Único
Ela olha para a chuva e tenta não pensar. Tenta não lembrar da pele, dos olhos, do hálito. Dos lábios, do cheiro, do beijo. Ele saiu, saiu de sua vida. Desistiu dela. E todos os beijos roubados e carícias forçadas às quais seus hormônios reagiam entusiasticamente ficaram para trás. E agora a chuva lava os campos, os jardins. Ela anda pelo corredor e sai pelas grandes portas do colégio, buscando a purificação de seus pensamentos e de seus desejos.
A chuva começa a molhar sua pele e ela se arrepia. Mas ela sente, sente em sua espinha que seu arrepio não vêm só da água gelada tocando-a. Vem do olhar que sente em sua nuca, o olhar que a incomoda durante as aulas, o olhar que amolecia suas pernas durante as rondas (quase) solitárias pelos corredores, o olhar que fazia queimar cada célula de seu corpo por onde passava (mesmo que ela nunca fosse admitir isso a ele).
Ele toca seu ombro e afasta seus cabelos da nuca da ruiva, só para tomar o controle da situação, mostrar a ela que podia deixa-la estaticamente submissa ao próprio desejo. Mas ela já sabia. E ela fica, fica enquanto os lábios dele desfrutam de sua pele nua, e fica enquanto sua razão desaparece e tudo que ocupa sua mente é ele, ele, ele.
Ela olha para a chuva e tenta não pensar. Tenta não lembrar da pele, dos olhos, do hálito. Dos lábios, do cheiro, do beijo. Mas ele está ali, ao seu lado, dificultando imensamente esta tarefa. Ele entrou sem ua vida. Em todos os aspectos dela. E ela prevê (ansiosamente) todos os beijos e carícias às quais seus hormônios reagirão entusiasticamente que estavam por vir.
A chuva lavou seus pensamentos e suas dores, como diziam que fazia. A vantagem é que foi de um jeito inesperado, e que duraria mais do que todo o tempo que ficaria sob a água celeste durante sua vida inteira. Mas sempre, sempre ia se lembrar que todos os seus problemas se resolveram na chuva.
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