Único

O rapaz viu a expressão do rosto da castanha quando esta ouviu o amigo falar da namorada nova, e de como ficavam juntos pelos cantos de Hogwarts para quem quisesse. Com o olhar, acompanhou-a sair da sala de estar, quente àquela hora, e ir para o quintal frio, escuro e silencioso. A preocupação tomou conta de seu coração, apertando-o, e ele se sentiu angustiado, e surpreso por se sentir assim, por ela. Ela era como uma irmã mais nova para ele... Pelo menos, era isso que ele pensava que ela significava para ele. Mas não era de hoje, ah, não era, que Frederick Weasley olhava Hermione Granger com outros olhos. Mesmo sem notar. Reparava em como os cabelos castanhos, cacheados e rebeldes caíam em seus ombros de uma maneira angelical. Em como seus olhos cor de avelã brilhavam e percorriam as páginas dos livros avidamente, como se a vida da garota dependesse daquilo. Reparava em como ela apertava os lábios com força para não cair na risada por causa das piadas dele e do gêmeo. Sempre querendo manter a pose de séria e certinha...

Fred levantou-se, tentado em ir atrás dela. O irmão gêmeo, percebendo suas intenções, segurou seu pulso, tentando fazê-lo sentar-se novamente. O outro, por sua vez, desvencilhou-se, mas foi em direção ao seu antigo quarto. Fechou a porta e foi à janela. Olhou, e encontrou-a lá embaixo. Ela olhava o horizonte, afagando o braço e ocasionalmente esfregando os olhos. Podia apostar que a garota chorava. O rapaz sentiu então vontade de bater em seu irmão mais novo, pela sua imensa burrice em ficar com aquela garota mesquinha em vez de ficar com Hermione. Estava perdendo a mais bela garota que já havia conhecido. Mais bela por dentro e por fora.

Ficou um tempo apenas olhando-a. Tentando desvendar os mistérios do seu coração, tentando entender o que se passava dentro dele. Resolveu descer, e ir atrás dela. Não agüentaria ficar parado apenas olhando-a passar por tudo aquilo. Teria de confortá-la, protegê-la de alguma forma... Sentia essa vontade, essa necessidade de protegê-la do que fosse.

Desceu as escadas rapidamente, e tentando parecer calmo e despreocupado, ando até a rua. Pensou que ninguém notou. Mas seu gêmeo e sua irmã mais nova notaram. Nunca havia dito a eles como se sentia em relação à Hermione, mas há certas coisas que não precisam ser ditas, quando são expressas no olhar. Caminhou lentamente até ela, com seus pés afundando na neve fofa que caía naquela noite de véspera de natal.

A garota estava junto da cerca de maneira, e olhava o horizonte, pensando. Sentia-se confusa. Chateada. Odiava ver Ronald aos beijos com a Brown, mas achava que seu coração não batia por ele. Ela se sentia diferente com outro ruivo. Sentia-se como nunca sentiu-se com outro. Seu coração disparava, parecendo que saltaria de seu peito e indo diretamente para as mãos do rapaz. Sua respiração descompassava, por mais que a castanha tentasse controlá-la. Quando o via andando em sua direção, Hermione sentia-se pequena devido à aura de beleza que o rapaz exalava. Olhava naqueles olhos azuis e perdia-se neles, esquecendo-se do mundo real e mergulhando na imensidão daquele olhar. Inebriava-se com o seu perfume másculo, suave e com um toque de mistério. Anestesiava-se com o som da sua voz grossa e perfeita, e sua risada a enchia de uma paz inexplicável. Hermione irritava-se com o fato de que, apesar de ser “a bruxa mais inteligente da sua idade”, ela não conseguia entender o que se passava dentro de si. Ela gostava do amigo, Ronald, não é? Então porque se sentia daquela maneira por Frederick?

Ouviu passos atrás de si, e virou-se para ver quem estava ali. Era Frederick. Ele sorria de canto, tímido, e nos seus olhos expressava-se a preocupação. Andou até ficar ao lado da garota, e olhou o horizonte escuro à sua frente.

- O que fazes aqui fora, sozinha?

- Pensando. – Disse ela, tentando em vão enxugar as lágrimas rapidamente.

- É por causa dele, não é? – Perguntou-lhe Fred. – O Rony.

Ela não respondeu de imediato. Suspirou, cansada. Estava cansada de ter que esconder o que realmente sentia, mesmo não fazendo idéia do que sentia. Apenas ficou olhando para o horizonte, porém sem realmente o vê-lo. Sentiu uma mão quente em cima da sua. Olhou para baixo, e encontrou a mão dele envolvendo a sua. Olhou-o. Ficou rendida pelo o modo com que ele a olhava. Nunca fora olhada daquele jeito... Tão intensamente.

- Por favor, não fique assim por ele. Nem por ele, e nem por ninguém. Você é bela demais para ficar assim.

Hermione não soube o que responder. Apenas ficou-o olhando, até sentir-se ficar corada e desviar o olhar. Murmurou baixinho, sem pensar, esperando que ele não a ouvisse:

- Pensei que eu fosse invisível.

Ele riu baixinho. Segurou o queixo da garota com as mãos, fazendo-a olhar novamente para ele. Para os olhos dele. Com a outra mão, continuou segurando sua mão.

- Você não é invisível. Você é tudo o que eu consigo ver.

A garota ficou imóvel, não conseguindo acreditar nas palavras do ruivo. Ele, aproveitando o ensejo da incredulidade da garota, a beijou. Seus lábios encontraram os dela causando-lhes uma sensação única e nova para os dois. Naquele momento, com aquele singelo gesto, ambos tiveram a certeza do que sentiam. Amor.

O rapaz, com a língua pediu permissão para aprofundar o beijo. A castanha entreabriu os lábios, deixando-se levar pelas sensações que aquele beijo lhe causava. Rendeu-se ao sabor adocicado que os lábios do ruivo possuíam, e entrelaçou sua mão à dele. Com a outra, buscou a nuca do rapaz, e bagunçou seus cabelos macios. Fred, por sua vez, levou a mão até a cintura dela, puxando-a mais para si. Sentiram algo cair sobre si, algo mais leve que uma pena. Distanciaram-se, ansiando por ar e por mais contato entre si, e olharam para o céu. Pequenos flocos de neve caíam, tornando para eles aquele momento mais mágico. Olharam-se, sorrindo.

- Hermione...

- Fred...

- Eu te amo. – Falaram em uníssono, surpreendendo a si mesmos. Fora uma declaração sincera, e que ambos não puderam refreá-la. Sorriram mais ainda, antes de seus lábios voltarem a se encontrar e seus corações baterem em uma sincronia perfeita. Abraçaram-se lateralmente, e retornaram à passos lentos à Toca, sem se importar com o que diriam sobre eles, ou o que viria no amanhã. Só se importavam com o amor que nutriam um pelo outro.

 

Enquanto isso, do lado de dentro da casa, junto à janela, os outros oito Weasley’s e um Potter observavam a cena, sorridentes, murmurando consigo “Eu sabia”, “Já estava na hora”. Irônico, não? O mundo percebe um sentimento, enquanto os que o nutrem, não o percebem. 

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