Único



SE EU ME DEITAR AQUI


Se eu apenas me deitar aqui... Você se deitaria comigo e esqueceria do mundo?


 


 Eu olhava atentamente para Hermione. Examinava cada ponto iluminado de seu olhar castanho. Cada ruguinha de concentração em sua testa. As bochechas rosadas, os lábios cheios comprimidos em uma linha fina. Os cabelos cacheados presos precariamente em um coque mal feito; alguns fios soltos caiam-lhe no rosto e na nuca.


 Sabe, talvez seja besteira minha, mas eu nunca havia notado o quão bonita ela era. Talvez a presença de Rony influenciasse minha cegueira. O fato de ele gostar tanto de minha melhor amiga me fazia ter um grande respeito por ambos. Eu não me permitia mais do que meros abraços nela. Não queria causar problemas para ninguém.


 Mas quando Rony foi embora... quando ele nos deixou aqui... Bem, sua ausência me fez prestar atenção nela.


 Claro, não foi assim tão abertamente. Afinal, Hermione chorou por uma semana por causa de Rony. E eu também não estava com humor para esse tipo de coisa.


 Foi neste exato momento que minhas observações começaram. Hermione estava debruçada sobre mim, cuidando de meus ferimentos que a batalha com a cobra de Voldemort havia causado. Havia cortes em todo o meu rosto e Hermione se empenhava em tratar deles.


 Seu toque era macio e aveludado. Quente. Ela tinha belas mãos.


 - Ai! – resmunguei quando ela encostou em um dos meus ferimentos.


 - Desculpe, Harry. – disse Hermione, retirando as mãos do meu rosto com uma rapidez exagerada. Eu desejei que ela fizesse o contrário, pois, como eu disse, ela tinha belas mãos.


 - Sem problema. – garanti rapidamente. – Esse corte está particularmente dolorido. – acrescentei quando ela me olhou desconfiada.


 Devagar, Hermione voltou a cuidar do meu rosto e me senti em casa. Ela estava perto o suficiente para que eu sentisse seu cheiro. Era um cheiro molhado.


 Hermione estendeu a mão para a bolcinha de contas e pegou um pedaço de pano e um frasquinho marrom. Ela abriu o frasco e derramou um pouco do líquido no pano. Era um líquido transparente, bem parecido com água, mas que quando encostou no pano começou a borbulhar.


 Eu não fazia idéia do que era aquilo.


 - Certo – disse Hermione, parecendo satisfeita. – Fique quieto – pediu, se dirigindo à mim. – Isso pode arder. – avisou.


 Fechei meus olhos com força e tentei pensar em outra coisa que não fosse aquele maldito pano borbulhante que iria direto para a minha cara. A primeira imagem que me veio na cabeça foi Hermione. Fiquei instantaneamente calmo. Hermione não faria nada que pudesse me machucar.


 Assim, quando o pano encostou na minha bochecha direita, eu senti uma ardencia desgraçada, mas fiz apenas uma careta. Senti o líquido borbulhar na minha pele, mas permaneci imóvel.


 Depois de alguns segundos, Hermione pressionou o pano na minha testa.


 - Ai! – gritei, sem conseguir me controlar.


 - Desculpe, desculpe! – gritou Hermione, deixando cair o pano.


 - Não. Tudo bem. Você me avisou que ia arder.


 - Mas eu fui bruta.


 - Não foi, não.


 Hermione guardou as coisas na bolsinha. Uma parte do meu cérebro registrou o fato de não haver mais cortes no meu rosto. Isso me deixou impressionado. A outra parte se distraiu com a eficiencia de minha amiga, observando-a atentamente, enquanto ela guardava tudo.


 Percebi o quão Hermione era bonita. Tinha curvas bem acentuadas ao longo do corpo. Tais curvas ficavam ainda mais visiveis pela calça jeans apertada e pelo suéter azul petróleo não tão grosso que ela usava. Simples, mas bonita.


 Meus olhos passearam de cima à baixo pelo corpo dela.


 - Você deve estar sentindo uma falta danada de Gina, não? – comentou Hermione, dando-me um balde de água fria.


 Minha falta de consideração me deixou sem ar. Gina devia estar morrendo de preocupações por minha causa, enquanto eu fico tarando minha melhor amiga.


 - É, eu... estou sim. – balbuciei. Era verdade que eu não pensava em Gina desde que Rony fora embora. Estava concentrado em outra pessoa. Mas, agora que o assunto Ginevra Molly Weasley finalmente vinha à tona, eu não sentia realmente falta dela como antigamente.


 - Principalmente agora – continuou Hermione. – Ela deveria ser bem mais delicada do que eu estou sendo... – riu-se ela. – Sinto muito.


 Balancei a cabeça.


 - Na verdade, você é bem mais delicada do que ela. – garanti, sem pensar, um pouco irritado por ela estar falando especificamente disso.


 - Não precisa tentar me poupar, Harry. Eu sei que te machuquei. – disse, mas antes que eu voltasse a negar, Hermione se sentou na minha frente na cama e pousou o indicador em meus lábios, calando-me. – Vamos mudar de assunto.


 E tirou o dedo de meus lábios, que formigaram tanto que fiquei com medo de que ela percebesse. Passei a língua pelos lábios, com a esperança de que o gosto dela tivesse ficado neles. Não posso dizer que me decepcionei. Como eu disse, ela tinha belas mãos.


 Hermione era salgada. De um jeito que Gina nunca conseguiria ser. Gina tinha o gosto doce de creme e sua personalidade em si era doce. Doce demais, agora eu percebia. Mas Hermione tinha um gosto leve de sal e sua personalidade era doce como canela e açúcar. Hermione era o contrário de si mesma e isso me intrigava.


 Passei novamente a língua pelos lábios.


 - Harry? – perguntou Hermione, retirando-me de meu devaneios mais uma vez.


 - Desculpe, Mione. Eu estava distraido.


 Ela riu.


 - Percebi. Isso tem se tornado frequente.


 Eu ri também, tendo certeza de que ela não tinha a menor idéia do assunto dos meus devaneios e torcendo para que nunca tivesse.


 - Harry – continuou Hermione. – Acho que devíamos discutir o que fazer.


 Franzi a testa, confuso.


 - O que quer dizer?


 - Sabe... essa nossa viagem a Godric’s Hollow me fez notar o quanto estamos perdidos. – disse. – Fomos lá por impulso, achando que tudo fazia sentido, mas acho que foi exatamente isso que nos cegou. Porque Dumbledore escolheria um lugar tão óbvio para esconder a espada? Qualquer um que tivésse um cérebro entenderia a conexão de Godric’s Hollow com a espada. – despejou e embora minha mente estivesse ciente de que talvez ela poderia estar certa, eu não prestei a devida atenção. Eu não queria prestar atenção. – Por isso, acho que temos de começar a dar o dobro de nós no estudo dos locais onde estariam as horcruxes.


 Talvez Hermione estivesse certa. Mas eu estava tão cansado disso tudo que precisava definitivamente de um tempo.


 - Certo. – resmunguei, sem humor nenhum para esse tipo de discução.


 - Eu sei que você acha que uma delas está em Hogwarts, Harry. – continuou Hermione, sem notar meu desânimo. – Mas se em Godric’s Hollow já tinha alguem nos esperando, imagine o que irá acontecer em Hogwarts...


 Ela estava concentrada, mas, embora eu a achasse linda dessa maneira, eu não queria falar disso agora. 


 - Sei... – murmurei.


 - Hogwarts está sob o controle de Você-Sabe-Quem, Harry. Snape é o diretor. Não podemos nos arriscar indo até lá. A Professora McGonnagal ainda leciona lá e tenho certeza de que está do nosso lado, mas o que ela poderia fazer para nos ajudar? Há dementadores por toda parte e os Comensais da Morte estão dentro da escola e provavelmente em Hogsmeade.


 Hermione estava tagarelando sobre suas observações e sobre as coisas que lera e ouvira. Contou-me todos os caminhos possíveis e impossíveis para entrar em Hogwarts, mas nós dois – e Rony – já haviamos conversado sobre isso várias e várias vezes.


 Eu estava cansado. Eu queria me deitar e dormir.


 Mas me contentava em apenas poder olhar para Hermione, entendo finalmente o porquê de Rony gostar tanto dela.


 - E não acho que tenhamos chance, principalmente agora que Rony não está aqui e... – Hermione parou abruptamente ao se dar conta do que havia dito. Mais uma vez, ela havia me retirado de meus devaneios com um balde de água fria.


 Rony. Eu estava tarando a garota do Rony. Não, Hermione nunca havia sido de Rony. Eles nunca tiveram nada.


 Não disse nada.


 - Sabe – ela tentou se concertar. – Só estamos nós dois agora. Entende?


 Eu não entendia.


 - Não. – respondi sem querer.


 - N-não?


 Sua voz soou extremamente frágil e me senti irritado.


 - Não entendo o porque de você querer falar disso justo agora! – eu quase gritei e tentei baixar a irritação.


 - Então me diga o momento propício, Harry! Porque, sinceramente, no meio dessa guerra, eu não consigo encontrar!


 - O que está insinuando?


 Ela apontou o dedo para a porta da cabana.


 - Que há pessoas lá fora acreditando em você, morrendo por você! Esperando que você as salve de Você-Sabe-Quem! – berrou ela, imitando o meu tom de voz. – E você está aqui, parado, esperando o momento propício para falar disso!


 Doeu. Doeu ouvir isso dela. Doeu mais do que realmente deveria. Doeu porque ela estava certa. Doeu porque eu percebi mais uma de suas qualidades camufladas: Hermione era sincera.


 - Não precisa esfregar na minha cara, Hermione. – sussurrei, magoado.


 Percebi quando ela se arrependeu. Percebi porque seus olhos castanhos se encheram de uma mágoa absoluta. Uma mágoa antiga, que eu não sabia que existia.


 - Me desculpe, Harry. – sussurrou ela e sua mágoa desceu em forma de lágrima.


 Rápidamente, como a lágrima que desceu dos olhos de Hermione, eu me senti igualmente culpado. Fiquei assombrado com o poder que Hermione tinha sobre as minhas emoções. Assombrado com o quão rápido minha irritação sumiu.


 Por essas e outras razões, decidi ser sincero com ela.

 - Não. Você foi má e cruel. 


 - Eu sei. Mas não fiz por querer, você sabe que eu não... – eu a interrompi.


 - Eu só quero um tempo, Hermione. – declarei.


 Os olhos castanhos e lácrimejados de Hermione me encararam com intensidade e me senti nú.


 - Não temos tempo. – ela disse, raivosa de novo, percebi.


 - Eu sei, mas não é fácil para mim carregar toda essa responsabilidade, Hermione. Como acha que eu me sinto? – encarei-a firmemente antes de dizer: - Preciso de um tempo. Acho que também tenho esse direito.


 – Nós não temos tempo, Harry! – ela gritou.


 Me mantive calmo.


 - Não grite. Não quero brigar com você. – e era verdade. Eu não queria brigar com Hermione. Não cometeria o mesmo erro que Rony. Eu não a perderia desse jeito.


 - Então o que espera que eu faça?!  


 Baixei meus olhos para a cama onde estávamos sentados. Minhas mãos estavam largadas de qualquer jeito em meu colo, enquanto as de Hermione estavam pousadas graciosamente nos joelhos. Ela era inteiramente magnífica.


 - Hermione, se eu... – comecei, impulsionado pela beleza dela, mas parei, indeciso.


 - O que? – perguntou ela, fungando.


 - Se eu... – comecei de novo. – Se eu me deitar aqui... se eu apenas me deitar aqui... – Hermione me encarou com os olhos em um misto de curiosidade e confusão. – Você se deitaria comigo e esqueceria do mundo?


 Senti que ela prendeu a respiração. Seus olhos castanhos se arregalaram em surpresa, sua boca rosada se abrindo em um pequeno “O” de assombro.


 Eu esperei pelo “não” que viria. Primeiro, porque eu sabia que Hermione era contra qualquer distração que nos tirasse de nossos verdadeiros propósitos. Segundo, porque eu sabia que ela gostava Rony.


 Mas a expressão de Hermione se acalmou e um sorriso gentil surgiu em seus lábios cheios. Seus olhos ficaram inacreditavelmente doces.


 - Claro, Harry.


 Senti um sorriso se espalhar pelo meu rosto e delicadamente me deitei, dando espaço para que ela fizesse o mesmo.


 Hermione deitou a cabeça em meu peito e eu passei meus braços em volta de seu corpo. Uma calma imensa me invadiu e passei a língua pelos lábios de novo, procurando o gosto de sal de Hermione.


 Pensei em beijá-la. Mas acho que ela ficaria surpresa demais e eu sinceramente não estava a fim de explicar nada à ela.


 Ficamos ambos encarando a lona da barraca, dividindo o ar, aproveitando o momento de silêncio. Deixei que minha mente vagasse, tentando me esquecer do que acontecia lá fora, concentrando-me na respiração de Hermione para contar o tempo.


 Ela talvez nunca saiba o que aquilo significou para mim, assim como nunca saberá o que aquelas poucas semanas sozinho com ela tenha mudado em mim. Se ela não sentiu essa mudança ali, deitada comigo, então não acho que eu poderia dizer à ela.


 Hermione fechou os olhos e suspirou.


 Eu a beijaria um dia.


 


X&X


N/A: oi!!


Pois é, pessoal, esse é o resultado de insônia no primeiro dia do ano de 2012.


Fazer o que?


Bem, essa foi uma idéia que me ocorreu depois de ler a fanfic You Could Be Happy (eu recomendo) que também é do shipper Harry/Hermione. Só não sei se a minha ficou tão boa quanto a dela. Eu, particularmente falando, gostei do resultado (oque é dificil de acontecer, eu sempre detesto minha shorts).


Minha primeira fic Harry/Hermione. OWINT”


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Comentários (10)

  • Mione Jean Potter

    Nossa tao meigo. É bem a cara Harry/mione. Nada que fuja das sua personalidades Amei 

    2015-02-21
  • Isis Brito

    AAAHH!!Li de novo, rsrs. ^^"ADOREI, ADOREI, ADOREI!!!Ainda voto na ideia de uma continuação!! o/ 

    2013-10-20
  • Neuzimar de Faria

    Sou rigorosamente fã dos casais tradicionais da saga, tanto que geralmente nem leio as histórias baseadas em casais alternativos. Mas o que você escreveu com tanta sensibilidade realmente poderia ter acontecido e eu acho que sua fic ficou simples, doce e linda.

    2012-11-26
  • Isis Brito

    Eu voto numa continuação!!Ficou linda demais!! *--------------*Faz outra short, dessa vez com o Harry beijando a Mione e lembrando dessa noite na barraca, quando ele "prometeu" que um dia iria beijá-la... *--------* 

    2012-07-05
  • Amanda A.

    QUE COISA LINDA! Pelo menos mais um capítulo merece. Meme.

    2012-02-03
  • PamyPotter

    Simplesmente Linada! Parabéns, bem que poderia ter uma continuação, nao é?

    2012-01-11
  • EnigmaticPerfection

    Amei! Tá muuuito linda sem ter aquela coisa clichê toda, q pra mim é bem HHr mesmo.

    2012-01-02
  • Thomas Cale

    Quem quizer o link da fic You Could Be Happy (minha inspiração), tá aqui: http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=21393 Abraços!!

    2012-01-02
  • Shammy

    Adorei a short!!! Você poderia passar o link da fic " you could be happy"? Me interessei.   Bjs ^^

    2012-01-02
  • Alice Rocha.

    lindooooo

    2012-01-02
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