Os preparativos da viagem





--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Narcissa tinha três malões abertos sobre a cama de colunas impecavelmente arrumada do quarto de casal da Mansão dos Malfoy. O maior deles estava quase cheio, as roupas cuidadosamente dobradas em sua organização meticulosa. Com a sua habitual expressão de insatisfação, Narcissa olhou para o malão à sua frente e praguejou: “droga de viagem”.


Com um toque de varinha fechou o malão e fez com que o objeto flutuasse suavemente até próximo a porta que dava no corredor. Num tom de voz um tanto menos suave, chamou:


- Dobby! Venha aqui! – um estalo e o elfo doméstico estava ali.


- Milady! – a criatura fez uma reverência tão exagerada que seu nariz comprido e fino encostou no tapete do quarto.


Narcissa olhou com desgosto para os trapos sujos que o elfo vestia e fez um breve aceno com a mão para que ele se erguesse. Fez uma nota mental: precisava arranjar uma fronha nova para servir de vestimenta ao seu elfo. Aquela imundice não podia ser tolerada na casa dos Malfoy.


- Leve minha mala para o hall, aproveite e peça a Draco para vir ao meu quarto.


- Sim, milady. – Tropeçando nas pernas e olhando para baixo, Dobby agarrou a mala com seus dedos finos e saiu em disparada pela escada.


Algum tempo depois, Draco surgiu à porta com ar preguiçoso, seus cabelos finos e louros desalinhados, como quem acabara de acordar. Em seu tom arrastado, perguntou:


- Sim, mamãe?


Com a entonação completamente diferente da que utilizou com Dobby, Narcissa carinhosamente se dirigiu ao filho:


- Draco, meu amor, vá ao seu quarto e busque as roupas que a mamãe separou, estão em cima da cama. Você sabe, não é, meu filho? O imprestável do Dobby não pode ter acesso às nossas roupas...


- Aham, mamãe. Você e o papai já me explicaram tudo sobre essa ralé dos elfos domésticos, eu sei que as roupas significam liberdade.


Narcissa, sentindo que Draco estava odiando tanto quanto ela ter que viajar, caminhou em direção a ele e, penteando os cabelos do filho com os dedos, acrescentou:


- Pode escolher o que você quiser para levar, querido. Leve algo para se divertir enquanto estivermos lá.


Mais animado, Draco deu um beijo na mãe e saiu do quarto fazendo em voz alta uma lista de tudo que queria levar consigo na viagem. Sorrindo, Narcissa voltou-se para a cama para empacotar as coisas do marido quando ouviu ao fundo Draco aos berros com Dobby:


- Por sua culpa eu vou ter que carregar as minhas roupas. Você é um imprestável, imprestável, imprestável!


Achando graça do comportamento do filho, Narcissa olhou para o armário do marido, o sorriso desparecendo do rosto. Aquele era o último ano que Draco permaneceria com ela antes de ingressar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ela havia planejado um verão tranquilo e em companhia da família, em sua casa. Com certeza seus planos não incluíam uma tediosa viagem de negócios à França. Mas ela não tinha opção: definitivamente não ia deixar que o marido viajasse sozinho em companhia do Ministro da Magia e de sua terceira e nova esposa.


Narcissa descobrira lendo em revistas da sociedade bruxa que a nova senhora Fudge estava nada menos que em seu terceiro casamento com homens mais velhos em uma lista dos bruxos mais influentes da Grã-Bretanha. Entre esses homens, ela sabia que Lucius era extremamente atraente para uma mulher daquele tipo, não apenas pelo dinheiro e status social, como também pela beleza, ela tinha que admitir. Narcissa queria estar lá para repelir toda e qualquer investida da oferecida. Apesar de toda sua irritação, ela não podia suportar a ideia de Lucius com outra mulher. Pelo menos como recompensa por aceitar a viagem, ela conseguiu que o marido desistisse da ideia absurda de mandar Draco para Durmstrang. Ela não iria ter seu único filho tão longe.


Então era hora de começar a empacotar as coisas de Lucius. Narcissa esboçou um leve sorrisinho e abriu a gaveta das meias. Pegou todos os pares e arremessou-os, um por um, direto no malão. Fez o mesmo com as gravatas e cuecas, essa era sua vingança pessoal. Conhecia o marido, o homem se gabava de andar impecavelmente arrumado. Concedeu-lhe apenas cinco pares de vestes completas e dois de vestes a rigor. Isso teria que bastar para o mês inteiro que iriam passar na França. Narcissa não resistiu a uma boa gargalhada ao imaginar Lucius abrindo a mala e encontrando nada menos que trinta pares de meias e apenas um de vestes para ir às suas preciosas reuniões. Assegurou-se também de não colocar pijamas. O marido ia ter que dormir de cuecas, afinal, como Draco, ela também queria se divertir na viagem.


Enquanto ela embolava o último par de calças na mala, fazendo questão de que todas as roupas se amassassem bastante, um estalido anunciou a chegada de Dobby.


- Milady, o mestre mandou Dobby chamar a senhora a sala de estar, minha senhora. O senhor mestre tem muita urgência, Milady. Ele até deu um chute em Dobby pra que ele viesse mais depressa...


- Já entendi, criatura! Estou indo. Vá ver como vai indo meu filho em seus preparativos. Assegure-se de que ele não interferiu nas roupas que eu escolhi, ele vai precisar de todos os casacos, capas e botas, mesmo que seja uma viagem para a praia. Merlin sabe como o tempo pode ser imprevisível.


Contrariada, Narcissa desceu com violência a tampa do malão, e dirigiu-se a porta. Passando em frente ao espelho, voltou para conferir sua aparência, soltou os cabelos e ajeitou o vestido. Marchou então para a sala onde Lucius tão impacientemente a esperava.


- Narcissa! Comprei tudo o que estava na sua lista. Os vendedores da loja de poções vão mandar entregar o pacote. Um pacote enorme, meu amor. Precisamos de todas aquelas coisas? – disse Lucius, exausto, jogado em uma cadeira próxima à janela aberta.  Estava muito quente naquela sala, Lucius havia retirado a capa e aberto os primeiros botões da camisa. Seus longos cabelos louros presos elegantemente em um rabo de cavalo na nuca estavam um pouco desarrumados pelo esforço e pelo vento. Lucius descansava a cabeça no encosto da cadeira e tinha os olhos fechados. Pacotes o cercavam em volta da cadeira.


Narcissa não pode segurar um leve suspiro. O marido era tão bonito. Mesmo cansado e suado como estava, ele ainda a atraia da mesma maneira que no dia em que se conheceram. Obstinada, ela teve que endurecer sua expressão para não deixar que o marido percebesse que afinal ela achara algo de bom na viagem. Perguntou:


- Lembrou de tudo, querido? A poção de enjoo do seu filho, trouxe? – ela viu o marido abrir os olhos, exasperado.


- Poção? Que poção, meu amor? O menino não é grande demais para enjoar em viagens na Rede de Flu? – tirando um pergaminho amassado do bolso, ele correu os olhos pela lista – Não tem nada disso na sua lista, Narcissa.


- Eu disse pra você, Lucius. Hoje, antes de você sair, eu lhe pedi que trouxesse a poção do nosso filho, e também um frasco extra de loção protetora contra o sol. Já reparou na cor da pele dessa família, meu amor? Se não trouxe a loção, é bom que tenha trazido um bálsamo para queimaduras, trouxe?


Lucius sentou-se direito na cadeira, apoiando a cabeça nas mãos antes de explodir com a esposa:


- Por Merlin, Narcissa. Esses últimos dias tem sido um pandemônio nessa casa! Você mal fala comigo, me pede pra comprar o Beco Diagonal inteiro, não está satisfeita com nada, muda de ideia a cada minuto. Assim não há paciência que aguente, querida – ele levantou os olhos, Narcissa parecia triste. – Meu amor, eu sei que você não queria essa viagem. Mas foi você quem insistiu que nossa família não deveria passar essas últimas férias separada. Não tem outro jeito, são negócios. Não se recusa um convite do Ministro, Narcissa.


- Meu amor, eu sei. Mas essas são as ultimas férias do nosso Draco. Este ano ele irá para Hogwarts, sozinho. Lucius, ele é só um garotinho. É dependente, não vai conseguir ficar sem a família. – a voz de Narcissa sempre ganhava um tom choroso quando falava da partida do filho. – E eu, meu amor? Vou ficar tão sozinha nessa casa enorme! Você está sempre trabalhando, sempre ocupado. Ah, Lucius! Ele é tão pequeno...


Lucius tomou a mão da esposa e guiou-a a seu colo. Ela se sentou de lado, sem olhar para ele. Ele a abraçou, aconchegando-se em seu pescoço. Narcisa virou-se para ele e sussurrou para o marido:


- Amor, ele precisa da poção de enjoo. – Lucius suspirou. Pacientemente, acariciou as costas da esposa.


- De volta ao Beco Diagonal, então? – perguntou.


- Por favor. – respondeu Narcissa. – E o frasco extra de loção protetora, sim meu amor?


 


Lucius levantou-se e em um segundo não estava mais lá. Narcissa estava feliz consigo mesma, sempre conseguia que seu marido fizesse todas suas vontades. Bom que fosse assim. Mas ele também sempre acabava conseguindo que ela o seguisse para onde quer que seja, fosse para encontros desagradáveis com ex-comensais da morte, fosse para reuniões de bruxos em lugares impensáveis como a maldita praia francesa. St. Tropez era o paraíso dos trouxas, ela não podia imaginar um lugar mais impróprio para reunir a elite bruxa, mas de qualquer maneira era para lá que iriam na manhã seguinte.


Estava quase tudo pronto, ela só precisava supervisionar a arrumação de Draco. Algo lhe dizia que o filho não estava se concentrando apenas em roupas e sapatos, como deveria ser. Ao subir a escada decidiu colocar na mala de Lucius as vestes bonitas que ela havia mandado fazer para ele no natal. Ele ficava particularmente atraente naquelas roupas.


Ao chegar ao quarto, Draco estava de quatro sobre sua cama, com a tampa do malão aberta a transbordar de roupas. Ao sentir a presença de Narcissa, o menino saltou, batendo a tampa do malão e sentando-se sobre ele. Olhou para a mãe com a expressão mais inocente de todas, dizendo:


- Não quer fechar, são tantos casacos. Mas está tudo pronto, como a senhora pediu. Trouxe comigo apenas algumas coisinhas para brincar na viagem. Eu posso, certo?


Narcissa resolveu relevar as arrumações suspeitas de Draco. Que levasse o que quisesse, não havia entre os pertences do menino nada tão comprometedor que fosse preocupante. Pelo menos nada que ela tivesse conhecimento. Havia tão pouco tempo para ficar com seu filho, ela não queria desperdiçá-lo com brigas. Ela sentou-se na cama, e convidando o menino para seu colo, abraçou-o. Porque ela não tivera mais filhos?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Jéssica S.

    Eu tenho certeza que a fic de vcs vai ser ótima!Eu sempre gostei dos Malfoy mesmo eles sendo do lado dos comensais, a Narcissa sempre uma mãe maravilhosa, o lucius sempre me fez suspirar e o Draco apesar de mimado não teve muitas escolhas.Só quero ver no que essa viagem a França vai dar! E com uma oferecida, oportunista entao, vixe vai dar caso.Espero que me desculpem, eu sou um pouco lerda pra ler, eu leio e releio várias vezes o mesmo cap, e apesar das senhoritas tenham detonado a minha idéia de 20 capítulos(que isso nem é tanto), os capitulos são ótimos por serem extensos, espero que continuem assim! BJS meninas!

    2012-02-04
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.