Encontros e Desencontros




Logo que reiniciaram as atividades em Hogwarts, depois das festas de fim de ano, Harry começou a ter aulas de oclumência com Snape, a pedido de Dumbledore. Era uma tentativa de fechar a mente do bruxinho aos ataques de Voldemort. Durante essas aulas, Mione e Ron sempre ficavam juntos, geralmente estudando e algumas vez conversando.


Hermione gostava muito desses momentos, quando ficavam tão próximos e, entre um dever e outro, podia olhar com tranquilidade os orbes azuis que tanto a encantavam. Naquele noite, porém, ela estava impaciente.


Não aguentava mais o jeito tão contraditório de Ron. Em muitos momentos o ruivo parecia deixar claro, por gestos, palavras e, especialmente, pelo jeito como a olhava, que gostava dela mais do que como amiga. Ao receber o perfume de presente, ela teve esperança que o rapaz pudesse finalmente declarar o seu amor. No entanto, o ruivo não tomava qualquer atitude e, pelo contrário, em muitos momentos parecia não se importar com os sentimentos dela.


Depois do Baile de Inverno, quando por sua reação extremamente ciumenta Ron pareceu mostrar pela primeira vez ter um interesse especial pela menina, ela tinha decidido. Não tomaria a iniciativa, como sempre fazia quando o assunto era relacionado ao estudo ou mesmo a algum plano para ajudar Harry no combate a Voldemort. Ron é que teria que dar o primeiro passo, assim como Krum tinha feito, caso quisesse conquistá-la.


Verdade que Ron nem sempre era indiferente a Hermione. Muito pelo contrário. Notava a presença e as atitudes dela até demais. Não é que descobriu que a menina tinha desenhado coraçõezinhos no horário do professor Lockbatt e que guardara o cartão dele debaixo do travesseiro? Foi também o primeiro a perceber que ela havia diminuído os dentes no quarto ano, após o feitiço de Malfoy.


No entanto, parecia que só tinha descoberto no ano passado que ela era uma menina! “Será que sou para Ron apenas mais ‘um amigo’, como Harry? Mas Ron não notou quando os óculos de Harry entortaram”, se questionava. Bastava, porém, lembrar de como o ruivo a olhou, com susto e admiração, quando a viu chegando ao baile, que todas as suas dúvidas se dissipavam. Ron, decididamente, gostava dela.


Tudo bem, Ron parecia gostar dela, mas e daí? Nunca tomava a iniciativa e Hermione já estava cansada disso. Bem que tentava motivar alguma reação dele, despertando mais uma vez o ciúme do rapaz. Por isso escrevia as cartas para Krum na sala comunal, na presença dele. Precisou escrever metros de pergaminho, no entanto, para o ruivo finalmente notar que ela não estava fazendo um dever de casa. Até que funcionou. Ron reclamou, mas não tomou qualquer outra iniciativa, não falou o quanto gostava dela...


Tudo isso a deixava vez por outra muito irritada e naquela noite, de modo especial, ela estava bem chateada com o amigo. Foi quando ele empurrou o pergaminho para um canto, afastou a cadeira e, se espreguiçou.


- Chega por hoje! Cansei... – disse isso de forma descontraída, sem esperar pela reação da menina.


- Você não quer nada com nada, Ronald. Parece não ter um propósito, um objetivo na vida. Desiste fácil de tudo, não luta pelo que quer, ou melhor, acho que você nem sabe o que quer.


- Calma, Mione! Por que essa revolta toda? O que fiz com você?


- O que você não faz por você. Isso é que devia se perguntar. Você por acaso tem algum projeto para o futuro? Como imagina a sua vida daqui a 10 anos?


Ainda um tanto assustado com a reação da menina, Ron respondeu:


- Daqui a 10 anos... Vou ter 25 anos! Imagino que vou estar trabalhando como auror, quem sabe ter algum dinheiro, uma casa... Ah, e de repente posso estar atuando como goleiro em algum time de quadribol!


Hermione olhou para o rapaz, que falava com seu jeito tão simples e espontâneo, e toda a irritação que sentia se desmanchou. Mas ainda assim não podia perder a oportunidade de dar um “puxão de orelha” no amigo.


- E você acha que vai conseguir ser um auror, especialmente um auror de sucesso, se não estudar e muito?!


O rapaz argumentou que estava se esforçando, mas não tinha a inteligência de Hermione e nem facilidade para se concentrar muito tempo no estudo. “Isso não é verdade, Ron. Você é muito inteligente, basta lembrar como você joga xadrez excepcionalmente bem. E esse é um jogo que exige muita concentração”, contrapôs a jovem, que tinha uma admiração sincera pelo amigo e sua inteligência intuitiva. “Você pega as coisas no ar. Eu, ao contrário, preciso estudar muito. Se você estudasse, certamente seria muito mais brilhante do que eu”, continuou.


Ron discordava da amiga. Sabia que ela era muito intuitiva também, só que nem sempre valorizava esse dom. Preferiu ficar quieto porque percebeu que qualquer palavra poderia irritar ainda mais a garota.


Se fosse em outro momento, Hermione jamais falaria desse assunto. Mas o aparente marasmo sentimental de Ron, que se limitava a paquerar veelas e outras mulheres mais velhas, sem tomar qualquer atitude concreta para conquistar alguém – muito menos ela mesma –, a irritara o suficiente.


- E quanto à sua vida sentimental? Você não planeja nada? Não pensa em se casar, ter filhos?!


“Caramba! - Ron pensou - Como Hermione me pergunta isso? Claro que eu quero me casar, mas só se for com ela”!


O garoto se assustou com os próprios pensamentos. Casar com Hermione? Que loucura! De onde tirara tal ideia? Era verdade que Mione estava cada dia mais bonita e muitas vezes Ron se sentia desconcertado diante da amiga, mas isso só podia ser uma maluquice da cabeça dele. Além do mais, nem sabia se a garota gostava dele e, por ora, preferia não descobrir. Morria de medo de levar um fora dela se insinuasse qualquer coisa. Mas Ron não ia deixar se pegar nas palavras. Preferiu contra-argumentar.


- Casar muito cedo? Nem pensar! Gui tem 27 anos e nunca teve um relacionamento sério...


- Ótimo, Ronald Wealey! Você tem mesmo a profundidade sentimental de uma colher de chá. Vítor tem 19 anos e já pensa seriamente em se casar!


 - E com certeza quer se casar com você! Então você não precisa se preocupar comigo, ok?


Como sempre, ele se irritava quando ela falava em Vítor Krum, mas Hermione agora também já estava suficientemente chateada. Será que ele nunca ia notar que Krum não significava nada para menina, que era dele que ela gostava!


- Eu não quero casar com ele. Somos apenas amigos. Já falei isso para você um milhão de vezes!


- Hermione, então, por favor, me deixaem paz. Eujá estudei o suficiente por hoje. Vou me deitar. Boa noite! – disse com voz firme e logo subiu as escadas.


A menina não queria isso. Desejava que Ron ficasse com ela, esperando por Harry, como sempre fazia. Mas estava consciente de que o havia provocado. Se tivesse falado com jeito, com certeza conseguiria convencê-lo a continuar a estudar, como quase sempre acontecia. Era impressionante. Se Hermione levantasse a voz, ele reagia da mesma forma. Mas se falasse de um jeito meigo, Ron logo cedia e fazia todas as vontades da amiga. Pensando bem, com ela não era diferente. Bastava o ruivo dizer “Mione, por favor...” que logo se derretia. Mas dessa vez não iria ceder. Tinha cansado da falta de ação do rapaz.


Ron chegou ao dormitório chateado, mas, principalmente, intrigado. Que conversa estranha aquela de Hermione. Querer saber os planos dele para daqui a 10 anos. E por que se preocupava tanto se ele estaria casado... Peraí! Será que Hermione gostava dele? Deixa de ser idiota, Ronald Weasley. Claro que ela não gosta de você, ela só gosta de ter o controle sobre tudo, também sobre a sua vida!


No entanto, quando finalmente se deitou, foi o rosto sorridente da menina que viu ao fechar os olhos. Lembrava das risadas dela sempre que contava alguma coisa engraçada durante as rondas que os dois faziam, como monitores, pelos silenciosos corredores de Hogwarts.


Hermione demorou a conseguir dormir. Por que tinha que ter falado tudo aquilo para Ron? O ruivo, como sempre, não tinha entendido nada e ainda estava achando que ela era maluca. “Seria tão mais fácil se eu gostasse do Krum. Mas não tem jeito. Meu coração não bate forte e nem sinto qualquer entusiasmo quando estou com Vítor. Meu coração, mesmo se eu não queria que fosse assim, já é do Ron. Não, não, não, decididamente não. Eu sou dona do meu coração e não vou perder o controle da situação tão fácil assim. Tenho que desistir de vez de Ronald, ele nunca vai tomar a iniciativa”.  E assim, desiludida e conformada, finalmente adormeceu.


De manhã, quando desceu para a sala comunal, a primeira pessoa que viu foi Ron, sentando na poltrona favorita e bastante sonolento.


- Bom dia, Ron! Onde está Harry? – disse esperando uma reação pouco amigável.


- Ele já foi tomar café. Eu estava esperando você.


- Ah... é? Por que? – disse a morena sem conseguir esconder um certo constrangimento.


- Acho que você ficou chateada comigo ontem... Você acha que eu não estou me esforçando nos estudos, eu sei. Talvez tenha razão, mas eu queria dizer que vou tentar me esforçar para valer de hoje em diante.


Como sempre Ron falava com uma simplicidade e sinceridade desconcertantes. Mesmo se muitas vezes ele a decepcionava com as palavras, verdade era que em muitas outras o ruivo tinha o dom de usar as palavras certas e a deixar assim, encantada e sem reação. Ele estava dizendo que iria se esforçar no estudo e não estava a censurando por ter bancado a chata na noite anterior. Pelo contrário, dizia que ela tinha razão.


xxx


Nos últimos dias de janeiro, Hermione recebeu uma carta de Krum. Entre outras coisas, o búlgaro dizia que continuava querendo "ser mais do que amigo" dela e perguntava quando poderiam se encontrar pessoalmente. A menina resolveu encerrar aquela amizade por correspondência. Afinal, não queria iludir o rapaz e, depois de ganhar o perfume de Ron, a esperança de que o ruivo gostava dela havia se fortalecido em seu coração. Era Ron quem amava e entendeu que precisava investir naquele relacionamento.


Em sua resposta a Vítor disse, muito simplesmente, que não havia possibilidade dela e do jogador serem mais que amigos, de modo especial porque amava e tinha esse sentimento retribuído por outro rapaz. Mesmo se não tinha convicção de que Ron gostava também dela, achou melhor falar que era correspondia para não alimentar qualquer falsa esperança no búlgaro. "Também preciso me dedicar exclusivamente aos estudos em preparação para os NOMs", escreveu a menina, encerrando a carta com um agradecimento pela amizade de Krum.


Quando colocava a carta no envelope, sentada em um canto afastado do salão comunal, Ron se aproximou. “Mione, você não pode me ajudar no trabalho de Astronomia. Eu não sei...”, falou, interrompendo o raciocínio assim que observou o envelope endereçado a Vítor Krum.


- Ah, tudo bem... Pelo visto você está muito ocupada. Não sei como pensa em tirar boas notas nos NOMs se gasta tanto tempo escrevendo para esse idiota – reclamou.


- Ron, você sabe que detesto que chame Vítor de idiota. Se você não gosta dele, pelo menos o respeite – disse com firmeza.


- Sem problema. Você tem o direito de namorar quem quiser – rebateu, se virando para ir embora.


- Vítor não é meu namorado! Mas pelo visto vou ter que acabar namorando ele para você parar de me encher a paciência – falou quase gritando, com rosto muito vermelho.


A menina foi dormir chateada. Por que Ron tinha que agir sempre assim? E justamente agora que ela tinha tomado a decisão de encerrar aquela amizade por correspondência para investir apenas no relacionamento com ele. Mas não contaria essa decisão para o amigo, pelo menos por enquanto.


Na manhã seguinte, mais tranquilo, Ron toma coragem de voltar ao assunto. “Mione, sei que não agi bem em chamar Krum de idiota. Mas não consigo entender por que você ainda se corresponde com ele. Aquele cara não tem nada a ver com você, não sei o que uma amizade assim pode acrescentar em sua vida”, falou.


- Ron, acho que não é educado deixar de responder a uma carta. E depois é sempre bom conhecer um pouco mais da rotina dos bruxos de outros países e escolas. Você sabe como sou curiosa – respondeu.


- Basta pegar um bom livro na biblioteca para saber sobre os bruxos de todos os países. Eu mesmo posso ler e depois conto para você como é – disse sem esconder uma leva irritação.


- Ótima ideia, Ron. Eu aceito. Aproveita para aprender também alguns feitiços característicos desses países também – disse.


- Mione, você está zombando da minha cara. Estou falando sério – disse.


A menina não resistiu e caiu na gargalhada. Pensava que Ron ficaria ainda mais irritado, mas ele, ao contrário, também começou a rir. Quando finalmente cessou a sessão de risos, a menina falou, num tom de voz meigo:


- Ron, não se preocupa. Jamais vou trocar a sua amizade pela de Vítor. Você chegou primeiro em minha vida.


O rapaz ficou confuso. Não sabia se ela continuava a brincar ou se falava sério. A menina, no entanto, havia aberto o seu coração.


xxx


Depois que recebem a notícia que os Comensais da Morte, bruxos aliados de Voldemort, haviam fugido de Askaban, os integrantes da Armada de Dumbledore se empenham mais nos treinos. Além do intenso treinamento e dos muitos deveres, Ron e Hermione ainda têm que dar conta das funções de monitores.


O rapaz por vezes reclama, dizendo que está cansado de ficar andando de um lado para outro, vigiando os corredores. A menina não se queixa por que, mesmo se nunca dispensaria um momento de estudo, gosta de caminhar ao lado do ruivo e conversar com ele, sem chance de ser interrompida por alguém. Com exceção, é claro, dos momentos que Pirraça resolve aparecer e gritar que “Cabeça Vermelha e Sabe-Tudo estão namorando”.


Ron desconfiava que a amiga não tinha gostado do perfume com o qual lhe presenteara e, durante um ronda, fica surpreso ao identificar aquela fragrância na menina. “Você está usando o perfume que lhe dei?”, pergunta a queima-roupa. Hermione, levemente rosada, responde que sim.


O rapaz, ainda inebriado com aquela fragrância, toma coragem para fazer um convite a Hermione. Dali a dois dias, no sábado, os alunos estariam liberados para visitar Hogsmead. Ele gostava sempre de ir à vila e, especialmente, tomar cerveja amanteigada no pub e comprar guloseimas na Dedosdemel. Como achava que Mione era sempre uma agradável companhia, queria estar com ela.


- Será Dia de San Valentin, mas como eu e você não estamos comprometidos com ninguém, podemos sair juntos, como amigos. O que acha?


A menina, porém, diz que não pode ir com ele. Ron, intrigado com aquela recusa, pergunta por que. “Eu e Harry temos uma questão a resolver”, tenta explicar. “Questão a resolver no Dia de San Valentin? Como assim?”, a interroga. “Eu não posso contar nada para você. Pelo menos por enquanto. Mas você vai saber no tempo certo”, diz enigmática.


Ron fica bem chateado. Chega a pensar na possibilidade dos amigos estarem namorando. “Não, Harry teria me contado”, fala para si mesmo, tentando afastar essa ideia da cabeça.


Ainda assim, acha muita estranha a atitude da amiga e a confronta. “Hermione, a última vez que você fez tanto mistério foi no Baile de Inverno, quando não quis contar que iria com Krum. Não gosto nada disso. Se você realmente me considerasse um amigo, confiaria mais em mim”, argumenta.


- Ron, por favor. Eu tenho grande consideração por você como amigo, mas não posso contar nada. É um assunto só meu e do Harry – tentou explicar.


- Ótimo! Agora vocês dois tem segredinhos, né? O horário da ronda terminou. Eu estou indo. Boa noite – falou com a voz zangada.


A menina ainda gritou o nome do amigo que, quase correndo, logo dobrou em outro corredor. “Ai, Ron, Ron, Ron, quando a gente finalmente vai se entender? Até quando vamos continuar brigando?”, perguntava a menina ao ruivo em pensamento.


Ele estava muito distante e tão mal-humorado que nem mesmo os melhores pensamentos poderiam alcançá-lo. 


xxx


Quando voltou da bem-sucedida missão de Hogsmead, convicta de que havia convencido Rita Skeeter a escrever o artigo em defesa de Harry, Hermione tinha uma única preocupação: fazer as pazes com Ron.


Dessa vez Mione não estava chateada com o ruivo, mas sabia que ele, sim, sentia-se muito magoado. Tinha pedido de um jeito tão carinhoso para ela acompanhá-lo à Hogsmead. “Vai ser divertido. Vamos poder tomar uma cerveja amanteigada, ir ao Dedosdemel. Você pode escolher o doce que quiser, dos mais baratos, é claro, e eu pago”, disse.


Como foi dolorido ter que dizer ao amigo que não podia acompanhá-lo. Imaginou que ainda assim ele iria à vila. Mas ao encontrar Gina por lá soube que o amigo tinha ficado no Castelo e estava com um humor péssimo. “Precisava ver o jeito como ele estava tratando os alunos do primeiro ano”, falou a ruiva.


Não encontrou com o amigo na sala comunal ao entardecer, como já era rotina, nem durante o jantar. Naquela noite eles eram os responsáveis pela ronda e temeu que o amigo não comparecesse. Ao chegar ao corredor, no entanto, viu um vulto com os cabelos vermelhos, que a aguardava.


- Oi, Ron. Achei que você não vinha para a ronda...


- E eu tenho escolha?!


- Acho que não. A não ser que queira receber uma detenção.


O rapaz mal olhou para a menina e começou a caminhar. Estava visivelmente chateado. Hermione ficou alguns minutos em silêncio, acelerando o passo para acompanhar o ruivo. Decidiu quebrar o gelo:


- Ron... me desculpe. Você tem razão. Eu devia ter lhe contado o que fui fazer em Hogsmead.


Ela esperava que o amigo dissesse alguma coisa, mas, como ele continuou em silêncio, prosseguiu:


- Você não quer saber como foi?


- Não, Hermione, não estou nem um pouco curioso - disse, continuando a andar a passos largos, obrigando a menina a quase correr para ficar ao lado dele.


A morena percebeu que, se dependesse dele, ficariam brigados a noite toda. Ela também era orgulhosa, mas estava cansada daquela queda de braços.


- Você vai ficar a ronda toda em silêncio?


- Só porque estamos fazendo a ronda juntos não significa que temos obrigação de conversar - respondeu Ron chateado.


Aquela foi a gota d'água. O sangue da menina subiu e ela também elevou a voz.


- É assim, Ron?! Então você continua a ronda sozinho que eu vou voltar para Grifinória!


O rapaz parou e, pela primeira vez naquela noite, olhou com atenção para a menina, que o encarava magoada.


- Você não vai fazer isso, vai?


- Vou sim! Por que? Vai me denunciar para a professora Minerva?


- Claro que não. Mas você faz sempre questão de cumprir suas obrigações como monitora...


- Que eu saiba não é minha obrigação aturar um monitor mal-humorado! - disse com o rosto muito vermelho.


O rapaz a olhou de um modo assustado. Apenas agora, que corria o risco de ficar sem a companhia da menina, se dava conta como estava tratando-a mal. Percebeu que precisava pedir desculpas. Não era fácil, mas mais difícil seria ficar sem Hermione.


- Desculpa pelo meu mau humor. Vou tentar melhorar...


Mais uma vez Ron a estava surpreendendo. Pediu desculpas com tanta simplicidade, que a desarmou.


- Tudo bem. Podemos conversar agora?


- Vamos conversar ou fazer a ronda como monitores?


- Ron! Sempre conversamos enquanto fazemos a ronda...


Os dois caíram na risada e ela perguntou se podia contar sobre sua ida a Hogsmead. O rapaz concordou.


Ron ouviu a menina com atenção. A inteligência e a perspicácia de Hermione já eram suas conhecidas desde o primeiro ano de Hogwarts. Mas neste último ano a amiga o surpreendia por sua ousadia e coragem, vencendo o medo - antes tão presente nela - de ser criticada por quebrar regras.


- Excelente ideia, Mione! Mas tratando-se de Rita Skeeter, tudo é possível. Não confio nem um pouco nela - disse o menino.


Hermione não o contradisse. Havia percebido, pelo olhar admirado do menino, que o elogio que ele fizera era sincero. Só não imaginava que Ron a criticaria por “estragar” o encontro de Harry e Cho.


- Mas você precisava ter marcado no mesmo dia que Harry estava se encontrando com Cho?


- Era o dia que eu tinha livre para poder visitar Hogsmead. Harry é que deveria ter comunicado isso de uma forma melhor para Cho. Faltou sensibilidade...


- Sensibilidade? Sensibilidade é coisa de menina! - disse Ron sem pensar muito, logo se dando conta, pela cara fechada da amiga, que havia cometido um erro.


- Sensibilidade, Ronald Weasley, é ter a capacidade de perceber qual a melhor forma de agir e falar para não magoar uma pessoa. Mas claro que você não sabe disso porque é o senhor insensível - disparou a menina.


- As meninas são muito complicadas. Ficam magoadas por qualquer coisa - contrapôs o rapaz.


xxx


Quando Ron chegou todo sujo e desanimado depois de mais um treino no qual falhara inúmeras vezes, Hermione a princípio se manteve indiferente e irritada. “Ele gasta tempo demais com quadribol e ainda para isso. Devia estudar mais, assim é que garantirá o seu futuro. E o pior é que, quando ele perde, fica insuportável”, pensava a menina.


Ao reparar melhor na fisionomia de Ron, percebeu que ele não estava apenas irritado e sim muito triste. Lembrou de como ele ficara arrasado após o jogo contra Sonserina ao ponto de se isolar de todos o dia inteiro, voltando para a torre de Grifinória apenas ao anoitecer.


- Ron, não fica assim. Tem dias que é mais difícil mesmo – disse a menina em tom carinhoso, tentando animar o amigo, que conseguiu dar um sorriso fraco em troca.


Os dois foram dormir com os corações pesados. Ron, por não conseguir sair-se bem como goleiro e assim fazer com que pudesse dar algum orgulho para os amigos e para si mesmo. Hermione por não conseguir fazer o ruivo sentir-se mais autoconfiante e alcançar os resultados que sabia que ele podia atingir.


No café da manhã, um acontecimento inesperado alegra o dia dos dois. Enquanto terminam de comer, dezenas de corujas começam a invadir o refeitório trazendo cartas endereçadas a Harry. Após a publicação do artigo de Rita Skeeter, várias pessoas escrevem ao bruxinho querendo manifestar solidariedade ou dizer simplesmente que acreditam nele. Ron e Hermione ajudam a abrir e ler as correspondências, muito felizes com aquele resultado. “Você é mesmo genial, Mione”, elogia Ron e a amiga sente que ganhou o seu dia.


Poucos dias depois, em comemoração ao aniversário de Ron, Hermione decide preparar uma festa surpresa para ele. A menina, burlando a severa vigilância de Umbridge, com a ajuda dos elfos domésticos, faz um delicioso bolo para o amigo. E traça o seguinte plano para surpreender o ruivo: Harry o convidaria para ir à biblioteca antes do jantar e assim seriam os últimos a fazer a refeição e, consequentemente, a chegar ao salão comunal. Neste meio tempo, Mione, com a ajuda de Gina, Neville, Fred e Jorge e outros alunos da Grifinória, prepararia a festa.


Tudo foi muito simples e rápido, até porque não podiam correr o risco de ser descobertos por Umbridge, que havia abolido todas as reuniões, inclusive as festivas. Mesmo assim, não faltaram os balões mágicos nas cores vermelha e amarela, que explodiam silenciosamente, deixando um rastro luminoso, faixa com “Feliz Aniversário” e velas encantadas.


Enquanto a menina termina de suspender alguns balões com a ajuda da varinha, os gêmeos se aproximaram dando risadinhas.


- Então é hoje que você vai pedir Ron em namoro? – perguntou Fred em tom divertido.


Hermione não costumava responder as provocações dos gêmeos, limitando-se a lançar olhares furiosos. Mas agora já era demais!


- Vocês sabem perfeitamente bem que eu e Ron somos apenas amigos – falou em um tom de voz ameaçador.


- E se depender de Ron, vocês continuarão a ser amigos por muito tempo – ponderou Jorge.


- É exatamente isso que quero. Agora, com licença, que quero terminar a decoração da festa – disse decidida.


-É, você tem razão, melhor assim. Ron seria um péssimo namorado – disse Fred abafando um risinho.


- Melhor continuar investindo no seu relacionamento com Krum – completou Jorge.


Os dois se afastaram rapidamente, antes que Hermione pudesse lançar outro olhar fulminante. A menina balançou a cabeça. Não bastasse a indecisão de Ron, ainda tinha que aturar as piadinhas dos gêmeos. Pior é que achava que eles tinham razão. O ruivinho pelo qual era apaixonada era inseguro demais para tomar qualquer atitude, mesmo se gostasse dela. E Mione ainda nem tinha certeza se o rapaz correspondia ao seu sentimento.


Quando chegou à sala comunal, Ron ficou sinceramente emocionado. Essa era a sua primeira festa surpresa e, na verdade, a melhor comemoração de aniversário que tivera até hoje. Depois de comer um pedaço de bolo, o ruivo se aproximou de Mione.


- Você, como sempre, escondendo muitos segredos de mim – disse em tom de queixa.


- Não gostou da surpresa?! Achei que ficaria feliz... – falou com certa decepção.


Ron, abrindo um largo sorriso, respondeu. “Claro que gostei, Mione! E muito. Você me surpreendeu positivamente, mais uma vez. Muito obrigada pela festa”, disse sem desmanchar o sorriso, fazendo o coração da menina bater feliz.

                                                                               xxx 
 
A intervenção sofrida por Hogwarts se intensificava a cada dia e, vigiados o tempo todo por Umbridge, os professores tinham pouca liberdade nas aulas. O mais triste foi presenciar a expulsão de Trelaway, que foi substituída pelo centauro Firenze. Mesmo se não simpatizava muito com a professora, Mione teve pena dela. Ron, no entanto, achou bem interessante passar a ter aulas ao ar livre, já que para Firenze era difícil subir escadas.


Ron e Hermione estavam mais próximos do que nunca. Sentavam um ao lado do outro nas aulas, estudavam ou conversavam nos momentos em que Harry tinha lições de oclumência, faziam as tarefas e rondas como monitores juntos. Com dividiam tantos momentos, o rapaz tinha poucas oportunidades de conversar com Lilá. Ainda assim, o fantasma do ciúme assombrava Mione sempre que os dois trocavam uma simples palavra.


Naquela tarde, Ron e Hermione haviam marcado de se encontrar para organizar o quadro de avisos da Grifinória. Ron estava na aula de Adivinhação e Hermione, na de Runas. O rapaz falou com a menina para esperá-lo na porta da biblioteca. Quando Mione chegou ao local combinado, alguns alunos de Firenze já estavam passando, o que mostrava que a aula tinha terminado. Transcorridos cinco minutos, a morena começou a ficar impaciente. “O que será que aconteceu com Ron?”, se perguntava.


Resolveu ir até o pátio, onde ficava a sala de aula improvisada, e procurar por Ron. Para a sua surpresa, encontrou o rapaz conversando muito animadamente com Lilá, enquanto Harry, mais atrás, falava com Firenze. Hermione nem tentou disfarçar o grande ciúme que sentiu e emburrou logo a cara, colocando a mão na cintura e encarando o ruivo. Foi Harry que notou primeiro a amiga e se dirigiu ao ruivo.


- Com licença, Lilá. Ron, eu acho que a Hermione está esperando por você – alertou.


Na mesma hora Ron e Lilá olharam para Hermione. O rapaz, com um sorriso um pouco sem graça, a loirinha, com um ar de superioridade. Voltaram-se novamente um para o outro, trocaram mais algumas palavras e risinhos. Lilá seguiu para um lado, Ron caminhou em direção de Mione.


- Oi, Mione! Eu já estava indo me encontrar com você – disse sem graça.


- Você precisa ter mais responsabilidade com seus compromissos – falou a menina com o rosto sério.


- Qual é, Mione? A aula acabou há pouco – protestou.


- E pelo visto foi bem divertida. Você e Lilá não paravam de rir – rebateu com mau humor.


- Você vai dar uma de Umbridge agora e proibir os alunos de dar risadas? Lilá é bem-humorada, como eu, e acho que isso não é um problema – respondeu de forma desafiadora.


Ron achava que amiga estava exercendo mais uma vez o seu talento para ser antissocial. Implicava com Luna porque a achava “lunática” demais e, muitas vezes, dizia que Lilá e Pavarti tinham mais interesse em “colocar a conversa em dia na sala de aula do que em estudar”. Não imaginava que se tratava de ciúmes... 


- Tem horas que você é muito chata, Hermione. As pessoas são diferentes. Só por que você é fanática pelo estudo isso não significa que todos devem ser iguais a você – concluiu o rapaz.


 
xxx 
 


Para  ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo: 


Never Say Never


http://irpra.la/m/1018183 


Some things we don't talk about
better do without
just hold a smile
falling in and out of love
the same damn problem
together all the while

you can never say never
while we don't know why
time and time again
younger now then we were before
don't let me go,
don't let me go
(…)


 

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Comentários (4)

  • Morgana Lisbeth

    Gego, Essa fic já estava pronta há algum tempo. Demorei a criar coragem para postar (rs). Um segredinho: Entrelinhas 2 - Contradições está pronta tb (são os missing momentos do livro 6), mas ainda vou dar uma última revisada e logo devo começar a postar; Entrelinhas 3 - Confirmações está em fase de produção. Obrigada, mais uma vez, pelo incentivo!

    2012-04-09
  • Morgana Lisbeth

    Dreampotter, espero que esteja continuando a acompanhar. Agora Ron e Mione vão entrar numa fase de maior entendimento. Ron finalmente está se dando conta do verdadeiro sentimento que tem pela amiga.

    2012-04-09
  • Gego

    É claro que sua fic não está decepcionando. Acho que eu nem preciso dizer...Tá perfeita, sem contar com sua gramática impecável.:D Parabéns, estou adorando. Ps: Você pretende continuar outra fic depois de terminar essa? Espero que sim. 8D  

    2012-04-07
  • dreampotter

    acredite, eu fiquei com ciumes pela Hermione. Não demora de postar o próximo capítulo, beijos. 

    2012-04-05
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