ÚNICO
Virei de barriga para cima e fitei o teto, com vontade de chorar. Aquele sonho fora tão real! Era até crueldade comigo. Se continuasse a sonhar daquele jeito, eu perderia minha sanidade logo logo. É tão difícil esconder isso, tentar fugir disso, e ainda mais difícil é viver sem ele. Suspirei.
Me virei para o lado, tentando dormir. Fiquei pelo o que me pareceu um bom tempo com os olhos fechados, mas os trovões e relâmpagos lá fora não me deixavam dormir. Suspirei novamente, sentando-me na cama. Gina dormia imperturbável, mexendo-se levemente com seus sonhos. Decidi tentar ler junto do fogo, na lareira lá embaixo, na sala de estar. Peguei o livro que estava no chão, ao lado da minha cama de armar, e desci o mais silenciosamente que pude, para não acordar ninguém.
Ao chegar à sala de estar, notei que a lareira estava bem acesa, e não quase extinguida como eu pensara. A porta estava aberta, deixando um vento levemente frio entrar na casa. Arrepiei-me. Sentado encostado na parede ao lado da porta, estava ele. Estava com os joelhos levantados e suas mãos apoiadas neles, com a varinha na mão. O chão ao redor estava seco e a chuva não chegava até ali, como se ele tivesse criado uma bolha protetora para ele.
Aproximei-me devagar dele, e ao chegar na soleira da porta, ele se virou.
- Ah, oi Hermione. – Disse ele, com a voz baixa, sorrindo brevemente de canto. – Não consegue dormir também?
- Não conseguiria nem se quisesse. – Respondi.
- Vem, sente-se aqui. – Disse ele, apontando o espaço no chão, ao seu lado. Sentei-me e pus o livro no colo, e olhei para o horizonte escuro, com alguns pontos mais escuros onde deveria ser o galpão do Sr. Weasley, algumas árvores e tudo o mais. Senti um olhar sobre mim e me virei, sabendo que era ele me olhando. Ele corou levemente e sorriu de canto.
- Então, George, o que não te deixa dormir? – Perguntei, tentando quebrar a barreira do silêncio que havia ali.
- Simplesmente não consegui parar de pensar.
- Posso perguntar em quê?
- Penso no porque várias coisas deram errado na minha vida.
Pensei que se referia somente ao fato de Fred ter partido, mas o “várias coisas” indicava que não era somente aquilo.
- Várias coisas?
- Ah, é complicado. Primeiro viver sem meu irmão gêmeo. – Sua respiração falhou, e a sua voz sumiu. Era óbvio que ele não havia superado nada daquilo. Uma lágrima escapou de seus olhos, e eu segurei sua mão. Ele olhou para o horizonte e voltou a olhar para mim, respirando fundo.
- Vamos para dentro, aqui está frio. – Eu disse. Ele assentiu e fomos para dentro, fechando a porta e sentando no sofá. Fiquei em silêncio, dando “espaço” a ele, e esperei que ele falasse algo. Depois de um tempo de um silêncio um tanto quanto constrangedor, ele continuou.
- Segundo, que nada da minha vida amorosa deu certo. Nada. E agora, eu estou apaixonado por uma garota que nem se dá conta disso, e eu não tenho coragem de falar para ela.
Eu gelei. Ele estava apaixonado. Por uma garota. Que. Com certeza. Não. Sou. Eu. E como esta garota não se dava conta que tinha o rapaz perfeito apaixonado por ela? Alguém que obviamente faria tudo por ela sem nem pensar duas vezes? Alguém tão lindo, tão engraçado, tão divertido, tão inteligente, tão, tão... George Weasley!
- Também só cometi erros. – Eu confessei. Ele levantou as sobrancelhas, curioso.
- Conte-me. – Pediu gentilmente.
- Ah, primeiro com o Krum, que nunca foi real. Eu nem sei porque fui ao baile com ele e deixei que ele me beijasse, pra começar. Acho que foi para por ciúmes no Rony. – Quando disse isso, ele fechou a cara rapidamente e voltou a expressão normal. – Ai depois fiquei com o Córmaco, no sexto ano.
- Córmaco McLaggen? – Perguntou ele.
- Exatamente. Este eu tenho certeza que foi para por ciúmes no Ronald, que estava se agarrando com a mesquinha da Lavender Brown. Então, o próximo erro foi o próprio Rony. Depois de um tempo juntos, percebi que o que sentia por ele era só amizade mesmo. E ele não aceitou isto muito bem. – Eu disse, pesarosa. George assentiu levemente com a cabeça, lembrando-se do dia em que terminei com ele, na Toca, quando estavam todos reunidos e eu estava falando com ele no quarto dele. Ele falou absurdos as gritos, magoando-me um pouco. Demorou mais de um mês para que ele viesse me pedir desculpas civilizadamente e dizer que queria continuar sendo meu amigo, e ainda completou que ele sempre estaria lá para mim, quando eu precisasse de qualquer coisa. Balancei a cabeça, sacudindo para longe as lembranças ruins.
- Os meus erros foram... Menores, digamos assim. – Disse ele. – Você sabe, sempre fui um mulherengo assanhado. Beijava várias meninas sem sentir nada por elas, quando elas, pelo menos algumas, sentiam algo por mim e eu as magoava. Depois, tive uma paixonite pela Angelina, que não durou.
- E não durou por quê?
- Simplesmente não fomos feitos um para o outro. A única coisa em que nos entendíamos era no quadribol. Fora isso, nada. E esse nada gerava brigas, o que gerou o término. Mas isso não importa mais. Eu só não quero mais erros na minha vida.
Ele me olhou nos olhos, de uma maneira pela qual eu nunca fora olhada. Não tão... Intensamente.
- Eu só queria achar alguém que fosse certo para mim, entende, Mione?
Assenti com a cabeça, sem desviar o olhar do olhar dele. Ele se aproximou um pouco mais de mim, e meu coração começou a disparar fortemente. Eu sentia uma forte e louca vontade de beijá-lo e demonstrar tudo o que eu sentia, mas eu estava bloqueada; ele nunca corresponderia meus sentimentos. Fora que eu estava bloqueada pelo medo de me magoar.
- Ou talvez não exista um alguém certo, somente um errado que nos complete. – Disse ele, aproximando-se mais. Fiquei paralisada, lembrando-me que ele tinha dito estas mesmas palavras no meu sonho; que tínhamos tido uma conversa semelhante no meu sonho... Seria possível que estivesse se realizando? Seria possível ser mesmo real, e não um sonho?
Estávamos a centímetros de distância e eu não desviava o olhar. Ele alternou o olhar entre meus lábios e meus olhos, e eu não sentia mais meu coração bater dentro do meu peito. Parecia que, assim como eu, ele tinha paralisado. George continuou se aproximando de mim, e eu fechei meus olhos por antecipação. Ouvi sua risadinha baixa e breve, antes de seus lábios tocarem os meus.
Começou delicado e incerto de início, pois George obviamente temia minha reação. Levei minha mão à sua face, e a acariciei levemente, tentando fazê-lo entender que eu estava correspondendo ao seu beijo. Ele pediu permissão com a língua para aprofundá-lo, que eu cedi. O beijo se tornou intenso e apaixonado, um beijo como eu nunca havia dado. Eu parecia estar no paraíso, em outra dimensão, e não ali na sala de estar da Toca.
Infelizmente o ar se fez necessário, e nos distanciamos brevemente, sem tirar uma testa da outra. Sussurrei junto aos seus lábios:
- Isso é tão errado, George. – Eu disse, sem mais me lembrar do sonho que havia tido.
- Quem poderá julgar? Somos nós que decidimos o que é certo e errado para nós.
Ele me beijou novamente, e aquela maravilhosa sensação de estar sendo levada para além do céu retornou. Abriguei-me em seus braços, diante da lareira, onde acabei adormecendo, só acordando quando a Sra. Weasley gritou, surpresa, ao nos ver daquela maneira, na manhã seguinte.
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