncio. O sol batia diretamente no lago, dando aqueles brilhos magníficos.
- Você ainda quer que eu entre no coral, não é? – Sean disse repentinamente, e eu me assustei. Ainda estava pensando em como dizer isso, e eis que nem é preciso.
- Bom... – mordi o lábio. – É.
- Lily, eu...
- Sean, só queria que você se enturmasse um pouco. Agora que você está estudando muito para os N.O.M.'s e eu para os N.I.E.M.'s, é quase impossível para a gente conversar. Eu sei que parece bobo e sem sentido, também pensei nisso, mas cantar é divertido de alguma forma. E além do mais você sempre terá alguma coisa pra relaxar um pouco e terá uma forma de mostrar para seus amigos que você não está nem ligando para o que eles pensam. E Sean, você tem uma voz incrível, tenho plena certeza que Moreau vai amar e você vai fazer um grande favor pra gente! Precisamos de dois novos membros...
Parei um pouco pra respirar, e Sean me olhava intrigante, mas com certo tom divertido em seu rosto.
- Calma, Lily – ele riu, fechando o livro. – Assim vai se engasgar.
- Eu só quero que você me escute! – falei, receando o que ele diria a seguir.
- Olha Lily, eu não penso em cantar. Se eu canto bem é por algum milagre sobrenatural, porque na verdade nunca liguei muito pra isso...
- Pois deveria. Você cantou Beatles sem desafinar!
- Isso não é tão difícil – respondeu, modesto.
- Fácil você falar. Quer ver? – pigarreei, e comecei a cantar. - Let it be, let it be, let it be, let it be! Whisper words of wisdom, let it be… Viu? Sou horrível.
- Caramba, sua voz é incrível! – Sean falou com o espanto, e bufei em resposta. – É sério Lily, sua voz é ótima.
- E a sua também. Entende por que quero que se junte a nós no coral? É importante para nós...
Ele ficou em silêncio, a claridade do sol deixando seus olhos mais claros ainda.
- James me contou – falei, mudando subitamente de assunto. – Sabe, sobre seus amigos.
- Ah... é.
- Viu, eu tinha razão! – dei-lhe uma cotovelada de brincadeira. – E você mentiu pra mim. Por que não contou a verdade, Sean?
- De uma maneira ou outra, eles são meus amigos.
- Amigos? Ah claro, amigos que colocam a culpa em você injustamente? Claro, estou vendo a amizade. – falei com sarcasmo, e Sean riu com desgosto.
- Mas agora eles levaram detenção.
- Mas você também levou.
- Mas valeu a pena – ele piscou, e eu ri. – E não se preocupe, quando fui defendido por James Potter eles agora estão me tratando feito um rei.
- Jura? – rimos juntos mais uma vez. Ele confirmou.
- Jack não larga do meu pé agora, perguntando da onde nós nos conhecemos.
Balancei a cabeça, em forma de reprovação.
- E parte foi por causa de seu sermão também. Obrigado, Lily – ele sorriu.
- Bom, apesar de você não ter aprovado antes, de nada – ele riu.
- E quanto ao coral...
- Seria ótimo para todos do coral se você entrasse.
Sean ficou calado, olhando para frente mais uma vez, pensativo. Queria saber o que passava naquela cabecinha agora, cuja testa estava franzida em meio a decisões.
Me levantei.
- Pense direito ok? Seria um favor pra mim...
Fui caminhando em direção ao castelo, quando ouvi ele me chamar.
- Sim? – falei, sentindo certo aperto de ansiedade.
- Se eu entrar... você promete uma coisa pra mim?
- O quê? – perguntei.
- Prometa que vai se valorizar, e que vai ao máximo ignorar aquela tal de Gravelle.
Soltei o ar em uma risada.
- Eu prometo.
Ele balançou a cabeça, e no momento seguinte eu estava pulando – isso mesmo, pulando – em cima dele, derrubando-o na grama, que por sorte era fofa. Começamos a gargalhar.
- Obrigada Sean! Você é incrível, sabia?
- Sabia. – falou com dificuldade.
Ainda não estava na hora do almoço quando nos dirigimos correndo para a sala de Moreau.
Maria POV:
- Tá, o que estamos fazendo aqui? – Remo perguntou.
Estávamos exatamente na sala de música, no momento sem os músicos – deviam estar em Hogsmeade, onde eles estarão hospedados durante o ano letivo. Emelina estava no centro da sala, mãos na cintura, enquanto eu, Alice e Remo tínhamos nos sentado nas cadeiras. Emelina tinha um jeito meio displicente.
- Por que nos chamou aqui, Emelina? – Alice questiona.
- É o seguinte, a primeira competição já vai ser nesse mês, temos menos que um mês para nos preparar e ainda não temos todos os membros completos.
- Estamos cientes disso – eu disse, entediada, colocando os pés em uma cadeira vaga.
- E não sei se fui só eu que percebi o desespero de Moreau na última aula.
- É, ele estava meio nervoso sim – Alice franziu a testa.
- Portanto, eu escolhi vocês para me ajudarem a resolver isso de uma vez por todas.
- E o que você está pensando em fazer, senhorita? – perguntei.
- Temos que mostrar à escola o tanto que o clube é legal. Temos que convencê-los a se inscrever também.
- Mas o clube não é legal.
- Deixa disso Maria, eu sei que você gosta. – Alice riu.
- Mas o que exatamente você quer que façamos? – Remo perguntou, meio ansioso.
- Vamos fazer um número em público.
Nos entreolhamos em um milésimo de segundo, então caímos na gargalhada, altas o bastante para ecoar pela sala.
- Tá brincando, né? – falei.
- É sério. Precisamos de mais pessoas! – Emelina falou, corada. – Pra mim é importante ganhar isso. É algo diferente e especial para mim, para nós.
Todos olharam diretamente para mim. Como assim? Por que eu?
- Tô fora – levantei as mãos.
- Foi o que Sophie e Dorcas disseram – Emelina disse desgostosa.
- Eu topo – Remo disse, dando de ombros. Ah, claro! Como se o castelo inteiro não soubesse sua quedinha por Emelina. – Não vai ser tão ruim assim, vai?
- Estou dentro também, pode ser divertido – Alice, traíra e energúmena, disse. E ainda olhou para mim, pedindo com o olhar! Falsa, hedionda, néscia...
- Aaaaah, eu não sei! – me coloquei em pé. – Essa ideia é ridícula, mais ridícula até mesmo quando penso que vamos ter que de uma maneira ou de outra cantar em frente a escola inteira.
- Maria, pare com isso. Você mesma disse que estava achando legal, Lílian está de prova – Alice, mais uma vez sendo uma calhorda, olhou para o teto.
- Sim, é legal. Cantar com os amigos, ver o McKinnon caindo tentando dançar, mas também é meio vergonhoso fazer isso para todos do castelo ver!
- Ver que você tem algum talento, diferentemente de vários deles – Emelina comentou.
- Exato – Remo concordou.
- Eu não sei. Veremos o que Moreau vai dizer no clube amanhã. Dependendo das novidades, vamos ver se levaremos em conta sua ideia, Emelina.
- Já é um começo – ela sorriu.
Vou rezar para que Merlim tenha realmente alguma boa notícia para amanhã.
Lily POV:
Batemos na porta da sala de Moreau e logo escutamos seu "Entre!" abafado vindo lá de dentro.
Abrimos, entramos. Sean parecia um pouco nervoso, talvez pensando "Por que diabos fui aceitar isso?". Senti tanto afeto por isso já ter passado na minha cabeça antes também...
- Olá Lily – ele sorriu de sua mesa, onde provavelmente estava corrigindo pilhas de redações. – E olá...
- Sean – respondi em seu lugar, já que ele parecia bastante hesitante para dizer alguma coisa. – Sean McBouth, professor.
- Aah, olá. – ele cumprimentou. – Qual o motivo da sua vinda, Lily?
- Bom professor... – falei com entusiasmo. – Tenho boas notícias!
- É o que eu ando precisando – ele falou com uma intensa sinceridade. – O que é?
- Achei um novo integrante para o coral! – falei, apontando para Sean. – Ele tem uma voz incrível!
- Sério? – vi os olhos de Moreau brilharem, assim como os meus quando ouvi Sean cantar pela primeira vez. – Isso é ótimo, Lily!
- Sim, bom, eu só queria que soubesse. Ele começa amanhã.
- Claro – ele se aproximou de Sean e apertou-lhe a mão. – Muito obrigado Sean, imagino o tanto que Lily deve ter enchido sua cabeça.
Sean, talvez mais tranquilo, finalmente conseguiu responder.
- O bastante.
Moreau riu.
- Muito bem, acho que agora só vou pedir uma coisa – ele disse, pensativo. – Amanhã você poderia demonstrar um pouco de suas habilidades de canto, não é mesmo?
- Na frente de todo mundo? – ele se encolheu, e decidi intervir.
- Tá tudo bem. Ele canta sim – sorri amarelo.
- Perfeito! Esperamos você as onze – ele piscou. – Ah, e muito obrigado Lily, agora só nos resta mais um membro!
- E vamos conseguir. – falei com positivismo.
Podia sentir os olhos claros de Sean me fuzilarem quando a porta bateu a nossas costas. Ainda sorria, até ele bufar.
- Francamente, eu vou ter que cantar na frente de todos eles? – ele perguntou, incrédulo.
- Olha, não se preocupe – falei, tentando o incentivar. – Eu tive que fazer isso sem ao menos ter cantado uma vez na vida! Sem saber a reação de todo mundo!
- Mas eles eram seus amigos – ele reclamou, enquanto caminhávamos em direção ao salão principal. Já era quase hora do almoço, e percebi que estava faminta.
- Rá, acredite. Dorcas Meadowes está longe de ser minha amiga.
- Mas a maioria lá era.
- Você vai ter a mim como amiga – falei. – E não se preocupe, por você ser meu amigo os outros vão ser seus amigos também.
Sean bufou novamente.
- Eu te contei como foi minha audição? Eu ia fingir pra todo mundo que eu cantava mal, então eu desafinei completamente de propósito e todo mundo riu de mim. Moreau percebeu e mandou eu cantar mais tarde, então eu estava cansada de Dorcas e assim me esforcei ao máximo e todo mundo ficou de queixo caído quando cantei de verdade – contei. – E, pensando agora, foi bem estúpido eu fingir cantar mal. Bom, na época eu odiava a ideia de entrar para o coral...
- Não sei não, Lily. Quando você foi cantar todo mundo ia cantar também, todo mundo estava nervoso, por isso não te zoaram tanto.
- Primeiro de tudo, eles não vão te zoar. Eles estão bem grandinhos para isso, quero dizer, menos Dorcas. E também pare de ligar para o que os outros pensam sobre você!
- Olha quem fala – Sean riu.
- E segundo – o ignorei -, todo mundo já passou por isso uma vez, e com certeza vai saber pelo que você está passando. E terceiro, ninguém vai zoar de você porque você canta muito, muito bem. Acredite.
- Mesmo assim, estou inseguro – Sean suspirou. – Quando você me ouviu cantar eu estava distraído, sem ao menos saber que você estava escutando. E agora com todo mundo olhando para mim...
- Então vamos fazer o seguinte – parei de caminhar e segurei Sean pelos ombros, a fim de ficar de frente para mim. – Eu canto junto com você, para que não se sinta tão inseguro.
Sean ponderou por um minuto.
- Certeza?
- Todo mundo já está familiarizado comigo e com minhas desafinações – dei de ombros.
- Tudo bem – ele concordou, mais aliviado. – E também você poderia dar um jeito de me ofuscar.
- Como assim? – perguntei.
- Sei lá, cante o melhor que puder para eles não repararem só em mim.
Revirei os olhos.
- Mas eles tem que reparar em você, as audições são suas!
- Mesmo assim...
- Tá legal, tá legal – suspirei. – Mas eu escolho a música. Tenho certeza que vai gostar também. E podemos ensaiar hoje ainda.
- Certo, mas antes você vai me ajudar em Poções.
Concordei com a cabeça, e continuamos a caminhada.
- Você vai adorar, todo mundo vai amar você! – continuei a animá-lo, até chegarmos ao Salão e ele se juntar a seus amigos e eu aos meus. Agradeci James mais uma vez e contei as novidades para as garotas. Era incrível como Maria ficou inexplicavelmente mais animada.
Sirius POV:
Era estranho o almoço estar tão silencioso, cada um em seus próprios pensamentos. Lily passou por aqui pra agradecer James não sei do quê e logo foi se sentar com Alice e Maria, e agora os quatro marotos estavam totalmente absortos. Bom, até Rabicho falar.
- No que está pensando, Pontas?
- Em Lily – falou automaticamente. – No tanto que espero por ela e nada.
- E você, Aluado? – Rabicho perguntou.
- No coral. E na próxima lua cheia.
- E você Sirius?
- No meu encontro com Beth semana que vem – respondi.
Era sempre assim, em momentos raros em que estávamos meio avoados, Rabicho fazia seu questionário, apesar de nunca nenhum de nós perguntar no que ele estava pensando. Nunca se sabe, afinal, ele parecia gostar de ninguém lhe perguntar.
Passamos o resto da refeição assim, parecendo quatro retardados olhando para o nada.
Dorcas POV:
Gente, babado. – DM
Dorcas, por que você está trocando bilhetes na biblioteca? – SM
Ora, a mafiosa da Madame Pince fica enchendo o saco quando a gente conversa, então o jeito é por papel mesmo. – DM
Que seja. E não estamos interessadas em babado nenhum. – SM
Nossa, depois ainda falam que a chata sou eu! – DM
Sim, por ficar nos enchendo a paciência. Estamos tentando estudar! – SM
E por que nossa querida amiga Emelina não está respondendo? – DM
Não sei... – SM
Ah, claro. Ainda deve estar brava porque não aceitamos a ideia maluca de cantar na frente de todo mundo. – DM
É por isso, Lina? Desculpe, mas estou atolada de deveres, você sabe... – SM
Não, tá tudo bem. Já arranjei outras pessoas. Só estou tentando terminar esse exercício de Transfiguração. – EV
Viu, Dorcas? Não atormenta. – SM
Que se dane, vou contar o babado de qualquer jeito. Acho que a Evans é pedófila. – DM
É O QUÊ? – SM
É O QUÊ? +1 – EV
Pedófila gente, nunca ouviram falar não? Quem abusa sexualmente de menores. – DM
Sabemos o que é, Dorcas, poupe-nos dos detalhes. Mas por que está dizendo isso? – SM
Você não viu ela com aquele garotinho indefeso do quinto ano? Muito suspeito... – DM
Eu tenho que aprender a te ignorar. – SM
Mas quem é aquele garoto? – DM
Pelo que eu sei ele é o novo membro do coral. Lily o convenceu a entrar. – EV
Sei, sei. Muito estranho isso aí, hein. – DM
Estranho, é. Agora vai deixar a gente estudar ou tá difícil? – SM
Ainda vou descobrir esse interesse, ah se vou. – DM
Dorcas! – SM
Mas isso é estranho! – DM
Dorcas, para de passar esse papel, estou avisando... – SM
Deixa de drama, é muito tediosa essa biblioteca. – DM
- Dorcas! – Sophie reclamou, quase num grito. Logo abaixou a cabeça, disfarçando quando a olho de coruja passou perto da gente.
E depois eu que sou a chata! – DM
Lily POV:
Já estávamos caminhando em direção a sala comunal. Eram quase onze horas, e eu podia sentir o nervosismo de Sean mesmo sem ele dizer.
- Não vou conseguir fazer isso.
- Calma, Sean. Cantar não é um bicho de sete cabeças. Muito menos o pessoal do coral – tentei o tranquilizar. Acho que não adiantou muito.
- E se eu errar a letra? Se eu desafinar?
- Todo mundo erra. E além de tudo, passamos a noite ensaiando. A música é ótima – respondi.
- Eu sei, mas...
- E você já estará "ofuscado" o bastante, relaxa – fiz aspas com os dedos. – É só relaxar e cantar. Estarei lá pra te ajudar.
Sean parecia tenso, e piorou mais ainda quando entramos na sala.
David POV:
Todos já estavam na sala, conversando entusiasmados, quando os últimos dois que faltavam chegaram.
- Pessoal, conheçam nosso novo membro! – falei, contente. – Sean McBouth!
Alguns aplaudiam, outros assobiaram. Vi Lily trocar um rápido olhar de incentivo com Sean.
Desde o começo senti a situação do nervosismo se repetir e vi que Sean era indubitavelmente um desses casos. Mas, assim como outros, creio que vou conseguir soltá-lo aos poucos.
- Nosso amigo disse que faria uma demonstração para nós, certo? – falei.
- Er... Na verdade, professor... – Lily se adiantou. – Sean pediu para eu fazer um dueto com ele, pra não se sentir tão inseguro.
Dorcas fez mais um de seus comentários ofensivos, enquanto não deixei claro que percebi que Sean fuzilou Lily com o olhar. Ao contrário disso, sorri.
- Claro, estou ansioso para ouvir ambos, e espero que nossos músicos possam ajudar – balancei a cabeça para eles, que confirmaram.
- É, nós já estávamos treinando, eles sabem a música – ela sorriu. Afinal, qual música eles não sabem?
- Então, tudo pronto? – me dirigi até um banco próximo. – Podem começar.
Antes de Lily acenar para Brad, vi novamente ela lançar um olhar encorajador para Sean, e a música começou.
Ouvir: Defying Gravity
- Something has changed within me, something is not the same,
I'm through with playing by the rules of someone else's game – Lily cantou.
- Too late for second guessing, too late to go back to sleep, it's time to trust my instincts, close my eyes and leap! – uma voz nunca ouvida por mim ecoou na sala. Era Sean cantando, e não pude deixar de concordar com Lily quando disse que tinha uma voz incrível.
- It's time to try defying gravity – cantaram juntos, e pela expressão dos outros pareciam que estavam aprovando também. - I think I'll try defying gravity. Kiss me goodbye I'm defying gravity, and you won't bring me down…
- I'm through accepting limits, cause someone says they're so – Lily cantava, afinadamente.
- Somethings I cannot change but 'till I Try I'll never know!
- Too long I've been afraid of…
- Losing love I guess I've lost – Sean completou, e dessa vez Lily segurou sua mão para cantar juntos.
- Well if that's love it comes at much too high a cost! – era incrível como suas vozes faziam uma combinação perfeita; houve aplausos. - I'd sooner by defying gravity! Kiss me goodbye I'm defying gravity! I think I'll try defying gravity! And you won't bring me down…
E agora todos assistiam atentos e com grandes sorrisos – exceto por Dorcas que insistia em olhar pra outra direção.
- I'd sooner be defying gravity! Kiss me goodbye I'm defying gravity! I think I'll try defying gravity, and you won't bring me down, bring me down!
E a música foi finalizada com a nota estendida de Lily, o que causou aplausos e mais assobios, e até eu não resisti a me por de pé para aplaudi-los também.
- Isso foi... perfeito! – eu disse em meio a mais aplausos. – Muito bem Lily, muito bem Sean.
- Obrigado – agradeceram.
- Pedofilia é crime! – Dorcas gritou quando os aplausos cessaram o suficiente.
- E feiura também é. No seu caso você pegaria prisão perpétua – Lily rebateu. O mutirão de risadas e gritos desafiadores preencheram a sala.
- Vamos parar com isso – repreendi. – Bom, Sean, seja bem vindo. Lily não estava errada quando falou sobre você.
- Obrigado – Sean respondeu meio acanhado, mas parecia satisfeito com o resultado.
O resto da aula correu normal, e eu percebia o tanto que Sean já estava enturmando facilmente, ainda mais com a ajuda de Lily. Dorcas continuava de cara amarrada, sendo ignorada até mesmo por Emelina e Sophie, que se ocuparam a conversar com Sean também.
Depois disso aquecemos mais a voz, ensaiamos mais um pouco os passos de Valerie, e enfim, tudo correu normal.
Um membro. Era o que faltava para finalmente completarmos a equipe.
Que Merlim nos ajude.
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