O Dilema de Draco Malfoy
CAPÍTULO 8
O DILEMA DE DRACO MALFOY
Draco Malfoy estava sentado à mesa de uma das salas reservadas do Três Vassouras, desta vez sozinho. Já estivera nela e em outras por várias vezes, embora elas não fossem permitidas aos alunos. Porém, alguns galeões sorrateiramente escorregados para as mãos de Taylor, um dos funcionários de Madame Rosmerta, garantiam sua entrada por uma porta lateral. Isso sempre lhe fora útil, quando queria ficar mais à vontade com Pansy Parkinson, em situações mais ousadas, embora jamais tivessem ido até o fim. Não que não tivessem tido oportunidade, mas Draco julgava não ser a hora, queria que o momento, quando chegasse, fosse especial. E uma certeza ele tinha: não seria com Pansy.
Jamais revelara isso a ela, pois ela não acharia aquilo condizente com o estilo de um Malfoy, lascivo e oportunista. Mas será que ele era mesmo assim? Há algum tempo que já se questionava.
Suspirou e tirou do cano de uma de suas botas uma pequena garrafa achatada e curva, anatomicamente projetada para tal e colocou-a sobre a mesa. Desatarrachou a tampa e verteu em um pequeno copo uma dose do líquido âmbar que ela continha e que era parte de uma garrafa, subtraída do bar da mansão Malfoy, nas últimas férias de verão. Draco não bebia nada mais forte do que cerveja amanteigada mas, para as reflexões às quais se propunha naquele dia, julgava ser necessário deixar a lucidez um pouco de lado, o que não seria possível com o baixíssimo teor alcoólico da cerveja amanteigada ou mesmo da água de gilly. Então emborcou a dose e serviu mais uma, enquanto sentia o uísque de fogo descer por sua garganta, aquecendo-a de uma maneira que ele jamais sentira. Tampouco Draco fumava. O odor de cachimbos, charutos ou cigarros enchia-o de repugnância. Lembrava-se de como conseguira fazer seu pai abandonar o uso do cachimbo. Com fotos escaneadas de lesões cancerosas de boca, garganta e pulmão que acessara na internet, aliadas a argumentos de que tal doença ainda era um desafio para a medicina, tanto bruxa como trouxa, impressionara seu pai ao ponto de ele nunca mais ter colocado um cachimbo na boca. Quem diria... Lucius Malfoy, que tanto desprezava os trouxas, devia a eles e à sua tecnologia o fato de haver se livrado de desenvolver um câncer.
Na mansão Malfoy, em Wiltshire, os feitiços defensivos eram tantos que pifavam qualquer equipamento eletroeletrônico que não estivesse enfeitiçado. O único cômodo da casa que tinha tais equipamentos era o quarto de Draco, que misturava, em harmonia, decoração bruxa e trouxa, com aparelho de som, DVD, TV com tela plana, Home Theater,computador com drive combo e acesso à internet, etc. O pai não gostava, mas Draco o convencera de que aquilo o ajudaria a se infiltrar entre os trouxas para sondar informações que serviriam para o Lorde das Trevas. Para Voldemort. Tomando a segunda dose, Draco lembrava-se dos acontecimentos dos dois últimos verões...
Após o término do quarto ano, quando Diggory saíra morto do labirinto, trazido por Potter, ouvira o rumor de que o Lorde retornara. Ao chegar a Londres, já recuperado dos feitiços que os Inseparáveis lhe haviam lançado, fora direto para casa, onde sua mãe o aguardava na entrada. Narcisa abraçou e beijou o filho e disse:
_Draco, meu filho, seu pai está com uma visita muito importante na biblioteca e ambos querem vê-lo.
Ao entrar na biblioteca, involuntariamente sentiu um arrepio e achou melhor bloquear a mente, usando as lições de Oclumência que seu pai lhe ensinara desde criança. Foi o que o salvou pois, sentado em uma das poltronas junto à lareira, com um copo de uísque de fogo na mão e conversando animadamente com seu pai, encontrava-se Lord Voldemort em pessoa o qual, percebendo que Draco se aproximava disse, com sua voz gélida e sibilante:
_Lucius, meu amigo, meu braço direito. Este é o seu filho?
_Sim, meu Lorde. Este é Draco.
_Jovem Draco, não o vejo desde que era um bebê. Tornou-se bem parecido com o seu pai.
_Obrigado, meu Lorde. _ disse Draco, fazendo uma reverência e beijando a barra das vestes de Voldemort, como seu pai o havia ensinado a fazer. Intimamente agradecia pela Oclumência, que lhe permitia disfarçar o medo e a repugnância que aquela figura de rosto viperino lhe provocava.
_Jovem Draco, tenho certeza de que seguirá, com excelente desenvoltura, os passos de seu pai, sendo iniciado nos Death Eaters ao atingir a maioridade e, depois, tornando-se um general dos meus exércitos.
_Rogo para ser digno dessa honra, meu Lorde. _ respondeu Draco, tentando demonstrar o máximo de convicção possível.
_Pena você já não ser maior, para colaborar no meu Plano-Mestre, que bolei para ser executado agora, com o meu retorno. Com ele eu finalmente poderei destruir o único empecilho em minha volta ao poder, o jovem Harry Potter.
_E qual seria, meu Lorde? _ perguntou Draco, a curiosidade vencendo o medo que sentia dele.
_Acho que posso lhe dizer, jovem Draco pois você, assim como seu pai, goza do máximo de confiança que posso ter em alguém. Sei que você é cem por cento um Malfoy, portanto sua lealdade não vacilará. Pretendo obter o registro de uma profecia que foi feita sobre mim e Potter, antes que ele nascesse. No texto estão as pistas para destruí-lo.
_E onde estaria?
_No Departamento de Mistérios do Ministério da Magia. Seu pai será muito importante neste plano, pela influência que tem e pela desenvoltura com que circula por lá. Mas não quero cansá-lo, jovem Draco. Vejo que chegou de viagem e Hogwarts fica longe daqui. Vá para os seus aposentos descansar e tomar um banho, para tirar o cheiro de Dumbledore que fica impregnado nos alunos, ao final de cada ano. Agora preciso ir, Lucius. Não poderia deixar de passar aqui, nem que fosse só para filar um pouco do seu excelente uísque de fogo. Depois que eu me for, Lucius, pode reativar a defesa anti-desaparatação.
Draco despediu-se de Voldemort e, após o Lorde desaparatar, pediu licença a seu pai e subiu para o seu quarto.
De volta ao presente, Draco entornou goela adentro a terceira dose de uísque de fogo e ficou pensando: “Quando foi que comecei a sentir que a minha convicção começou a fraquejar? Será que eu, realmente, possuía alguma convicção? Algum dia eu, realmente, pensei em ser leal àquele monstro?” Sabia que, se Voldemort ganhasse a guerra que se aproximava todos os trouxas correriam perigo mortal, bem como os bruxos que a ele se opusessem. Os que se aliassem, acabariam por ser escravos. Alguns de escalão mais baixo, outros de escalão mais alto. Mesmo os próprios Death Eaters, a tropa de elite. Escravos de luxo mas, ainda assim, escravos. Voldemort também providenciaria para que se apagasse todo o possível da cultura trouxa, suas conquistas, artes, tecnologia, etc. Isso era algo que não agradava a Draco, pois muito da alegria de viver se perderia, bem como liberdade de escolha e de expressão. Isso era preocupante para Draco, porque ele finalmente admitia o que viera negando para si mesmo desde o segundo ano: Fora fisgado, irremediavelmente conquistado pela cultura trouxa, sua música, cinema, lazer, moda tecnologia, conquistas, afinal de contas eles haviam conseguido algo com o que nenhum bruxo jamais sonhara: pisar em outros mundos. Para os trouxas a Lua não era um corpo celeste distante, mas um local já conhecido. E tudo isso se perderia, caso Voldemort chegasse ao poder. Cada vez mais Draco se convencia de que aquilo não poderia ocorrer. Não depois dos acontecimentos das últimas férias de verão, as quais passara na Londres trouxa, para sua mãe e os demais bruxos das Trevas infiltrado entre eles mas, na verdade, vivendo e se divertindo como um adolescente trouxa (rico, é óbvio), impregnando-se de seu modo de vida. Aquilo não poderia acontecer agora, que ele estava vivendo uma fase totalmente nova.
Agora que ela entrara em sua vida.
A coisa mais importante que Draco julgava ter acontecido na sua vida, desde que recebera a carta anunciando sua vaga em Hogwarts, ocorrera no último verão.
Assim que desembarcara do Expresso de Hogwarts, já recuperado dos feitiços que novamente recebera, foi recepcionado por sua mãe na plataforma. Ambos entraram em um dos carros da família, um Rolls-Royce equipado com o que havia de melhor e mais recente em feitiços de ampliação interna e defesa. Narcisa então falou:
_Não vamos direto para casa, Draco. Iremos, primeiro, visitar seu pai.
_Vamos a Azkaban? _ perguntou Draco.
_Sim, meu filho. Só Merlin sabe quantos contatos tive de fazer e quais argumentos tive de usar para que nos autorizassem.
Com a fama de sua mãe e a reputação dos Malfoy bastante suja, principalmente após os últimos acontecimentos ele fazia uma idéia dos “contatos e argumentos”, mas era discreto o suficiente para não demonstrar o quanto aquilo o entristecia. Embarcaram no iate da família Malfoy, o “Belle Narcisse” que logo estava em alto mar, rumando para a ilha-presídio de Azkaban, a temida prisão dos bruxos. Ela localizava-se em uma ilha com uma pequena praia, dominada por um rochedo, em cujo interior localizavam-se os corredores e celas. Quando o iate entrou pela caverna que dava acesso ao ancoradouro, Draco não pôde deixar de sentir um arrepio como se, mesmo depois da debandada dos dementadores, seus poderes de sugar a alegria das pessoas ainda permanecesse impregnando aquelas paredes. Ao desembarcarem, dirigiram-se à entrada, onde foram submetidos a uma revista e o Auror da entrada recolheu as suas varinhas:
_Sra. Malfoy, jovem Sr. Malfoy, elas lhes serão devolvidas na saída, não se preocupem. Não é permitido o porte de varinhas não-autorizadas, pois elas acionam o sensor de atividades mágicas, instalado no ponto mais alto da ilha. Ele detecta feitiços executados por varinhas que não estejam registradas. Os únicos autorizados a portar varinhas em Azkaban são os Aurores.
Foram guiados por um outro Auror pelos corredores úmidos e frios, até a ala na qual localizava-se a cela de Lucius Malfoy. Como era hora de intervalo, ele encontrava-se jogando cartas com Rudolph Lestrange. Ao vê-los, sorriu cinicamente:
_Ao que devo a honra da visita?
Embora os Malfoy não fossem muito dados a demonstrações explícitas de afeto, Draco abraçou o pai e foi meio que correspondido. Lucius disse:
_Estava brincando. É bom ver vocês. Tenho muito o que contar. _ e, certificando-se de que não havia nenhum Auror por perto, continuou _ Fomos presos no Ministério... não se preocupem. Aqui não há feitiços de escuta. Bem, fomos presos por Dumbledore e seus malditos amigos. O registro da profecia se quebrou e o plano malogrou. Mas não podemos dizer que foi uma derrota total. O plano paralelo do Mestre continua e, em breve, estaremos de volta, vitoriosos _ e os olhos de Lucius começaram a assumir um brilho insano, fanático, enquanto ele falava _ e no final nós estaremos pisando sobre os corpos dos nossos inimigos, chafurdando no seu sangue e brindando com os crânios deles como cálices. A Ordem das Trevas triunfará. _ Draco percebia que sua mãe, embora não demonstrasse o fervor de seu pai, mostrava-se animada. _ e Harry Potter será um troféu para o Lorde das Trevas, subjugado e indefeso. O Mestre pretende privá-lo, lentamente, de tudo o que lhe for mais importante. Amigos, família, embora com parentes como aqueles, creio que o Mestre estaria prestando um favor ao Potter (Lucius não sabia que Harry e os Dursley estavam em relativa harmonia), até que ele peça para morrer. Mas o Mestre só o matará quando quiser.
_E esse plano já começou a ser executado. _ disse Rudolph _ Durante nosso combate, no Ministério, Harry Potter já perdeu alguém muito importante para ele. _ e Draco perguntou, chamando Lestrange pelo tratamento que usava desde criança:
_E quem era, Tio Rudy?
_O padrinho dele, o animago Sirius Black. Bellatrix o matou. _ e Draco entendeu o porque de Harry haver demonstrado tanta fúria contra ele no final do ano letivo, quase amaldiçoando-o naquela tarde. Olhou para sua mãe. Narcisa não demonstrava a menor emoção ante a notícia de que seu primo-irmão havia sido assassinado por sua irmã, Bellatrix. “Que família é essa” _ pensou Draco _ “na qual não se demonstra o menor sentimento pelo assassinato de um parente, ainda que renegado mas, mesmo assim, que partilhava do mesmo sangue?”
Continuando seu relato, Lestrange falou:
_E, após quase matar o Potter, o Lorde das Trevas e Bellatrix desaparataram. Devem estar em um dos muitos esconderijos do Mestre, traçando novos planos.
Draco pensou: “Se tia Bella é realmente tão devotada ao Lorde, creio que não são bem novos planos que ele deve estar traçando. Tio Rudy vai precisar de uma cela com um teto mais alto.”
Ao término da visita, despediram-se e Narcisa retirou-se, seguida por um pensativo e calado Draco. Narcisa interpretou seu silêncio como tristeza pela situação de seu pai:
_Eu sei, Draco, não é nada agradável estar encerrado nesta rocha, mas acredito que logo será dado um jeito de eles saírem.
_É, mamãe. Este lugar não faz bem a ninguém. _ respondeu Draco, ocultando da mãe seus verdadeiros pensamentos.
Na entrada receberam de volta suas varinhas e embarcaram no iate, rumo à costa e para casa, em Wiltshire, Draco ainda ruminando e tentando digerir o que vira e sentira.
Se tivesse prestado atenção teria percebido, em um recesso de uma das paredes do corredor da saída, um par de olhos azuis que cintilavam por detrás de óculos de meia-lua.
Chegando à Mansão Malfoy, uma casa senhorial em Wiltshire, protegida por toda espécie de feitiços de defesa e ocultamento, Draco pediu licença à mãe e foi direto para seus aposentos ordenando a Ziggy, seu criado particular, que levasse a bagagem. Chegando ao seu quarto, entrou, ligou o aparelho de som e colocou um CD. Logo o som da música do Coldplay espalhou-se pelo aposento. Gostava de vários grupos trouxas de pop e rock, menos do Oasis, pois achava os irmãos Gallagher um par de idiotas metidos e insuportáveis. Despiu-se e entrou na banheira de hidromassagem, tentando tirar o odor de Azkaban, do qual achava estar impregnado o seu corpo. Após o banho, trajou vestes confortáveis de casa e desceu para comer alguma coisa. A mãe havia saído, Draco imaginava para onde e para o que. Resolvido a não ficar muito tempo por ali, jantou e, em seguida chamou Ziggy.
_Pois não, jovem mestre? _ o elfo doméstico apareceu ao seu lado.
_Ziggy, vamos preparar minha bagagem. Vou para Londres.
_Mas e quanto à sua mãe? Ela esperava que o senhor fosse só daqui a um mês.
_Resolvi ir antes e ficar todo o tempo das férias infiltrado entre os trouxas. Desta vez não irei visitar os Parkinson.
_Vai pegar um táxi bruxo, jovem mestre?
_Não, Ziggy. Desta vez usarei o meu carro. Pode carregá-lo, enquanto deixo uma carta para minha mãe.
Enquanto Ziggy preparava a bagagem de Draco, com roupas e acessórios trouxas de grife, para que ele pudesse se passar por um adolescente trouxa rico, como já fizera antes, ele deixava uma carta para sua mãe:
“Mãe, não se preocupe comigo. Julguei ser melhor ir mais cedo para Londres, a fim de me infiltrar entre os trouxas. Passarei lá quase todo o período de férias. Não tentem me localizar e, sobretudo, não digam nada a Pansy. Lembre-se de que, nessa situação, é imprescindível que eu não tenha contato com bruxos. Desta vez irei com o meu próprio carro. Seu filho.
Draco”
Indo para a garagem, onde Ziggy terminava de carregar o porta-malas de seu carro, um Audi A3 verde-esmeralda, Draco disse a Ziggy:
_Lembre-se, você é o único que sabe onde estarei hospedado. Não tente entrar em contato comigo, a não ser que seja absolutamente necessário e, mesmo assim, pelos meios que combinamos, para que não nos possam rastrear.
_Sim, jovem mestre Draco.
_Ziggy, vou lhe fazer uma pergunta e gostaria que respondesse com sinceridade. Se a resposta for ofensiva aos seus amos, não precisa se castigar, OK?
_Sim,jovem mestre Draco.
_Se nós o libertássemos, você continuaria a trabalhar para nós, mesmo não sendo obrigado por magia, apenas por lealdade?
_Apenas por lealdade ao senhor, jovem mestre Draco.
_Lealdade a mim? Por que, Ziggy?
_Porque o senhor, jovem mestre Draco, é o único em quem o mal ainda não venceu. Seu pai entregou-se totalmente ao lado negro da magia, aliando-se Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Sua mãe está quase que totalmente entregue. Somente no senhor eu sinto o conflito e Ziggy percebe que o senhor poderá vencê-lo e fugir da Magia Negra.
_Você acha mesmo, Ziggy?
_Sim, jovem mestre Draco. O senhor luta internamente contra o mal e, se quiser, poderá vencer.
_Obrigado, Ziggy. Vamos manter segredo sobre esta nossa conversa, sim?
_Como o jovem mestre preferir.
Despedindo-se de Ziggy, Draco sentou-se ao volante do Audi e pôs-se a caminho de Londres. Lá chegando, registrou-se no Sheraton, onde já tinha uma suíte reservada.
_Sr. Malfoy, a suíte já está pronta. Como sempre, seu sigilo será preservado, assim como sempre fizemos com o seu pai.
_Obrigado. _ disse Draco e subiu.
Na suíte, ligou o computador e divertiu-se, navegando na internet pelos sites de músicas dos anos 80 e 90, que mais apreciava. The Smiths, Queen, Pet Shop Boys, Wham (caracas, como tinha gente “élfica” no meio musical naquele tempo), mas um de seus preferidos daquela época era o The Cure cujo vocalista, Robert Smith, tinha a aparência de um roqueiro bruxo. Pensou: “Que estranho existir essa doença incurável que já levou muita gente talentosa. Só espero que isso não se torne uma epidemia também entre os bruxos.” Cansado, desconectou-se e foi dormir.
No dia seguinte, resolveu ir a um lugar que ainda não conhecia, um shopping center trouxa recém inaugurado que ficava em outro ponto da cidade. Deixou seu carro no estacionamento e subiu para os níveis das lojas. Trajava-se como um adolescente trouxa rico, não despertando suspeitas. Procurou não exagerar para não parecer muito mauricinho: sapatênis Ferricelli, importados do Brasil; jeans Diesel; uma camisa esporte Brooksfield e uma jaqueta leve Hugo Boss, complementando o conjunto com óculos de sol Snowfly. Não estava destoando de nenhum dos outros rapazes da sua idade que por lá circulavam. Olhou vitrines, entrou em uma livraria e comprou um exemplar de “O Mais Longo dos Dias”. Sentou-se à mesa, na praça de alimentação e pediu um lanche leve, começando a ler o livro. Gostava de assuntos relacionados à II Guerra, quando muitos bruxos britânicos alistaram-se no exército dos trouxas, a fim de combater os nazistas. Pesquisando, soube que nem sempre e nem todos os Malfoy foram bruxos das Trevas. Descobriu que um tio de seu pai, Jean-Marc Malfoy D’Alembert havia feito parte dos Maquis na Resistência Francesa, sob o codinome Sebastian e infligido grandes danos aos invasores nazistas, tanto com magia quanto com balas. Obviamente fora considerado um traidor do sangue, já que a família apoiava os alemães por causa de seu aliado bruxo, Adolf Grindelwald, “A Varinha do Reich”. Quando o pai lhe contara, era muito pequeno mas, agora que tinha compreensão dos fatos, não compreendia por que os Malfoy apoiaram os nazistas. Ele próprio era um Malfoy, mas era inglês e gostava do seu país. À custa de muitos espirros, lendo livros empoeirados em setores pouco procurados da biblioteca de Hogwarts, rogando segredo a Madame Pince, descobrira que Dumbledore havia liderado um grupo de bruxos que combatera Grindelwald, sob as ordens do Primeiro-Ministro Sir Winston Churchill, o qual havia sido amigo pessoal de Dumbledore. Após um combate particularmente intenso e sangrento, Grindelwald fora vencido e, para não cair vivo nas mãos dos bruxos da Luz, apontara a varinha para o próprio peito e executara um Avada Kedavra, caindo morto aos pés de Dumbledore.
Perdido nesses pensamentos, Draco voltou à realidade quando ouviu uma voz, próximo de onde se encontrava, pedir ao balconista da lanchonete um Gatorade, falando o inglês com um sotaque latino, mas com uma cadência e uma musicalidade que ele jamais ouvira antes. Olhou na direção de onde vinha a voz e foi então que tudo aconteceu e o raio o atingiu.
Todo o ar saiu de seus pulmões e ele pareceu não ver nada mais à sua volta por alguns segundos, somente tendo olhos para a visão à sua frente. Voltando à realidade, seu primeiro pensamento foi: “Se os anjos realmente existem, um deles acabou de descer à Terra.” A garota era cerca de meia cabeça menor do que ele, pele bronzeada, cabelos castanhos com reflexos loiro-mel, presos em um rabo-de-cavalo, um rosto angelical, com covinhas e um furinho no queixo, iluminado por um par de olhos azuis, não acinzentados como os seus, mas semelhantes a duas águas-marinhas cintilantes, lembrando um pouco os de Dumbledore. Vestia um abrigo esportivo em rosa e branco, que realçava suas curvas. Tinha seios médios e firmes sob um top vermelho, curto o suficiente para revelar um abdome torneado pela atividade física exibindo, no umbigo, o que mais lhe chamara a atenção: um piercing em ouro branco, com um pingente representando um pequeno dragão, muito semelhante ao que ele mesmo usava em um cordão, no pescoço. Completavam o conjunto os tênis Asics Gel Nimbus (ora, mas que coincidência) que ela calçava e a mochila às costas, em cuja bolsa lateral via-se um squeeze. O típico visual de quem acabara de sair da academia.
Juntaram-se a ela mais duas amigas e elas, após tomarem o Gatorade retiraram-se, não sem antes prestarem atenção e trocarem comentários em voz baixa sobre o “gatinho loiro que lia um livro na mesa vizinha.” Pouco tempo depois Draco também retirou-se e retornou para o hotel.
No dia seguinte, sem que percebesse, estava estacionando no mesmo shopping e seus passos dirigiram-se para a praça de alimentação, não sem que ele antes passasse em frente à academia do shopping, onde aquela expressão da beleza estava a malhar. Quando Draco se deu por conta, estava repetindo aquele procedimento por quase uma semana.
Estando mais uma vez a ler notou que, em uma mesa próxima, o grupo de garotas, agora acrescido de mais uma, cochichava e aquela verdadeira pintura não tirava os olhos dele. Resolvido a travar conhecimento com ela, fez menção de se levantar mas, ao prestar atenção viu que ela estava ali, parada ao seu lado.
_Com licença _ disse ela, com aquela voz macia e aquele sotaque melodioso _ , eu e minhas amigas notamos que você tem vindo todos os dias ao shopping nesse horário, justo quando estamos saindo da academia.
_É para me certificar de que você é real e não uma miragem, pois jamais encontrei uma garota tão linda.
Corando levemente ante a sinceridade demonstrada por Draco, a garota convidou:
_Venha sentar-se conosco. Qual é o seu nome?
_Malfoy, Draco Malfoy.
_Parente de Lucius Malfoy, o magnata do comércio internacional? O misterioso bilionário excêntrico que quase não aparece em público?
Draco sorriu e disse:
_Ele mesmo. Sou filho dele mas, ao contrário, não me importo em me expor um pouco mais. Me responda, por favor, de onde é esse sotaque tão musical que eu jamais ouvi. Você não é inglesa, acertei?
_Acertou. Sou do Brasil, mais especificamente do Rio Grande do Sul. Meu nome é Janine Sandoval. Aquelas são minhas amigas, Lauren Collingwood, Shanna O’Rourke e Pamela Worthington. Dividimos um apartamento aqui perto. Pamela veio morar conosco nesta semana, respondendo a um anúncio.
Durante a conversa com as garotas, Draco ficou sabendo que Janine era filha de um coronel do Exército Brasileiro, já falecido, que havia servido anteriormente como adido militar na Embaixada do Brasil na Inglaterra. Desde criança convivera com constantes mudanças e conhecera outros países e costumes. Do pai, herdara o gosto por esportes radicais, algo que nem mesmo a morte dele, em um acidente de pára-quedas que ela presenciara, pudera diminuir. Surfava, escalava montanhas, saltava de pára-quedas, mergulhava, nadava, corria, praticava artes marciais e malhava, para manter o corpo e a mente em ordem. Estava na Inglaterra a fim de se preparar para um curso superior de História, com ênfase em ocultismo, civilizações e idiomas antigos. Ela perguntou sobre Draco, onde vivia e onde estudava. Ele disse:
_Minha escola fica no norte do país. É bastante exclusiva, seletiva, antiga e prende-se a moldes tradicionais, em sistema de internato misto, com os alunos divididos em Casas, como era a maior parte das escolas no século XIX. Ficamos meio que isolados do restante do mundo, para que nada nos desvie das atividades.
_E o que vocês aprendem lá?
_Bem, nosso currículo é reservado, mas posso dizer que aprendemos a aprimorar as habilidades que possuímos, a fim de sermos melhores cidadãos e utilizá-las para o benefício da comunidade.
_E como mantêm o contato com as famílias, em caso de necessidade?
_Temos meios para isso, embora não disponhamos de internet ou telefones. Mantemos comunicação através de métodos antigos, tais como aves treinadas além, é lógico, do correio comum.
_Que interessante. Não sabia que ainda existiam escolas tão tradicionais. Mesmo Eton já se rendeu à informatização.
Continuaram conversando boa parte da tarde. Uma certa hora, Janine disse:
_Preciso ir, Draco. Gostaria de vê-lo novamente. O que acha de um cinema?
_Adoro. Que tipo de filmes?
_Clássicos da II Guerra. Gosta?
_São os meus preferidos. Quando podemos nos encontrar?
_Amanhã às 18:00 h, no nosso condomínio. Aqui está o endereço. _ anotou em uma folha de um pequeno bloco personalizado, destacou-a e entregou-a a Draco. Em seguida saiu, acompanhada das amigas. Draco ainda pôde ver a parte superior de uma tatuagem tribal aparecendo acima da cintura da calça do abrigo que ela usava.
Após a saída de Janine, Draco retornou para o hotel, sentindo-se levitar. Mal acreditava que conversara com aquele anjo e que fora convidado para sair. Com certeza Merlin o estava olhando com melhores olhos.
Na noite seguinte, às 18:00 h, Draco Malfoy apertava a campainha do apartamento de Janine, tendo em suas mãos um arranjo de orquídeas. Janine atendeu à porta, cumprimentou Draco e mostrou-se maravilhada com as flores. Draco disse:
_Achei que combinariam com você. A orquídea combina raridade e beleza, sendo uma flor especial. Assim, deve ser destinada para pessoas especiais. _ ela lhe deu um beijo no rosto e ele lhe ofereceu o braço. Saíram para o cinema. A sala ficava na escola de Janine e estava exibindo um ciclo de filmes clássicos ambientados durante a II Guerra. Coincidentemente o filme daquela noite era um que Draco ainda não havia assistido: “Casablanca”, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergmann. Janine adorava esse filme. Durante a exibição, Draco solidarizou-se com a dor de Rick Blaine ao julgar que Ilsa o traíra, emocionando-se com o diálogo final, no aeroporto, antes do avião decolar rumo a Lisboa. Sem que percebessem, as mãos de Draco e Janine se procuraram e permaneceram dadas, com os dedos entrelaçados. Após o final do filme, não as soltaram.
Ao deixá-la em seu apartamento, com a promessa de que iriam se ver no dia seguinte, Draco e Janine primeiro roçaram seus lábios em um beijo ingênuo, que tornou-se mais ardente quando as línguas se tocaram. Draco disse:
_É melhor eu ir. Mal posso esperar para que nos vejamos, amanhã.
_Eu também, Draco. Boa noite.
_Boa noite, Janine.
A caminho do hotel, Draco sentia-se tão leve que poderia voar sem vassoura. Pela primeira vez na vida sentia que aproximavam-se dele apenas por ser Draco, não por ser Malfoy. Somente se preocupava em como diria a ela que era um bruxo, se fosse preciso. Mas aquilo poderia ficar para depois. Ligando o rádio em uma emissora ao acaso, ouviu-se a voz de Frank Sinatra cantando “Fly Me To The Moon”. Era assim que ele se sentia, a ponto de voar até a Lua.
Durante aqueles meses, os quais coincidiam com as férias da escola de Janine, os dois viam-se quase todos os dias. Passearam, foram ao cinema, ao teatro, trocaram presentes, Draco tendo dado a ela dois CDs, um das Esquisitonas e um do Pena de Fênix e recebendo dela outros dois, com coletâneas de pop rock brasileiro, fizeram piqueniques no parque, Draco acompanhou-a na prática de várias atividades esportivas, admirado com o seu próprio preparo (“Deve ser o Quadribol”, pensou). Mas o mais incrível estava para vir.
Depois de alguma, não muita insistência,Draco fez um curso de paraquedismo. Na hora do salto para a concessão do certificado ele, que jamais havia voado em algo que não tivesse cabo e cerdas, olhou para baixo e ficou um pouco preocupado, mas apenas por um instante, pois recordava-se das instruções e o sorriso de Janine, mais bela do que nunca naquele macacão de salto, com capacete e óculos, o deixava muito tranqüilo. Nem mesmo o fato de estar se jogando de um avião a uma grande altitude pôde superar a sensação de liberdade, com o vento batendo no rosto a uma grande velocidade. Ao puxar o retentor e liberar o velame, passando a cair devagar e controlando a trajetória, até aterrar no ponto marcado, ao lado de Janine, Draco Malfoy sentia-se verdadeiramente feliz.
As férias caminhavam para o seu final e Draco precisava retornar, afinal precisava ir ao Beco Diagonal para comprar o material do sexto ano. Ele preferia fazer isso pessoalmente em vez de delegar a tarefa a um elfo ou a outro criado. Naquela noite ele e Janine jantaram juntos em um restaurante onde havia uma pista de dança. Ao ouvir o pianista tocar “As Time Goes By”, não resistiu e a chamou para dançar. Ficaram dançando, não só aquela, mas várias outras músicas românticas trouxas. Na hora de irem embora...
_Draco...
_Sim, Janine?
_Esta será nossa última noite juntos, antes de nos separarmos para o início de nossas aulas.
_É verdade. Queria que esta noite não terminasse nunca.
_Mas ela terminará, Draco. Só não precisa terminar agora. Eu te quero, mais do que nunca.
_Eu também, Janine. Nunca senti por ninguém o que sinto por você.
Subiram para a suíte de Draco que, assim que chegaram, colocou um CD no aparelho e, ao som de uma coletânea romântica bastante eclética, com Phil Collins, Sarah Brightman, Gloria Estefan, Cranberries, Carly Simon, Sade e outros, abraçaram-se e beijaram-se, como se aquela fosse não apenas a última noite em que ficariam juntos, mas a última noite de suas vidas. Terminaram deitados na cama, suas mãos e bocas explorando toda a extensão de seus corpos, até que, tomadas as devidas precauções, uniram-se para celebrar o amor que sentiam um pelo outro. Atingiram juntos o clímax, pontualmente à meia-noite, quando o som aveludado do Big Ben começava a anunciar o início de um novo dia.
_Que estranho, Draco. _ murmurou Janine, ainda em êxtase.
_O que é estranho, Janine? _ perguntou Draco, também em um estado no qual sentia-se capaz de levitar. Havia sido a primeira vez de ambos.
_Eu seria capaz de jurar que o Big Ben deu treze badaladas à meia-noite, mas isso seria impossível, não seria?
Draco não disse nada. Apenas sorriu. Adormeceram abraçados.
Na manhã seguinte demonstraram novamente o seu amor, de uma forma mais suave. Separaram-se, relutantemente. Draco disse:
_Então, você já sabe. A única agência que envia cartas para a minha escola fica na estação de King’s Cross. Basta colocar na caixa vermelha, que é exclusiva para nós. Minhas cartas chegarão através de aves treinadas, na sua maior parte, corujas, pois elas viajam à noite e sabem se defender de predadores. Se quiser pode mandar a resposta pela mesma ave. Prometo que nenhuma de suas cartas ficará sem resposta e que voltaremos a nos ver o mais breve possível.
Deixou-a em seu apartamento e voltou ao hotel, para fechar sua conta e retornar para casa, sentindo-se o mais feliz dos homens. Amava um verdadeiro anjo em forma de mulher e era correspondido. Só não poderia dizer nada em casa, pois o fato dela ser cem por cento trouxa com certeza não agradaria. Pensaria depois na melhor maneira de dizer a Janine sobre as suas “habilidades”.
Voltando ao presente...
Draco estava voltando de suas lembranças, sentindo-se meio tonto pelas doses de uísque de fogo consumidas, mas estava prestes a escolher seu caminho. A carta que recebera de casa naquela manhã havia precipitado os acontecimentos. Uma coruja a entregara na hora do café e, ao lê-la, sentiu o chão sumir sob seus pés. Ela dizia:
“Draco, meu filho. É chegado o momento de receber a maior honra que você pode imaginar. O Mestre julgou que você tem condições de, mesmo antes de atingir a maioridade, ser iniciado, assim como vários de seus amigos, para reforçar as fileiras do seu exército. A cerimônia está prevista para as férias de Natal. Quanto à garota trouxa com quem você tem se encontrado durante as últimas férias, é bom que tenha sido apenas uma diversão ou que, melhor ainda, você a esteja preparando. Ela é jovem, bonita e será um excelente cordeiro. Seja digno da honra que lhe cabe. Tenho certeza de que você estará à altura do que o Mestre espera e que, logo, terá um status igual ao do seu pai, mostrando-se apto a seguir os passos dele.
Sua mãe
Narcisa”
"Por Merlin! Que direção seguir? Como salvar a garota a quem amo?"
Draco ainda tinha em mãos aquele pergaminho. Não podia acreditar que havia sido seguido e vigiado e, principalmente, que soubessem de Janine e, o que é pior, estivessem planejando sacrificá-la em uma estúpida cerimônia de iniciação que os tornaria eternamente ligados àquele monstro do Voldemort. Ficara impressionado com o brilho no olhar de Pansy Parkinson, que também havia recebido uma carta semelhante de seus pais, fiéis seguidores do Lorde das Trevas. Decididamente, não era aquilo que Draco queria para si. Era um adolescente de dezesseis anos, queria viver sua juventude e aproveitar as boas coisas do mundo, principalmente o amor que, pela primeira vez, viera a conhecer. Lembrou-se, também de que sua omissão poderia ter contribuído para a morte de Sirius. Uma furtiva e solitária lágrima rolou por sua face e ele, finalmente, tomou sua decisão. Iria falar com Dumbledore para tentar proteger Janine da maneira que fosse possível. Poderia até não combater ao lado de Dumbledore mas, com certeza, jamais se alistaria nas fileiras do exército de Voldemort. Nunca seguiria os passos do pai, para se tornar um maldito Death Eater como ele. Nunca. Jamais. Sua decisão estava tomada e era irrevogável.
Tomou o resto do uísque de fogo que ainda havia na garrafa e guardou-a. Tirou um pequeno frasco do bolso da jaqueta e bebeu todo o seu conteúdo, sentindo a tontura e a embriaguez desaparecerem, com o efeito da Poção Para Curar Bebedeiras. Agora, totalmente lúcido e convicto do que deveria fazer, saiu da sala reservada e retirou-se do Três Vassouras, despedindo-se de Madame Rosmerta e indo para a rua. Olhando na direção da casa de chá de Madame Pudifoot, viu Harry e Gina saindo e pensou em Janine e na falta que sentia dela, ainda que estivessem mantendo um fluxo constante de correspondência. Dirigiu-se para o castelo, com a alma leve, como se tivesse nascido de novo. Tomara sua decisão e escolhera seu caminho. Agora era manter-se nele.
À noite, todos divertiram-se muito com a festa do Dia das Bruxas que, a cada ano, ficava ainda melhor. Para aquele ano, Hagrid havia se superado no cultivo das abóboras. Estavam de excelente qualidade. Bandos de morcegos treinados voavam em formação, executando complicadas acrobacias em vôo. Um grupo de alunos que estivera ensaiando em segredo, encenou uma pequena peça sobre a fundação da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a qual arrancou entusiásticos aplausos da assistência. Depois de todos haverem se deliciado com o banquete servido (parabéns, novamente, aos elfos domésticos), após o encerramento Draco aproximou-se de Dumbledore que estava conversando com Harry e disse:
_Por favor, Prof. Dumbledore, eu poderia lhe falar, reservadamente?
_Certamente, Sr. Malfoy. Me aguarde em frente à entrada de minha sala.
Cerca de dez minutos depois, Dumbledore chegava à entrada e dizia para a gárgula: “Bananas Carameladas”. Imediatamente a estátua abriu caminho e surgiu a escada em espiral. Entraram no gabinete do Diretor e Dumbledore conjurou uma poltrona de chintz para Draco, que sentou-se. Em seguida, perguntou:
_O que deseja me dizer, Sr. Malfoy?
Draco abriu o coração, contando a Dumbledore tudo o que se lembrava dos dois últimos períodos de férias, de como sabia do retorno de Voldemort, da repugnância que sentira, de como gostava cada vez mais da cultura trouxa, da entrevista que tivera com o pai, do namoro com Janine e de quanto a amava e, principalmente, do perigo que ela estava correndo. Mas, quando chegou à parte que envolvia os fatos do ano anterior...
_E eu não consigo deixar de pensar, Prof. Dumbledore, que, mesmo já estando em dúvida sobre se deveria ser leal àquele monstro ou não, eu me omiti e essa omissão pode ter contribuído para a morte de... e as palavras lhe faltaram. Tudo o que estivera represado por anos rompera a barragem e, em meio a um choro convulsivo, no qual as lágrimas desciam livremente tentava dizer:
_Posso ter contribuído para que Sirius morresse, com minha omissão sobre os fatos de que eu tinha conhecimento. Posso não gostar do Potter, mas jamais o quis morto, nem passando por uma perda como essa. Sirius era o que ele tinha de mais próximo de um pai e agora está morto. Meu elfo, Ziggy, disse que podia sentir a luz e as trevas em conflito dentro de mim e que eu poderia vencer o lado negro.
_E ele está certo. Você pode e já está lutando para isso, rompendo com o Partido das Trevas.
_E ainda há o fato, professor, de que eu quero me retratar com o Potter, mas não sei como. Acho que ele jamais me perdoaria, se soubesse. Além disso, Janine está em perigo e eu não queria que ela sofresse qualquer mal por minha causa, professor. Eu a amo e não poderia viver com a culpa, se algo lhe acontecesse... _ e sua garganta travou, o pranto liberado.
Dumbledore aproximou-se e o abraçou, como um avô faria com um neto, dizendo:
_Não se desespere, Draco. Você não tem culpa nenhuma sobre o que aconteceu. Eu já sabia sobre a profecia, mesmo antes de Voldemort lhe contar. Sirius foi aquela noite ao Ministério porque nenhuma força no mundo poderia mantê-lo em casa, com Harry naquela situação. E durante a batalha, ele tanto poderia ter como não ter morrido. Foi uma fatalidade. Só nos resta seguir em frente e lutar como ele, por certo, iria querer que fizessemos. Quanto a Harry, acredito que, em vista da sua gradativa mudança de comportamento e personalidade, Draco, ele irá lhe compreender e irá perdoá-lo, embora você não tenha culpa, como eu já disse. Agora, resta planejar como poderemos colocar a Srta. Sandoval em segurança. Para isso, não conheço melhor lugar do que Hogwarts. Ela sempre tem os portões abertos para aqueles que dela necessitarem.
_Mesmo ela sendo cem por cento trouxa, professor?
_Mas claro. É um ser humano como nós e eu acredito que aqui ela encontraria, não somente a segurança, mas também a continuidade dos seus estudos.
_Em uma escola de magia?
_Ela estuda História, com ênfase em civilizações e línguas antigas, além de Ocultismo. Que lugar melhor do que aqui?
_Seria a primeira trouxa a estudar em Hogwarts...
_Desde os mais de mil anos de sua fundação. Também não nego que estou curioso para saber como o Chapéu Seletor faria a seleção de um trouxa, que critérios usaria.
_Pode parecer estranho, professor, mas eu aposto que o melhor lugar seria a Grifinória, pelo perfil dela e pelo fato de que lá ela estaria junto ao Potter e sua turma, os Inseparáveis.
_Que, eu notei, você não chama mais de “Insuportáveis”. _ comentou Dumbledore, divertido.
_Como o senhor disse, professor, estou mudando meu perfil. Chega de ser o Bad Boy da escola.
_Creio que há alguém que vai poder nos ajudar, e muito, a resgatar e contrabandear a Srta. Sandoval para Hogwarts, de uma maneira que não pareça muito... chocante.
_Eu entendo. Chave de Portal e Pó de Flu estão fora de questão. O choque seria muito grande para ela. Estou certo de que ela também estranharia o Nôitibus. Só nos resta o Expresso de Hogwarts, na Plataforma 9 ½. Mas quem seria esse alguém, professor?
_Já está chegando, via Flu.
A lareira iluminou-se, com chamas verde-esmeralda e de dentro dela saiu...
_Tonks! _ exclamou Draco, surpreso.
_E aí, beleza, primo? Dumbledore, já está tudo pronto. Toda a burocracia da transferência está resolvida. Só falta planejar como será o resgate. Para mim o melhor dia seria amanhã mesmo, pois ela estará na academia do shopping, pela manhã.
_Como você sabe sobre a academia, Tonks? _ perguntou Draco.
_Para mim é fácil, pois eu a freqüento. _ e, instantaneamente, a metamorfomaga assumiu a aparência de...
_Pamela Worthington! Era você o tempo todo, Tonks?
_Sim, Draco. Primeiro eu estava vigiando você em Londres, com outra aparência. Quando vi que você estava se interessando por Janine, primeiro desconfiei de você mas, depois, quando vi que estavam apaixonados, mantive meu disfarce, a fim de proteger vocês dois. Havia bruxos das Trevas te vigiando, Draco. Na noite que Janine e você passaram juntos, por exemplo (e Draco enrubesceu, sob o olhar curioso e divertido de Dumbledore), eu precisei apagar a memória do cara que te vigiava. Aqueles malditos nunca confiaram inteiramente em você. Querem forçá-lo a se tornar um Death Eater e também que sacrifique Janine, como prova de lealdade.
_Isso jamais. _ disse Draco, os olhos cintilando de fúria.
_Não se preocupe, Draco. _ disse calmamente Dumbledore. _ Acho que já bolei um plano que, tenho certeza, dará certo. Pode começar a escrever o que eu vou ditar.
Draco pegou a pena, inclinou-se sobre o pergaminho e começou a escrever uma mensagem para Janine.
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