Audições
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SÁBADO
Lily POV:
Acordei totalmente nervosa naquele dia. E ainda era cedo. Droga.
Acho que eram oito horas, horário inadmissível em pleno sábado, e as outras garotas ainda dormiam. Alice dormia feito um anjo – sempre com um sorrisinho curvado (talvez sonhando com Franco) e Maria estava espalhada na cama como se houvesse sido jogada. Me pergunto se ela ainda se lembra do que fizera ontem, considerando que parecia estar mais dormindo do que acordada. Louise continuava a dormir calmamente, e Beth roncava, como sempre.
Ia me perguntando se acordava Alice e Maria, quando minha atenção foi brevemente virada para um barulho irritante que batucava na janela, e percebi com espanto uma coruja marrom escura carregando um montinho de cartas. Corri meio silenciosamente e na ponta dos pés até a vidraça, a abri e peguei três cartas do bico da coruja, que logo abriu as asas e partiu.
Os envelopes eram exatamente iguais, mesma cor bege escura e a mesma tinta azul indicando o meu nome, o de Alice e Maria. Peguei a minha, afinal as outras correspondências não eram pra mim; se bem que eu tinha quase certeza que eram as mesmas cartas.
Abri com curiosidade o papel, que dizia:
Cara senhorita Evans,
Agradecemos muito seu intuito de participação em nosso Clube, e desejamos sorte em sua audição que ocorrerá no dia 07/09. O horário e local estão informados abaixo:
Horário: às 11h da manhã.
Local: Auditório, masmorras.
Mais uma vez agradecemos a sua participação e esperamos que compareça conforme marcado.
David Lewis Moreau.
Se o Prof. Moreau pensou que esse recado me deixaria mais calma, ficou muito enganado. Mas não sei não... Ele não parece o tipo de pessoa que manda cartas assim (ainda mais com essa cordialidade desnecessária). Com certeza isso é coisa de Dumbledore. Só sei que isso me deixou mais nervosa, fazendo meu estômago revirar estranhamente.
Reli a carta, e com uma dúvida repentina notei o "Auditório, masmorras". Hã? Auditório? Desde quando Hogwarts tem um auditório? Quero dizer, estudo nessa escola há sete anos e nunca tive conhecimento de auditório nenhum! As vezes acho que tudo isso é uma pegadinha...
Ou não. As masmorras são muito complexas, cheias de corredores e tudo o mais. Nunca me atrevi a andar muito por lá, apenas na aula de Poções, já que a sala fica praticamente na entrada das masmorras. Mas lá não é lugar muito agradável, levando o fato que ouvi boatos que é lá que se situa a sala comunal da Sonserina. Mas talvez exista a possibilidade, já que nunca procurei explorar todo o castelo...
- Lily? – ouvi a voz embriagada de Alice, que erguia a cabeça dos travesseiros e olhava pra mim, cabelos totalmente bagunçados.
- Bom dia. – falei sem emoção. – Chegou uma carta pra você.
- De quem? – ela perguntou/resmungou, enquanto tentava se levantar.
- Professor Moreau.
- Quê? – Alice franziu a testa, quando ouvi outra voz.
- Droga, deve ser aquela porcaria de coral. – a voz de Maria saiu irritada, e supus que já fazia um bom tempo que ela estava acordada. – Ainda vou te matar, Lily.
- Se você fizer isso antes das onze horas, eu agradeço. – respondi com sinceridade, mas Maria apenas bufou.
- Onze horas? – Alice se espantou, levantando da cama rapidamente. – Merlim, tenho que me arrumar!
- Ainda são oito e meia... – tentei argumentar, mas Alice já havia pegado suas coisas e se trancado no banheiro.
- Acho que simplesmente não vou comparecer. – Maria voltou a se acomodar em sua cama. – Não estou nem um pouco com vontade de sair daqui tão cedo.
- Você não faria isso nem por sua amiga querida? – questionei.
- Você tem Remo. – ela falou, e eu sabia que se não estivesse enfiada debaixo do cobertor teria dado de ombros. – E Alice. E outras várias pessoas. Não precisa de mim.
- Mas já que se inscreveu...
- Simplesmente não insista. – ela cortou, e decidi não dizer mais nada, afinal, Remo iria comigo.
Alice saiu meio agitada do banheiro algum tempo depois, e me apressei a tomar um banho e ver se relaxava, pois logo vou passar por um dos piores momentos dentro desse castelo.
Remo POV:
Estava eu sonhando com luzes e borrões estranhos, quando sinto uma dor alucinante na cabeça. Acordo e vejo James simplesmente acabando-se de dar travesseiradas em mim.
- Ai! Que isso...! – tentei me desvencilhar. – James! Pare com isso! Droga, pare!
- Posso... – ele deu outra travesseirada – saber – mais uma – por que – e mais outra; cara, ele estava batendo realmente forte – você... entrou... pro... coral?
- Argh, droga! – eu disse quando recuperei totalmente meus reflexos e consegui tirar o travesseiro de suas mãos. James corria os olhos pelo quarto, em busca de outra arma.
Sirius e Pedro apenas riam. Um barulho de chuveiro indicava que Franco estava no banho.
- Você é louco? – acariciei minha cabeça dolorida, e James me lançava um olhar mortal.
- Por que entrou no coral? – ele repetiu totalmente furioso, e eu lhe lancei um olhar indagador.
- De todos, achei que você seria o que menos contestaria.
- Por quê? – James repetiu.
- Porque Lily me pediu.
Seguiu-se o silêncio, e James ficou vermelho. Sirius murmurou um "Iih" quando percebi o que vinha a seguir.
Desviei por pouco do feitiço que James havia lançado, pegando rapidamente a varinha na mesa de sua cabeceira. Ele lançava um após outro, e eu desviava o mais rápido possível.
- PARE, JAMES! – gritei, quando por um segundo não fui estuporado.
Mas ele só parou quando finalmente o crápula do Sirius tomou uma atitude sensata e usou um Expelliarmus, fazendo a varinha de James voar e sumir.
- Droga! – ele murmurou.
- James, dá pra você me ouvir?
- Como assim você entra para o coral? A pedido de Lily, de Lily! – ele berrou indignado.
- Ela me forçou...
- Mentira!
- Apenas me escute, James! – insisti, estendendo meus braços para que o impedisse de avançar. – Me escute!
James arfava alto, mas parecia tentar se acalmar.
- Certo, me escute. – falei cauteloso. – Lily me forçou. Ela até fingiu chorar! – aumentei a voz quando vi que ele protestaria. – Mas agora percebi que você deve estar pensando coisas, mas eu fiz um favor de amigo!
- E por que não nos disse antes? – James perguntou, e com alívio percebi que ele parecia mais calmo.
- Porque quando cheguei aqui apenas encontrei Franco roncando. – dei de ombros.
- Estávamos por aí, a fim de te encontrar. – Sirius respondeu no lugar de James.
- Eu estava fazendo ronda com Lily, o que ocasionou que ela acabasse por me convencer a me inscrever, mas – cortei James novamente – eu vou sair mais rápido possível, só fiz um favor.
James não respondeu; ficamos um bom tempo encarando um ao outro, o silêncio ainda governando, quando James bagunçou o cabelo num modo sem graça.
- Bom, é... – ele começou, mas eu ergui as mãos.
- Não precisa dizer nada, eu sei. – falei, ao mesmo tempo em que a porta se abria e Franco aparecia na porta com um ar assustado, olhando ao redor com incredulidade; os feitiços de Pontas haviam causado grande estrago no quarto.
- Que furacão passou por aqui? – Franco questionou.
- Nenhum. – respondi, e com pressa peguei tudo o que precisava e entrei no banheiro.
Emelina POV:
- Achei você! – gritei com mais entusiasmo que o necessário. – Oi, Dorcas!
Por um segundo ela me olhou espantada, mas depois sorriu.
- Fala, Lina.
Parei um pouco e respirei fundo, pois eu tinha corrido um pouco para chegar no salão. Afinal, eram nove horas já! As audições seriam daqui duas horas!
- Eu sei que você vai me perguntar o porquê de eu ter entrado no coral. – ela falou antes que eu mesma dissesse. – E a resposta é... não sei.
- Não sabe? – ergui a sobrancelha.
- Não sei. – ela confirmou, soltando um suspiro. – Acho que foi por pena de te deixar sozinha com os outros.
- Mas Sophie e Jason estão comigo... – murmurei, e Dorcas bufou.
- Tem certeza que isso significa alguma coisa?
Revirei os olhos.
- Pare com isso Dorcas, já te expliquei os motivos de Sophie. – falei, mas Dorcas não respondeu, apenas enchendo a boca de cereal.
Ficamos um pouco em silêncio, tempo suficiente para eu perceber a chegada de Lily acompanhada de Alice e Maria. Ela me deu um pequeno aceno, enquanto eu notava a cara emburrada de Maria. Suponho que seja pelo fato de ter se inscrito também. Logo depois veio os marotos, anormalmente silenciosos, ainda mais pelo fato de várias cabeças virarem pra eles; mas não com aquela expressão de admiração que geralmente usavam, e sim intrigados por um deles, Remo Lupin, também ter se inscrito. E por falar nisso, ele parecia bem melhor. Sorri satisfeita.
- Sabe que música vai cantar? – Dorcas perguntou me tirando de meus devaneios.
- Er... – mordi o lábio. Caramba! Nem ao menos tinha pensado nisso! – Não.
Acho que Dorcas percebeu meu desespero, então sorriu.
- Podemos cantar juntas, como uma dupla. – sugeriu.
- Faria isso? – senti meu entusiasmo crescer, e despencar desesperadamente pensando em Sophie. – Obrigada.
Mais uma vez, Dorcas percebeu minha expressão meio vazia, e suspirou.
- Mas se quiser cantar com Sophie, eu realmente não me importo. – ela disse com certo tom irritado.
- Não. – respondi rapidamente. – Escute, Dorcas. Nós... podemos fazer isso... todas juntas. Como nos velhos tempos.
Ela olhou bem pra meu sorriso encorajador – mais para mim do que pra ela – e começou a gargalhar.
- Emelina Vance, você é tão ingênua! – ela balançou a cabeça.
- Por favor, Dorcas... – franzi a testa. – Por mim.
- Já fiz demais por você.
- Só mais isso? – implorei com pressa, e ela me fitou profundamente.
Demorou pra responder, mas enfim falou.
- Certo, mas eu escolho a música, e talvez a coreografia. – disse com impaciência.
- Ótimo! – falei animada, e então me pus de pé. – Vamos, vamos achar Sophie.
Puxei sua mão enquanto corríamos para o dormitório, onde eu tinha certeza que Sophie ainda dormia.
Alice POV:
- E então – falei, com a boca cheia de pudim –, que músicas vocês pretendem cantar?
- Não pensei nisso ainda. – Lily me olhou com ar de choque. – Merlim, que música vou cantar?
- Cante alguma de suas cantoras preferidas. – sugeri.
- Não sei. – Lily franziu a testa. – A minha preferida é Barbra Streisand, mas cantar alguma música dela é esculachar demais, quero dizer, eu vou cantar horrivelmente mal, com certeza ela começaria a chorar me ouvindo cantar alguma música dela. – Lily deu de ombros com indiferença, e eu não resisti a rir; Maria não riu, mas um pequeno sorriso curvou-se em seu rosto.
- E que música você vai cantar, Alice? – Lily perguntou, insegura.
– Estava pensando em West Side Story, um musical que gosto muito. – respondi com um sorriso.
- Nunca ouvi falar. – Maria comentou, repentinamente entrando no assunto.
- Já pensou no que cantar, Maria? – Lily hesitou.
Maria pareceu fuzilar Lily com o olhar por um momento, até responder.
- Dionne Warwick. – disse enfim, dando de ombros. – Prima de Whitney Houston. Gosto muito das duas.
Eu e Lily nos entreolhamos com surpresa. Porque 1) Maria gostava desse tipo de música (esperava coisas muito mais atuais) e 2) Ela havia pensado no assunto anteriormente.
- Boa escolha. – elogiei depois da momentânea incredulidade.
- Só falta você, Lily. – Maria disse com um tom falso preocupado, e Lily olhou para o teto.
- Tenho mais duas horas pra pensar sobre isso.
- Pois pense logo, não vai demorar muito pra irmos para as masmorras. – falei.
E acabei puxando o assunto do auditório, imaginando como haviam construído um sem nós sabermos. Quero dizer, com mágica é tudo mais fácil, e com certeza haviam feito isso durante nossas férias. A curiosidade já estava tomando conta de nós enquanto terminávamos nosso café (Maria estava voltando ao seu tom agradável aos poucos). A conversa estava animada, quando meu relógio de pulso anunciou dez horas.
Sirius POV:
O clima andava meio chato durante o café. James visivelmente ainda estava meio arrependido por ter tentado acertar Remo com um feitiço, e se não fosse por mim, é claro, era para Aluado ter ido para enfermaria – de novo. Ele não parecia estar bravo com Pontas, e sim... chateado? Não sei, só sei que Rabicho estava igual eu, esperando desesperadamente por um assunto. Tentei puxar uma vez ou outra falando de Beth, outras falando sobre Cooper, mas não adiantava alguma coisa. E isso estava me dando nos nervos.
Eu estava prestes a protestar, quando Remo se levanta da mesa.
- Tenho que ir.
- Pra onde? – perguntei, curioso. – Você não disse que o mico seria às onze?
- Sim, mas é que tenho que tratar... bem, de algumas coisas. – ele falou meio constrangido. Eu dei um sorriso malicioso.
- Que coisas?
- Coisas, Sirius! Coisas! – Aluado parecia irritado. – Tchau.
- Tem Lily no meio? – perguntei de supetão, e Remo voltou pra perto de nós com uma expressão nada amigável.
- Não. – ele resmungou com raiva. – Ou melhor sim. Tenho que falar a respeito da droga da música que vou ter que cantar, afinal, isso é um coral.
Ele disse isso depressa e com uma fúria crescente me deixou pra trás rindo, andando rapidamente e ganhando mais olhares curiosos iguais aos outros quando entramos no Salão.
- Sério, ele tá louco. – balancei a cabeça.
Rabicho riu, mas James não respondeu. Continuava com a cabeça em outro mundo. Caramba, ele precisava sair desse transe. Tenho que arranjar alguma coisa que possa o animar...
Ah! Sou um gênio!
- Ei, Pontas. – joguei um pedaço de pão na sua cara, e ele se espantou.
- Quê? – disse sem emoção alguma. Isso ia acabar.
- O que você acha de irmos assistir a audição do nosso amigo Remo e da nossa querida Lily, hein? – sugeri com um sorriso divertido.
James, como eu previra, deu um sorriso, e seus olhos brilharam.
- Ótima ideia, Almofadas! – ele bradou com entusiasmo.
E então logo nos levantamos, indo em direção as masmorras, graças à aguçada curiosidade de Rabicho de ler a carta de Remo. Ah, sou um gênio mesmo.
Dorcas POV:
Não devo negar que me diverti com a expressão de Sophie ao me ver entrar no quarto acompanhada de Lina. Por sorte estávamos sozinhas, pois as outras garotas já haviam descido para o café.
Ela acordou meio emburrada, mas seus olhos se arregalaram ao me ver ali, e ficou totalmente sem graça. Quase ri na cara dela, mas preferi continuar com a fachada irritada. Afinal, a medida que meu cabelo crescia eu esquecia do ocorrido – com grande dificuldade, devo dizer. Hoje constatei que ele havia crescido relativamente, e já estava quase na altura dos ombros. Isso era bom, mas ele tinha que crescer mais depressa, estou cansada de dar desculpas a Veronica por causa desse lenço estúpido.
Mas então, Sophie ficou escarlate, gaguejou um pouco, e depois tomou um banho rápido. Aceitou o trato de cantarmos juntas, e depois começou a escutar atentamente minhas opiniões.
- Podemos cantar Lady Gaga. – sugeri, e Emelina balançou a cabeça.
- Não pode ser outra coisa, tipo... Aretha Franklin?
- Não, muito fora do meu estilo. – discordei, e Emelina suspirou.
- Podemos cantar I Say a Little Prayer, por Dionne Warwick. – Sophie, pela primeira vez, opinou. – Foi regravada por Aretha, e é uma música bem legal.
- Não. – cortei, e Sophie fez uma cara de indignação. – Vamos cantar algo mais atual.
- Como o que, por exemplo? – Sophie disse irritada.
- Estou pensando.
E fiquei pensando uns bons quinze minutos, dei algumas opções – que Emelina (e por vezes Sophie) negavam. Até que enfim eu falei.
- Certo, já sei. – falei com um sorriso debochado, olhando diretamente para Sophie. – Cantaremos Diana King.
- Qual música? – Emelina perguntou.
- I Say a Little Prayer. – disse na maior cara de pau, e Sophie bufou com impaciência.
- Olha aqui, Dorcas, eu entendo que você deve ainda estar brava comigo, mas você nunca pensou na possibilidade de eu estar tão chateada quanto você? – ela desafiou, ficando de pé. – Eu passei muito mais desespero que você, quase ARRANQUEI MINHA PELE FORA e POR SUA CULPA!
- E EU PERDI PARTE DO MEU CABELO! – gritei, entrando no clima. Não estava tão nervosa assim, mas eu gostava de barraco.
- MAS NINGUÉM VIU, DEU PARA ESCONDER! – ela gritava, e Emelina parecia entediada ao nosso lado. – TODO MUNDO VIU MINHA DESGRAÇA, POR POUCO NÃO FIQUEI PELADA NA FRENTE DE TODO MUNDO, E VOCÊ SÓ RIA!
- MAS MEU CABELO É PRECIOSO PARA MIM!
- E MINHA PELE NÃO É?
- Tá legal, já chega. – Emelina interrompeu com uma naturalidade estranha. – Vamos parar com a gritaria, vão pensar que vocês são loucas. Já que está decidida a música, vamos fazer alguma coreografia, certo Dorcas?
Eu ainda arfava alto, mas então comecei a rir.
E enquanto ria via Sophie e Emelina trocarem olhares confusos, e eu ria, afinal, era tudo hilário.
Demorei um tempo para parar, e nessas alturas Sophie estava sorrindo, reprimindo a vontade de me acompanhar, e Emelina balançava a cabeça.
Enfim, demoramos um pouco pra formar uma coreografia. Sophie insistia que não era necessário, mas ficaria estranho três garotas bobas ficarem em pé cantando e se balançando. Emelina concordou, e bolamos algo simples o bastante para ser rápido, e até que ficou bom. Pra mostrar que não estava tão brava assim, deixei Sophie fazer a voz principal.
Faltavam dez para as onze quando saímos em direção às masmorras.
Lily POV:
Eu e Maria ainda estávamos procurando a droga do auditório (Alice tinha ido se encontrar com Franco) e internamente eu me remoía pensando na música que eu cantaria, quando sou abordada por Remo, talvez procurando pelo auditório também.
- Ei Lily, estava procurando por você. – errei.
- Olá Remo. – sorri, e fiquei com culpa, afinal ele havia entrado por mim e eu nem ao menos estava com ele. Decidi mentir. – Eu não te achei...
- Tudo bem. – ele deu um pequeno sorriso. – Só queria saber sobre, bem, a música.
- Nem me fale, eu também não sei. – falei com desânimo.
- Faça que nem Alice falou, cante alguma música que você goste. – Maria disse, e Remo franziu a testa.
- Boa ideia, mas não faço a mínima ideia de qual cantar.
- Bom, então na hora você decide porque já são onze e cinco! – falei com espanto. – Você sabe onde fica o auditório?
- Sei.
- Então vamos! – disse com ansiedade. Droga, cantar! Como eu iria fazer isso se sou tão nervosa e descontrolada? Minha vida estava perdida.
Vou me jogar no lago depois da audição. Porque até lá todos não vão conseguir parar de olhar na minha cara e rir no meu talento fracassado.
Ainda pensava nisso quando Remo nos indicou uma porta enorme, feita com um ferro totalmente negro. Abri cautelosa, e dei de cara com um corredor na vertical, um pouco largo, as paredes de um veludo escuro e coberto por duas cortinas vermelhas longas e altas, postas a lados laterais. Escolhemos a da direita e entramos.
Me senti num teatro. Havia milhares de poltronas enfileiradas em direção a um grande palco com vários instrumentos posicionados. Afinal, quem tocaria eles? Mas eu ainda observava o poder que a magia tinha, pois estava boquiaberta vendo tudo; era grande, o piso era curvado em direção ao palco, como uma descida.
Ainda caminhava tonta entre o corredor, olhos arregalados com a surpresa e ainda mais surpresa ao ver o andar de cima com mais cadeiras. Bom, acho que Hogwarts inteira cabia ali, e ainda sobrava.
Localizei poucas pessoas aqui e ali, como Emelina, Sophie e pra minha curiosidade, Dorcas. Eu pensei que elas tinham brigado, ou algo do tipo, mas decidi não argumentar. Alice e Franco estavam sentados mais próximos do palco, conversando com uma figura bem conhecida. Era um garoto magricela, oriental, que ria descontroladamente sabe-Merlim-do-que. Droga, ele parecia aqueles pivetes marrentos estilo James Potter – ou pelo menos como ele era. Nos juntamos a eles, e Alice sorriu.
- Oi gente. – ela disse, ainda um pouco vermelha de tanto rir do tal do John Khan. – Então, curtiram o lugar?
- Incrível! – Maria exclamou, não se contendo. – Caramba, Dumbledore caprichou, hein?
- É. – ela olhava ao redor. – Suponho que será aqui as competições, não é?
- Seja onde for, depois dessa audição vou ficar bem longe daqui. – suspirei, nervosa.
- E onde está o Prof. Moreau? – Remo perguntou, procurando. Ele não parecia está em nenhum lugar, mas eu supus que aquela mesa num lugar mais alto do auditório fosse a mesa do coordenador.
- E então, já decidiram a música de vocês? – Remo parecia meio incomodado, parecia eu. Acho que nós dois estávamos na mesma situação.
- Sim, mas vai ser surpresa. – Alice riu. Era a mais feliz de todos nós, afinal era a única entusiasmada com esse papo de cantar.
Seguiu-se um silêncio constrangedor, cada um perdido em seus pensamentos e acho que a maioria era do tipo "Não acredito que entrei nessa droga de coral, vou sair o mais rápido possível". Aliás, esse era o meu pensamento.
Sophie POV:
Ainda estava feliz de ter Dorcas de volta – pelo menos por enquanto – quando me detive notando que parecia faltar alguém...
- Jason! – exclamei de repente. – Droga, me esqueci dele!
- E daí? – Dorcas deu de ombros. – Ele sabe andar, não sabe?
- Mas o certo era ele vir comigo.
- Ele não é mais criança. – Dorcas disse, mas ignorei.
- Caramba, ele deve ter se perdido, sei lá. É difícil achar o auditório. – eu falei apreensiva, olhando constantemente pra trás. – Se não fosse por Khan...
- Pensando bem – Dorcas começou com uma voz divertida e olhar malicioso –, tá aí uma das vantagens de ter entrado nesse coral. Seu irmão também participa.
- Ha ha. – ri com ironia, ainda me perguntando onde ele estava.
- Calma So, logo ele vai aparecer. – Emelina tentou me tranquilizar, sem sucesso.
E então vi uma figura masculina abrir as cortinas e entrar. Jason! Ainda bem! Mas vi direito... não, não era Jason, era o Prof. Moreau. Merlim, me ajude a não ficar nervosa.
Ele andou até o palco, subiu calmamente as escadas – sempre seguido por olhares dos presentes.
- Olá, bem vindos a audições do coral da Grifinória. – ele disse, meio sem graça. Tadinho, super panda o Prof. Moreau, mas gosto dele. – Vou pedir para que vocês sentem todos juntos aqui na frente, vai facilitar as coisas.
Não quis nem saber o que seria essas coisas, quando a contragosto juntávamos a Lily e os outros. Não tenho nada contra ela, não, só me sinto melhor sentada no fundo, protegida de constrangimentos posteriores.
Sentamos perto do palco demais para meu gosto, e Moreau nos lançou um sorriso satisfeito.
- Ótimo, agora veremos... - ele nos olhou bem, e então ergueu as sobrancelhas. – Está faltando alguém.
Muitas entreolhadas depois, eu falo envergonhada.
- Jason. Eu não sei onde ele está, deve ter se perdido.
- Se perdido? – ele perguntou confuso, sobrepondo-se sobre as risadinhas baixas dos outros.
- Tô aqui. – ouvi uma voz alarmada e arfante correndo, meio que tropeçando, e lá vem meu irmãozinho todo atrapalhado. – Desculpem a demora, eu perdi a hora...
- Tudo bem, o que importa é que veio, pode se sentar. – o professor sorriu, e mais uma vez o seguimos com o olhar, observando-o caminhar até uma mesa posta mais pra cima. Se sentou, murmurou alguma coisa para varinha e sua voz saiu ampliada:
- Certo, chamarei o nome de vocês de acordo com a lista, e por favor dirijam-se ao palco. – sua voz ecoou por todo auditório.
Foi um silêncio totalmente constrangedor enquanto Moreau remexia nos papéis, até ele falar.
- Alice Brown.
Sirius POV:
Observávamos tudo silenciosamente, escondidos atrás das últimas poltronas. James se esticava para ter uma visão melhor, e eu sempre ficava alerta a Filch. Afinal, foi um azar nos encontrarmos com ele no corredor ao lado e ouvir sua bronca dizendo que íamos ao salão comunal da Sonserina. Pffff. O que eu faria naquele ninho de idiotas?
Por fim conseguimos despistá-los e ainda xingava a mim mesmo por não ter trago o mapa comigo para evitar que ocasiões como essas acontecessem. Olhamos Moreau chegar e por pouco não trombamos com McKinnon quando este apareceu correndo feito louco, e agora era a fez de Brown cantar.
- Tonight, do musical West Side Story. – ela informou.
Sei lá que feitiço Moreau fez, mas ao tocar a varinha numa espécie de CD player bruxo meio enferrujado, a tal música começou a tocar, porém instrumental. Interessante.
Ouvir: Tonight (Tina Cohen-Chang)
- Tonight, tonight, it all began tonight, I saw you and the world went away…
Até que ela cantava bem, e fazia alguns gestos legais com as mãos. Olhei para James, que sorria estranhamente.
- Tonight, tonight, there's only you tonight, what you are, what you do, what you say!
- Canta bem, né? – Rabicho, que estava um pouco mais pra trás, comentou com James, quando sua voz se estendeu no "say".
- É. – ele concordou.
- Today, all day I had the feeling, a miracle would happen, I know now I was right… - ela cantava sorrindo abertamente, e parecia um pouco nervosa apesar disso. – For here you are, and what was just a world… is a star…Tonight!
E a música finalizou. Fiz uma pequena careta quando ela desafinou no final. Deu um pequeno pigarro, corada, novamente para os aplausos.
- Ótimo, Alice! – a voz ampliada do Professor Moreau parecia satisfeita. – Seja bem-vinda ao coral.
Brown ficou radiante, e desceu do palco quase aos pulinhos.
Lily POV:
Ainda estava boquiaberta quando Alice sentou ao nosso lado. Caramba, ela cantava bem! Desafinou no final, mas era só questão de prática, já que Moreau a aceitara. Mas tudo ainda martelava na minha cabeça. Que droga de música eu vou cantar?
- Muito bem... agora. – Moreau voltou a consultar a lista. – Franco Longbottom.
Olhei para Franco, que estava totalmente enrijecido. Colocou-se de pé, mas não se moveu.
- Er, professor? – ele começou constrangido. – Se importa se eu fizer apenas voz de fundo?
A gargalhada de Dorcas foi alta, e eu revirei os olhos. Se não fosse meu nervosismo eu havia a repreendido.
- Não vai ao menos tentar, Franco? – a voz do professor parecia indecisa.
- Acho que não vai ser agradável para ninguém. – ele disse, e parecia sincero. – Quero dizer, vai ser preciso de back vocal, não?
Ouviu-se o suspiro ampliado de Moreau, que por fim disse.
- Tudo bem, já que pretende levar a sério. Aliás, precisamos de um bom número...
- Eu também quero ser back bocal. – Jason McKinnon se levantou rapidamente, e houve alguns risos, inclusive da minha parte.
- É, back vocal, seu jumento. – Maria corrigiu com uma mistura de desprezo e desagrado, e ao ver quem falara, Jason estreitou os olhos.
- Eu falo do jeito que eu quiser.
- Vamos parar com isso. – repreendeu Moreau, injustiçando Maria por estar com a voz alta. – Senhor...
- McKinnon. – falou com a voz trêmula.
- Não acha que tem capacidade suficiente para poder cantar? – Moreau perguntou, mas estava bem calmo e um tanto acolhedor.
- Não. – ele disse meio constrangido, e dessa vez foi Maria que gargalhou alto.
- Então por que entrou? – Moreau quis saber, e Jason olhou rapidamente para a irmã.
- Por quê? Er... – ele olhou novamente. – Bom, porque eu desejo fazer voz de apoio.
Maria ainda ria, mas dessa vez com um som abafado, e Moreau parecia raciocinar.
- Tudo bem. – ele suspirou novamente, e com um gesto de vitória, Jason voltou a sentar, mas outro se ergueu.
- Também quero entrar para o vocal de apoio. – Remo disse rapidamente.
- Eu também! – decidi de uma vez, afinal, eu e Remo não ficaríamos ali, apenas não queríamos cantar agora.
- E eu! – Khan falou, mas parecia ser mais firme.
- Podem parar por aí! – Moreau nos interrompeu a ponto de ficar em pé em sua mesinha de mogno. – Nada disso, vocês vieram aqui pra cantar, temos que ter mais vozes principais nesse clube!
- Prof. Moreau? – Khan ergueu a mão. – Eu realmente queria fazer voz de fundo, porque entrei no coral apenas com o intuito de dançar.
- E você dança bem? – Dorcas perguntou em tom de deboche.
- Creio que sim. – Khan sorriu. Acho que é a única pessoa do mundo que sorri depois de um comentário de Dorcas Meadowes.
- Tudo bem, Khan. Deixaremos sua dança pra depois. – Moreau parecia cansado; ótimo, mal começamos e ele já estava nessa situação! – Vocês dois, sentem-se e tratem de aceitar o fato de que tentarão ao menos cantar.
Eu e Remo nos entreolhamos, demos um suspiro cansado simultaneamente, e voltamos a nos sentar, derrotados.
E só depois percebi com angústia que Moreau estava chamando os nomes em ordem de inscrição. Que ótimo!
- Certo, Franco Longbottom desistiu então... – ele ergueu a cabeça. – Lílian Evans.
Ferrou tudo. Vou me matar. Vou fugir. Adeus mundo cruel. Pai, mãe, te amo muito. Petúnia, você é insuportável, mas te amo também.
Estou caminhando em direção ao palco, trêmula, e, enquanto isso, deixo meu testamento agora:
Para Alice Brown: Deixo todas minhas roupas, já que veste o mesmo tamanho que eu. Deixo-lhe também Willy, minha coruja, pois sei que irá cuidar bem dela por gostar de bichinhos, afinal, não é a toa que ainda faz Trato das Criaturas Mágicas. Te amo muito.
Para Maria MacDonald: Deixo-lhe todos meus livros rabiscados com informações preciosas que tenho certeza que serão úteis para você, já que reclama tanto de sua inteligência. Deixo-lhe também minha coleção de cartas de sapos de chocolate e todo o resto que me pertence que está naquele dormitório. Também te amo.
Para mamãe e papai...
David POV:
Não estava sendo fácil lidar com a insegurança deles, aliás, que insegurança! Alice Brown cantou bem, desafinou, mas cantou bem. Fiquei entusiasmado por o começo ser assim, mas depois com tanto pedido de vocal de apoio fiquei com o receio de vê-los sentir tanto medo.
A próxima era Lílian Evans, que era uma das desistentes. Bem, veremos o que ela tem a mostrar.
- Que música? – perguntei com a voz ampliada pela varinha.
A garota ainda tinha os olhos fechados e murmurava alguma coisa; a mesma garota que havia gargalhado altamente fez o mesmo agora, o que fez Evans abrir os olhos com certo desagrado.
- Que música? – repeti.
Ela respirou fundo, mas pelo menos respondeu.
- Taking Chances, por Celine Dion. – ela falou com a voz tremida.
- Ótimo. – sorri, batucando no rádio mágico.
E a música começou, enquanto ela torcia as mãos no palco, olhar assustado. Começou a cantar, ou melhor, gritar.
- DON'T KNOW MUCH ABOUT YOUR LIFE, DON'T KNOW MUCH ABOUT YOU WORLD, BUT… DON'T WANT TO BE ALONE TONIGHT…
Os risos eram gerais, é claro, inclusive da garota que ria escandalosamente. Reconheci como Dorcas Meadowes, que percebi ser alguém difícil.
- ON THIS PLANET – Lílian tossiu. – CALL EARTH…
Então estreitei os olhos, reparando bem no seu jeito de cantar. Algo muito forçado e falso... parecia fazer de propósito.
- YOU DON'T KNOW ABOUT MY PAST...
- Certo, Lílian. – eu a interrompi tocando com a varinha novamente no rádio, e os risos cessaram também.
- Estou fora, não é? – ela falou sorrindo e confirmando minhas suspeitas. – Certo, adeus pessoal, foi ótimo estar com vocês e...
- Não. – respondi, rindo. – Achei que estava um pouco nervosa, portanto vou te dar uma segunda chance.
- O QUÊ? – ela arregalou os olhos.
- Você cantará depois de todos, terá tempo o bastante para se acalmar.
Lílian balbuciou, atônita, tentando protestar.
- Certo? – sorri, e ela corou, assentiu e saiu do palco depressa tropeçando nos pés, enquanto Dorcas continuava a rir.
James POV:
Ainda escondido nas poltronas, eu fazia força pra não rir. Lily fizera tudo como combinado nosso, e cantou horrivelmente – se bem que percebi que sua voz não era tão ruim assim, mas deve ser pelo fato que ainda tenho certa queda por ela. Mas, surpreendemente, o Prof. Moreau pareceu perceber, e agora só torço para que Lily bole alguma coisa que a livre dessa.
- Muito bem – Moreau dizia. – Já que John apenas será nosso dançarino, vamos ao próximo, que é... Sophie McKinnon.
Vi Sirius se endireitar na cadeira ao ouvir o nome, e a garota se ergueu, e como os outros, parecia trêmula.
- Er, Professor Moreau? – perguntou hesitante.
- Sim, Sophie. – ele suspirou.
- Eu vou fazer uma apresentação em conjunto com Emelina e Dorcas, pode ser?
Ele pareceu pensar um pouco.
- Elas irão cantar?
- Sim. – vi seus lábios se curvarem.
- Tudo bem. – Moreau concordou e as duas também se levantaram, e juntas caminharam até subirem o palco.
- Música?
- I Say a Little Prayer, Dionne Warwick. – Meadowes disse.
Eu conhecia música. Minha mãe ouvia ocasionalmente no nosso aparelho de vinil.
Ouvir: I Say a Little Prayer (Quinn, Santana e Brittney)
- The moment I wake up – McKinnon começou a cantar, e sua voz era doce e bem agradável. – Before I put on my make-up... I say a little prayer for you!
Meadowes e Vance faziam coro, e a coreografia estava bem legal e até mesmo charmosa. Era como se interpretasse tudo o que cantassem. (N/A: imaginem a coreografia das Cheerios, episódio 1x02)
- While combing my hair, now, and wondering what dress to wear, now… I say a little prayer for you! – McKinnon cantava, e parecia se soltar cada vez mais.
- Forever, forever, you'll stay in my heart and I will love you forever! And ever, we never will part… Oh, how I love you together, together, that's how it must be… To live without you! Would only mean heartbreak for me!
No momento em que a dança acabou, tive que segurar Sirius para que não aplaudisse juntos aos outros.
- Fantástico, garotas! – o Professor Moreau falou satisfeito, ainda aplaudindo. – Muito bem, muito mesmo. Estão dentro.
As três deram um momentâneo abraço mútuo, e depois desceram aos risos o palco. É, tive que reconhecer que elas dançavam e cantavam bem.
- Certo, já que Jason McKinnon desistiu – Moreau falou com desagrado -, vejamos... Remo Lupin.
Eu e Sirius trocamos sorrisos zombeteiros, quando vimos Aluado se erguer e andar meio trêmulo até o palco. Novamente, eu fazia força pra não rir.
- Qual música? – Moreau perguntou.
- Dancing With Myself de William Albert Michael Broad mais conhecido como Billy Idol. – ele falou tudo rapidamente, e Sirius soltou uma risada baixa.
- Excelente. – Moreau sorriu, novamente batendo a varinha no tal rádio mágico.
Enquanto a música começava, Aluado batia distraidamente o pé no chão no ritmo da música, e quando começou a cantar, era quase inaudível.
Ouvir: Dancing With Myself (Artie Abrams)
- On the floor of Tokyo, or down in London town to go, with the record selection with the mirror reflection I'm dancing with myself…
Aluado cantava sempre olhando pra baixo, e eu resistindo a minha vontade de rir, nem percebi quando Moreau gritou "cante mais alto, por favor".
Aluado se sobressaltou e passou a cantar mais alto, ainda inseguro. Olhei para o lado e via Sirius se sacudir numa risada silenciosa.
- Dancing with myself, dancing with myself, well there's nothing to lose and there's nothing to prove, and I'll be dancing with myself…
E sabe, não era tão mal. Quero dizer, ele parecia estar cantando num velório, mas fora isso, não era tão desanimado. Às vezes batia na perna ao som da música e por vezes sorria para o pessoal que está sentado – tenho certeza que Lily está fazendo alguma graça. Sirius também pareceu pensar o mesmo, pois tinha parado de rir e apenas assistia.
Aluado não cantou a música inteira, e quando finalizou o último verso que pretendia, Lily, Maria e Alice ficaram de pé, batendo palmas com entusiasmo.
- Realmente bom, Remo. – Moreau, mais uma vez, estava contente. – Precisa cantar mais alto e aprender a se soltar, mas está ótimo. E está dentro.
- Estou? – ele arregalou os olhos.
- Está. – Moreau sorriu. Remo continuou parado, incrédulo, mas por fim desceu do palco com sua expressão de choque ainda estampada em seu rosto.
Maria POV:
Ok, todo mundo tímido, Lily gritando, Remo murmurando a música... É. Parecia que todo mundo estava resistindo ao desejo de sair correndo dali o mais rápido possível. Quando vi a apresentação de Sophie, Emelina e Dorcas, fiquei um pouco insegura, mas notei que não estava ali pra conseguir mérito.
Mas eu precisava fazer aquilo por Lily. Quero dizer, o tempo todo das outras apresentações, não podia deixar de ouvir alguns sussurros nada agradáveis de Dorcas sobre ela, e as vezes até escutava Emelina a repreendendo por tais palavras. Mas apesar de conversar com Dorcas ocasionalmente, eu deveria isso pra Lily.
Ela parecia ainda tremer ao meu lado, ainda boba pelo fato de cantar mais uma vez, e agora era a minha vez, e depois ela. Eu podia ser a única que poderia livrá-la dessa.
Percebi seu esforço a cantar mal, mas no fundo sua voz é um pouco afinada, afinal, gritar todo mundo consegue.
- Maria MacDonald. – Moreau chamou, e fui sobressaltada. Certo, lá vamos nós.
Enquanto caminhava até o maldito palco, percebi que não estava nervosa, ao contrário, sentia-me tranquila até demais. E sobre meu histórico de música, ok. Confesso que amo cantar no chuveiro, gritando aqueles longos solos das cantoras antigas. Pode se até mesmo considerado um hobby, mas acho tudo muito interessante. Mas nunca pensava em levar a sério, afinal, minha carreira de auror ainda me espera.
- Música? – Moreau perguntou meio ansioso. Eu tenho cara do quê, que escuta músicas bregas?
- Don't Make Me Over, por Dionne Warwick. – falei; li os lábios de Dorcas, que diziam "imitadora". Qual é, eu ia lá saber que elas cantariam uma música de Warwick também? Mas enfim, ela vai engolir aquela palavrinha.
- Ótima escolha. – o Professor sorriu; me deti um pouco naquele sorriso charmoso, caramba!
E a música começou, e eu dei um pigarro.
Ouvir: Don't Make Me Over (Mercedes Jones)
- Don't make me over – comecei, e fechei os olhos. Não sei se foi para evitar ver a cara de riso dos outros ou se é por pura interpretação. – Now that I'd do anything for you... Don't make me over, now that you know how I adore you…
Por sorte eu só ouvia o silêncio, nenhuma risada, ou comentário, nada. Só minha voz ecoando pelo auditório e a música alta do rádio estranho de Moreau. Continuei a cantar, afinal, já estava entusiasmada.
- Don't pick on the things I say, the things I do, Just love me with all my faults, a way that I love you… I'm begging you!
Pode parecer bobeira, mas continuei com os olhos fechados até a música acabar – o que não demorou muito, cantei apenas a primeira parte, afinal, todos haviam feito isso. E estava ainda silêncio quando terminei, e mais silêncio depois que a música terminou, então abri os olhos.
Todos me olhavam simplesmente... aterrorizados. Certo, eu cantei tão mal assim? Dorcas estava sem palavras, Prof. Moreau não piscava, mas tinha um sorriso gigante. Como ele pode fazer isso comigo? E Lily me olhava incrédula.
Mais uma vez, pigarreei.
- Er... – Moreau parecia perdido. Não entendi. – Como vou dizer...
"Com palavras?", arrisquei, mas claro, não disse em voz alta.
- Bem, er... Maria. – ele olhou para os papéis da sua mesa. – Você já cantou antes?
- Não. – franzi a testa, sem entender o porquê da pergunta.
- Outros corais...?
- Nenhum. – confirmei.
- Bom, deve haver alguma explicação. Você parece ter treinado bastante.
Onde ele queria chegar?
- Bom – comecei, meio constrangida -, canto no chuveiro frequentemente, e também gosto de gritar muito com meu irmão caçula, sabe como é.
Mais um sorriso se curvou em seu rosto, e senti um arrepio. Merlim, acho que estou me apaixonando por um professor!
- Bom, a única coisa que posso dizer é que você é bem-vinda. – ele disse, e pela sua expressão parecia ter ganhado um prêmio ou algo do tipo. Hum.
Desci do palco, ainda abalada com aqueles olhares loucos e meio espantados, e sentei ao lado de Lily.
- O que todo mundo tá olhando? Parece que viu alguma assombração! – critiquei, e Lily balançou a cabeça.
- Nós ouvimos sua voz.
Considerei aquilo como uma grande ofensa.
Sirius POV:
Depois de acompanhar Maria MacDonald cantar – muito bem devo dizer, tipo uma profissional em segredo -, eu podia sentir a expectativa de Pontas esperando por Lily ser chamada.
Senti um cutucão no meu ombro.
- Espera um pouco, Rabicho. – resmunguei. – Agora é a vez de Lily.
Ele me cutucou de novo, agora mais forte.
- Droga, Rabicho. – xinguei baixo. – Espera.
E ele parou, finalmente. Moreau ainda conversava com MacDonald.
- Que demora. – comentei com Pontas. – Não é?
- Argh. – ele fez em resposta.
- É. – concordei, e vendo que ia demorar mais um pouco, me virei para Rabicho. – O que você queria?
Mas Rabicho não estava lá, apenas uma figura alta e meio esquelética, e no segundo seguinte senti uma dor terrível na orelha.
Lily POV:
- Lílian Evans.
Ai.
Merlim.
Sentir aquela sensação de novo foi um frio da barriga e um ataque de suor frio da testa. Sentia os olhares na minha nuca enquanto caminhava, e ouvia os risos abafados de Meadowes, e por vezes coisas muitos ofensivas. Aquilo já estava irritando.
Fiquei no palco, muito grande pra mim devo dizer, e esperei a palavra do Prof. Moreau.
Olhei para Dorcas novamente; agora ela se balançava. Mas do que diabos ela estava rindo? Emelina me lançava um olhar culpado, e Sophie parecia ignorá-la.
- Certo, Lily. – Moreau chamou minha atenção a ele. – Continuará com Dion?
Dorcas gargalhou; ainda sentia meu rosto esquentar com o nervosismo, mas me limitei a tentar ignorar.
- Sim. – falei mais séria que o normal.
Meu nervosismo se fora; agora a raiva subia pelo meu pescoço ao ver a cara de deboche de Dorcas. Francamente, por que ela me odeia tanto?
- Certo, vamos lá.
A música começou, e ainda olhava fixamente para Dorcas, irritada. Bom, pelo menos o medo desaparecera, e a determinação ocupou seu lugar.
Concentrei bem, e comecei a cantar.
Ouvir: Taking Chances (Rachel Berry)
- Don't know much about your life, don't know much about your world but… - eu continuava, sem prestar atenção em nada, apenas na letra da música. - Don't want to be alone tonight on this planet they call earth…
- Cante um pouco mais alto, por favor. – Moreau também me alertou. Tentei obedecer.
- You don't know about my past and I don't have the future figured out, and maybe this is going too fast, and maybe it's not meant to last…
- Um pouco mais alto. – Moreau repetiu. Ok, já entendi! Parece estar com problema de audição...
- But what do you say to taking chances, what do you say to jumping off the edge…
Por mais que eu tentasse, minha voz simplesmente não queria aumentar! Acho que eu acabaria gritando, e isso faria com que Moreau, sei lá, me fizesse voltar ao auditório em outro dia.
E enquanto eu cantava, Dorcas ria, ria da minha vozinha fraca, não sei. Acho que todas ofensas anteriores já estavam acumuladas demais em minha cabeça.
- What do you say to taking chances, what do you say to jumping off the edge. – eu lutava com minha voz. Suba! Suba, por Merlim! - And never knowing if there's solid ground below, or a hand to hold – suba, caramba! - or hell to pay…
E subiu no mesmo momento em que Dorcas gritou "Caranguejo-de-fogo". Ela não tem ideia do quanto aquilo me irritava, afinal, esse é o segundo apelido favorito dos sonserinos; ela não teria coragem de me chamar de sangue-ruim – por enquanto.
- What do you say, what do you say! – me surpreendi com meu entusiasmo, e até consegui sair do lugar! - And I've had my heart beaten down, but I always come back for more, yeah! There's nothing like love to pull you up, when you're lying down on the floor yeah! So talk to me, talk to me like lovers do… Yeah, walk with me, walk with me like lovers do, like lovers do!
Certo, agora me entusiasmei mesmo. Já fazia uns gestos com as mãos que eu via em musicais, até mesmo sorria! E pior, ou melhor, não sei... Eu estava gostando!
- What do you say to taking chances? What do you say to jumping off the edge? Never knowing if there's solid ground below, or a hand to hold, or hell to pay… What do you say? What do you say…
Já era demais. Algum espírito louco – e bom cantor – se apoderou em mim, porque eu estava gritando! E não gritar, tipo, estender a palavra... Estava me sentindo a Celine Dion. Ok... não era pra tanto.
- Don't know much about your life… Don't know much about your world. – finalizei com um suspiro, e certo alívio. E com muito entusiasmo. Chegava até a me sentir estranha.
Quando finalmente olhei para os outros – estava entusiasmada demais para reparar -, eles estavam boquiabertos. Devo dizer que vi aquilo como um bom sinal? Alice sorria, mas seus olhos estavam arregalados como os dos demais. Dorcas tentava disfarçar o choque momentâneo, e aquilo me fez pensar que eu devo ter cantado realmente bem para conseguir isso. Demorou um pouco para os aplausos começarem, e senti meu rosto corar e meu coração bater forte.
Moreau continuava a aplaudir, e pra minha surpresa, ficou em pé em sua mesinha.
- Eu sabia. – ele disse com um sorriso gigante. – Sabia que por trás daqueles gritos havia algum talento. Viu, Lily? É só se esforçar.
Senti um afeto repentino pelo professor, seja pelo fato de ele sorrir tão feliz ou pelo fato de que ele me chamou por meu apelido. Não sei. Só sei que Maria, Alice, Emelina e até mesmo Sophie se levantaram para aplaudir, junto com Remo e Franco. Praticamente todos, exceto, é claro, Dorcas.
- Espero que se junte a nós. – o Prof. Moreau disse, e meu sorriso despencou.
Merlim, e agora? Entrar ou não entrar? Quero dizer, eu tenho escolha? Remo perguntou por mim.
- E se não quisermos ficar?
Moreau soltou um sorriso travesso.
- Vocês são obrigados. – ele explicou com indiferença. – Uma vez assinado aquela lista, terão que ficar.
- E se não quisermos? – Jason McKinnon insistiu.
- Bom, digamos que eu não aconselharia vocês a tentar. – ele colocou sua pasta debaixo do braço. – Vejo vocês amanhã, sala 12, terceiro andar.
Sem mais nada a dizer, ele saiu em direção a outra cortina de entrada. Todos trocamos olhares, visivelmente sem entender.
- O que ele quis dizer com isso? – Franco perguntou, mas na verdade eu sabia que ninguém gostaria de responder.
James POV:
Foi totalmente chato e constrangedor ser pego no flagra por Filch. Francamente, por que ele não decide se aposentar? E foi ainda pior ter sido levado pra fora do auditório com puxões de orelha! Puxões de orelha! Nem minha mãe fazia isso comigo...
E lá estava ele murmurando alguma coisa sem sentido, algo do tipo "saudade dos velhos tempos" que sempre usava, e nos levando para McGonagall. Ela não demonstrou surpresa e deu dois sábados de detenção por espiar clubes sem ter sido convidado. Tentei justificar, mas com McGonagall é impossível contestar, então saímos de sua sala acariciando as orelhas atualmente vermelhas.
- Bom, pelo menos não tem passeios pra Hogsmeade por enquanto... – Rabicho murmurou.
- E quem se importa pra passeios se podemos ir até lá quando quisermos? – Sirius bufou, enquanto começávamos a caminhar em direção ao salão, já que era horário de almoço.
- Ah, droga! – bati a mão na testa, repentinamente me lembrando. – Ainda tenho que programar os treinos de quadribol! Bom, pelo visto isso será impossível por enquanto...
E quando chegamos ao salão todos os novos membros do coral já almoçavam, e tirando Meadowes, McKinnon e Vance – com certeza a pedido de Meadowes – todos estavam juntos, conversando entusiasmados, até mesmo Aluado.
- Olá, grandes cantores. – Sirius chegou saudando. – Olá Aluado Billy Idol.
Todos olhares voltaram surpresos para nós, quando Remo, balançando a cabeça, tratou de explicar.
- Com certeza assistiram escondidos.
- Bom, pelo menos até Filch ter nos pego. – ele deu de ombros, atacando o prato mais próximo. – Não ficamos para ver sua apresentação Lily, como foi?
Lily olhou para baixo, um pouco corada, mas Maria respondeu em seu lugar.
- Se ouvirem Lily cantar, podem ter certeza que não acreditarão.
- Não pode falar nada, Maria. – Alice sorriu travessamente. – Digamos que você tem o dom de tirar uma voz potente de lugares desconhecidos.
- Cantou muito bem, Maria. – concordei.
- Obrigada gente, mas o chuveiro é meu patrocinador. – ela riu com indiferença.
E o almoço seguiu assim, falando cada um de sua audição; Aluado ainda estava chocado por ter entrado, mas eu não estava me irritando com isso, afinal, ele cantou bem, baixo, mas bem. Maria e Alice tinham vozes diferentes, mas bem legais. Porém Lily me deixou bem curioso, e talvez eu peça para que ela cante alguma coisa para mim depois, quem sabe.
David POV:
Cheguei a minha sala mais feliz que nunca com os resultados. Afinal, acabei descobrindo vários talentos! Quem diria que Alice Brown e Emelina Vance, garotas tão perceptivamente tímidas cantavam – e dançavam – tão bem? Ou que Lílian Evans tinha uma doce e ao mesmo tempo afinada voz atrás de toda aquela gritaria? Sim, eles precisavam realmente melhorar, e isso já estava previsto para amanhã, e eu espero que dê bons resultados. Eu já tinha dez pessoas, precisava apenas de mais duas, só duas...
Bom, receio que ainda tenho tempo para isso, e nesse exato instante eu queria ver a cara de Stanley.
E podia, afinal, é horário de almoço.
Entrei no salão lotado e cheio de conversas, dei um pequeno sorriso para o grupo que conversava – que me retribui o sorriso de forma tímida, e no caso de John Khan com um agudo assobio – e fui até a mesa dos funcionários. Hoje a sorte estava do meu lado, pois havia uma cadeira vazia ao lado de Stanley, sentada do lado de Dumbledore. Afinal, quem consegue suportá-la?
Ela me viu sentar com um sorriso debochado, e eu retribui da mesma forma.
- Bom dia Stanley, como vai indo? – perguntei falsamente, ainda mais pelo fato de Dumbledore estar assistindo. – Prof. Dumbledore.
- Bom dia David, meu caro rapaz. – ele pareceu sorrir ao ver meu entusiasmo. – Bom, prevejo boas notícias sobre Grifinória.
- Ah sim, as melhores. – sorri, sentindo Stanley me fitar. – Todos os inscritos são muito talentosos, temos dez, será fácil conseguir mais dois membros e assim poderemos competir.
- Isso é ótimo! – vi o azul daqueles olhos por trás do óculos meia-lua brilharem.
- Sim, e amanhã teremos nossa primeira reunião. – informei, ignorando o questionamento que perpassava pelos olhos da loira ao meu lado.
- Nina me contava sobre Corvinal também. – ele sorriu. – As garotas estão animadas.
- Sim, e mantidas em segredo, afinal, ninguém pode julgá-las sem saber quem são. – Stanley levou a taça de vinho a boca enquanto falava.
- Como elas se inscreveram então?
- Ora, elas são inteligentes o bastante para procurar por mim sem que alguém percebesse. – ela disse com um orgulho inexplicavelmente irritante. – Eu não teria coragem de deixar uma lista qualquer no quadro de avisos.
- Me desculpe, mas eu pretendo dar uma chance a todos os alunos da casa. – rebati.
- Sim, alunos que com certeza não tem a mínima coragem de cantar, tímidos ou forçados a isso.
Fiquei sem resposta, afinal era aquele o exato problema com que eu estava me preocupando. Mais um motivo para que as suspeitas que ela havia espionado algo em relação com a Grifinória se confirmassem. E não parou por aí.
- Mas me diga Moreau... – ela voltou a colocar a taça na mesa e virou-se para me encarar. – Como em sã consciência você chama Emelina Vance para cantar?
- Ela tem talento. – respondi rispidamente, um tanto irritado. – E suponho que suas espiadas são bastantes vulgares.
- Não é preciso espionar, os boatos correm! – ela falou com desdém. – Mais um motivo para que eu guarde segredo sobre meus membros até a primeira apresentação, pois até lá o talento delas serão mostrados a toda escola e não terão motivos para julgá-las. E ao contrário de você, não fico expondo meus artistas a toda escola, fazendo-os cada vez mais constrangidos, ocasionando mais timidez e por fim um péssimo desempenho na competição!
Trinquei os dentes ao ouvir aquilo, talvez pelo fato de jogar a verdade tão brutamente na minha cara. Dumbledore ouvia a conversa com uma expressão que demonstrava consentimento. Não tornei a responder porque Stanley não deu tempo e virou-se de volta para sua conversa com o diretor.
Droga, por mais que eu tente, aquela mulher sempre acabava com meu dia. E meu único consolo é que tudo isso estava apenas começando.
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