-Corvo 6-
Corvo - 6
Hermione pensou por um instante. Tinha a intenção de se aproveitar da situação. Pisar em Malfoy o quanto pudesse, esmagá-lo como o inseto o qual viu chamá-la de sangue-ruím dês de que entrara em Hogwarts.
Enquanto absorvia os acontecimentos ela evitava demonstrar interesse por aquele par de olhos fundos, porém quanto mais se exigia desatenta, mais intrigada se sentia. Se conteu o quanto pode ao perceber que era tragada por aquela neblina acinzentada a qual a encarava fora de foco. Estatelada, forçando as pupilas com a pretensão de melhorar a imagem que via contorcida.
Agora que ela voltava a reparar, Malfoy carregava uma aparência extremamente péssima. Não entendeu a princípio o porquê de estar tão magro, olhos caídos, os ossos desmontando-se dentro das vestes. Até sua boca parcialmente morta tremia, talvez fragilizada demais para manter-se fechada. Nem mesmo Sirius lhe pareceu tão penalizado na primeira vez que o viu.
Em meio a suas observações, por pouco não se esqueceu da pergunta que Malfoy lhe fizera. Abriu a boca, quase que o respondendo, porém pensou em algo melhor. Ela cederia de princípio sua ajuda. Assim ele não teria outra alternativa a não ser prosseguir com o trato.
-Está com fome, Malfoy?
Ele forçou ainda mais os olhos estacionando-os nos dela. Mas logo em seguida removeu o foco, talvez na intenção de não demonstrar nenhuma necessidade que ela pudesse suprir.
-Perguntei se está com fome, Malfoy - repetiu-lhe a oferta, já se aproximando das grades e destrancando o portão.
Uma vez que viu a passagem aberta, Draco fechou de vez sua sanidade, isolou para longe seus pensamentos discordiosos e seguiu a garota, que agora já girara a maçaneta da porta que ele via semi-aberta.
Assim que pisou na sala, desviou sua atenção de Hermione, olhando curioso para tudo a sua volta. A casa era parecida com a que estivera em Finghton. Possuía divisões e móveis semelhantes, porém também pode reparar objetos os quais nunca tinha visto em sua vida.
-Sua casa parece com a que eu abandonei ontem - ele falou sem nem mesmo checar onde Hermione se encontrava - Mas aqui tem coisas a mais... Tranqueiras diferentes. Esse lugar também é bem mais a sua cara. Além disso, me parece que é muito mais confortável permanecer aqui.
Nesse instante seus olhos o levaram para uma porta, na qual viu um rosto totalmente encoberto por cabelos encarapinhados que acabara de ser exposto.
-Você não vem? - ele ouviu, sem nem mesmo enxergar a boca que permanecia por trás daquele véu castanho.
Deu então longas passadas pouco ruidosas, e ao se aproximar viu uma cozinha tenebrosamente estranha aos seus olhos. Porém logo se esqueceu desse detalhe, pois no segundo seguinte reparou uma mesa servida de suco de abóbora e guloseimas as quais ele nem reparou se conhecia ou não.
Hermione fez sinal para que se sentasse, o qual no mesmo instante foi obedecido quase que respeitosamente.
Ele a observou talhar um pão com uma faca, colocar dentro dele um creme o qual ele nem fez questão de espiar de onde vinha. Torceu um pouco o nariz em relação àquela comida estranha. Mas não era o gosto ou a origem daquilo que o incomodava.
-Você não está pensando em me envenenar, não é? - disse por entre os dentes observando sua comida com desdém.
Hermione nesse instante suspirou num tom de desabafo e logo em seguida pegou o pão, mordeu-o sem nenhuma vontade e devolveu-o ao prato de Malfoy.
-Então... - ela começou, seguida de uma pausa para terminar de engolir o pão - Você foge dos comensais à exatamente quanto tempo?
-Dês de sempre.
-Dês de sempre quando?
-Dês de que saí de Hogwarts.
Ele então encarou o pão uma última vez, e segurou-o na intenção de comê-lo, sem nem mesmo se importar com a mordida. Estava faminto.
-Estranho. Sempre achei que você queria muito sair de Hogwarts... Virar comensal... Por que toda essa fuga?
Malfoy demorou um pouco para responder. Mastigava o pão sem a necessidade de engoli-lo logo. Na verdade ele nem era tão ruim.
-Acha mesmo que vou servir e acompanhar alguém que pode me matar se de repente achar que respirei errado?
-Ele é tão rigoroso assim?
-Você não faz idéia.
Ela se calou por um momento enquanto assistia-o devorar o pão. Não sabia exatamente o que perguntar. Havia tanta coisa que ela queria saber. Puxou então uma cadeira do outro lado da mesa e sentou-se um pouco contrariada. Sabia que não seria hoje o dia em que Malfoy deixaria sua casa. Ela tinha tempo para descobrir tudo o que ele pudesse lhe dizer.
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